Inverno

  ALGUNS ANOS DEPOIS

Agatha olhou mais uma vez para a carta com o acordo a sua frente, tentando mais uma vez se concentrar no trabalho. Fenrir se aninhou aos pés dela, rosnando baixinho, antes que ela decidisse pegar a caixa e se levantasse. Ela precisava tirar aqueles pensamentos da mente dela.

–Srta. Wolfgang. –o garoto se sentou sobressaltado, olhando ao redor assustado e mentalmente feliz que quem o pegara dormindo tenha sido ela e não John. –Precisa de alguma coisa?

–Não, eu estou bem Matt. Mas, se quiser me acompanhar, vou até o jardim. –ela sorriu para o garoto que fez uma mesura educada, se levantando. –Agradeceria se pudesse pegar o chá na cozinha para mim.

–Será um prazer, senhorita. –ele sorriu, antes de se afastar indo para a espaçosa cozinha da mansão, enquanto ela seguia para o jardim coberto pela neve do inverno.

Agatha se sentou no pequeno banco, de frente para o canteiro de tulipas, com um pequeno sorriso, antes de abrir a caixa de madeira, presente de Haytham, e tirar de dentro dela o diário e a caneta, começando a escrever, como fazia todos os dias. Ela passou os dedos sobre as pérolas do colar em seu pescoço.

–Sinto falta dele. –ela secou uma lágrima solitária, enquanto olhava mais uma vez para as palavras escritas, relendo a carta deixada por ele, antes de fechar a caixa, passando os dedos pelos entalhes. –Eu sinto a sua falta, sr. Kenway... E queria poder ter dito todas essas palavras para o senhor.

Fenrir rosnou atrás dela a fazendo se virar, a tempo de ver Matt ser atingido por mais um soco e cair no chão, enquanto um grupo bem armado entrava. Um dos homens colocou uma pistola na cabeça do garoto, mesmo que ele não oferecesse mais nenhuma ameaça.

–O que está fazendo? –ela correu até ele, lhe segurando o rosto com ambas as mãos e lhe avaliando rapidamente os ferimentos. –O que você quer?

–Você. –o homem sorriu para ela, antes de a puxar pelo braço, lhe prendendo os pulsos e a amordaçando, assim como ao garoto. –Vamos, o chefe quer resolver isso tudo ainda hoje.

Eles os arrastaram até a pequena carroça coberta, os jogando dentro e partindo. Agatha olhou mais uma vez para o garoto, se aproximando dele. Ele piscou algumas vezes, olhando alarmado ao redor, antes de a encarar e virar de costas para ela.

Agatha ficou feliz por Matt ser tão inteligente, enquanto ela começava a tentar soltar as cordas que o prendiam.

–Senhorita. –Matt puxou a mordaça dela para baixo, sussurrando e olhando rapidamente ao redor.

–Vai. –ela apontou com a cabeça para fora, enquanto ele a encarava preocupado. –Rápido. Seja lá o que for, é comigo, não com você...

Ele hesitou por um instante, mas concordou com a cabeça, olhando rapidamente para fora e saltando da carroça, correndo pelas ruas da cidade de volta para a mansão. Ela pode ouvir seus raptores gritarem, antes de atiçarem os cavalos. Eles pararam em frente a velha casa escondida na floresta, a arrastando para dentro de um quarto.

–Eu não estou muito surpreso de te encontrar aqui, nessa terra selvagem e indomada. –o homem saiu das sombras, sorrindo de modo cruel e encarando Agatha, enquanto o coração dela disparava, os olhos brilhando numa mistura de medo e ódio. –Eu levei muitos anos para te encontrar... E, sabe, você realmente quase escapou. Mas eu consegui algumas cartas de Jennifer Kenway, em que ela, felizmente comentava sobre você e sobre o irmão que vivia na América. Mas, bem... vamos deixar isso de lado, afinal não importa mais. Dessa vez, eu vou me certificar de que você esteja morta.

Connor olhou para o garoto assustado parado em frente a sua porta. Apesar das armas que carregava, parecia intimidado na presença do Assassino.

–O que você quer? –ele olhou ao redor, esperando ver algo, talvez um grupo de Templários preparando uma emboscada.

–John me disse que se tivesse algum problema deveria procurar por você. –o garoto disse, mantendo os olhos baixos. O nome não trouxe muitas informações, então ele continuou apenas o encarando. –Ele disse que se algo acontecesse a srta. Wolfgang era para vir até o senhor.

–Espere... Agatha? Agatha Wolfgang? –ele olhou para o garoto, enquanto as lembranças surgiam em sua mente, os cabelos cor de fogo e os olhos tempestuosos. O garoto concordou com a cabeça, levantando brevemente os olhos para Connor. –Eu não acredito em você.

Foi então que o garoto se abaixou ao ouvir o rosnado baixo e o enorme lobo cinzento pular sobre ele, lhe lambendo a face e correndo ao redor dele, o chamando para brincar.

–Nossa... Comigo, o máximo que ele faz é me ignorar. –o garoto olhou surpreso para ele, enquanto Connor se levantava, olhando para Fenrir, que ainda mantinha a mesma tira de couro e o pingente envolta do pescoço. –Acredita em mim agora, sr. Kenway?

–Acredito, mas não me chame assim. –ele abriu passagem, deixando que o garoto entrasse em sua casa. Pela primeira vez ele notou o ferimento em sua perna e os diversos cortes pelos braços e rosto. –O que aconteceu?

–Foi um ataque surpresa. John e os outros saíram para um trabalho de alguns dias, talvez semanas. –o garoto se jogou pesadamente no chão ao lado da lareira, se aquecendo um pouco. –Já fazia alguns dias desde que eles partiram, e eu fiquei para ajudar a srta. Wolfgang. Eles atacaram ontem, ao anoitecer... Foi tudo muito rápido. Nós dois fomos capturados, mas eu conseguir fugir...

–Onde ela está? –o coração de Connor bateu um pouco mais rápido.

–Eu não sei muito bem... Estavam nos transportando quando conseguir escapar... Levei algum tempo para chegar aqui, precisei passar na mansão para descobrir onde o encontrar, senhor. –o garoto rasgou a calça com a faca, fazendo uma atadura improvisada sobre o ferimento. Connor o olhou preocupado. –Não se preocupe comigo, senhor. Aqui tem o que eu consegui pegar.

Connor pegou os papéis, olhando com cuidado as informações. Ele olhou para o garoto uma última vez, enquanto ele se deitava e adormecia de cansaço, sem nem ao menos se dar conta. Ele soltou um pesado suspiro, antes de se levantar e ir pegar suas coisas no porão. Ele passou pelo estábulo, pegando o mustangue de Agatha e saindo.

A caminho da cidade chamou um médico para o rapaz e após algumas horas investigando, ele descobriu para onde haviam a levado. Uma casa afastada, escondida floresta a dentro.

Connor parou em frente a porta aberta, prendendo a respiração por um momento. Ele reconheceria aquelas mechas cor de fogo em qualquer lugar, mesmo que elas estiverem molhadas e desgrenhadas, mesmo que a pele branca estive cheia de cortes e hematomas... E ainda assim, ele a acharia linda.

–Agatha... –ele chamou o nome dela, enquanto olhava ao redor rapidamente, entrando e passando a mão carinhosamente pelo rosto dela. Ela piscou algumas vezes, a tempestade se formando nos olhos dela ao reconhecê–lo. Ele tirou a mordaça que ela tinha na boca, a cobrindo com sua mão, ignorando a dor quando ela o mordeu. –Me escute... Eu sei que você tem todas as razões do mundo para me odiar, mas eu estou aqui para te ajudar.

–Idiota. –ela sussurrou após concordar com a cabeça e ele a soltar. Com a lâmina escondida em seu braço ele cortou a corda que a prendia, a segurando pela cintura e a ajudando a se levantar. –Ainda consigo andar...

–Isso é bom... –ele disse baixinho, mantendo a mão na cintura dela, enquanto fugiam. Os gritos enfurecidos atrás de si o informaram de que eles haviam sido descobertos, enquanto ele apertava o passo. –Droga. Os corredores estão sendo vigiados.

–O que vamos fazer? –ela agarrou o braço dele, assustada. Connor olhou ao redor, a puxando pela mão para uma escada. –Vamos subir?

–Confia em mim? –ele a encarou por um instante, enquanto ela concordava com a cabeça. –Ótimo.

Ele a guiou pelas escadas, subindo e saindo para o telhado da grande casa. Agatha se segurava a ele, tremendo as vezes por causa do frio congelante. Ele olhou ao redor, procurando pelo mustangue e por uma rota de fuga. A carroça com feno parada abaixo deles seria perfeita.

–Agatha... –ele a puxou para si quando a porta foi bruscamente aberta, os homens começaram a dar a volta, ansiosos para os capturarem novamente e terem uma nova vítima. –Você ainda confia em mim?

–Já disse que sim, seu idiota. –ela dizia aquelas palavras de uma forma que pareciam a ferir mais do que a ele. Connor sorriu, a abraçando antes de se jogar para trás.

Ele sentiu o ar ser jogado para fora dos pulmões quando bateram contra o feno, não tão macio. Ele olhou para Agatha, que mantinha os olhos fechados, sorrindo quando ela lhe deu um soquinho no peito o chamando de maluco.

–Vem, não estamos a salvo ainda. –ele se levantou, a puxando consigo e a ajudando a subir no mustangue. Quando estavam distantes o suficiente, ele parou, descendo do animal e dando uma boa olhada em Agatha, a procura de algum ferimento grave. –Agora você pode gritar o quanto quiser comi...

–SEU IDIOTA! –ela lhe deu um tapa, marcando a face e fazendo com que ele a encarasse, surpreso. –Você sumiu. Não deu notícias. TEM ALGUMA IDEIA DO QUANTO FIQUEI PREOCUPADA COM VOCÊ? Eu achei que algo tivesse te acontecido!

–Agatha... –ele sentiu a garganta apertar, enquanto as lágrimas desciam pelo rosto dela e ela lhe socava o peito.

–VOCÊ SUMIU POR QUATRO ANOS! QUATRO MALDITOS ANOS SEM NENHUMA NOTÍCIA SUA! –ela deixou os braços caírem ao lado do corpo, enquanto ele a puxava para si e a abraçava. Ele havia sentido falta dela. –Idiota... Você me deixou preocupada.

–Desculpe... –ele passou seu casaco ao redor dela, a apertando um pouco mais contra si, a aquecendo, enquanto ela o abraçava, ainda chorando.

Agatha afundou o corpo mais uma vez na água quente, antes de ouvir a porta se abrir. Connor apareceu no campo de visão dela, deixando algumas roupas sobre a cama, suspirando pesadamente.

–O que você tem? –ela disse, abrindo os olhos e se virando para ele, apoiando o queixo a beirada da banheira.

–Nada que sirva em você... –ele olhou para as roupas sobre a cama, uma camisa grande e folgada e a menor calça que ele conseguiu encontrar. –Espero que isso sirva.

–Não foi isso o que eu perguntei. –ela se levantou, abraçando o próprio corpo por causa do vento frio que entrava. –Você não teve uma conversa decente comigo desde que chegamos. E tivemos oportunidades para isso.

–Não creio que tenhamos muito o que conversar. –ele passou a mão sobre as mechas castanhas, recém cortadas no estilo mohawk. –Apesar de eu querer te dizer muitas coisas... Sei que nenhuma delas vai fazer diferença para você.

–Bem, você não pode saber... Pelo menos até tentar. –Connor se virou para Agatha, que cobria os seios com os braços cruzados a frente do corpo, enquanto dava pulinhos dentro da água tentando manter o calor. Ele sorriu, antes de se aproximar dela e a empurrar delicadamente de volta para a água. –E então... Vamos conversar?

–Tudo bem... –ele se virou, indo até a porta e a trancando. Ele puxou uma cadeira, se sentando de frente para ela, enquanto Agatha mantinha o corpo submerso e parte do rosto para fora da água, o encarando com os olhos azuis. Ele suspirou pesadamente antes de começar. –Eu sinto muito pelo que aconteceu... Eu também não queria, mas... acabou sendo preciso. Não é exatamente como se eu tivesse uma escolha. Mas não me arrependo disso... Ainda é complicado demais para te explicar...

–O quê? A luta entre Templários e Assassinos, que vem se arrastando por séculos? –Connor olhou para ela, surpreso. Ela sorriu, brincando com uma mecha do cabelo. –Eu sei que é infinitamente mais complexo do que isso, mas foi apenas o que ele me deixou. Haytham queria que eu entendesse o que estava acontecendo, para não odiar você ou ele, pelo que acontecesse. Ele já sabia que algo assim aconteceria, e mesmo que não pudesse ou quisesse me explicar naquele momento, ele sabia que precisaria fazer isso depois.

–Então... –ele a encarava surpreso, tentando conter toda aquela expectativa e ansiedade dentro de si. –Você não me odeia por isso?

–Não. –ela sorriu, lhe passando a mão quente e molhada pelo rosto, e lhe beijando a testa. Connor sorriu, colocando sua mão sobre a dela. Ele suspirou pesadamente, enquanto o sorriso sumia de seu rosto e ele se afastava um pouco de Agatha, sem a olhar. Ela podia não o odiar por isso, mas teria outros motivos.

–Bem, pelo menos por isso você não me odeia. –ele deu um sorriso triste se levantando e se virando.

–Ratonhnháke:ton. –Connor se virou, a encarando. Ela havia acabado de pronunciar seu nome perfeitamente, e o encarava, de pé e com um enorme sorriso no rosto. –Eu ainda amo você... Mesmo que você tenha sido um grande idiota nesses últimos anos.

Bạn đang đọc truyện trên: AzTruyen.Top