Ruínas que Falam
Eu achava que Yami era idiota mas mesmo assim aqui estou eu seguindo um completo desconhecido porque ele mencionou algo sobre o meu livro. Acho que cabe a um idiota reconhecer o outro.
Nacht Faust, depois que ele se apresentou, o nome fez algum sentido. Falavam todo o tipo de coisa sobre ele como se fosse o herdeiro ruim completamente o oposto de Morgen que era extremamente gentil.
Já estávamos nos limites da cidade próximos ao rio que cortava a capital real quando ele parou e se sentou na beirada de maneira desleixada – Então, porque está com um livro como esse?
Dei de ombros ainda mantendo o livro seguro nos meus braços, não o encarei, mantive meu olhar no rio enquanto o respondia - Uma pessoa não pode ler algo diferente de vez em quando?
Nacht riu abertamente com um pouco de escárnio – Claro.
Mirei ele com o canto de olho apenas para ver seu rosto se tornar uma máscara de cinismo - Mas magia proibida não está nas primeiras duzentas opções de escolha. Você não é uma boa mentirosa.
Balancei a cabeça me virando para o encarar de frente – Porque eu deveria confiar em você, não sei se percebeu, mas você não grita "pode confiar em mim".
-Provavelmente você está certa mas me empreste o livro por um instante – olhei para sua mão estendida – Não vou fazer nada demais.
Continuei encarando sua palma, soltando meus ombros em derrota coloquei o objeto em sua mão apenas para ver que Nacht abriu a capa lentamente. O rapaz pareceu analisar as páginas e aplicando um pouco de mana na primeira folha inscritos que não estavam ali antes se revelaram.
Uma letra curvada marcada em tinta nanquim.
-Este livro pertence a Amsden Faust -
-Segredo de família – disse me devolvendo o livro – Nunca escutei esse nome, deve ser alguém das antigas. Já que te dei uma informação, está na hora de me devolver uma, onde conseguiu o livro?
– Estava na biblioteca dos Vermillions – já que ele estava querendo puxar conversa, não me vi com outra alternativa a não ser me sentar ao seu lado - Achei por acaso.
-Isso explica algumas coisas – ele manteve o olhar para a frente mas logo virou o rosto para me encarar – Mas mesmo assim não parece com o tipo de coisa que você se interessaria.
-Julgar pela aparência não nos levou a lugar algum não é mesmo? – devolvi e me mantive em silêncio por algum tempo até formular algo para dizer.
-Então é o negócio da sua família? Esse tipo de estudo.
O rapaz tragou o cigarro e ergueu a cabeça soprando a fumaça pra cima antes de responder – Quem sabe, talvez sim, talvez não.
A frase ficou perdida no ar antes dele apagar o cigarro na pedra – Não sei o que pretende mas não é bom um cavaleiro mágico como você se envolver muito com isso.
-E por que?
-Magia proibida é um crime por um motivo [Nome]. E não combina com seu rosto bonito.
Levantei uma sobrancelha – Achei que tivéssemos passado esse estágio de julgamento sobre aparência – rebati – Não é um interesse propriamente dito é... Acho que meu pai estava estudando algo sobre isso antes de Spade invadir nossa casa.
Coloquei o livro na pedra entre nós dois antes de apoiar o rosto na mão – Não tenho grande interesse nesse tipo de magia para ser sincera, mas depois de tantos anos...
-Acho que só é uma tentativa de encontrar um motivo.
-Me surpreende você se lembrar disso – ele comentou.
-Foi a primeira vez que ele gritou comigo, é um pouco difícil não lembrar.
Nacht levou a mão até a nuca – Suponho que se ouve algum traço de magia proibida ou demoníaca é possível identificar.
-E qual é o preço disso?
-Você me devolve o livro, não é o tipo de coisa que deve ficar espalhado por aí, ainda mais na casa de alguém como os Vermillions.
Tombei a cabeça para o lado, talvez ele tivesse razão e no momento eu não tinha nada a perder – Feito.
Estendi a mão para que ele a apertasse, Nacht balançou a cabeça retribuindo o aperto.
-Me leve para casa então Srta. Coldciani.
-Porque você tem que falar isso de uma maneira tão estranha? – começamos nossa caminhada em direção à mansão em ruínas - Pelos céus. Como alguém nobre, você já não deveria ter uma noiva ou algo do tipo?
-Não, Morgen provavelmente terá algo arranjado em breve. Não me interesso por esse tipo de coisa nem quero o título da casa. – o garoto cruzou as mãos atrás da cabeça – Mas deve ser ruim para você ser vista andando comigo.
-E o motivo seria qual exatamente? – virei o rosto para ele – Por favor me ilumine.
-Não é prometida a algum Vermillion?
Quase me engasguei com minha língua. Precisei tossir algumas vezes – O que? Lógico que não.
Nacht resmungou ligeiramente surpreso – Isso sim é novidade, então porque você uma nobre comum está tão inserida na realeza?
-Nossas famílias se cruzaram em algum ponto da história, é mais respeito pela linhagem do que outra coisa. Tive sorte deles valorizarem coisas além do sangue.
-O que realmente aconteceu com a sua família?
A pergunta me pegou de surpresa, a anos que eu não parava para pensar nos acontecimentos daquele dia. Mas julgando que eu estava o levando justamente para o epicentro da chamada Tragédia de Gelo, uma explicação era mais que válida.
Durante o caminho que percorremos contei como os espiões entraram na casa, renderam a mim e os meus familiares no hall de entrada antes de matar um por um. A magia que se descontrolou e destruiu uma parte da casa assim como minhas juntas e tecidos.
-Me parece estranho eles te deixarem viva – Nacht comentou – Se o alvo fosse seu pai, usariam você também.
-Nunca parei pra pensar isso – o caminho de pedra que levava até a casa já tinha sido percorrido por mais da metade – Até que você tem um ponto.
Tentei puxar na minha memória, Senan foi o primeiro a morrer ainda sendo um bebê. Minha mãe foi a segunda, as imagens eram bem claras na minha mente, mas o que aconteceu entre esses eventos o meu pai sendo morto e caindo na minha frente?
Nacht assobiou quando viu a casa destruída – Você fez mesmo isso? Me lembre de não te irritar.
-Não vale a pena quase morrer pra te explodir, fique tranquilo.
Girando os braços ele se abaixou colocando a mão no chão, um círculo escuro se fez presente não enquanto seu grimório emitia um brilho pálido. De onde eu o observava, Nacht estava de olhos fechados e parecia se concentrar, ele virava a cabeça para os lados mas não abriu os olhos ou falou nada.
Até que sua cabeça se voltou totalmente na minha direção, seus olhos tom azul pálido encararam a minha figura intensamente. Ele franziu a testa antes de desfazer o círculo e se levantar.
-Achou alguma coisa? – perguntei ainda de braços cruzados – Sua cara não parece muito boa.
-Apenas uma assinatura forte o suficiente para ser identificada.
O ar travou na minha garganta, então era verdade – Aonde?
Nacht olhou para chão antes de colocar as mãos nos bolsos e puxar um cigarro, ele acendeu a ponta e depois de dar uma longa tragada respondeu.
-Em você.
N/A: Estava dando uma olhada nos arquivos, metade já estava escrita.
Estava animada porque atualizei o mangá ontem então porque não?
Espero que tenham gostado!
Até mais, Xx
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