O lado escuro do herói
*** - mudança de POV/narrativa
*Especial 3° Pessoa - acontecimento passado*
Julius estava em seu escritório como de costume, sempre cheio de relatórios para preencher, nunca o mundo cheio de magias diferentes pareceu tão distante. Mesmo que fosse apenas uma janela de distância, se ele atrasasse mais um dia era capaz que o vice-capitão Ettori Coldciani o amarrasse na cadeira até que terminasse suas obrigações.
-Não fique com essa cara Julius, você não é o único que gostaria de estar lá fora.
O homem tinha uma pilha de papéis muito menor que a dele em sua frente, mas sequer tirava os olhos do papel ou parava de escrever para conversar. - Se mantivesse o foco ao invés de olhar para a janela de 5 em 5 minutos talvez estivesse com algumas folhas a mais já preenchidas.
-Como você consegue Ettori?
O moreno com quem dividia a sala riu alto, finalmente parando o movimento de escrita para olhar para o amigo - Força de vontade, prometi a [Nome] que estaria em casa antes do jantar.
-Ainda está tendo problemas com ela atacando os guardas desprevenidos?
-Sim, ela acha que só porque são adultos podem se defender de qualquer coisa. O que realmente não acontece, prometi a treinar com mais afinco a troco de que parasse com os ataques. - ele suspirou.
-A magia dela já parece tão desenvolvida mesmo com pouca idade, a criocinese é tão legal!
-E nociva ao mesmo tempo - Ettori se encostou na cadeira - O corpo dela não está desenvolvido o suficiente para controlar sua mana. Giane começou a notar algumas manchas, tem tratado dela de maneira sutil, mas ainda assim é uma preocupação.
-O corpo físico muitas vezes também precisa de preparo, não é apenas a mana que precisa de treinamento.
-Sim concordo, mas tente você convencer uma criança que correr também é treinamento.
Julius riu, de fato parecia uma tarefa um tanto quanto complicada. Os dois homens trocaram mais algumas palavras antes de voltarem a se focar nas respectivas tarefas. Ettori não demorou para que terminasse anunciando que estava indo para a casa.
-Não é porque não vai ter ninguém te vigiando que pode escapar dos relatórios Julius - disse colocando a própria capa sobre o apoio e saindo pela porta - Vou entregá-los para o rei mago amanhã.
-Porque você é tão ruim? - o loiro colocou a testa contra a mesa vendo que o colega encontrava certo entretenimento em seu sofrimento. Assim que a porta se fechou reparou numa folha de papel que passou por ela.
Se apressou em andar até a porta a fim de chamar de volta o amigo e dizer que ele havia deixado algo cair. Mas não foi o caso, nas anotações encontrou algo que nunca imaginaria fazer parte do interesse do amigo.
Magia proibida, na letra de Ettori tinha anotações sobre poderes demoníacos, como os usuários tinham certa resistência física e ganhavam benefícios em troca de se tornar um hospedeiro. Aparentemente ele estava considerando alguma coisa, pois prós e contras estavam anotados.
Não precisava de muito para saber que o homem estava desesperadamente procurando uma solução para a pequena [Nome]. E a ponto de cogitar esse tipo de magia é capaz que a situação fosse bem mais séria do que o mesmo tinha comentado, nesse momento se viu num dilema.
O que faria? Uma denúncia ao reino? Sua família seria condenada.
Não, nunca poderia fazer isso ele mesmo tinha um vasto conhecimento de magias talvez se soubesse um pouco mais sobre a situação poderia ajudar.
Jurou um dia que nunca invadiria o espaço pessoal de Ettori, mas visto a situação Julius andou até a mesa do colega buscando pelas gavetas por mais alguma informação. Nada que sustentasse a sua teoria.
Isso até que encontrasse uma carta. Apenas o símbolo em sua frente fez com que uma sensação de receio surgisse.
Reino Spade.
Não havia maneira daquilo ser uma coisa boa, embora no conteúdo escrito não tivesse nada demais. Apenas alguma solicitação de informações.
O loiro ponderou, por horas, até que a lua estivesse no céu. Foi quando recebeu o chamado dos cavaleiros, sobre uma invasão na fronteira e um ataque na residência Coldciani.
Não deixou que falassem mais uma palavra, seguiu para a residência do amigo e mesmo no caminho viu no horizonte a névoa gélida que se erguia sobre a casa. Ordenou que os acompanhantes se dividissem e procurassem por invasores até mesmo até a fronteira.
Outros esquadrões deviam aparecer em breve.
No pequeno tempo que separava o quartel dos Cervos Cianos e a residência pensou se a folha não tinha sido uma pista. Um aviso do que estava para acontecer.
Julius se surpreendeu ao ver que parte da mansão já estava completamente destruída, coberta por uma camada de gelo. No centro do que costumava ser a sala corpos se apresentavam, até mesmo ele precisou colocar a mão na boca reconhecendo as figuras de Giane e Senan no meio deles.
E mais distante a mesma pessoa que havia passado o dia com ele, alguém que a poucas horas estava rindo de sua falta de foco.
Se abaixou perto do corpo de Ettori, [Nome] estava ao seu lado. Parecia ser a menos afetada, afinal os outros estavam com suas feridas bem aparentes. Julius ouviu um soluço baixo imediatamente procurando sua fonte.
Um leve movimento na garota ao seu lado indicou que tinham ao menos um sobrevivente.
***
-A partir desse ponto a história é como você conhece. - continuou o homem - Não tenho dúvidas de que seu pai estava procurando uma solução para você. Mas tudo no escritório sumiu naquela noite.
Julius abriu uma gaveta tirando um envelope com um selo - Aqui tem a folha que ficou para trás e a carta, não sei o que vai fazer com isso. - o homem aplicou um pouco da própria mana a fim de conseguir abrir.
-Pensar que poderia ter feito algo coisa me assombra até hoje.
O envelope ficou na minha frente, meu pai estava disposto a ir até onde não devia para poder me salvar.
Quando pensava que tinha conseguido algumas respostas muitas outras perguntas surgiam, precisava saber o que aconteceu naquela noite entre Julius me encontrar e meus parentes serem mortos, porque as memórias antes disso não vinham?
-Marx está em serviço?
A habilidade do cavaleiro era excepcional, se tivesse alguém que pudesse me ajudar seria ele.
-No momento não, está com um grupo na região esquecida - Julius cerrou os olhos na minha direção - [Nome] não acho que o que pretende fazer é uma boa ideia.
-É uma pena. - bati a mão no envelope e me levantei - Não estou pedindo sua permissão.
Julius podia me considerar ingrata por minhas ações, mas no momento com as recém descobertas jogadas em meu colo. Não tinha nada além de raiva e confusão nos meus pensamentos.
Ninguém falou comigo na saída do quartel, salvo um brutamontes que se chocou comigo algum tempo depois. O braço largo me segurou pela cintura antes que pudesse ir ao chão, mas assim que viu quem era, deixou que eu caísse sem um segundo pensamento.
-Ah é você.
-[Nome] - Morgen se ajoelhou do meu lado me ajudando a sentar - Yami, porque você a soltou?
-Não vi quem era.
Balancei a cabeça - E isso é o suficiente pra você deixar uma mulher cair? Bem, visto o jeito que você me tratou na masmorra não é de se esperar coisas muito diferentes. Obrigada Morgen.
-Hum - o estrangeiro se abaixou - Porque está tão nervosa floco de neve? Seu encontro com o punk não deu certo?
Empurrei o rosto dele para trás já que estava relativamente próximo de mim - Cala a boca monstrengo, não era um encontro.
-Então porque você está vermelha?
Fiz menção de o acertar mas imediatamente sua espada me bloqueou, o metal ganhando uma fina camada de gelo em seguida.
-Oh, se quer brigar estou mais do que disposto. Ainda não esqueci da primeira vez que nos encontramos.
-Parece quase romântico vindo de você Yami.
Dei um passo para trás, uma névoa gélida nos contornando. Ele era forte, mas sua mana não era contrária a minha como a de Fuego era, então alguma vantagem em relação ao leão eu tinha.
Yami girou a espada se posicionando e esperando que eu desse o primeiro ataque, ambos grimórios brilhavam e nossas manas se chocavam de maneira intensa. Girei a mão, mas antes que pudesse fazer algo Morgen entrou no meio com as mãos levantadas.
-Tenho certeza que seria uma luta no mínimo interessante, mas este não é o lugar. Então se acalmem por favor.
Morgen tinha uma aura tão tranquila que eu não tive outra opção a não ser ouvi-lo, Yami resmungou e colocou a espada no ombro.
-Não sei se meu irmão fez algo, mas peço desculpas em seu nome.
Ele fez menção de se curvar mas eu o impedi negando com a cabeça - Não tem nada a ver com Nacth, fique tranquilo. Foi surpreendentemente gentil, ou algo próximo disso.
-Então porque parece estar pronta para matar alguém? Se não foi nada com seu namorado.
Yami não tem medo de morrer.
-Suponho que tenha algo a ver com isso então - Morgen levantou o envelope me fazendo sair da aura assassina que me tomou - Caiu no chão quando se trombaram.
Realmente uma boa porcentagem do meu mau humor estava concentrada ali. Então a imagem do meu capitão se fez presente, se Fuego me visse diria para controlar minhas emoções.
Guardei o grimório e peguei o envelope de sua mão - De certa forma, obrigada.
Não tinha mais o que fazer ali e no dia seguinte voltaria para a base dos Leões Carmesins normalmente e tinha certeza que Fuegoleon me jogaria em alguma missão logo de cara.
-Nossa luta fica para outro dia Yami - virei seguindo meu caminho - Até lá não perca para ninguém até perder pra mim.
N/A: Até a próxima!
Xx
Bạn đang đọc truyện trên: AzTruyen.Top