O Início


Murmúrios e lamentações. Era tudo que eu conseguia ouvir enquanto andava pelas ruas da capital real do Reino de Clover. "Coitada, é uma tragédia!" "Ouvi que ela é a única que sobreviveu", a Tragédia de Gelo foi assim que ficou conhecido o "incidente" se é que podemos chamar desse jeito.

Massacre com certeza se adequava melhor ao acontecido.

-Dizem que espiões de reino Spade invadiram a fronteira atrás do falecido Vice-Capitão Coldciani, mesmo sendo forte ele não teve chances, só conseguiu salvar a primogénita antes de ser assassinado pelos espiões.

-Oh então ela não viu nada?

-Aparentemente não.

Dois cavaleiros reais fofocavam alto o suficiente para eu poder ouvir, bom eu já tinha perdido tudo mesmo responder não faria diferença.

-Me permitam corrigir a história de vocês – comecei chamando a atenção deles e de mais algumas pessoas que andavam nas ruas. Os dois ficaram surpresos.

Girei a minha mão criando figuras gélidas que emitiam uma leve fumaça branca – Quando os bastardos do reino Spade entraram na minha casa, estava com a minha mãe e meu irmãozinho num dos jardins eu ainda não possuo um grimório e minha mãe como a maioria sabe usava magia de cura e não de ataque, então logo fomos capturados.

As formas se mexiam dentre as pessoas conforme eu contava.

-Não demorou muito para que estivéssemos completamente a mercê dos invasores, meu irmãozinho foi o primeiro – a figura dele se desfez no ar como se alguém tivesse a cortado no meio – Em seguida a minha mãe – a forma da cabeça dela se desfez deixando apenas o corpo.

Quem tinha parado pra ouvir os relatos estava horrorizado - Bom não se chama tragédia por acaso, não é mesmo? – disse.

-Oe, pare com isso – um dos guardas disse entre dentes olhando para os lados – Você está fazendo uma cena.

-Mas não é disso que vocês estavam falando? – levantei um pouco a minha voz – Não é sobre isso que todos vocês andam falando? A sobrevivente, as mortes e a tragédia, achei que vocês quisessem ouvir a verdade. Ou será que é forte demais? Ainda nem cheguei na melhor parte!

Senti uma mão no meu ombro, eu não precisava virar pra saber quem era.

-Achei que tinha dito para me esperar. Eu deveria te escoltar até a residência Vermillion. – o capitão dos Cervos Cinzas disse calmamente. E então se virou para o pequeno público – Pessoal, foi uma perca enorme para o reino de Clover ficar relembrando e comentando inevitavelmente traz apenas a dor. Nesse momento devemos nos preocupar em ficar com aqueles que amamos.

Ele apertou o meu ombro e eu desfiz as figuras, meu pai sendo a última delas, senti uma lágrima escorrer dos meus olhos e rapidamente sequei com a manga da blusa e mesmo antes que alguém pudesse falar mais alguma coisa me desvencilhei de Julius e continuei andando.

Se tinha uma coisa que eu não suportava era o olhar de pena que todos eles estavam me direcionando.

-[Nome]...

-Você não pode realmente me culpar por isso. Todos os dias, tudo que eu ouço são pessoas falando e dando opinião sobre aquele dia, e nenhuma delas estava lá – eu parei e me virei pra ele – Eu não aguento mais isso, seria melhor se-

-Não diga algo que você vai se arrepender depois – ele me interrompeu – Ettori fez de tudo para que você escapasse, não jogue a vontade e o legado dele no lixo.

Senti minhas bochechas esquentarem, Julius sorriu colocou a mão na minha cabeça – Vamos, os Vermillions estão te esperando.

Soltei o ar do meu pulmão e continuei andando ao lado dele, não demorou para que chegássemos ao castelo dos leões. Fuegoleon estava na porta pra me receber, éramos amigos apesar dele ser dois anos mais velho do que eu. A família do meu pai sempre teve uma boa relação com eles, se se não me engano nossas famílias se cruzaram a muitas gerações atrás sendo esse o motivo pelo qual eu estou aqui.

Ele parecia que estava as margens de se debulhar em lágrimas, mas estava se segurando porque Mereoleona estava do lado dele.

Balancei a cabeça, apesar de tudo estava feliz de vê-los.

-Achei que ia me fazer esperar o dia inteiro pirralha – Mereo me disse sorrindo.

-Bom acredito que estou te deixando em boas mãos – Julius disse – Lembre se do que Owen disse, sem usar magias até que esteja completamente curada.

Olhei para os meus braços enfaixados – Tudo bem.

Ele se afastou seguindo na direção do castelo de Clover e assim que eu virei me vi sendo sufocada pelos braços de Fuegoleon, e agora as lágrimas deles escorriam pelo seu rosto. Ele sempre tinha sido mais sensível.

Eu bati nas costas dele algumas vezes.

-Humpf, você não passa de um bebê chorão – Mereo comentou – Mas não nego que fiquei aliviada quando soube que estava bem. – Dito isso ela se virou, sorri de leve essas provavelmente seriam as palavras mais gentis que eu iria tirar dela - Vamos, vou te mostrar onde vai ficar já que será sua casa por um tempo.

Fuego me soltou e sorriu em meio as lágrimas.

Começamos a andar pelo castelo, eu já tinha vindo aqui diversas vezes, mas saber que seria a minha casa por um certo período de tempo me fazia ver as coisas de maneira diferente. Apesar de ser parte realeza eles não faziam tanta diferença pelo nascimento, diferente de uma certa outra família que tinha um primogênito de nariz arrebitado.

Os Vermillions valorizavam aqueles que eram corajosos e fortes dentro das suas habilidades. Alguns dos servos me cumprimentavam com aceno de cabeça enquanto nos encontrávamos pelos corredores.

Mereo parou em frente a uma grande porta – Esse vai ser o seu quarto. Julius já mandou trazer todos os seus pertences pra cá então já está tudo certo. – realmente tinha diversos baús com todo tipo de coisas, a minha casa não tinha sido destruída por completa então ainda consegui recuperar boa parte das minhas coisas.

Mas uma coisa em particular me chamou a atenção, o manto do vice-capitão dos Cervos Cinzentos estava cuidadosamente dobrado em cima da cama. Eu coloquei a mão em cima do tecido, no dia do incidente meu pai estava fora de serviço então a capa estava intacta.

-Vamos deixar você terminar de se instalar – a mais velha disse disse.

-Eu não ligo de ajudar com os baús mais pesados – Fuegoleon comentou.

Mereo então deu uma última olhada pra mim e saiu fechando a porta. Me virei para os baús e dei algumas instruções.

-Esses dois aqui são alguns objetos e livros – apontei – Se você puder colocar eles nas estantes eu agradeço.

Abri a grande janela que tinha no quarto e uma brisa suave entrou, estávamos no fim da tarde então não demoraria para anoitecer. Eles tinham me doado um quarto com uma bela vista enquanto olhava para fora senti o olhar do garoto queimando nas minhas costas.

-Fale o que você quer me perguntar – falei ainda sem desviar o olhar da cidade.

-Eu não... Quero te perguntar nada – Fuego disse e me virei na direção do mais velho.

-Já nos conhecemos a tempo suficiente – respondi enquanto abria um outro baú – Não precisa se segurar.

-O que aconteceu com os seus braços? – Então era isso que estava se passando pela cabeça do Vermillion.

Limpei a garganta – Bom... Não tem um jeito fácil de falar isso. Quando eles hum... Tiraram a vida do meu pai, a minha magia saiu do controle – abri e fechei as minhas mãos, ainda estava com um pouco de dificuldade de movimentação – Como foi uma explosão mágica muito intensa e num período muito curto de tempo, então acabou afetando fisicamente o meu corpo.

Não tive vergonha nenhuma em mostrar realmente o que tinha acontecido, a pele dos meus braços parecia muito mais clara do que o resto do meu corpo fazendo com que as minhas veias ficassem visíveis. – Dr. Owen disse que o tecido das minhas veias ficaram parcialmente congeladas, assim como as minhas juntas...

Fuego colocou os livros na prateleira e veio na minha direção tomando a minha mão e olhando as marcas, olhei pro rosto dele. Enquanto a maioria parecia ficar com dó, ele parecia estar com raiva.

-Eu vou te ajudar – ele falou.

-Hum? Ajudar com o que? – perguntei puxando a minha mão e recolocando a bandagem.

-A treinar – ele respondeu – Você precisa fortalecer o seu corpo pra poder usar a sua magia com a capacidade total não precisa? Eu vou te ajudar a ficar mais forte [Nome], como o segundo filho da casa Vermillion eu te prometo isso.

Fuego tinha a fama de ser o mais sério da família e ter ele me prometendo isso com certeza era uma coisa que ele faria virar realidade. Balancei a minha cabeça e sorri – Agradeço por isso mas que tal terminar de colocar os livros nas prateleiras primeiro?

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