Dungeon Final


Ar entrou forçadamente nos meus pulmões fazendo com que tossisse o que restava de água para fora as vias aéreas estavam queimando por conta do líquido que não deveria estar ali, me inclinei pro lado enquanto buscava o fôlego que faltava.

Um lampejo de metálico e o que estava circulando a minha cintura se foi.

-Ah? Está viva? - A voz grave e preguiçosa do meu colega de missão se fez presente.

-Não pareça tão desapontado Yami – reclamei ainda me recuperando.

O rapaz não respondeu apenas gargalhou e seguiu para a sala do tesouro, coloquei a mão sobre minha garganta; Uma sensação incomoda ainda presente, dei longo suspiro para verificar que de fato estava bem e que estava respirando.

Me sentei e olhei em volts a sala parecia estar no seu curso normal, embora pedaços de rio ainda corressem pelas paredes, mas a gravidade parecia estar do jeito certo. Um pouco mais a minha frente Morgen e Willian estavam parados uma expressão de alivio em seus rostos, e como se o destino não fosse mais cruel Nozel estava do meu lado.

-Obrigada.

Não precisava de mais palavras, sabia que tinha sido ele que havia me tirado do rio. Vergonha subindo para as minhas bochechas ao me lembrar da última frase que trocamos.

Se ele não devia nada a mim, com certeza agora eu devia muito a ele.

-Pra alguém que se gaba de ter treinado na zona de mana forte, parece um pouco estranho que tenha perdido para uma masmorra.

Ai estava o membro da realeza, embora dessa vez ele não tivesse tão errado eu realmente estava numa situação patética.

-Mesmo o mais forte dos cavaleiros tem suas fraquezas – respondi – Não me dou muito bem com movimentações constantes.

Não permitindo que o silêncio se tornasse ainda mais estranho me levantei jogando os cabelos para o lado e torcendo o que restava da água gelada fiz o mesmo com a capa dos Leões Carmesins estava pesada em completamente ensopada.

Desprendi o tecido vermelho para poder tirar o excesso, seria ótimo ter alguém com magia de vento ou fogo agora.

A sala do tesouro estava completamente aberta agora os mais variados tons de ouro e joias reluziam lá de dentro e apesar da sala da gravidade ter sido um obstáculo e tanto algo ainda me deixava inquieta - Melhor vocês manterem o olho no brutamontes, não fizeram a listagem dos tesouros ainda... Ainda pode ter alguma coisa inesper-

Cedo demais.

O chão se abriu abaixo de nossos pés e antes mesmo que pudéssemos ativar nossas magias fomos selados numa segunda câmara, diferente da onde estávamos anteriormente as paredes eram de uma pedra escura com um brilho opala e pequenas esferas luminosas eram a única coisa que nos permitia ver, caso contrário estaríamos numa escuridão total.

E por nós se entende, Nozel e eu.

Uma corrente de ar frio veio do fundo do corredor, uma lembrança da mesma massa preta que parecia me chamar mais cedo, cantar meu nome com uma voz sedutoramente perigosa.

-O que está vendo?

A voz de Nozel era baixa e firme fazendo com que um calafrio subisse pela minha espinha.

-Tem... Alguma coisa estranha nessa masmorra – respondi passando a mão nos braços tentando me livrar da sensação de estar sendo observada, cobiçada.

-Então vamos dar um jeito de sair daqui – assim que ele terminou de dizer senti algo quente sendo jogado nos meus ombros, o nobre havia tirado a própria capa e colocado em mim. Ele foi um cavalheiro, admito isso, então resolvi guardar pra mim o fato de que geralmente não sentia frio.

Seguimos pela direção oposta do corredor e conforme andávamos e mais esferas iam se acendendo as que ficavam para trás iam se apagando. Foi quando as paredes começaram a tremer e um grunhido gutural rompeu o silêncio.

A escuridão nos caçando e junto com ela a criatura feroz que andava nos observando, vinhas cor de obsidiana brotaram das paredes tentando nos prender no local. Nozel rapidamente usou da sua magia de mercúrio para nos soltar.

Meu grimório começou a brilhar, não podia deixar que apenas ele fizesse algo, afinal eu havia treinado o suficiente. O par de lobos gigantes se materializou da fumaça branca que deixou minhas mãos, ferozes e mortais, prontos para atacar o que quer que fosse e ganhar algum tempo para nós.

-Precisamos continuar – falei e mais duas silhuetas brancas surgiram para desarmar as armadilhas a nossa frente, enquanto isso o feitiço que eu havia lançado lutava bravamente para nos proteger.

Nozel conjurou a águia que ele normalmente usava para poder voar, numa escala menor mas ainda assim grande o suficiente para que pudesse nos transportar, o quão comprido era aquele maldito corredor?

-Meu feitiço de desfez – falei – Está vendo alguma saída?

-Nenhuma – virou o rosto levemente para conseguir me olhar.

-Então vamos ter que criar uma – a alguns metros na nossa frente concentrei a minha magia num único ponto, retirando o calor das pedras que nos cercavam tornava mais fácil a quebra delas. O rapaz na minha frente pareceu entender qual era a minha intensão e se preparou para lançar seu ataque depois do meu sinal.

Mais um rugido, e dessa vez bem mais perto.

-Agora Nozel!

A águia se projetou para frente criando uma lança que perfurou a parede e abriu uma passagem para o lado de fora da masmorra, coloquei os braços na frente do meu rosto para evitar que as rochas me acertassem.

Olhando para o buraco recém apenas um par de olhos âmbar nos encarava da escuridão, devia ser um guardião ou algo do tipo. Não ousou sair da masmorra apenas deu a volta e retornou para qual quer que fosse seu lugar.

A águia plainou gentilmente até parar de volta no chão, o restante da equipe ainda devia estar lá dentro.

-Posso dizer com toda certeza que eu odeio masmorras agora – comentei finalmente colocando meus pés no chão.

-Não é a minha atividade favorita – foi a única resposta que eu tive dele. Me sentei numa pedra que tinha ali o sol ainda brilhava no céu embora já estivesse bem mais baixo, quase perdemos o dia naquele lugar.

O nobre conseguiu contato pelo pequeno comunicador e avisou o que havia acontecido, Willian respondeu que não havia necessidade de voltarmos para dentro eles já estavam terminando e estavam bem.

Passei os dedos pelos meus cabelos para desembaraçar alguns fios, Nozel estava de pé a alguns metros de distância de braços cruzados e o queixo alto. Pela primeira vez parei para reparar em seu rosto, com certeza ele havia perdido todas as características de jovem e agora estava mais maduro.

O maxilar marcado, o queixo fino... Uma beleza fria e elegante.

-O que é? – perguntou e encarando pelo canto de olho.

-Você cresceu – respondi sem me sentir culpada em ter sido pega o observando.

Demorou alguns segundos para que ele respondesse – Não é o que todos nós fazemos?

-Sim, mas quase me faz pensar que eu nunca te conheci. – mexi as minhas mãos – Fuego ainda parece o mesmo adolescente de anos atrás pra mim, mas você parece diferente.

Não sei se a minha fala o pegou de surpresa ou o que aconteceu mas foi o suficiente para que ele se virasse e me encarasse por algum tempo. Sustentei seu olhar com curiosidade até que ele voltasse a olhar para saída da masmorra.

Nozel pigarreou chamando a minha atenção – Não te odeio.

-Hum?

Ele me mexeu nervosamente – Disse que eu te odiava, é mentira. Isso nunca aconteceu.

-Certamente não era isso que parecia – rebati com um pouco de sarcasmo.

Sua cabeça se virou, algo queimando por trás dos olhos claros. Ah, eu estava me divertindo com isso mais do que deveria.

Nozel pareceu respirar fundo antes de continuar – Mantenho as minhas palavras de que respeito a sua família em memória da minha mãe...

Ele deixou que a frase morresse fazendo com que eu me perguntasse o que viria depois – Mas?

-Te considerei uma amiga, ou o mais perto que poderia chegar disso, por algum tempo. Depois de... Você sabe, não acho que mais alguém conseguia entender a minha dor além de você. E meus irmãos eram pequenos demais.

A sinceridade desmedida dele realmente me pegou desprevenida, eu nunca havia visto dessa forma. Ou melhor nunca enxerguei desse jeito e até que faria sentido ele ficar chateado por eu partir sem mais nem menos, Nozel seria provavelmente o próximo líder da família Silva então tinha responsabilidades demais para cuidar depois da perda da mãe, talvez nesse momento ele tenha se sentido mais sozinho do que nunca.

-Desculpe...

Ele balançou a cabeça, qualquer sombra de sentimento que havia ali antes havia sumido – Já se passou muito tempo.

Sua fala foi interrompida pelo grupo que saiu da masmorra, nossa conversa morreria por ali, mesmo que alguns pensamentos continuassem jogados ao vento e talvez sem conclusão para sempre.

Passei os olhos pela capa azul que ainda permanecia nos meus ombros, mesmo que fosse uma cor considerada fria, pela primeira vez em algum tempo eu me senti quente.









N/A: Obrigada por ler até aqui!

Ate mais, Xx

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