Epílogo

FELINA

— Tudo pronto!

Adora entra no quarto com uma sacola enorme de compras. Já são nove horas da noite e planejamos comer doce até não aguentarmos mais. Estou terminando de arrumar lençóis e colchões no chão com outros panos pendurados em fios — um forte ou cabana improvisada.

Ela deixa o notebook na nossa frente, apaga as luzes e deixa os pisca-piscas ligados. O lugar todo fica com iluminação amarelada aconchegante.

Pegamos a sacola e despejamos por cima do colchão e espalhamos. Estamos recriando o que fazíamos quando éramos pequenas. Me sinto mais leve agora.

— Acho que você comprou muito doce — eu digo rindo nervosa. Ela assente com um bico.

— Esqueci que não somos mais crianças — ela coça atrás da cabeça. — A gente não aguenta mais tanto açúcar.

— Vamos ver o quanto conseguimos comer — meus olhos brilham. Adora dá uma gargalhada.

— A Mara vai surtar.

— Deixa ela. Estamos de férias, podemos treinar o tempo que quisermos e não é todo dia que a gente tem a oportunidade de fazer isso.

Estamos a dois meses de irmos para a mesma universidade. As coisas estão aos poucos caminhando, e estou bem com isso.

Adora concorda e eu aperto o "play" para começar o filme. Nós nos apoiamos na parede e em travesseiros de modo confortável, meio deitadas, meio sentadas, e ela passa o braço ao redor de meus ombros. Ficamos assim num abraço quentinho e comendo doces enquanto vemos o filme.

Eu realmente não presto muita atenção, mas Adora sim. Ela sempre gostou mais de filmes que eu. Prefiro prestar atenção nela, suas expressões divertidas enquanto assiste o filme, o cheiro de shampoo do cabelo, abraçá-la e ficar assim para sempre.

— Ok, eu tô cheia — ela diz depois de comer cinco pacotes de doce e mais uma colher de doce de leite. Eu sorrio. Sabia que ela não ia conseguir. — E você nem tá prestando atenção.

— Tô sim — minto.

— Então como é a história?

Solto ar pelo nariz.

— A menina escreve as cartas pra outra garota, fingindo ser o garoto, mas óbvio que ela gosta de verdade da outra lá...

Adora dá uma gargalhada.

— Você nem sabe os nomes deles e é péssima em explicar uma história.

— Em dois dias eu iria esquecer mesmo — dou de ombros. Adora aperta meu nariz com brincadeira. — Aposto que você também.

— Desafio aceito.

Ela dá play no filme de novo, e dessa vez eu presto atenção. É diferente e tão legal, melhor do que eu esperava que fosse. Uma hora depois, quando o filme já está no final, eu e Adora comemoramos com o que acontece. Sinto até vontade de chorar.

— Ok, o filme é bom mesmo — eu digo ainda meio sensível. Adora ri assentindo e coloca o computador para o lado.

— O que quer fazer agora? — ela pergunta e vê as horas. Ainda nem são onze horas.

— Nada mesmo.

— Jura? A gente podia encher a paciência da Mara um pouco lá na sala.

Dou risada e balanço a cabeça.

— Deixa ela conversar com a Hope! Você é ciumenta, Adora.

Adora cora um pouco e arruma o cabelo solto que cai gracioso em seus ombros. Já está crescendo, inclusive o meu. Já até consigo fazer o rabo de cavalo pequeno se quiser.

— Então vamos só ficar aqui — digo. — Eu tô cansada, mas não quero dormir.

— Por mim tudo bem — ela dá de ombros.

Nos deitamos abraçadas, bem pertinho, e eu sempre gostei de entrelaçar nossas pernas. Me sinto segura, e sei que Adora nunca vai me largar mesmo se eu mesma tentar.

Sei que eu não vou me cansar dela. Desde pequenas quando descobri o que eu sentia, aquilo me atingiu como um golpe baixo*. Não esperava ficar assim tão indefesa. Eu não sabia o que era amor de verdade.

Adora era minha âncora secreta, e agora não preciso esconder.

Prometemos uma a outra que não vamos deixar a outra ir, não de novo. Todos os dias quando ela sorri para mim eu me agarro mais a essa promessa e sei que é verdadeira.

Depois de anos separadas não quero me me distanciar. Não vamos.

Abraço-a um pouco mais, e Adora me beija na testa enquanto acaricia meu cabelo. Nossas respirações ficam sincronizadas, e eu acabo cochilando com o som de seu coração batendo.

Por um segundo antes de dormir, eu sorrio, porque sei que vamos ficar bem não importa o que aconteça.

E porque temos uma a outra.


...


*golpe baixo = sucker punch

na moral eu confesso que chorei quando terminei de escrever e li esse final, porque nunca mais vou escrever sucker punch de novo, e foi uma história que levou seis meses (de estresse e amor), e pensei que seria um alívio terminar, mas só foi doloroso também

vocês gostaram?

quando vi esse desenho da noelle logo pensei numa cena pro final e achei perfeita:

acho que isso resume toda a fic e como deveria ter terminado. no início às duas estavam separadas, perdidas, confusas, mas então se encontraram de novo e agora estão juntas e não vão se separar, porque uma é âncora da outra

enfim, vou deixar outros agradecimentos pra um capítulo só pra isso kkkk (o próximo)

muito obrigada por ter lido ❤️ significa muito pra mim

se cuidem! amo vocês ❤️❤️❤️

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