23

Baile (parte 1)

FELINA

— Eu acho melhor você tomar muito cuidado enquanto corta esse cabelo — digo com raiva para o cabeleireiro. Ele está com a máquina de cortar, prestes a ligar, mas então para assim que eu abro a boca.

Levanto uma sobrancelha para ele.
O cara tem tipo o dobro da minha altura, mas engole seco de medo. Estou bem ao lado dele e Adora (que vai cortar primeiro).

— Felina! — Adora diz. — Tá deixando ele com medo.

— É bom mesmo, porque se não cortar direito... — aponto o dedo indicador para ele, mas Mara me puxa para trás.

— Calma, calma — a mulher diz e dá um sorriso constrangido para o homem.

Mara faz com que eu sente numa cadeira e espere com ela enquanto Adora tem as laterais da cabeça raspadas. Uma parte de mim fica morrendo de medo, mas a outra está amando isso. E Adora parece estar de boa.

O barulho da máquina me deixa nervosa. Fico me mexendo na cadeira, e não sei decidir se olho ou não.

— Tá nervosa pra cortar o seu? — Mara pergunta. Ela está super tranquila enquanto lê um livro.

— Tô nervosa por ela — abraço meu próprio corpo. Adora está com os olhos fechados, como se estivesse meditando. Um dos lados já foi. — Meu Deus, é muito cabelo no chão.

Mara ri e segura minha mão. É, devo estar nervosa por mim.

Quando o corte de Adora termina, ela abre os olhos e olha bem, sorrindo.

— Ficou lindo, Dorinha! — Mara mexe no cabelo dela várias vezes, olha cada canto. É só uma mãe preocupada, no fim das contas. Quando o cabelo fica solto mal dá pra notar, mas se ela jogar um pouco para o lado... é a coisa mais linda do mundo. — Você gostou?

Adora assente. Vejo pelo brilho de seus olhos que está mesmo satisfeita. Então olhamos uma para a outra, eu sorrio.

— Minha vez! — fico em seu lugar. O cabeleireiro me olha com nervosismo. — Relaxa aí, cara.

— Ok...

Acho que eu preciso manter a calma.
Eu quero fazer isso. Preciso fazer.

— O quanto você quer cortar? — ele pergunta.

Penso em tudo que Sombria puxou, os anos que ela pegou no meu cabelo como se fizesse carinho... Nunca mais vai acontecer.

— Tipo noventa por cento dele.

Adora, que ainda fica mexendo nas laterais da cabeça, especifica direitinho como eu quero. O homem assente e prende meu cabelo num rabo de cavalo baixo.

— Adora — chamo-a com medo. Ela ri e segura minha mão, olhando o homem pegar a tesoura.

Estou tão nervosa que sinto frio na barriga.

— Últimas palavras? — diz o cabeleireiro.

Eu vou bater nesse cara.

— Eu chamo esse corte de "Emancipação" — Adora diz convencida.

— E eu chamo de "Vai se Foder, Sombria" — respondo.

Aí ele corta. É a sensação mais libertadora que tive nos últimos dias.

Falta pouco para eu nunca mais ver a Sombria.

E nunca mais olhar para trás.

...

Noite do baile

— Você vai soltar essa merda e eu não quero saber, Adora! — tento puxar o elástico de sua mão. Ela foge de mim e corremos pelo quarto.

Adora sobe na cama, rola e cai do outro lado. Eu fico ali em cima em posição de ataque como se fosse um gato, e ela ri tanto que aperta a barriga.

— Se você insiste — ela diz e desiste, então joga o elástico em cima da cabeceira. Adora passa os dedos pelos fios loiros, e quando faz isso deixa à mostra o corte novo. Perco um pouco de ar quando vejo isso. — Satisfeita?

— Ainda não. Fica aqui deitada comigo! — digo maliciosa. Adora fica vermelha.

— A gente devia se trocar logo.

Verdade. O baile começa às nove e já são oito horas. Acabamos de jantar e tomar banho, e ela está só com um top de academia e calça moletom. Ficamos só conversando e perdendo tempo desde então, e em parte, não quero que ela se vista agora, porque aí não daria pra admirar seus braços, barriga e etc... (tudo).

— Não consigo para de olhar pro seu cabelo — ela diz enquanto pega o secador de cabelo, sorrindo. Passo as mãos nos meus fios curtinhos. Parece que perdi cinco quilos de uma vez.

— E eu não consigo parar de olhar pra você.

Adora chega perto de mim, apoia os braços no colchão e me beija. Tento puxá-la para ficar na cama comigo, mas ela sai mais rápido.

— Felina!

— Desculpe.

Ela sorri e se afasta para se vestir. Vou para o outro lado e busco meu terno.

Como eu não sei fazer maquiagem — e Adora sabe muito pouco —, Mara nos ajuda com tudo. Me sinto feliz demais com tanto cuidado que a mulher tem conosco.

Nós conversamos sobre qualquer coisa, fazemos o cabelo, unhas, rimos... Tudo que eu nunca tive a oportunidade de fazer com a Sombria. Tento não pensar nisso e não ficar triste, porque não tive isso antes, mas agora é diferente.

Tenho uma família.

Quando ficamos prontas, eu e Adora nos encaramos por um segundo. Ela está tão linda no vestido vermelho, o cabelo solto e jogado para o lado. Ela também me olha sorrindo. Vesti meu terno, sapatos de salto não muito altos, brincos, e arrumei o cabelo (levou mais tempo do que imaginei, na verdade).

— Você tá linda — ela diz doce.

— Você também.

Ainda bem que estamos juntas, porque posso olhar para ela com todo o amor que tenho, e ela vai me retribuir.

— Ooowwwnnnnn — Mara diz com as mãos nas bochechas. — Minhas nenéns estão tão crescidas!

— Mara, não chora — Adora vai até ela.

— Tarde demais.

Ela deixa algumas lágrimas caírem.
Consolamos a mulher por dois minutos, então ela diz para tirarmos fotos.

— Isso é tão... argh, sabe? — digo baixinho. Adora cutuca minhas costelas, rindo. Reviro os olhos.

— Ela vai revelar as fotos e colocar em quadros. Pode esperar — ela diz baixinho para a tia não escutar. Arregalo os olhos.

— Mentira!

Adora ri como se dissesse "ah, coitadinha, tão inocente".

E aí nós posamos para um milhão de fotos que vão preencher toda a memória do celular de Mara, com certeza.

Mas fazemos isso com graça. Adora me abraça o tempo todo, fazemos caretas, rimos...

Quando saímos de casa, Mara nos beija nas testas.

— Sem álcool! — ela avisa.

— Nem sei quem é esse álcool — respondo.

— Vou fingir que acredito — ela sorri e aperta meu nariz. — Mas se as duas beberem, me liguem que eu vou buscá-las. Se cuidem. Voltem antes de amanhecer, não se metam em brigas, e mandem a Sombria ir se foder, por mim.

Adora arregala os olhos com o palavreado da tia. Eu rio alto.

Hoje a noite o baile será na Horda, e quem supervisionará serão os professores, então a Sombria vai estar lá.

Tento manter a calma. Ao menos nossos amigos vão estar lá, inclusive os de Bright Moon.

Entramos no carro. Mara nos observa na varanda da casa. Adora está com um sorrisinho nos lábios, e logo coloca uma música para o trajeto.

Mexo nos dedos e observo minhas unhas pintadas de preto. Acho que só estou nervosa.

— Vai dar tudo certo — ela diz para mim, mas olha para frente. Assinto com a cabeça.

Assim espero.

...

ADORA

Eu amo bailes, sério. Festas de Halloween são uma coisa, mas bailes tem outro tipo de magia.

Chego de mãos dadas com Felina, e ela inspeciona o lugar como se o perigo estivesse aqui (e por perigo quero dizer Sombria), mas não a encontra.

Estou ocupada demais observando as pessoas. O ginásio foi decorado com um tema de reino gelado, a iluminação alterna de cores a cada minuto e deixa o clima mais imersivo. E as roupas chiques são tão lindas. É uma noite para esbanjar mesmo.

Há muita comida (essencial sim ou claro?), e música. As pessoas não estão dançando ainda. É cedo demais.

A maioria das pessoas está em grupinhos que conheço de vista da época que estudava aqui na Horda, e quando eu e Felina chegamos juntas, a maioria nos cumprimenta surpresos (ou nem tanto). É bom rever rostos conhecidos.

— Por que tão olhando pra gente? — Felina pergunta torcendo o nariz. Eu dou risada.

— Porque está tudo diferente agora. De um jeito bom.

Sorrio para ela. A luz deixa seu rosto em tons de vermelho, e Felina sorri um pouquinho, provavelmente corando.

— Vamos ver o que tem pra comer! — digo arrastando-a para a mesa.

— Caralho, a gente acabou de jantar — ela diz rindo. — Você só pensa em comida.

Felina não me impede. Ela sabe que fiquei muito tempo sem me alimentar direito, então como estou com apetite é melhor aproveitar.

— Dorinha! — ouço uma voz conhecida. É Bow, acompanhado de Glimmer. — Finalmente você chegou. Pensei que não ia te encontrar.

— Falei para ele que era só ir na direção de comida — Glimmer diz com deboche e ela e Felina fazem um high-five.

Bow me abraça e me beija na bochecha. Ele, que deve ter vindo com Glimmer, está com um terno branco e detalhes pretos, mas...

— Tá mostrando a barriguinha? — digo cutucando o local e rindo. Ele revira os olhos.

— E com razão, né minha filha — ele passa a mão no que podemos ver de pele.

Felina faz questão de se abaixar para ver de perto. Ela começa a rir.

— Anda malhando, Bow? — Felina arqueia a sobrancelha e sorri maliciosa. O garoto ri nervoso.

Dou um cutucão em Felina por isso, mas ela não se importa.

Glimmer está com um vestido brilhante em tons de roxo e rosa que combinam com seu cabelo.

— Cadê o resto do pessoal? — ela pergunta enquanto encara a quadra.

— Procure uma baixinha irritada, uma garota alta e fofa, e outra maluquinha mexendo no celular e encontrarão Frosta, Scorpia e Entrapta, pelo menos — diz Felina.

De alguma forma, nós quatro conseguimos entrelaçar os braços e caminhar pelo local.

Eles me fazem sorrir, de verdade, e me sinto leve. Absorvo esse momento com meus melhores amigos por mais simples que seja. Estamos bem, aqui, juntos e felizes. Não há mais nada que eu pudesse desejar.

Bow fica elogiando nossas roupas e cortes de cabelo (eu fiquei muito gata, podem dizer), Glimmer pergunta sobre as pessoas da escola, sobre planejamentos dos jogos para Felina e assim seguimos caminhando tranquilos.

— Tem um maluco dançando na pista de dança ou eu estou vendo coisas? — Felina diz com a cabeça perdida para o lado, tentando observar como um gato.

Nós acompanhamos seu olhar.

— É só o Sea Hawk — Glimmer diz como se fosse aquilo todos os dias. Pior que é assim mesmo nos treinos. — Nem sabia que ele vinha. Ai, minha nossa, ele tá com a Mermista!

— Vou até filmar isso pro Twitter — Bow diz rindo e pega o celular do bolso.

Felina balança a cabeça incrédula com os passos de Sea Hawk.

Agora que paramos de andar, vejo que a maioria dos meus amigos da Bright Moon chegaram.

Netossa e Spinnerella estão dançando, Frosta está rindo de Sea Hawk num canto com Perfuma e Double  Trouble, e Scorpia e Entrapta conversam enquanto veem o celular. E a Mermista, coitadinha, só queria se divertir mas o cara não colabora.

— Eu vou atrás das meninas e ê Double Trouble — Felina sussurra em meu ouvido e eu confirmo. Ela me beija na bochecha e sai andando.

Vejo quando ela encontra com Scorpia e Entrapta. Na mesma hora as amigas mexem em seu cabelo curto, sorrindo e exclamando animadas. E Felina está sorrindo.

Ela sorri de verdade, agora.

Ela passou por muita coisa, tanto que nem consigo imaginar, e ficou isolada por tempo demais. Mas as coisas mudaram mesmo. Ela confia neles, nos meus amigos (agora dela também), e em mim.

Tudo valeu a pena para vê-la sorrir. E quero ver isso todos os dias da minha vida.

— Adora, você tá com cara de boiola — Glimmer diz e Bow solta uma gargalhada.

— Tô olhando a minha namorada, ué.

Reviro os olhos e sorrio mais. Quero ficar feliz o resto da noite.

Lonnie, Kyle  e Rogelio passam por nós, animados, e trocamos elogios simpáticos sobre as roupas e também pelo nosso último jogo. Eles seguem para a pista de dança, e começa a encher de gente. Já estamos aqui há uma hora ou mais.

A DJ chama os alunos e professores, pelo microfone, para nos aproximarmos. Uma música de Aly & AJ começa a tocar e as pessoas se animam mais, inclusive eu.

— Vamo lá, gente! — dou pulinhos animados. Bow e eu agarramos Glimmer para nos seguir. — A gente só dança assim no dormitório da escola.

— A gente "vocês", isso sim — ela resmunga, mas está feliz. — Inventam festa do pijama em plena sexta-feira e dançam Girl In Red, minha nossa.

— E Lady Gaga!

— E a Adora dorme uma hora depois — Bow diz. Isso é verdade.

Dançamos na pista, animados, pulando e sorrindo. A noite está só começando.

Glimmer está gargalhando, e acho que nunca a vi mais feliz que isso. Mas ela gira nos braços de Bow, corando um pouco, e inventa alguns passos.

Fecho os olhos e jogo a cabeça para trás. Essa sensação é ótima: a música alta vibrando em meu peito, meus amigos sorrindo, minha namorada feliz e segura, e até minha auto-estima está melhor.

Aí, quando abro os olhos, meu sorriso some.

Sombria está no canto da quadra observando a todos nós.

...

SURTOS GAYS JDJDNDNDNF resumo do capítulo: boiolas 😍

Como vocês estão, meus amores? Espero que tudo bem!❤️

Desculpa aí por esse final mas uma hora ia ter que acontecer né.

Quero todo mundo tacando pau na sombria (em breve porque pqp vocês vão ficar PUTES)

Gente a fic ta entrando na reta final e eu não tô bem. Sério, eu coloquei tudo de mim nesses últimos capítulos e até chorei um pouco, sei lá, foi muito emocionante pra mim e espero que vocês aproveitem bastante.

Os próximos capítulos são todos sobre o que acontece durante o baile e as tretas todas, então fiquem ligados aaaaaaa mds do céu

O pessoal tava pedindo um capítulo hot.

Olha vcs são ótimes kkkkkkk eu tô pensando nisso inclusive e se ficar bom vou postar e avisar, vai ser um capítulo só pra isso e não influencia na história, mas eu tô PENSANDO kkkkkk tá em análise

FELINA DE TERNO >>>>>>>>>>>>

ADORA PERFEITA >>>>>>>>>>>>

AS DUAS JUNTAS NO BAILE >>>>>>>>>

Enfim, segurem os corações porque os próximos são uma loucura de surtos bons e ruins.

O próximo capítulo sai no sábado 🤩🤩🤩🤩🤩🤩💕💕💕💕

Beijinhos

Se cuidem!!

Bạn đang đọc truyện trên: AzTruyen.Top