01
Agora
FELINA
Eu passei a porra das férias inteiras treinando, tipo, literalmente. São os únicos dias da minha vida em que jogo no quintal de casa em uma cesta improvisada ou na quadra de uma pracinha da cidade, sempre pensando em ser a melhor do time da escola, em ultrapassar a Adora de uma vez.
Ela sempre foi melhor em tudo. Eu reconheço o quanto ela é boa e inteligente. É irritante. Eu odeio isso, a comparação que faço e recebo da Sombria todos os dias, e dá vontade de sumir, gritar, explodir. No final sempre recorro ao treino, não importa se chove ou faz calor, ou onde. Posso detestar a pressão que o basquete me faz ter, mas nunca vou largar. É uma coisa minha também e nem a Adora ou Sombria ou qualquer um pode me tomar.
Então no primeiro dia de aula na Horda eu não a vi. Nenhum sinal daqueles cabelos loiros no rabo de cavalo e um topetinho ridículo. E no dia do treino encontrei o pessoal de sempre na quadra com a treinadora Sombria. Minha "mãe". Adora não estava lá. Então ela nem se deu ao trabalho de aparecer para pegar a vaga de capitã de volta.
Nós jogamos uma partida simples. No final, quando Sombria apontou o dedo para mim e disse que eu seria a capitã mal pude acreditar. Parecia até piada. O time aplaudiu e cumprimentou.
Agora estou no vestiário e gritando feito uma maluca, porque eu sempre fui assim e não me importo, conversando com a Lonnie e outras garotas.
— A Adora foi para onde? — pergunto mais uma vez.
— Bright Moon — a morena responde e revira os olhos. Lonnie tinha olhos claros e cabelo cheio de dreads.
— Estamos fodidos — a garota ao lado diz. Eu estremeço.
— Quem te disse isso, Lo? — Amanda, uma garota pivô reserva, pergunta por mim. Eu devo parecer em choque mesmo. Nem consigo me mexer.
— Ela mesma mandou mensagem avisando sobre tudo.
E eu nem fiquei sabendo. Por isso a Sombria me escolheu como capitã já que a loirinha não está. Ela e o time novo vão nos detonar e isso significa que se eu já sofria antes tentando alcançar algo perfeito em jogo…
Já sei o que a Sombria vai fazer e dói só de pensar.
Ainda nem fiz dezessete anos. É em 28 de outubro. Falta um ano e tantos dias para eu ficar livre daquela mulher — legalmente falando.
— Pensei que ia ficar feliz, Felina. Vocês não são tipo némésis? — a menina continua e eu volto a prestar atenção.
— É. Eu gosto de atormentar a vida dela, por isso meu coração até dói — digo irônica e com a mão no peito. Jogar bolinhas de papel, fazer pegadinhas, resmungar para Adora, entre outros, são meus passatempos favoritos. Sem ela aqui perco minha diversão diária. Jamais vou esquecer a cara de irritada dela. — Para que serve o Jerry se o Tom não está lá? Ele vira só um rato comum idiota.
— É verdade — Lonnie pega a bolsa e sai do vestiário com um suspiro. — Parece que as coisas vão ser mais tranquilas por enquanto. Até amanhã.
Amanda também sai e fico sozinha ali dentro. Cruzo os braços e penso até em ir atrás, mas lembro que não sou tão amiga assim delas. O pessoal do time até que conversa nos corredores, menos eu. Sempre fui muito fechada e falo o que tem que ser importante. Adora era a líder, popular, puxava conversa e eu entrava no meio também. Eles são legais, mas não sei se tenho coragem para me aproximar do mesmo jeito.
E a Sombria vai me falar, eu tenho certeza: agora que sou capitã tenho que mostrar mais poder, autoridade e respeito. Não consigo isso se formos amigos. Não sei como a loira conseguia...
Gosto de estar no comando e é bom, mas de que adianta se não posso mostrar isso pra ela? Se vou estar mais sozinha do que nunca?
Fecho meu armário e arrumo minhas coisas na bolsa de qualquer jeito. Tenho que voltar para casa.
— Merda, Adora.
…
— Então agora está satisfeita? Finalmente sou a número 1 no seu time, Sombria. Conseguiu o que queria — falo quando chego em casa. Ela está na cozinha olhando alguns papéis em cima da mesa e nem presta atenção no que eu digo.
Solto um suspiro raivoso bem alto para ela me escutar. Sombria me encara com olhos escuros, cabelos longos negros e a pele cinzenta, magra. Demorei muito tempo para me acostumar com aquela cara de doente dela. Mal lembro da época que fui adotada. Ela é a única figura materna que tive a vida toda, então foi preciso.
Quase não vamos juntas para casa. Se não me perguntassem talvez ninguém saberia que moramos juntas. Prefiro ir a pé aos lugares e ela nem se importa ou me pergunta. Mesmo assim sei que ela se preocupar se eu fugi. Consigo ver o alívio no rosto dela.
Dou a volta no balcão e abro a geladeira. Estou limpa depois do banho no vestiário, mas meu cabelo continua crespo e volumoso. Também não me importo. Preciso comer alguma coisa e pego uma vasilha com seja lá o que for que ela trouxe, e jogo no microondas.
— Você é a melhor opção que o time tem agora que Adora foi embora — a mulher disse sem olhar pra mim. Torço o nariz.
— E?
— Vai ter que ser a melhor, Felina. Ainda mais que ela. Não adianta ter uma capitã "média" se os outros são melhores. Perder não é…
— Uma opção — completo. — Já sei. Vou dar o meu melhor. Prometo.
Sombria virou-se para mim. O microondas foi o único som emitido ali. A casa sempre foi silenciosa e nós não conversamos muito. Permaneço no lugar e ela vem até mim, passa a mão na minha bochecha com carinho e ainda sim não me movo. Ela aperta minha pele, e não é como um beliscão fofo, e sim mais agressivo. Isso me faz contorcer a cabeça para o lado para ela sair.
— Sei que vai se esforçar.
Sombria não sorri — ela diz tudo com seriedade — e agradeço por isso, senão acho que não conseguiria dormir pensando no sorriso maldoso que esconde.
Ela recolhe os papéis do balcão e sai. O microondas apita e tiro a comida de lá. Quando tenho certeza que a mulher entrou no escritório dou uma olhada no meu reflexo, pelo microondas espelhado mesmo, e passo a mão na marca que ela deixou. Está vermelha e vai sair. Não é como as outras vezes em que ficou roxo ou até verde. Essa foi mais leve.
Tenho uma pomada para isso na minha bolsa. Eu pego e passo um pouco na marca, e tem um cheiro que deixa meus olhos lacrimejados, ou talvez eu só quero chorar mesmo.
Parece que nem tudo o que eu faço vai adiantar. Nunca vou ser boa o suficiente para ela.
Todo dia eu tento me lembrar que isso não é minha culpa, apenas da Sombria. Mesmo assim me sinto um lixo, insuficiente, uma fraude.
Pego a comida e minhas coisas e sigo para o quarto. Vou ficar lá o tempo que precisar.
Meu quarto é bagunçado e escuro. Só quando abro a cortina consigo enxergar as roupas e livros no chão, arrastar tudo para um canto e ver na parede, bem ao lado de pôsteres, meu calendário. 423 dias para ir embora daqui e ser quem eu quiser o mais longe que puder da Sombria.
Me pergunto como foi o primeiro dia de aula da Adora.
...
oi, gente! Como vocês estão? Espero que bem.
Esses dias de quarentena andam péssimos mas vou tentar me manter ativa aqui nos capítulos e esperar o dia 15 de maio (o dia que o fandom vai surtar geral).
Eu tô demais no twitter vendo as teorias dessa última temporada e toda vez acabo nervosa e doidaaaaaa
Ai imagina se Catradora for real
enfim espero que dê tudo certo
até mais ❤️❤️
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