15. Uncruel
Cooper
Eu o abracei com força novamente, porque, por mais que tivéssemos colocado um ponto final em nós dois, por algum motivo, a corrente que nos enroscava e nos prendia na mesma linha temporal e universal não parecia ter se rompido. Que droga, isso não deveria acontecer, era para ter rompido tudo!
Era desesperador, porque ele se mantinha em silêncio e eu sabia que quando ele ficava quieto daquele jeito, sua mente estava a coisa mais ensurdecedora do universo e aquilo poderia ser fatal em muitos sentidos. Daniel nunca foi um cara quieto, então o seu silêncio nunca era algo bom.
Ele sempre fora extrovertido e até barulhento. Facilmente arrancava risadas das pessoas e, por mais que sua risada não fosse nada exagerada, até o timbre de sua voz não era dos mais baixos, muito pelo contrário. Durante as aulas do High School, os professores sempre sabiam que ele estava cochichando com Ethan, simplesmente porque até mesmo cochichando sua voz fazia presença em qualquer lugar.
Daniel Carter era um cara que se destacava em qualquer lugar que ele pisasse, mas quando as coisas ficavam complicadas para ele, todo o brilho que o cercava desaparecia em um piscar de olhos.
Seus braços não me apertavam contra seu corpo com força, na verdade, eles apenas torneavam meu corpo, como se estivesse exausto e sem forças. Sua respiração tinha voltado para o ritmo normal e seu rosto estava praticamente inexpressivo, ele mal parecia estar presente no mesmo mundo que eu, sua mente estava tão longe em seus pensamentos que, quando Madison colocou a cabeça para dentro da cozinha perguntando se estava tudo bem, ele tomou um susto.
— Tá... — Respondi, passando a mão pelos olhos, tentando secar o rosto. — Tá tudo bem!
Claro que Madison sabia que não estava tudo bem, Daniel mal fizeram questão de responder. Ele provavelmente tentaria dizer que estava tudo bem, mas com aquela cara de perdido, o nariz vermelho e os rastros de lágrimas manchando todo o seu rosto, ficava mais que óbvio que nada estava bem, nem para mim e nem para ele.
Jordan entrou na cozinha logo depois, ficando atrás de Madison. Ambos não desviavam os olhos de nós dois, eles sabiam que as coisas não tinham se acertado como gostaríamos que tivesse acontecido. Ele passou as mãos pelos braços da Madison e apertou seus ombros com cuidado, circundando seus cotovelos logo em seguida.
Madison sorriu fraco para nós, ela balançou sobre os calcanhares, como se tentasse pensar em alguma coisa, ela parecia não ter muita certeza do que estava pensando, talvez como se a ideia não fosse tão boa quanto ela pensava ser.
Minha irmã costumava ter boas ideias, mesmo quando não acreditava nelas plenamente.
— Jordan, sinto muito, mas acho que você vai ter que arrumar outro lugar para passar a noite — Ela virou-se para ele, abrindo um sorriso largo.
— Como assim? — Perguntou, confuso e incrédulo. — Eu não fiz nada de errado!
— Sei disso, mas hoje eu quero passar um tempo só com a minha irmã — Ela me olhou, exibindo seu sorriso de forma reconfortante. — Pode ficar com o Carter essa noite!
— O quê? — Daniel finalmente vocalizou algo.
— Anda, faz tempo que vocês não passam um tempo, juntos, vai ser legal!
Madison se posicionou entre mim e Daniel, puxando-o pelo braço e o fazendo levantar. Ela o conduziu até Jordan e foi os empurrando para a sala. A ruiva destrancou a porta e empurrou os dois para fora rapidamente.
Fiquei parada ao lado de Madison, dentro da casa, enquanto os dois nos olhavam, confusos e desconfiados. Daniel firmou seus olhos em mim e eu senti o fundo do meu coração doer.
Caminhei na direção dele, sentindo todo o poder que nos cercava se comprimir cada vez que ficávamos um passo mais próximos, como se estivesse prestes a explodir. Parei apenas quando já estava perto o suficiente para alcançá-lo com minhas mãos.
Tentei forçar um sorriso gentil para ele, queria, de alguma forma, demonstrar que as coisas ficariam bem, mesmo que duvidasse tanto quanto ele. Ele não me retribuiu o sorriso, permaneceu apenas me olhando de cima, com os olhos baixos e a feição distante.
Passei as mãos sobre seus braços, alisando as mangas da camiseta e ajeitando a barra ao redor de sua cintura. Engoli em seco, pressionando meus dedos contra a pele descoberta na base de seus bíceps, senti sua pele se arrepiar rapidamente com meu toque e novamente meu coração doeu.
— Se cuida, tá bom? — Suspirei, o encarando dolorosamente.
Ele confirmou com a cabeça, me segurando pelos braços.
— Vai ficar tudo bem, não se preocupe — Rangi os dentes, tentando manter as coisas em ordem dentro de mim.
Dei um passo para trás, sentindo suas mãos deslizarem pelos meus braços conforme eu me afastava dele e ia na direção da minha irmã. A corrente elétrica que nos conectava se rompeu assim que nossos dedos se separaram e eu parei ao lado de Madison, que acenou rapidamente para os dois e fechou a porta.
Respirei fundo algumas vezes, ainda vendo a silhueta dos dois pela janelinha na parte superior da porta, eu conseguia ouvir a voz deles dois, e ainda doía como se eu tivesse aberto um buraco imenso no meu peito com minhas próprias mãos, como se, por esse buraco, eu tivesse arrancado meu coração e o atirado contra uma parede.
— Eu tenho que encher a cara — Ouvi Daniel dizer para Jordan. — Muito, muito mesmo, eu quero esquecer a porra do meu nome, então nem vem comigo se não quiser!
Jordan riu e eu engoli em seco.
Virei-me para Madison, que me estendeu uma vasilha com salgadinhos. Peguei alguns com a ponta dos dedos e comi um por um esperando que ela rompesse o silêncio que se instalara entre nós duas.
— Eu não tenho roupas pra passar a noite aqui — Comentei, encarando a batatinha com tempero laranja.
— Eu passo na casa do pai e da mãe pra você pegar as coisas — Ela deu de ombros. — Pensei em tudo enquanto conversava com o Jordan aqui na sala, vamos sequestrar a Adie também, a Gabby vai vir mais tarde, mandei mensagem pra ela! — Ela fez um bico, franzindo o cenho. — Será que o Jord tá com a chave do carro dele?
Madison fez uma pausa, olhando ao redor, talvez procurando pelas chaves do carro do Jordan.
— Bom, tanto faz, ele se vira! — Ela deu de ombros.
Ela me puxou pelo braço, abraçando a vasinha com salgadinhos com o braço livre. A ruiva abandonou a vasilha sobre a mesa da cozinha e me conduziu até o andar de cima, me deixando esperando sentada na beirada de sua cama enquanto ela tomava um banho rápido e trocava de roupa.
Madison saiu do banheiro com um coque emaranhado no topo da cabeça, a blusa que contornava seu corpo deixava a barriguinha de quatro meses mais marcada e a calça folgada descia por suas pernas, parando na altura dos tornozelos.
— Vamos buscar suas coisas e a Adie — Ela sorriu, colocando as mãos na cintura.
Ela franziu o cenho, irritadiça, logo em seguida.
— Melhora essa cara, Allison — Ela se aproximou de mim, me segurando pelos ombros. — Vai ser legal!
Com os indicadores, ela forçou os cantos da minha boca em um sorriso.
— Como nos velhos tempos! — Ela sorriu para mim, segurando minhas mãos e me levantando.
Tentei abrir um sorriso para ela, mas provavelmente não saiu do jeito que eu queria.
— E quanto a Angeline? — Perguntei, me sentindo culpada por Madison não ter pensado nela em nenhum momento.
— Podemos chamá-la, se quiser, mas... — Ela recuou. — Não sei se é uma boa ideia, especialmente agora!
∞
Adalia destampou a garrafa de vinho e despejou uma quantidade generosa em três taças, pegou a primeira e passou as outras duas para mim e para Gabby. Ela abriu alguns armários até encontrar um copo e o preencher com suco, passando o copo para a minha irmã.
— Péssimo momento para se estar grávida, Madie — Adalia comentou, bebericando o vinho. — Mas é melhor que sobra mais pra gente!
Gabby apoiou os cotovelos sobre o balcão da cozinha.
— Eu trouxe vodka, a gente pode brincar de várias coisas com isso — Ela riu, divertida. — A Madie é café com leite, então a gente dá um desconto na bebida — Gabby virou para a melhor amiga com um sorriso malandro. — Mas vai ter que ser bem honesta nas respostas, ouviu?
Madison ergueu as mãos em rendição.
— Eu sempre sou muito honesta nas minhas respostas!
Gabby levantou uma das sobrancelhas. Seu rosto redondo compunha uma disposição bonita entre seu nariz pequeno e chato e seus olhos estreitos e longos, que formavam um paralelogramo pontiagudo no final. A pálpebra monólida tinha uma dobra do lado interno dos olhos profundamente escuros como pedras de ônix e seu cabelo liso e longo caia sobre seus ombros, dançando livremente a cada vez que ela se movia.
— Tem certeza, senhora Madison Payne? — Gabby cruzou os braços finos na frente do peito.
— Talvez eu minta às vezes — Madison deu de ombros. — Mas naquela época, eu tinha grandes motivos!
— O motivo era tão grande que virou seu marido, né? — Gabby provocou.
— Espera aí, do que vocês estão falando e por que o meu irmão era o motivo? — Adalia colocou a taça sobre o balcão, a enchendo novamente.
Gabby jogou a cabeça para trás, virando o rosto na direção de Adalia. A semelhança que existia entre ela e o irmão mais velho era inegável.
— Madison não queria que seu irmão soubesse que ela era perdidamente apaixonada por ele — Gabby olhou para Madison com um sorriso malandro. — Mas a pose de durona não durou muito, né?
— Vai pro inferno! — Madison a empurrou pelo ombro.
Madison estalou a língua e deu uma olhada em volta.
— Vamos levar tudo isso aqui para a sala, a gente tem bastante coisa pra fazer! — Disse ela, tomando posse dos pacotes de doce e do pote de sorvete.
Rapidamente, nós levamos todos os pacotes de doces, potes de sorvete, pacotes de salgadinhos, caldas caramelizadas e todas as garrafas de bebida para a sala e deixamos tudo sobre a mesa de centro, que fora empurrada para o canto, abrindo espaço entre o sofá e a televisão.
Junto com Adalia, empurrei o sofá até que encostasse na parede, Gabby e Madison estenderam os sacos de dormir no chão, sobre o tapete felpudo.
Gabby tirou o controle da televisão das mãos de Madison e colocou músicas pop dos anos 2000 para entrarmos no clima, diferente das músicas que eu sabia que Madison colocaria.
Gabby e Madison eram conhecidas na escola por sempre darem as melhores festas do pijama, na época, todas as líderes de torcida costumavam se reunir na casa dos meus pais ou na casa dos pais da Gabby e passavam a noite naquela festa que elas organizavam.
Ali na sala da casa da Madison não tinham trinta meninas dissimuladas e prontas para uma festa que fosse ser inesquecível, nós quatro estávamos dispostas a nos divertimos com o pouco e sem exageros, por mais que eu soubesse que a ideia da bebida extrapolaria os limites e Madison acabaria sendo a única sóbria entre nós.
— Tem uma lista de filmes que a gente pode assistir — Madison sentou-se sobre um dos sacos de dormir e cruzou as pernas. — Que tal "De repente 30"?
— Ah, não — Adalia protestou. — Não quero me lembrar que eu não tenho mais quinze anos e que os trinta estão logo ali!
— Não estão tão perto assim, não! — Franzi o cenho, protestando. — Faltam sete anos pra isso, ainda!
— Pra mim e pra Madie faltam só cinco anos e meio, então nada de "De repente 30", porque, de repente, a gente já vai ter trinta, mesmo — Gabby puxou o celular que estava ao lado da televisão. — E "Meninas Malvadas"?
— "Meninas Malvadas" é uma boa — Adalia deu de ombros. — Comprou as coisas que eu pedi, Madie?
Madison abriu um sorriso largo no rosto e correu para o quarto, voltando rapidamente com uma sacolinha com três potes de creme diferentes.
— Eu não sabia qual era o melhor, então comprei três — Ela esticou os potes para Adalia.
Os olhos castanhos de Adalia brilharam quando ela encarou aqueles cremes. Dois eram de finalização e o outro era uma gelatina para modelar. Adalia tinha enviado uma lista de produtos capilares que ela usava no cabelo para que Madison pudesse comprar e treinar a finalização de cabelo enquanto a pequena Makena ainda não precisasse finalizar o cabelo.
— O Jordan tem o cabelo crespo, diferente do meu, talvez o cabelo da Makie seja mais enrolado que o meu, mas você já vai ter uma ótima ideia de como finalizar o cabelo dela — Adalia batucou com os dedos na tampa do pote que segurava.
— O creme de pentear tá no banheiro, mais tarde a gente pode tentar! — Disse, empolgada.
Vi os olhos de Gabby brilharem e ela automaticamente correu na direção de sua bolsa. Com os dedos finos ela puxou o zíper e mostrou o conteúdo para nós: uma coletânea de cremes de cabelo e máscaras faciais de diversos tipos.
— A gente precisa fazer isso! — Ela puxou algumas máscaras. — Eu trouxe várias, até as antirrugas!
Em pouco tempo, nós já estávamos de pijama e com basicamente um roteiro completo do que fazer na nossa pequena festa do pijama.
Adalia exibia o umbigo com o seu pijama rosa de blusa regata apertada e calça estampada de ursinhos, sobre sua testa, um tampão de olhos felpudo combinava com a blusa e com a fronha do seu travesseiro.
Gabby, por outro lado, usava uma camisola de cetim roxo, que terminava na metade de suas coxas. O tecido retorcia com facilidade, mas não amassava, e balançava toda vez que ela dançava ao som de alguma música da Britney Spears.
Madie, por outro lado, vestia um conjunto azul e um robe que cobria seus ombros, junto com um tampão de olhos com seu nome bordado, eu sabia que aquele tampão tinha sido um presente da tia Sam para ela, e, no fim das contas, Madison nunca se desfazia dele.
Eu não tinha um pijama tão sedutor quanto o delas. Na verdade, o meu pijama era uma camiseta velha e gigante que ficava na altura dos meus joelhos e um short folgado de futebol que, outrora, fora do Daniel, mas depois que ele milagrosamente foi de 1,68 m para 1,85 m, deixou de servir.
Ele tinha me emprestado aquele short na primeira vez em que fui na casa dos pais dele, nós ainda nem namorávamos na época. Eu não tinha roupas pra dormir, na verdade, tudo o que eu tinha era uma roupa manchada de bebida e ele me emprestou o short e uma camiseta para dormir, no fim das contas, eu nunca cheguei a devolver e ainda utilizava como pijama.
Nós quatro assistimos pelo menos quatro filmes, finalizando com um de terror só para quebrar um pouco o clima de romance incorrigível que se instalara entre nós.
Depois, sentadas em uma roda sobre os sacos de dormir, Madison colocou todo o seu carregamento de esmaltes entre nós e, rapidamente, Adalia pegou uma das minhas mãos e escolheu um esmalte rosa tão forte que dava para ver a quilômetros de distância.
— E aí, gata, vai se soltar quando? — Perguntou, levantando os olhos para os meus. — Isso aqui é pra ser uma noite animada, mas parece que você saiu de um funeral!
— Eu falei com ele... — Desviei os olhos para as minhas unhas, evitando o contato visual.
Adalia ergueu as sobrancelhas grossas, surpresa. Talvez, mais surpresa por eu estar com uma cara péssima que feliz ou empolgada.
— Com ele quem? — Gabby intrometeu-se, mas não me importei com sua entrada repentina.
— Com o Daniel... — Madison respondeu, franzindo o cenho para as unhas de Gabby, incomodada com a borrada do esmalte.
— O Carter? — Perguntou e eu confirmei com a cabeça. — Ele tá um gato, né? — Ela franziu o cenho, contorcendo o rosto quando Madison tirou todo o esmalte de suas unhas para começar novamente. — Tipo, quando ele era um pirralho irritante no High School, ele já era um pedaço do mal caminho, mas agora... Nossa — Ela suspirou, erguendo as sobrancelhas. — Eu achava que era impossível ele ficar mais bonito do que ele já era, mas eu tava redondamente enganada!
— Os pais dele são lindos, também, é uma genética que não tinha como dar errado — Madison comentou, passando o pincel sobre a unha do mindinho de Gabby. — O pai dele é superbonitão, se parece muito com ele, inclusive!
— E o que aconteceu, então? — Adalia passou uma segunda camada de esmalte sobre minhas unhas.
Engoli em seco e apertei os lábios. A imagem do rosto dele ainda era muito nítida na minha mente, eu conseguia enxergar seus olhos vermelhos, suas lágrimas e sentir suas mãos trêmulas nas minhas costas.
— Eu coloquei um ponto final em tudo...
Adalia parou de repente. Ela fechou o esmalte mantendo os olhos vidrados sobre o meu rosto, tentando captar qualquer vacilo meu, qualquer indício de que eu estava incerta com a resposta que tinha acabado de a entregar.
Eu ainda estava em dúvida se tinha feito a coisa certa, talvez nós devêssemos ao menos ter tentado, mas as perspectivas de um futuro que desse certo com nós dois juntos eram tão baixas que eu tinha medo de adiar aquela dor por tempo demais.
— Como assim? — Ela guardou o esmalte.
— Eu disse que nós não daríamos certo, ele disse que largaria o futebol americano por mim, mas... Eu não posso deixar que ele me coloque na frente dos sonhos dele — Tentei manter a voz no mesmo tom, sem vacilar.
— Espera, então isso significa que ele ainda é doidinho por você? — Gabby curvou-se para frente, comovida. — Allison, você tem o cara mais bonito do país se arrastando aos seus pés!
— E como ele tá? — Adalia perguntou, preocupada.
Ela sabia como Daniel era, como ele podia ser sensível e intenso. Sabia também que Jordan estava com ele, especialmente porque ele não estava na casa da minha irmã.
— Arrasado — Madison respondeu por mim, suspirando. — Ele é um cara legal e é bem triste que isso teve que acontecer!
— Pensei que vocês fossem, sei lá, tentar! — Adalia apoiou o peso do corpo sobre as mãos. — Que droga... Mas, bom, ainda bem que você resolveu isso, então!
— Acho que sim... — Apertei os lábios em um sorriso fraco.
Eu esperava que sim.
O celular de Adalia vibrou dentro da bolsa, ela caminhou calmamente até a bolsa e deu uma olhada na tela do celular, o jogando para dentro da bolsa novamente, sem se preocupar em atender.
— Vai deixar tocando? — Perguntei, um tanto incomodada.
— É o Ethan, se for importante, ele liga de novo — Deu de ombros. — Não quero falar com homens, hoje. É a noite das meninas!
— Não sabia que você e o Ethan eram tão próximos — Madison comentou, fechando o esmalte e o guardando dentro da maleta de plástico.
Adalia riu baixo, com um sorriso cativante na curvatura dos seus lábios grossos.
— A gente divide um apartamento em Nova York, é até um alívio não ter que passar todo santo dia com ele — Ela deu uma olhada nas longas unhas pintadas com esmalte prateado. — Ele é supergentil, educado e engraçado, gosto de morar com ele, mas também é bom ficar longe de vez em quando!
Ela enrolou um dos cachos, que estavam soltos sobre seus ombros, na ponta dos dedos, trazendo mais definição para ele.
— É bom pra ele, também. Depois do último namorado que ele teve, dar um tempo é o melhor que ele pode fazer! — Adalia olhou para cima do sofá, encarando a caixa de um dos jogos de tabuleiro que tínhamos separado para jogar. — Por que a gente não joga twister?
— Duvido que ele vá esfriar a cabeça com o Carter por perto — Madison riu.
— É verdade, mas é melhor do que deixar ele se remoendo pela catástrofe que foi aquele relacionamento! — Os lábios de Adalia formaram um bico conformado.
Gabby levantou-se em um pulo, empolgada, e puxou a caixa do twister por entre as outras caixas de jogos que tínhamos deixado no canto do sofá.
— Eu giro a roleta — Disse minha irmã, conformada em saber que não poderia brincar como gostaria.
∞
Era quase quatro horas da manhã quando finalmente deitamos sobre os sacos de dormir. Passamos horas jogando todos os jogos de tabuleiro e de carta que tínhamos encontrado, e depois de comer milhares de tipos diferentes de doces, de termos dançado que nem malucas, feito máscaras capilares e faciais uma na outra, brincado com as várias maquiagens que Madison tinha, não demorou para que Gabby e Madie estivessem destruídas e embaladas em um sono profundo.
Eu estava virada para o lado, encarando as costas de Madison, sem conseguir pregar os olhos para dormir. Já tinha praticamente desistido de tentar, não existia uma posição confortável para aquilo, já tinha contado tantas ovelhas que duvidava muito que a população de ovelhas mundial chegava àquele número que contei, tentei me manter com os olhos fechados e diminuir a respiração, mas nada era realmente efetivo.
Mas eu permanecia em silêncio, porque não queria atrapalhar ninguém, sabia que elas também estavam cansadas.
Ouvi um celular vibrar várias e várias vezes sobre o sofá e me perguntei mentalmente se elas estavam apenas o ignorando ou se realmente estavam tão cansadas que mal conseguiam acordar com a vibração do celular.
Poucos segundos depois, Adalia estalou a língua, irritada, e levantou-se, caminhando até o celular.
— O que você quer, Ethan? — Perguntou ela, sussurrando para não acordar ninguém. — Tá todo mundo dormindo, seu sem noção. Olhou a hora? — Ela deu uma olhada para nós três que ainda estávamos deitadas. — Tá, espera aí, vou pra um lugar mais reservado!
Adalia automaticamente se direcionou para a escada, subindo os degraus rapidamente nas pontas dos pés para evitar fazer barulho e eu, impulsionada pela curiosidade, me levantei e corri atrás dela, me certificando de que não fosse vista no meio do caminho nem por Madison e Gabby e muito menos por Adalia.
Talvez eu devesse ter me policiado e contido aquele impulso de querer descobrir o que estava acontecendo, mas eu estava tão entediada e sem sono que aquilo parecia muito mais interessante do que ouvir a respiração pesada da Madison.
Ela entrou no banheiro e trancou a porta e eu, por outro lado, me acheguei bem perto da superfície, me escorando ali para conseguir ouvir o que estava acontecendo.
— Tá bêbado? — Ela perguntou com a voz meio confusa.
— Um pouco — Ele respondeu assim que ela colocou o celular no viva voz, a voz meio arrastada e mole.
— E como ele tá?
— Hãããã... Bem mais bêbado que eu! — Ethan deu uma pausa repentina. — Droga!
— E o meu irmão? — Adalia mostrou a preocupação sem pudor algum.
— Seu irmão tá ganhando todas as partidas de poker até agora, saco. Já perdi cem dólares pra ele! — Ethan bufou.
— Reparação histórica, seu branquelo azedo — Adalia riu, orgulhosa. — Mas por que você tá me ligando essa hora da madrugada em vez de jogar e beber?
— É que eu tive uma ideia e preciso da sua ajuda!
— Que tipo de ideia você teve? — Adalia perguntou, sem ânimo algum. — Toda vez que você tem uma ideia que me envolve, as coisas saem de controle!
— Relaxa, não é nada arriscado dessa vez! — Ele riu, achando mais graça do que deveria do tom de voz dela. — Não envolvem fugitivos da polícia e nem nada do tipo!
— E por que eu? Você tem um melhor amigo que é tão maluco quanto você. Quer dizer, ele é um pouco pior, você é mais inteligente!
— Ele não pode saber!
Me aproximei ainda mais da porta para tentar ouvir melhor, mas uma mão tocou meu ombro e eu dei um pulo.
— O que tá fazendo aqui? — Gabby perguntou, confusa.
Ela esfregou um dos olhos com as costas da mão e bocejou logo em seguida, o cabelo preto todo desgrenhado.
— Eu vim no banheiro, mas acho que a Adalia tá usando... — Respondi rapidamente, inventando a desculpa mais óbvia para disfarçar a minha espiada. — Fiquei apertada, bebi muito vinho!
Gabby pareceu comprar a desculpa, porque ela apenas confirmou com a cabeça e bateu com os nós dos dedos à porta.
— Vai demorar? — Perguntou, sonolenta. — Eu tô apertada pra caramba e não quero mijar no carpete novo da Madison, ela me mataria!
— Já tô saindo! — Ouvi Adalia desligar o celular rapidamente.
Ela abriu a porta com um sorriso sem graça para nós duas. Seus olhos demoraram sobre mim, como se ela desconfiasse de algo, mas não pudesse me acusar de nada sem ter certeza.
— Desculpa a demora — Disse, se afastando rapidamente, apertando o celular entre os dedos.
Eu queria saber qual era a ideia dele...
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