9 - PERPLEXO COM ANEXOS

Consegui! Oba!!! 

Quem me conhece sabe que tenho inúmeros projetos - seja como embaixadora aqui da plataforma, com a divulgação de mais de 15 anos que vai firme e forte no que se refere ao autor Brasileiro Pedro Bandeira com o KCodigoVermelho e várias redes sociais, incluindo o Youtube... Também tenho meu trabalho como "Fisioterapeuta" que nunca deixei e quase não me ausento dele, graças a Deus. Aliás, nosso protagonista é Fisioterapeuta também! Mas, o mais importante: tenho um sobrinho bebê bem agitado... Conforme ele vai crescendo e adquirindo mais atividades, vai ficando mais fácil voltar para cá. Enfim, estamos nos desenvolvendo... 

Confiram o que o Jadir tem para contar hoje!

Muito obrigada por não nos deixarem!

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Não é comum eu fazer isso... Na verdade, ninguém deveria fazer isso, mas todo mundo faz. Mais verdade ainda, até deveríamos fazer isso sim, mas é cada encrenca que se pode envolver por isso...

Sim! Eu estava usando o celular enquanto andava. E é isso mesmo! Eu estava no meio da rua... Bem, é um modo de dizer, afinal, eu estava na calçada. Todos sabem o quanto é perigoso fazer isso, já que vivemos cercados e ameaçados - principalmente por nós mesmos.

Tive uma breve taquicardia quando um indivíduo bateu na minha mão.

— Aí Jadir, não se droga não, cara.

— Que droga, mané! Pensei que queria levar meu aparelho...

Era Jonas com tênis de corrida, o líder do clube organizado do Peixe. Ele aproveitou minha distração com o celular em uma mão e alguns comprimidos na outra.

— Reunião amanhã. Veja se não falta!

Resmunguei e voltei para o celular.

Após eu mandar a foto da Lila e eu mostrando a língua para a tia desnaturada dela, me certificar sobre o Raí e a jovem do acidente de carro, mandar umas mensagens "indecentes" para a Cândida - a melhor fazedora de bolos do hospital, por sua vez visualizar as mensagens indecentes que a mãe dela me enviava, me inscrever na maratona do Chapolin Colorado - não esquecendo de efetivar a compra da marreta biônica, é claro; alugar minha fantasia de homem de ferro para a feira dos nerds - a do homem de gelo estava em falta, verificar se minha mãe estava respirando - o que eu fazia de hora em hora, conferir pela décima vez meus exames da última semana; me certificar de que o Emerson não daria uma festa até a formatura dele... Ufa! Eu tinha uma vida bem mais agitada do que pensei que tivesse... Isso porque não contei o maior carma da minha vida.

Voltaram cedo da lua de mel, não acha? — Minhas maneiras na casa da Victória, que antes era da Helena - a tia pouco agradável dela, já era de costume da minha cliente carente. Que rima horrível! Logo me ajeitei no sofá, pronto para largar o celular e encará-la.

— Você sabe que o Daniel não tinha muitos dias de folga e...

Atentei-me no seu hesitar e fechei a expressão. Minha pergunta foi automática:

— E...?

— Você está bem?

Sua expressão de leve assombro quase me deixou preocupado. Quase!

— Souberam de alguma coisa que aconteceu por aqui enquanto vocês estavam fora?

— Não... A comunicação estava muito restrita onde estávamos. Mas, o que houve? Você está claramente abatido... Parece que perdeu peso. Tem dormido e se alimentado?

— É claro, mãe... — zombei. — Pensei que quem fizesse as perguntas por aqui fosse eu... As perguntas e as broncas, claro. Falando nisso, por que me chamou com tanta urgência? E cadê o seu recém marido?

— Foi para a casa de repouso trabalhar... — Victória estava com às feições clássicas da curiosidade. Seria uma careta boa para fazer nas fotos com a Lila no futuro.

— E então? Qual é a urgência? — Tentei fazer cara de inocente. — Não vá me dizer que brigaram outra vez? Não é nada bom que eu me envolva novamente...

— Não é nada disso, Jadir. Está tudo melhor do que bem...

— Ah sei — me fechei no tédio. Brigas são mais interessantes de se ouvir...

— É que acho que já posso deixar de usar o aparelho respiratório para dormir...

— Quer abandonar o Bipap? Só porque se casou? Olha que ele pode enciumar...

— É que passei bem, em alguns dias, sem usá-lo...

— Ou se esqueceu de usá-lo — complementei meio malicioso. — Tá. Eu vou fazer o teste respiratório em você novamente. Vamos ver como anda sua capacidade pulmonar...

— Sim — respondeu animada. Eu, porém, fechei a expressão ao dizer:

— Ainda assim, você sabe que o que você tem não tem cura.

Abaixou um pouco a cabeça e disse:

— Eu sei... Mas, posso melhorar, não é?

Victória estava sorrindo e os olhos anis brilhavam. Ela parecia otimista e isso era estranho... Mas, era bom também! Acho que alguns dias fora lhe fizeram mesmo muito bem... Isso era demais! Sorri com uma satisfação genuína.

***

Helena não gostava da maioria das pessoas, mas eu estava certo que ela amava a Victória como a uma filha, ou seja, mais do que tudo. Já ouvi relatos de que ela fazia de tudo para que a então sobrinha, como a Victória era conhecida no bairro - sem contar outros apelidos, ficasse mesmo com o Daniel - o único que eu vi ser considerado por ela em todos esses meus anos nesta indústria vital. Por que o Daniel? Talvez porque ela soubesse que era de alguém como ele que a sem noção e sem muitos escrúpulos da sobrinha, como era no passado, precisasse. Helena só iria embora sabendo que ela estaria segura, assim lhe dando espaço para aproveitar o que viria de bom. Ainda assim, elas se falavam todos os dias por telefone.

É inacreditável a sua mudança! Talvez nem tenha sido mudança mesmo. É provável que a Victória tenha passado a viver "o que" e "como" queria verdadeiramente viver, só não sabia disso. Ela não era nada feliz antes...

Após aquele terrível incidente na academia, Victória ficou muito abalada, o que poderia mudar qualquer pessoa, seja para melhor ou para pior. Ainda bem que ela ficou melhor e tem ficado a cada dia. Numa das internações, após algum tempo do incidente em si, apesar das negativas da Victória, Helena a submeteu a mais exames e conseguiu que fizessem cirurgia estética para a retirada dos vestígios das queimaduras. Elas não foram tão profundas, e com o coração forte que tem, pôde ser feito com sucesso. O cabelo agora dourado estava voltando naturalmente, pois o couro cabeludo não foi afetado gravemente, e já estava na altura de seus ombros - mais um pouco alcançaria a cabeleira do sujeito da touca. Os novos modos, ações, andar, fala e olhar da Victória a deixavam diferente do que costumava ser, qualquer um notaria. Ela parecia a irmã gêmea boa da Usurpadora, contrastando com a gêmea má de antes. Estava mais bonita do que nunca esteve. Ainda assim, em meio a tantos momentos felizes e cicatrizados, não havia semblante de paz nela. Acho que nunca haverá... Não tem como apagar um passado que lhe deixou tantas marcas. O senhor sabe pai, sou prova viva disso também!

— Como você tem se sentido? — Me peguei perguntando, nos intervalos da espirometria.

— Eu estou bem. Muito bem.

Victória sorria e eu via cansaço nela.

— Quer dar um tempo do exame?

Ela pensou até inquirir:

— O que você fez de bom nesse tempo?

Sem olhar para ela respondi, após fingir pensar um pouco:

— Hummm... Deixa ver... Me reuni com uma turma de baderneiros para jogar bonequinhas no treino do Tricolor. Limpei muitos acessos, filtros e resíduos de meleca pulmonar. Brinquei de lutinha com meu sobrinho mais velho e depois perdi para a mãe dele, que aliás é minha irmã também. Rastreei a Maya e descobri que ela é mais maluca do que pensei que fosse... Aliás, tenho medo daquela garota tenebrosa.

Victória riu.

— Fiz caretas com a Lila, me aventurei no trânsito com o Raí, fui despejado porque o Emerson passou da conta com a última festa no ap... Mas, te confesso que a festa estava de matar, em todos os sentidos que você possa imaginar. E...

— Parece que foi um período bem agitado e produtivo. Nada de ressuscitações cardíacas neste mês? — Perguntou sorrindo.

— Sabe que não — fiquei pensativo. — Você deveria viajar mais vezes.

— Talvez... — Ela fechou a expressão. Lá vinha coisa. — Eu conheço isso, Jadir.

— Hein?

— Sua apatia...

— Eu, apático? Tá doida? — ri.

— Não dorme direito, nem se alimenta... Não parece ter interesse por nada em específico, apenas força o movimento para não se lamentar ou perceber não existir...

— Victória...

— Para, Jadir. Eu vi você tomando alguns comprimidos ao chegar...

— São para a pressão arterial — respondi sério. — Herança de família.

— Para mais nada, é?

— O que você quer de mim, Victória? — fechei mais a expressão, quase irritado. Não era a primeira vez que ela fazia isso comigo...

— Que assuma sua condição emocional...

— Que condição emocional?

— Você tem depressão, Jadir. Não tenho dúvidas a esse respeito...

Sabe pai, não consegui disfarçar minha perplexidade. Uma paciente minha havia me diagnosticado... Isso era irônico. Terrivelmente irônico. Mas, você sabe de quem é a culpa, não é? Pois é... É toda minha. Como sempre!

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Precisamos falar sobre o Jadir:

Sei que o propósito desta história não é enfatizar uma doença específica. Bem, não mais. Mas, sim, relatar a vida de um personagem que liga todos os outros que estavam presentes na trilogia principal. Escrever sobre o Jadir é interessante. Ele me parece tão humano quanto eu e, talvez, quanto você também... Procure seu médico.

Vídeo-música na mídia superior: Lyria - Hard to Believe

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