18 - QUERENDO OU NÃO, EU SOU A LIGAÇÃO.

Percebam a importância que Jadir tem e sempre teve!!!

***

Eu não havia dormido bem naquela noite... Na verdade, estava com medo de dormir. Eu detestava isso! Em meio a noites em claro, eu tinha que me concentrar bem mais a fim de não fazer nenhuma besteira, ou deixar coisas importantes passarem... Adriel havia me falado algo sobre a Maya nesse nosso último encontro? Apesar de não me lembrar, eu tinha a impressão de que o nome dela fora mencionado. Mas, em que momento? Antes ou depois da minha rápida internação? Qual foi o tom que ele usou? Havia irritação em sua voz? Mais do que o normal? Ele sabia de algo? Desconfiava ou...?

— Jadir?

Ah droga! Me desconcentrei outra vez. Eu estava com a Victória, lhe dando a ideia mais absurda que já tive até hoje de supetão.

— Diga "flor do dia"? — voltei-me com a graça.

— Você está bem?

Mais uma vez sua preocupação era nítida. Victória me incomodava... Apesar de nada saber, ela sabia demais. Eu não podia deixar que essa conversa se prolongasse em mim...

— Por que pergunta? — ri entredentes. — Não pareço como sempre? Ah não! Espera! Talvez, esse seja o problema...

— É sério, Jadir? Que ideia foi essa?

— Qual? — me fingi de inocente. — A de regar as plantas da entrada ou a de convidar seus cunhados para cá?

Victória suspirou. Estava sentada no sofá, de frente a mim que estava todo esparramado como se estivesse em casa, mas evitou me olhar para falar:

— Como eu faria isso? O que eles diriam? Mais do que isso, o que o próprio Daniel vai dizer?

Olhando-a bem a fim de não me desviar do foco outra vez, eu conseguia compreender sua preocupação e suas ações. Na certa, nenhum conhecido dela sabia da gestação, além de mim. Como eu previra, dona Ciça estava cuidando do marido há quase 2.000 quilômetros de distância e a filha Angélica havia ganhado bolsa para estudar tão longe quanto. Helena estava curtindo a vida que nunca teve e eu tinha certeza de que Victória jamais a chamaria para ajudar, principalmente devido ao desconforto que ela causaria ao Daniel. Se Victória tivesse mais alguém a quem recorrer, eu poderia apostar no tal do Henrique, mas já percebi que suas relações provavelmente não são nada amigáveis. Então, ela estava sozinha. Já quanto ao Daniel...

— O que mais o Daniel poderia dizer? A culpa é dele também, oras...

Ela voltou a me fitar e ruborizou. Essa versão da Victória tinha graça! Aproveitei para continuar, mantendo o tom descontraído:

— Sei que a Estela e a Natalie estão te aceitando um pouco mais... Nada de grande amizade, mas ainda dá tempo de estreitar. Aposto que elas acharão ótima a ideia de se tornarem "titias".

— Ora, Jadir... — começou a repreensão, mas eu continuei:

— Estela diria algo como: "ai fofa, não sabe como isso é fofo. Não vejo a hora de ter o meu também".

Victória tentou conter o riso, devido a minha imitação ridícula. Tempo suficiente para eu prosseguir:

— Já a Natalie falaria mais ou menos assim: "ai que tudo amiga! Finalmente vou ter alguém com quem conversar."

— Jadir, isso foi maldade — apesar da repreensão, Victória continuava segurando o riso.

Amenizei ao falar:

— Já com os irmãos... Bem, Adriel ficaria assustado, mas com certeza não diria nada. Estaria ocupado, vexado e irritado com as besteiras que a Estela estaria falando.

Ela fechou um pouco a expressão ao murmurar:

— Quanto ao Natiel...

— Ah, o sujeito da touca... Esse sim vai se revoltar. Mas, você já está acostumada, não é? Natiel não gosta muito nem de você, menos ainda da Estela. Nunca conheci alguém tão ciumento quanto ele...

Victória suspirou e acabei deixando vazar dos meus pensamentos:

— Não sei o que o Daniel dirá... De verdade. Ele age de diferentes formas em meio a mudança. Formas essas inimagináveis.

— Ou seja, ele vai detestar a ideia — continuou a suspirar.

— Talvez... Mas, só a princípio, até poder se ajustar. Acredito que ele sempre tenha pensado que a vida já estava traçada, mas as coisas mudam, não é?

— Nem me fale...

— É cada rasteira que a gente toma... Eu mesmo já perdi as contas.

— Você vai me ajudar, não é Jadir?

Eu ainda a fitava, mesmo sem perceber cada expressão facial que ela fazia. Porém, naquele momento tive uma certeza: Victória estava com medo.

— Eu? — tentei ganhar tempo para pensar em uma resposta melhor. Eu não queria me envolver... Não mais! Eu não podia...

— Não é como caminhar com as duas pernas... Eu não consigo sozinha. Ninguém consegue.

Fechei a expressão e resmunguei:

— O que você quer que eu faça? Eu não posso...

— Eu vou falar com o Daniel primeiro e marcarei uma reunião em família...

— O mais breve possível — emendei.

— É... Hoje mesmo falo com ele, prometo. Mas, na reunião, quero a sua presença.

— Eu? Eu nem pertenço a família... — zombei.

— Por favor.

Eu podia ver em seus olhos e ela tinha razão. Nada daquilo seria fácil, levando em consideração as dificuldades da sua relação com Daniel, seja de tempo, dinheiro e disposição e dos desafetos da família dele quanto a ela. Estela não era sua chegada desde os tempos de "piscina" e, cabeça dura como era, não fazia muita questão de firmar amizade. Apesar da Victória ter ajudado muito a reconstrução da academia, Natalie tinha ranço dela desde os tempos em que pertencia a mesma banda do Natiel, dividindo-lhe a atenção. Adriel tem a natureza de não gostar de ninguém, mas no fundo, eu admito, que é bem o contrário. Ainda assim, uma notícia como aquela poderia lhe abalar muito... Do Natiel nem se fale. Ele tem pavor da palavra "gravidez". Daniel já tinha muitas preocupações, lhe trazer mais uma talvez...

— Está bem — disse por fim. — Eu estarei aqui.

Querendo ou não, eu era o único que tinha ligação com todos eles. Poderia amenizar qualquer situação. Mas, e depois? Quem amenizaria para o meu lado?

Espero que os remédios para a pressão arterial façam efeito desta vez.

***

Apesar de insistir comigo mesmo em não me envolver, eu não deixava de me concentrar, curiosíssimo, a respeito da conversa que a Victória teria com o Daniel. Covarde ela não era. Sei que se ela havia dito que falaria com ele naquele mesmo dia, ela falaria. E eu gostaria de ver essa cena, como no cinema, sentado na primeira fileira a fim de não perder um detalhe... Será que dá tempo de fazer pipoca?

— Hey Jadir.

Susto.

— Qual é, cara?

— Você estava meio agitado, cochilando aí nesse puf.

Emerson... O intrometido!

— O que você quer? — resmunguei.

— Sabe a Gigi?

— Gigi?

— É. A ruiva recém chegada!

Eu não fazia ideia de quem ele falava.

— O que tem?

— Ela tem um gato e a mãe dela é alérgica.

— E...? — eu estava impaciente. Lá vinha lorota. Na certa eu esqueceria em cinco minutos.

— Ela está procurando lugar para morar com o gato.

Franzi a testa ao insinuar:

— Você não está pensando em...

— Não seria má ideia — arrematou triunfante.

— Qual é, Emerson? Trazer garotas para cá?

— Garotas? Não... Uma garota e um gato — se fez de inocente.

Balancei a cabeça exausto. Ou eu viveria em um inferno familiar ou seria babá de gato. O que é pior? Ah... Victória! A vida dela é pior... Eu poderia apostar que ela estaria com os olhos inchados de tanto chorar, no dia seguinte.

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Precisamos falar sobre o Jadir:

Quantas vezes falamos uma coisa e fazemos outra? Será que o Jadir realmente não se importa ou se importa demais? Mais até do que gostaria? Não foi assim que ele representou o Adriel? Alguém que "não gosta de ninguém", mas no fundo é o total oposto. Percebam além das palavras, vejam suas ações!!!

;)

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