12 - TODA AÇÃO GERA UMA REAÇÃO

Voltei! Oba!!! 

Se segurem nos julgamentos! Nem tudo o que aparenta realmente o é, ainda mais ditado por um olhar bem parcial!

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Eram muitas bombas para estourar e, confesso, esqueci desta por alguns instantes... Alguns.

O salão estava bem iluminado. Eu sabia disso, pois eu havia ouvido por muitas pessoas que ali estavam. Quanto a mim, tudo parecia enegrecido, fosco, resultado da minha alma atormentada.

É claro que eu estava bebendo... A Estela e o Adriel estavam se casando e eu estava bebendo. Ainda enxergava alguma coisa, mas as luzes fortes não eram suficientes para me incomodar... Meu incômodo era mais profundo, denso, sem motivo aparente, sem sentido, sem franqueza...

Jadir, você precisa me ajudar!

Infelizmente eu ainda conseguia ouvir muito bem e já estava rindo com escárnio antes de perceber, ao certo, quem me sacudia com desespero naquela noite.

Ora, ora...O sujeito da touca! ... Ué, cadê a touca? Está com os cabelos amarrados num rabo de cavalo? Que houve, mané?

Não é brincadeira, irmão. Você precisa me ajudar! A Siena está aqui.

Siena? Fechei a expressão e me concentrei na lembrança.

Ah claro! Enquanto em uma vida desregrada, meu brother da touca nunca cogitou se envolver em um relacionamento sério com ninguém, e parecia contente com isso. Eram festas atrás de festas, baladas, namoricos, orgias e sabe-se lá o que mais. Bem, na verdade até sei, mas não vou pensar nos detalhes por agora. Numa dessas farras ele conheceu a Siena, uma garota bem parecida com ele nesse sentido "sem regras", e com ela, o Natiel ficou por mais de uma vez... Por mais de duas vezes... Por mais de três... Ah, sei lá! Perdi as contas.

Zombei:

Que você quer que eu faça? Desapareça com ela? Ou desapareça com a Natalie?

Seu olhar de medo mudou de repente. Era óbvio que eu o havia cutucado em um ponto muito fraco.

Sem idiotice agora, Jadir. O assunto é sério! Eu não sabia que a Estela conhecia a Siena. Se ela contar algo para a Natalie eu nem sei o que pode acontecer...

Seu medo é só esse mesmo? continuei zombando. Não teme ter uma recaída?

— Vai me ajudar ou não? — sua irritação ficara permanente.

Ri um pouco mais e ofereci:

— Bebe um pouco aí, mano. Você está precisando.

— Não quero beber nada. Quero que você tire a Siena daqui!

Não consegui perder essa oportunidade e cutuquei mais:

— Quer mesmo que eu me aproxime da Siena? Em um passado não tão distante você me proibira de sequer chegar perto dela. Ainda que sem compromisso firmado, você a tratava como propriedade sua...

Natiel estava visivelmente constrangido ao falar:

— Não existe nada disso, Jadir. Por favor, irmão, me ajude!

Respirei profundamente. Eu já estava meio alto...

— Vou indicar grupos de ajuda para você... Mais um pouco você irá explodir pela abstinência.

Natiel me olhou bravo e me deu às costas.

Talvez em sobriedade eu não faria aquilo, mas já que eu havia decidido me "punir" naquela noite, corri para a diversão bem ilusória. Ainda assim eu havia prometido a Estela que não estragaria aquele dia "tão especial" para ela. Eu me esforçaria, mas não havia garantido nada...

— Alô meninas! — não sei bem como me aproximei, mas tentei ser o mais cortês possível.

Estela estava linda em seu vestido de noiva. Parecia uma doce e inocente boneca tailandesa. A Natalie, a seu lado, exalava charme e alegria; com certeza não notara o incômodo do Natiel pela garota excedente do grupo... Ainda! Victória estava ali também, com seu olhar desconfiado. Acho que foi a única que notou algo... Mas, ela era discreta. Não falaria nada, que não fosse nas sessões de fisioterapia.

— Siena? Tudo bem? — apressei-me em puxá-la pelo braço e cumprimentá-la com um beijo no rosto.

— Vocês se conhecem?

Abstraí a pergunta da Estela... Ou foi da Natalie? Acho que foi a Victória quem perguntou... Enfim, não dei ouvidos, e me concentrei em falar com o alvo em questão.

— Faz muito tempo...

— Acho que faz, Jadir. — Siena tinha um sorriso desafiador. Ela sim sabia o que estava acontecendo, pois havia feito acontecer. Era a clássica mulher sedutora. Parecia disposta a armar confusão. Tudo não passava de mais uma brincadeira para ela...

— Podemos conversar? — apressei-me novamente.

— Claro... Com licença, meninas.

Levei-a até a mesa onde eu estava.

— É uma grande coincidência, não é? Embora eu também vivesse aqui, só conheci a Estela no intercâmbio — começou a tagarelar sem que eu nem perguntasse. Por que essas mulheres falam tanto?

Balancei a cabeça concordando, fingindo estar interessado no que dizia, e lhe ofereci uma bebida.

— Eu sei que foi o Natiel quem te pediu para me tirar de lá — falou e tragou a bebida.

— Pois é — eu estava sério, até meio distante. A visão turva me ajudava a não me situar.

— Eu sei que ainda o deixo inquieto — sua vaidade era nítida.

— Sabe quando o sujeito viciado em álcool se distancia da bebida enquanto em tratamento? — me peguei falando. — Só a visão, o cheiro, pode fazer com que ele caia no vício outra vez.

— Ah, é assim? — Riu.

— Pois é... E é um tratamento para o resto da vida.

Eu sabia que o Natiel se esforçava ao máximo para não ser infiel a Natalie. Não havia mais festas, baladas, porém vez ou outra a "tormenta" lhe voltava e a Siena era a pior delas.

— Sabe o que eu acho?

Franzi o cenho, um pouco zonzo já.

— Que nenhum deles é seu amigo de verdade.

Franzi ainda mais o cenho. Nem sabia que dava para fazer isso...

— Eu me lembro bem da "amizade", entre aspas, de vocês, Jadir. Natalie era a sua namorada, não era?

Bufei.

— Não que você se preservasse muito por isso — riu.

— Natalie não ficava na minha cola, como fica na dele — me percebi desatando. — E eu nem fui tão libidinoso quanto...

— Esses "amigos" que você tem — enfatizou nas aspas, — buscam por sua ajuda, te envolvendo nos problemas, e depois é você quem tem que limpar a sujeira. Todos eles fazem isso, não é? Os mesmos que te envolvem, te acusam. Por que continua se prestando a isso? Se livre deles!

Levantei o semblante sisudo para a Siena. Ainda fechado, meio irritado, falei:

— Você fala demais, sabia? Deveria monitorar melhor o momento e se calar ao máximo.

— É mesmo? — continuava com seu sorriso desafiador. — Falei alguma mentira?

Larguei a bebida na mesa e a puxei pelo cotovelo.

— "Esse" é o melhor momento para se calar.

Então eu a beijei com certa ferocidade.

Não era sempre que conseguiam me irritar, embora a bebida facilitasse, inclusive para estimular certas partes mais "íntimas"...

— Vamos sair daqui! — coordenei.

— Uh, que pressa — ela não perdia seu ar desafiador. — Tem certeza?

Afirmei com veemência e enfatizei:

— Eu não tenho nada mais para fazer aqui.

Daquela vez eu havia livrado o "sujeito da touca", mas a bomba poderia explodir a qualquer momento. E é claro... Sobraria para mim.

A Siena tinha razão.

***

Não vou negar que aquela noite havia sido muito agradável, muito mais do que achei que seria, mas toda a ação gera uma reação. Desde então tenho aguardado o momento em que a Natalie descobriria tudo.

Cheguei em casa.

— Mãe?

Minha mãe não tinha os olhos inchados... Na verdade, acho que nunca os teve. Ela sorria de modo afável, parecia até apaziguada, e não estava sozinha.

— Tudo bem, filho? Estava te esperando.

— Pelo jeito você não foi a única... Tudo bem, Natalie?

Com certo esforço balançou a cabeça em afirmação. Ela estava com o semblante abatido, como imaginei. Parecia cansada. Estava quase prostrada no sofá da sala.

— Podemos conversar? — perguntei ao vento.

Minha mãe logo percebeu e se retirou. Realmente tudo indicava que algo grande havia acontecido. Ainda de pé, arrisquei:

— Cadê o Natiel? Vocês sempre estão juntos e...

— Eu não sei — disse com voz fraca. — Imagino que esteja no apartamento.

— Ah, o apartamento... — disse a esmo, enquanto fui até uma poltrona oposta, ficando de frente a ela.

E assim ficamos em silêncio por um tempo. Natalie estava com a cabeça baixa, curvada como se carregasse o mundo nas costas. Enquanto isso eu a fitava, pesaroso, meio sentimental e até nostálgico. Nos relacionamos por três anos e ela nunca ficara assim por mim. No fundo eu sabia... Eu sempre soube... Mas, nunca pensei que se concretizaria. A Natalie com o Natiel parecia a maior das utopias. Eles são muito diferentes. Alguém como a Natalie não suportaria alguém como o Natiel por muito tempo... E eu parecia estar certo nisso a vendo agora. Aliás, nem era a primeira vez que eu a via daquele jeito por causa dele, enquanto no relacionamento.

— O que houve agora? — Perguntei enfim.

Eu sabia que a Natalie tinha ciência de que eu não era a melhor pessoa para ela desabafar. Até poderia se recriminar pelo aparente egoísmo. Mas, ela não me feria de propósito. Natalie se sentia perdida e ela sempre me tratou mais como amigo do que como qualquer outra coisa.

— Desculpe Jadir — começou de forma costumeira, — mas, eu não tenho mais a quem recorrer.

Suspirei e me ajeitei na poltrona, incomodado.

Era sempre assim! Mas, o fato era que a Natalie não sabia de tudo... Acho melhor que nunca saiba, na verdade. Seu coração frágil não suportaria... e eu menos!

Eu ainda gostava dela... do fundo do meu coração.

Eu sou o pior dos espécimes que existe na terra! - Herança sua, querido pai!

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Precisamos falar sobre o Jadir:

Sua dedicação aos amigos foge de sua própria compreensão, além da compreensão de vários a sua volta. Ele poderia acabar se delatando infiel a alguma das partes por apoiar a outra?


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