chapter one


one: strawberry cake


Um trovão mais do que capaz de fazer o chão estremecer ressoou e Kirishima sentiu um arrepio percorrer seu corpo, desde a ponta de seu dedo do pé até o topo de seu cabelo vermelho espetado. No entanto, estava mais do que óbvio que ele jamais admitiria isso. Ele apenas respirou fundo e tentou sorrir. Entretanto, a voz alta e estridente de Bakugou veio de algum lugar do corredor, algum lugar estranhamente próximo demais, e ele sentiu mais um arrepio.

— Anda logo, Cabelo Zoado. O que foi?

Kirishima deu meia volta e esbarrou de frente com a figura grande de Bakugou. No final das contas, ele estava bem atrás de seu corpo, o observando e esperando que o mesmo abrisse a porta e saísse. O único problema era a chuva torrencial que caía lá fora.

— Você não espera mesmo que eu saía no meio desse temporal, não é? — Kirishima sorriu para Bakugou, e voltou para a sala de estar, como se estivesse em sua própria casa — Relaxa e senta aí, logo deve passar.

— Como assim, seu idiota? Você não viu as notícias? Não tem previsão de acabar. — Bakugou virou a cabeça, olhando em qualquer direção que não fosse a de seu amigo, sentado no chão de sua sala — Você devia ir enquanto ainda não está tão forte.

Kirishima apenas sorriu, buscando por um pacote de salgadinho ainda lacrado. A sala estava uma verdadeira zona, entretanto. Aquele era o dia do filme, e seu grupo inteiro de amigos estava ali até uns momentos atrás. O dia na casa de Bakugou era o mais temido, já que ele não dava ouvidos aos mais medrosos do grupo (Kirishima estando incluído nestes), e simplesmente escolhia algum filme particularmente assustador. Os únicos que realmente se divertiam durante esta sessão de tortura eram Bakugou e Mina.

— Oi! Você não me ouviu? Você devia ter ido com todo mundo, como eu avisei antes!

— Está trovejando.

— Até parece que você vai ser atingido por um raio.

Kirishima sorriu, e seus olhos se fecharam. Foi realmente uma pena, porque, desta maneira, ele não pode ver a forma como Bakugou pareceu desconcertado, mesmo que por apenas alguns segundos.

— Eu não tenho superpoderes, então como você pode ter certeza de que não vou ser atingido por um raio? Além disso, posso pegar um resfriado.

Bakugou fez um barulho indecifrável, mas não disse nada por alguns segundos. De alguma forma, a situação parecia estranha aos seus olhos. Os dois estavam sozinhos, já que os amigos com quem Bakugou dividia o apartamento haviam saído, e um temporal, sem previsão de acabar, caia lá fora. Logo estaria completamente escuro, com a noite espreitando na esquina, esperando seu momento de chegar.

— Você quer tanto assim que eu vá embora, Bakugou?

A pergunta pareceu pegar o outro de surpresa, mas ele não respondeu.

— Tem problema se eu ficar aqui só essa noite?

Aquilo atraiu a atenção de Katsuki. Sua expressão estava realmente engraçada e Kirishima acabou soltando uma risada engasgada.

— Do que você tá rindo, seu idiota? — A voz de Bakugou pareceu ficar ainda mais alta — Como assim ficar aqui a noite? Passar a noite aqui?

Kirishima, de alguma forma, conseguiu se recompor, e olhou para seu amigo. Ele usava um moletom preto, e calças, também de moletom, cinzas. Seu cabelo, de forma rara, parecia menos espetado que de costume. Na verdade, parecia bastante macio.

Os outros podiam não notar com tanta profundidade, mas Bakugou havia mudado muito desde que entrara na faculdade. Sua mudança era perceptível até mesmo nos detalhes mais ínfimos, e Kirishima não falhou em capturar cada um deles.

— Você! — Bakugou falou, de repente, interrompendo a longa linha de raciocínio de Kirishima — Você está com medo! Dos trovões!

— E você está com medo de mim.

Era verdade que Kirishima sentia medo dos trovões, assim como também era verdade que ele poderia pegar um guarda-chuva e tentar chegar em casa antes que a chuva ficasse ainda pior. No entanto, havia sido sua escolha ficar para trás, mesmo sabendo que um temporal estava prestes a cair. Mesmo quando seus amigos deixaram a casa de Bakugou, juntos, um pouco antes do céu ficar preenchido com chuvas cinzentas, Kirishima havia escolhido ficar mais um pouco, sob o pretexto de que queria ajudar a arrumar o resto das coisas. No entanto, ele apenas queria conseguir algum tempo sozinho com Katsuki. Já que era notável como, de uns dias pra cá, ele estava sendo evitado pelo loiro.

A previsão do tempo acabou sendo bem útil à Kirishima e seu propósito.

— Posso lavar a louça? — Kirishima levantou-se, após finalizar o resto do salgadinho — Afinal, aqueles manés deixaram tudo pra mim.

— Você que resolveu ficar por último, é óbvio que eles iam se aproveitar. Especialmente aquele idiota do Denki.

De forma aparentemente inconsciente, Bakugou ajudou Kirishima a recolher os restos de comida e bebidas que foram deixadas na sala, o acompanhando até sua cozinha. Os dois, lado a lado, jogaram os pacotes vazios e latinhas no lixo, sem dizer nada. Apenas quando seus ombros se esbarraram de leve, ele pareceu perceber o que estava fazendo.

— Ah! — O loiro fechou a torneira com força — Eu não disse que precisava da sua ajuda, você não precisa fazer isso! Pode voltar lá pra sala que eu-

— Eu sabia! Você tá com medo de mim!

Bakugou deixou a esponja cair dentro da pia, espirrando um pouco de água, e se moveu ainda mais na direção de Kirishima. Daquela vez, ele parecia realmente irritado.

— Dá pra explicar o que tá acontecendo aqui?

Kirishima congelou no lugar por alguns segundos, com a visão de um Bakugou a centímetros de distância de seu rosto, parecendo bravo o suficiente. Ele sabia, no fundo, que não podia mais enrolar. Afinal, uma hora precisaria falar sobre aquilo.

— Você quem precisa me explicar o que está acontecendo aqui.

Bakugou pareceu tomar ciência da sua proximidade repentina, e deu um passo para trás.

— Foi você quem escolheu ficar para trás, e, de uns dias pra cá, tem ficado todo esquisito. Você virou o quê? Um stalker?

— Essas coisas não pareciam te incomodar no colegial — Kirishima pegou a esponja que Bakugou havia largado no meio da louça, e começou a lavar os pratos — Agora você sempre ignora minhas mensagens, ou dá um jeito de adiar o máximo sempre que eu te chamo pra fazer alguma coisa.

Kirishima sabia que estava falando mais do que pretendia, mas não conseguia parar. Ele nutria um certo orgulho da amizade que havia desenvolvido com Bakugou, e, apesar de envergonhado por causa das coisas que estava dizendo, ele sabia que não conseguiria mais manter tudo para si.

— É tão estranho assim? Talvez eu esteja de saco cheio e só queira um pouco de paz...

— Bem, não é o que parece.

Um silêncio pesado se instaurou, acompanhado apenas do som da chuva. Kirishima descontou toda sua frustração na louça, sem nem se dar conta da expressão confusa e angustiada que Bakugou fazia enquanto secava os pratos e os guardava no armário.

Katsuki estava seriamente dividido entre sentir-se feliz por perceber que Kirishima não lembrava daquele, fatídico, dia, e perceber que não importava realmente, já que ele obviamente não ia desistir. Ele sabia que não podia continuar o evitando, assim como sabia que, até mesmo para os seus parâmetros, estava sendo babaca demais.

Era angustiante para Bakugou perceber que Kirishima estava bagunçando sua cabeça daquele jeito. Ou pior, perceber que estavam sozinhos em seu apartamento, presos por toda aquela chuva, sem poder fazer nada. Ele não queria, verdadeiramente, que o outro fosse embora.

Quando a louça finalmente estava acabada, Bakugou sentiu-se ainda mais frustrado. Agora não podia mais fingir que conseguia ignorar a presença de Kirishima em sua cozinha.

— Você não lembra? — os dois falaram, exatamente ao mesmo tempo.

Kirishima secou as mãos no pano de prato, tentando esconder sua surpresa.

Bakugou estalou a língua, do lado oposto da cozinha.

— Você pode falar primeiro — ele resmungou.

— Não, você primeiro.

Bakugou rapidamente assumiu sua expressão costumeira, a mais irritada possível.

— Eu disse que você pode ir primeiro, seu idiota! — ele gritou.

Kirishima jogou o pano de prato direto na cara do outro, com uma precisão assustadora.

— Fala logo!

Bakugou piscou surpreso. Surpreso por dois motivos.

Primeiro: nunca havia visto seu amigo tão bravo, acostumado a sempre ver o lado mais gentil e corajoso possível dele.

Segundo: havia algo estranho acontecendo com suas bochechas. Ele podia sentir um calor subindo por seu rosto.

Aquilo deixou Bakugou ainda mais irritado.

— Você... — ele começou, mas sua voz saiu um tanto esganiçada — Você.. erm... não lembra?

Kirishima não respondeu, mas sua expressão confusa falava por si só. Ele, obviamente, não sabia de nada.

Katsuki controlou sua vontade de andar em círculos, movido por pura ansiedade, e manteve seus dois pés congelados no lugar. Com muito esforço, conseguiu também manter a mesma expressão de sempre.

Apesar de, surpreendentemente, se sentir assustado como o inferno.

Sem conseguir controlar mais, ele deu meia volta e caminhou até a sala, agora limpa, sentando no tapete.


*********************


Aproximadamente uma hora havia se passado desde que os dois terminaram de lavar os pratos. A discussão ainda não tinha sido resolvida. Bakugou apenas ligou a Tv e deixou em algum programa de culinária, onde crianças faziam bolos decorados. Kirishima, confuso, não ousou dizer nada, somente sentou ao lado do loiro, assistindo em silêncio.

Ele não sabia o que estava o deixando mais desconcertado. Se era o comportamento do homem ao seu lado, ou o programa na Tv, onde crianças de dez anos faziam bolos melhores do que ele poderia fazer.

Kirishima, com seus vinte anos de culinária improvisada, sentia-se humilhado.

O Kirishima, que nutria sentimentos por Bakugou, sentimentos que nem mesmo ele podia definir, também sentia-se humilhado. Ou melhor, perdido.

O que ele devia fazer?

O que devia dizer?

— Eu acho que o Isaac vai perder. — ele comentou, sem pensar.

— Com certeza! Ele colocou manteiga demais no recheio, e a decoração tá mal feita.

Kirishima piscou.

Aquilo era, definitivamente, algo que ele nunca tinha visto antes. Bakugou parecia... animado? Como uma criança vendo algo que gosta. Sua voz estava mais suave do que nunca, contendo apenas entusiasmo.

Kirishima tentou ao máximo não sorrir aberto.

— Quem você acha que vai vencer essa prova? O bolo com morangos da.... como é mesmo o nome dela......

— Isabela.

— Isso! O dela parece muito bom.

Bakugou ficou em silêncio por um momento. Um trovão caiu lá fora, e Kirishima agradeceu por ser tão aconchegante dentro do apartamento do outro.

As luzes da sala estavam apagadas e a única iluminação no lugar vinha da Tv, tornando o perfil de Katsuki visível. Ele parecia pensar em alguma coisa intrigante.

Interessante.

— Você gosta de morangos, Kirishima?

Mas o quê....

— Gosto.

— Eu tenho morangos na geladeira, que comprei ontem.

Ele não respondeu, pois estava muito ocupado contando o número de vezes que Bakugou o surpreendera naquele dia.

— Nós podemos tentar fazer um bolo também — Kirishima sugeriu, sem conseguir esconder a pontinha de um sorriso.

— Ótima ideia.

Ele não conseguia ver, mas tinha certeza de que Bakugou estava sorrindo também.

***********

— Farinha de Trigo?

— Okay!

— Manteiga?

Bakugou abriu a geladeira e tirou o pote de manteiga de lá.

— Okay!

Kirishima arregaçou as mangas do seu moletom amarelo, e olhou para os ingredientes em sua frente. No final, tanto Isabela quanto Isaac perderam a prova, e um garoto que não havia se destacado tanto ganhou.

Ele não tinha ideia de que horas eram, provavelmente pouco mais das sete da noite. Aquele bolo seria o jantar. Ou, pelo menos, era com isso que ele estava contando.

— Certo! — ele anunciou — Irei mostrar àquelas crianças quem que sabe cozinhar de verdade!

Bakugou fez um som ridículo.

— Na verdade, acho que eu que devia ficar encarregado disso.

— Disso o quê? — Kirishima tentou ao máximo parecer ameaçador, mas o loiro nem piscou.

— Da cozinha. — ele o lançou um olhar aterrorizante — Você é um desastre cozinhando.

Kirishima ponderou aquela frase. Era verdade que seus talentos culinários não eram os mais admiráveis. No entanto, ele nunca havia morrido de fome, então contava bastante com isso.

— Não precisa pensar tanto nisso — Bakugou deu um daqueles seus sorrisos assustadores, que indicava que ele estava no "modo competitivo" — Eu te mostro como cozinhar de verdade.

O ruivo olhou para o rosto de Katsuki e, em seguida, para o seu avental de gatinhos, e sorriu. A curva de seus lábios, naquele momento, parecia ainda mais provocativa aos olhos do loiro.


**********


No final, os dois fizeram o bolo juntos, de qualquer maneira. Kirishima precisava admitir que Bakugou possuía talentos surpreendentes na cozinha, e que era bastante cuidadoso com as receitas.

Ele olhou para o forno, onde eles haviam acabado de colocar o bolo recém preparado e sonhou acordado com o resultado. O recheio e a cobertura já estavam prontos, então faltava apenas esperar o bolo assar e decorar. Kirishima tinha certeza de que seus olhos brilhavam ao menos um pouco. Isso, obviamente, não passou despercebido por Bakugou.

— Pode ir parando de imaginar que isso vai ser nosso jantar. — ele falou, como se conseguisse ler os pensamentos de Kirishima — Eu vou fazer comida de verdade.

Kirishima pensou em reclamar, ou dizer que iria ajudar, ou, ainda, que deveria agir como uma criança e insistir que queria apenas o bolo. Mas nenhuma dessas opções traria um resultado promissor. Então, com um sorrisinho de lado, ele sentou-se ao balcão e esperou enquanto Bakugou tirava algumas coisas da geladeira.

— O que você vai fazer?

— Frango, com requeijão — ele fez uma pausa — Você gosta?

— Tá de brincadeira? Eu gosto sim. — Kirishima abriu e fechou o pote de requeijão que o outro acabara de colocar no balcão em sua frente, tentando não parecer tão nervoso — Então você já se acostumou com a ideia de que vou dormir aqui?

Bakugou parou a meio caminho do ármario.

— Você não vai embora de qualquer jeito.

— Então... O que você ia me contar naquela hora?

— Olha, seu idiota — a voz do loiro voltou ao seu timbre habitual — Já que você tá tão confortável, vai fazer o arroz.

Kirishima levantou e procurou o pacote de arroz no ármario. Entretanto, era mais do que óbvio que ele não pretendia desistir.

— Na verdade, respondendo a sua pergunta de antes, eu lembro.

Bakugou começou a cortar alguns tomates como se sua vida dependesse daquilo.

Kirishima continuou falando.

— Quer dizer, então, que foi por causa daquilo que você ficou todo esquisito.

Nenhuma resposta. O de cabelos vermelhos observou enquanto Bakugou ligava a torneira e lavava as mãos, totalmente em silêncio. Ele segurou, mais uma vez, sua vontade de rir. No entanto, quando viu o loiro dar meia volta e caminhar em sua direção, com uma expressão séria, ele sentiu o riso morrer na garganta enquanto outra coisa começava a surgir.

— Bakugou?

Nada.

"Diz alguma coisa", ele pensou.

Bakugou apenas parou quando estava a centímetros de distância do outro. Kirishima conseguia ver até mesmo a curva incomum em sua boca, que tremia um pouco.

— Então, você não estava completamente bêbado naquele dia? — ele finalmente perguntou — Você se lembra?

— Quer dizer, bêbado eu estava. — Kirishima riu — Mas não o suficiente pra esquecer de tudo. Então, sim, eu lembro. Você também havia bebido, se não me engano.

— Achei que você tinha mais.

— Por quê?

Bakugou apenas o encarou, parecendo ainda mais sério do que antes, sem diminuir nem um centímetro da distância entre eles.

— Bakugou...?

Um arrepio inusitado percorreu o corpo de Kirishima, à medida que o rosto do loiro chegava cada vez mais perto do seu, fazendo uma leve curva, até que sua boca esbarrasse no ouvido do outro. Repentinamente, ele tomou ciência de como seus corpos estavam próximos, não conseguindo conter as múltiplas sensações que percorriam seus nervos, como sangue percorre as veias.

— Eu achei que você tinha feito aquilo apenas por conta da bebida — Katsuki sussurrou, fazendo os sentidos de Kirishima se aguçarem ainda mais — Você me deixou confuso.

Uma pausa.

— Eu também fiquei confuso.

Parece uma eternidade.... Cada pausa, é uma eternidade.

Bakugou moveu sua boca ainda mais, encostando seus lábios tão suavemente no lóbulo da orelha de Kirishima que o mesmo tremeu levemente. No entanto, o contato durou apenas um instante. Logo, ele voltou a falar.

— Você não parece confuso. — ele sussurrou — Você deveria tomar responsabilidade por isso, sabia? — mais uma vez, ele encostou seus lábios na pele do outro. Daquela vez, ele apenas se afastou depois de lamber todo o comprimento do lóbulo até a hélice — Eu fiquei pensando naquilo por muito tempo, mas não queria deixar as coisas estranhas. Toda vez que eu te via, lembrava daquela noite. Você parecia o mesmo de sempre, então assumi que você não lembrava.

Kirishima riu, de nervoso. Sem se dar conta, ele depositou uma de suas mãos no ombro de Bakugou, que se recusava a aumentar a distância entre eles.

— Eu achei que você estava me evitando porque não tinha gostado. Que você era hetero ou algo assim. Ou que minha presença estava te incomodando de alguma forma. — Novamente, ele não conseguia parar de falar — Quero dizer, foi só algo que eu sempre quis fazer.

— Você me beijou porque queria conferir se eu sou hétero?

Aquilo desencadeou uma risada engasgada em Kirishima. Bem, era verdade, em parte.

— Do que você ta rindo? — Bakugou puxou sua cintura em um impulso, diminuindo de vez a distância entre seus corpos, fazendo sua risada cessar — Você é um completo idiota.

— Bem, não é que eu queria, realmente testar se você é hetero. Eu já disse, era só...Eu só fiquei com vontade — suas bochechas estavam queimando, e ele fez o possível para esconder seu rosto em algum lugar, mas acabou se aproximando ainda mais de Bakugou, e sentindo seu cheiro forte — Eu sempre tive vontade de beijar você, é isso! Arrrr, isso soa ridículo, parece que tenho quinze anos de nov-

A frase morreu em sua garganta ao que ele sentiu um toque suave em seus cabelos. O contato era tão morno e gentil que ele conseguia imaginar correntes de carinho penetrando por seus poros e percorrendo seu corpo. Bakugou podia mesmo ser tão delicado? Era difícil imaginar que aquela mesma pessoa estava o provocando a poucos segundos atrás. Sendo assim, permaneceu imóvel, como se temesse que aquilo tudo fosse acabar no momento em que se movesse de forma muito brusca. Entretanto, o loiro buscou por seu rosto, cessando o carinho em seus cabelos, e segurando suas bochechas com as duas mãos.

— Por que você está tão tenso?

Então, no milésimo de segundo que se seguiu entre aquela pergunta e a próxima ação de Bakugou, Kirishima sentiu seu coração derreter da forma mais brega possível. Como se ele fosse a protagonista de algum shoujo, percebendo, finalmente, que havia se apaixonado. Exceto pelo fato de que ele já sabia que estava apaixonado a muito tempo. Olhando para o sorriso calmo e nada usual que o homem em sua frente sustentava, ele sentiu nada além de carinho morno, acompanhado de uma palpitação nervosa. Ele queria que aquela noite durasse para sempre.

Ele queria sentir a sensação suave dos lábios de Bakugou indo de encontro aos seus quantas vezes fosse preciso, exatamente como naquele momento. Acompanhado do aroma doce do bolo que acabava de assar, do barulho da chuva incessante, e do cheiro de Bakugou que, agora, parecia impregnado em seus sentidos para sempre.

********

Quando, finalmente, se dispuseram a jantar, já passava das nove da noite. Juntos, enrolados em uma manta quentinha, os dois se dispuseram no sofá, enquanto comiam o frango com requeijão delicioso de Bakugou, acompanhado de arroz e suco de laranja. O pescoço, boca, bochechas e orelhas de Kirishima ainda queimavam em decorrência de todos os beijos que havia recebido do homem sentado ao seu lado. Ele tentava não sorrir enquanto pensava no quão gentil ele era. Completamente complacente, completamente diferente da personalidade que mostrava para todo mundo.

Bakugou apontou para a Tv, onde Jake Peralta fazia piadinhas completamente idiotas.

— Qual seu personagem favorito? — ele perguntou, com a boca suja de molho.

Kirishima segurou sua vontade de passar o dedo nos lábios dele.

— Acho que o Terry! Ele é uma lenda.

— Concordo.

— E o seu? Qual seu favorito?

Bakugou sorriu selvagemente, fazendo com que Kirishima perdesse a compostura e, finalmente, passasse o dedo no canto dos lábios dele, limpando o molho que estava ali.

Ele fingiu não notar o leve rubor nas bochechas do outro.

— Então, quem?

— A Rosa, com certeza!

Kirishima encarou a tela, pensativo.

— Humm, entendo. — murmurou — Vejo a semelhança.

Dessa forma, episódios e episódios se passaram. O jantar acabou e a parte mais esperada da noite veio. Os olhos de Kirishima reluziam com a visão de um bolo branco decorado com morango e chocolate. O sabor era tão impressionante quanto a aparência, e os dois riram enquanto o ruivo sentia-se como uma criança.


********



— Então, eu durmo no sofá, você tem alguma mant-

— De jeito nenhum! — Bakugou esbravejou — Nesse frio?

— Mas você não tem um quarto de hóspedes, tem? E tenho certeza que a Toga te mataria se alguém entrasse no quarto dela.

O loiro sabia que Kirishima estava certo. Qualquer um de seus colegas, na verdade, acabaria com ele se invadissem os quartos.

Ele viu aquilo estampado na cara de Katsuki, e começou a se aconchegar no sofá pequeno demais para ele. O relógio indicava que passava um pouco da meia-noite.

— Tá tudo errado aqui. Você vai dormir com essa roupa, Kirishima?

— Claro, eu não trouxe muda de roupa-

Antes que pudesse concluir a frase, Bakugou saiu a passos rápidos e voltou com um moletom enorme e uma calça xadrez.

— Veste isso — mandou — É quente.

— São suas roupas?

— De quem mais seria?

— Não precisa-

— Cala a boca.

Kirishima olhou para o rosto de Bakugou, que estava em pé ao lado do sofá. Ele queria contestar, mas sabia, como sempre, que não ia dar em nada. Sendo assim, optou pela alternativa mais arriscada.

— Vem cá — ele fez um gesto com a mão, indicando que Bakugou devia chegar mais perto.

— O que foi?

O ruivo optou por responder àquela pergunta com um beijo. Um beijo muito mais quente e apressado do que aquele que o dera na noite em que acabaram bebendo demais. Um beijo que fez com que Bakugou, de alguma forma, caísse por cima de Kirishima no sofá apertado, fazendo com que eles se entrelaçassem em um abraço apertado.

Nenhuma palavra foi ouvida no apartamento por um bom tempo. Depois de uma longa seção de beijos na sala, de alguma forma, os dois levantaram, tentando ao máximo não se afastar nem por um centímetro, e andaram até o quarto de Bakugou.


**********

Três horas da manhã.

Kirishima deitado ao lado de Bakugou, dormindo profundamente.

Dormindo em seu quarto. Em sua cama.

Bakugou escondeu o rosto entre suas mãos, se sentindo quente e envergonhado por algum motivo.

Bem, ele sabia exatamente o motivo.

Ele já havia conseguido dormir. Sendo mais sincero, os dois haviam adormecido depois de uma longa seção de toques, que levou a um lugar totalmente inesperado. Entretanto, o loiro acordara com frio, já que Kirishima havia puxado o lençol inteiro apenas para si.

Agora, Katsuki enfrentava uma feroz guerra interna sobre o que fazer. Não queria pegar outro lençol, mas sentia seu corpo tremer de frio. Por outro lado, as chances de acordar o ruivo por conta daquilo eram nulas.

Ele encarou o corpo encolhido de Kirishima, o corpo que ele havia tocado de cima a baixo algumas horas atrás, e sentiu uma sensação nova. Quando deu por si, seu próprio corpo já se movia em direção a ele, o acolhendo em seus braços e dando um jeito de arrumar o lençol por cima de seus dois corpos,agora abraçados.

Bakugou sentiu-se ainda mais aquecido do que antes. 

Bạn đang đọc truyện trên: AzTruyen.Top