TRÊS ::: 23 de Maio de 2008
San José, Califórnia, Estados Unidos
O caos acontecia dentro das tendas improvisadas no meio da praia. Mulheres caminhavam com seus vestidos leves e frescos de um lado para o outro, trocando maquiagem, acessórios e comentários enquanto a noiva se mantinha sentada numa cadeira de plástico, de braços cruzados e pernas inquietas.
— Aperta melhor essa flor no meu cabelo! — Emma exigiu para uma das damas.
— Assim vocês vão me atrasar! — Dani reclamou ansiosa e todas a encararam com deboche.
— É costume a noiva atrasar. — Jackeline Parson Hale, sua melhor amiga e madrinha de casamento, relembrou a noiva sorrindo para ela docemente.
— Meia hora e não quase duas horas! — Alvitrou irritada, sua voz elevando num tom quase esganiçado.
— Deixa de ser controladora, Danielle. Só passaram 45 minutos da hora combinada, mas como você tem o irritante costume de aparecer uma hora antes de tudo o que é combinado, por isso está parecendo quase duas horas para você. — Emma replicou.
— Isso não é certo. Eu quem deveria estar atrasada, não as damas de honra! — A ruiva choramingou cruzando os braços sardentos.
— Danielle, pare de ser implicante e chorona garota. — Chloe resmungou irritada com a irmã.
— Além do mais, você não está totalmente pronta. — Kourtney assegurou girando no dedo indicador uma liga vermelha.
As garotas assobiaram e ovacionaram para provocar Dani e esta ruborizou escondendo o rosto nas mãos e sorrindo timidamente.
— Ah meninas, parem. — A ruiva pediu constrangida.
— Vocês são terríveis. Deixem a minha cunhada em paz. — Emma defendeu.
— Mas Emms, a liga é essencial. — Kourt afirmou com um sorrisinho sacana no canto do lábio.
— Okay, tudo bem, eu coloco essa porcaria — Dani por fim cedeu, bufando impaciente. — Mas vamos logo. Por favor! — Implorou em choramingos.
— Eu sei bem porque ela está com pressa. — Chloe sorriu sapeca.
— Está mortinha para chegar na lua-de-mel. — Kourt concluiu arrancando risadas de todas e Dani quis bater muito nas amigas por a envergonharem de tal modo, mas não se conteve a rir também.
Jackie assistia a tudo timidamente e um tanto afastada. Apesar de ser amiga de todos, aquele tipo de temas a incomodava tanto quanto incomodava Danielle. Talvez fosse por isso que elas se dessem tão bem, por serem muito parecidas.
Após mais alguns minutos de arranjos femininos finais e mais provocações à noiva, todas finalmente saíram da tenda, deixando Danielle por último.
A praia estava belamente decorada em tons de pérola e lilás. Orquídeas brancas estavam penduradas em forma de laço nas costas dos bancos. O tradicional tapete vermelho se estendia numa fila de 5 metros desde o início da capela improvisada na praia, até o altar, onde constava um magnificente arco branco, repleto de amores-perfeitos pendendo em cascata, em vários tons de lilás, rosa e roxo. Alguns até em um tom perto do azul.
No altar já se encontrava o Pastor, - que costumava realizar casamentos, batizados e funerais na comunidade - o noivo, nervosamente vestido dentro de um fraque cinzento-claro e, atrás dele, Elliot, o padrinho, e os acompanhantes das damas. Eric namorado de Chloe, Henry marido de Emma e Jay, irmão de Kourtney.
Assim que as damas apareceram no início da entrada, os homens correram para ficar do lado delas. Jackie era a única que ia sozinha, pois Elliot, o padrinho, ficara no altar.
Era surreal que ela realmente estava ali apadrinhado aquela união. A princípio Jackie recusara o convite de ser madrinha e expusera um sem número de razões.
"Chloe é quem deveria de ser a madrinha. Ela é a noiva de Elliot."
"Sou muito envergonhada e atrapalhada para ser madrinha."
"Emma é sua melhor amiga também!"
"Kourtney é mais experiente nesse assunto."
"Eu não vou saber o que falar no discurso!"
Mas apesar da sua teimosia, Dani era uma manipuladora de primeira, uma das coisas das quais diferenciava muito as duas amigas. Logo a ruiva conseguiu dobrar a amiga com uma desculpa qualquer – que agora nem Jackie se recordava mais qual era, mas que na altura resultou lindamente para a convencer daquela loucura.
Distraída, a morena piscou os olhos castanhos esverdeados quando eles foram cegados por um flash. Rapidamente se recompôs da sua alienação mental e ficou atenta aos fotógrafos que foram contratados por Jay.
Pelo que ela conseguia contar eram ao todo três. Um japonês, muito hábil – que ela percebeu ter sido o que a "cegou" – caminhava pelo tapete vermelho seguindo de perto a marcha lenta das damas e da noiva. Um outro, de cabelo comprido e moreno que se focava apenas em fotografar os convidados. E por último um outro, quase imperceptível, que tirava fotos em torno do pastor, do noivo e do padrinho.
Assim que chegaram no altar, Jackie tropeçou no seu vestido comprido e quase se estampou no chão, não fosse esse tal último fotógrafo segura-la quando completou a ronda.
Os seus olhos se cruzaram com os dele e uma variedade de sensações percorreram o seu corpo. Se sentiu hipnotizada, encantada, amedrontada e atacada por aquele par de esmeraldas...ou seriam safiras celestes? Era difícil de perceber a cor daqueles misteriosos olhos.
Jackie se endireitou e, agradecendo quase inaudivelmente, se posicionou no altar, atrás da noiva.
Depois que reparara naquela beleza, Jackie não mais conseguiu tomar atenção em nada. Mal escutava as sábias palavras do Pastor, ou os românticos votos dos noivos, ou o discurso emotivo do padrinho.
"DROGA!" Praguejou em pensamento ao se recordar que seria a próxima a discursar, antes dos noivos se tornarem, definitivamente, marido e mulher.
Tinha preparado algo – que havia decorado previamente – mas agora ficara em completo branco. Esquecera totalmente o que tinha a dizer. A presença daquele homem rodeando o altar, fotografando incessantemente em sua direção a incomodava.
"Não. Ele está fotografando a noiva." Jackie se garantia, mesmo que a câmera estivesse apenas apontada para si.
Com um piscar de olhos, Jackie retornou à realidade e percebeu que todos aguardavam o seu discurso e então clareou a garganta.
— Este.. — Não sabia o que dizer nem como começar.
Por mais que puxasse pela cabeça, não se recordava do seu discurso. Clareou novamente a garganta e reiniciou. Teria de improvisar.
— Este é um dia de muita alegria. Não só para os noivos, que estão concretizando o sonho de se unirem para sempre, mas também para todos nós, amigos, familiares...para todos aqueles que amam Danielle e Connor e que querem e desejam ver e presenciar a felicidade e o amor desse casal.
Estava se saindo bem até agora. Conseguira canalizar apenas a cerimónia e o discurso e esquecer, por minutos, aquele fotógrafo. O misto de sentimentos que ela direcionava para ele começaram se esvaindo até que um novo flash quase cegou seu olhos e quando olhou para o fotógrafo loiro e viu um sorriso torto direcionado a si Jackie sentiu uma forte sensação de perigo. Ela não sabia mais o que pensar daquele sedutor homem, que num minuto a deslumbrava e no outro a apavorava.
Agora olhando em seus olhos havia algo mais que a bela cor misteriosa dos seus olhos. Havia uma sombra negra rodeando eles, como se o homem que ela visse minutos atrás fosse diferente do que agora a olhava fixamente.
De novo esquecera até do que improvisar. Cruzou os dedos, em sinal de nervosismo, e sentiu o estômago revirar. Não sabia se estava incomodada com a atenção do público ou se da marcação cerrada do fotógrafo. Porém, tentou dizer mais algumas palavras.
— Acho que o Elliot roubou todas as minhas palavras. O discurso dele foi magnífico. — Sorriu timidamente mesmo que não tivesse escutado metade das palavras. — O que eu posso dizer mais? — Perguntou ao público retoricamente. — O que é afinal o amor? Puro, simples, real, único...tantas características para uma só palavra. Mas eu tenho a resposta mais simples e, contradizendo-me, mais complexa para dar a vocês. Se vocês querem saber o que é realmente o amor...é só olharem para Danielle e Connor e encontrarão todas as respostas que precisam. — Finalizou com sucesso o seu discurso improvisado, acabando por perceber que se sairá melhor do que se tivesse dito o discurso que tinha preparado.
No fim recebeu um aval de aplausos e assobios e os noivos saíram do centro do altar para abraçá-la e agradecer, com lágrimas nos olhos.
Por fim a cerimônia encerrou com a decretação do Pastor que os declarou marido e mulher e todos se seguiram para o copo d'água.
Depois do seu discurso, Jackie perdera de vista o fotógrafo. Sentiu alívio por poder respirar melhor e mais fundo, sem a atenção centrada dele sobre si, mas, inexplicavelmente, sentiu também a sua falta.
Todos os convidados estavam se divertindo, comendo, conversando e dançando enquanto por vezes felicitavam inúmeras vezes os noivos.
A festa já tinha tido um considerável avanço. A noite caíra há pouco mais de duas horas e Jackie permanecia sentada, vendo a felicidade alheia.
Dançara umas três ou quatro vezes. Uma com o noivo, seu primo e melhor amigo. Outra com Elliot, o padrinho. E por fim um com Eric, porque ele queria provar que conseguia fazer a desajeitada madrinha dançar até o tango. Acabou por sair com o dedo do pé lesionado.
Poderia até contar como dança os passos que tinha dado com Derek, filho de Henry e Emma que tinha apenas seis anos, mas estava bastante cansada para sequer se balançar. Queria ficar na festa por mais um pouco, mas achou que sua cara de enterro não combinava de todo com o clima animado e apaixonado que decorria.
Se despediu então de Emma - que estava sentada com ela na mesa, carregando ao colo um adormecido Derek - e pediu a ela que deixasse um beijo com os outros. Emma não insistiu para que Jackie ficasse, pois ela mesma estava apenas esperando Henry para ir embora.
Jackie se encaminhou ao parque de estacionamento que montaram num descampado perto da tenda da festa que também decorria na praia. Avistou o seu velho carocha com um tom desbotado de azul e procurou na sua bolsa as chaves do mesmo. Apesar de pequena a bolsa estava atulhada de coisas. Típico de mulheres.
Após alguns minutos de procura, percebeu um carro parando atrás dela e o seu rosto se virou de imediato para se despedir de quem quer que fosse que também estava partindo, porém O coração de Jackie pulou no peito quando viu quem era o motorista.
Ela não sabia dizer ao certo porque o seu coração pulara, mas era um misto de sentimentos que ela não sabia indicar.
— Precisa de ajuda? — Ele questionou após descer o vidro do seu carro e abrir um sorriso simpático.
— Não, apenas não estou conseguindo achar minhas chaves.
— As bolsas de mulheres sempre parece um portal para Nárnia. — Ele comentou jocoso, gargalhando de um jeito que fez Jackie se encolher.
— É... — Ela assentiu nervosa, sem nem saber direito porquê e apertou o passo até ficar parada de frente para a porta do seu carro.
Finalmente tinha achado as chaves, mas por algum motivo estúpido suas mãos tremiam e acabou por deixar cair tudo no chão.
O som da porta do carro do fotógrafo se abrindo fez seu corpo todo tensionar e sua respiração acelerar, tentando catar tudo do chão o mais rápido possível, mas Jackie mal teve tempo de reagir quando ele se aproximou fugaz a puxou com brusquidão e tudo o que ela deixou pra trás foi o seu carro, a sua bolsa e um sapato.
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N/A: Aaah, vocês foram incríveis e em um dia conseguimos chegar às 4 ★. Como recompensa trouxe a vocês mais esse capítulo tenso. Jackie ficou meio confusa de como se sentir com o fotógrafo e no final seu crush se transformou num predador!
Novamente, se esse capítulo atingir 5 ★ eu postarei antes de 2ª feira. Eu acredito em vocês \o/
Até o próximo capítulo.
Bjs
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