Jacob manteve os olhos na mulher a sua frente, que ajeitava com cuidado o capuz do casaco, escondendo boa parte do rosto. Ainda assim ele podia ver os lábios dela, sempre com um travesso sorriso.

— E então, Mr. Frye, pronto para uma agitada tarde? — ela o encarou, os olhos brilhando animados. Ele deixou uma risada escapar, dando um passo à frente, mantendo os olhos nas ruas movimentadas.

— Me mostre o seu melhor... — ele voltou os olhos para a ruiva ao ouvi-la rir. — Mostre o caminho...

Ela concordou com um leve aceno, seguindo por algumas ruelas quase desertas, o guiando. Ela conhecia bem a cidade.

— O que exatamente viemos fazer? — ele encarou as costas da ruiva quando pararam, as longas mechas acobreadas presas em uma trança. Ela levantou os olhos para o céu, abrindo um sorriso.

— Vem, vamos subir, Mr. Frye. — ela deu um sorriso malicioso para ele, enquanto começava a escalar a parede de um armazém próximo. — Escute... É a voz da Artemis.

— Reconhece a voz dela? — ele disse baixinho, olhando de seu esconderijo para o interior do armazém. A ruiva concordou com um aceno, antes de dar um sorrisinho travesso, sinalizando para que ele prestasse atenção a conversa.

Mas Jacob não conseguia ouvir nada, diferente da pequena ruiva, que concordava algumas vezes com a cabeça e fazia algumas expressões, como se estivesse envolvida na conversa.

— O que você ouviu? — ele encarou a Raposa, apoiando o queixo em uma das mãos.

— Você não ouviu? — ela o encarou, fingindo ceticismo e o irritando um pouco.

— Não. Nada além de murmúrios. — ele fez uma expressão irritada, enquanto a ruiva se levantava, pronta para seguir para o próximo prédio.

— Ela vai demolir esse lugar, só para você saber. — ela riu quando ele se levantou em um pulo, a seguindo por entre os telhados, até que ela se sentasse, encarando a vista. O sol começava a se pôr dando um tom alaranjado a cidade. — Ela está planejando um ataque coordenado. Vai juntar algumas das gangues sob o comando do Starrick e atacar vocês em uma emboscada. Só não consegui ver exatamente onde...

— Como conseguiu ouvir tudo isso? — ele encarou a figura ruiva de sorriso fácil ao seu lado.

— Você ficou próximo a uma entrada de ventilação. Nunca ia conseguir ouvir algo que não fosse murmúrios ou o vento. — ela deu ombros, como se aquela informação não tivesse ferido o orgulho do Assassino. — Mas, você se escondeu muito melhor do que eu, por isso, recomendo que você vá avisar ao Green, enquanto eu sirvo de distração.

— Eles viram você? — ele a encarou, se sentindo um pouco melhor. A Raposa se levantou, puxando novamente o capuz sobre o rosto.

— Foi um prazer trabalhar com você, Mr. Frye... — ela sorriu para ele, já pronta para seguir um rumo oposto e levar os capangas de Artemis para longe. — O vejo mais tarde...

— Por algum motivo, odeio quando você me chama assim. — ele a encarou, se levantando e seguindo para as ruas. Ele sorriu ao ouvir a ruiva rir de seu comentário.

***

— Ironicamente, ela é uma ótima investigadora. Consegue informações com facilidade. Mas é distraída demais para esse tipo de trabalho. — Henry e Evie ouviram com atenção as informações que Jacob levara para eles.

— O que vamos fazer? — Evie olhou para o irmão, que deu ombros. Ele já havia deixado bem claro qual era sua posição quanto a esse assunto: enfrentar a gangue rival. — Não vamos simplesmente partir para a briga assim, Jacob. É loucura...

— Por quê não? Me parece o melhor a se fazer. Assim acabamos de vez com a influência do Starrick nas ruas. — Jacob encarou a irmã, antes de voltar o olhar para Henry. — Greenie, o que você acha?

— Bem... — ele alternou o olhar entre os irmãos, antes de deixar escapar um suspiro. — Evie tem razão, não podemos os enfrentar assim, serão muitos e estariam trabalhando de modo bem coordenado... Mas, você também está certo. Se os vencermos, diminuiremos consideravelmente a influência que o Starrick tem nas ruas de Londres.

— E como vamos fazer isso? — Jacob tentou não rir. Evie encarava Henry como se fosse o comer vivo.

— Precisamos de um bom plano de ataque. Algo que possa os pegar de surpresa. — ele encarou a morena, dando um pequeno e sincero sorriso de desculpas. — Podemos pensar em algo até amanhã...

— Bem, vou deixar isso a cargo de vocês... — Jacob se espreguiçou, pronto para sair.

— Preciso te pedir um favor, Jacob. — ele voltou os olhos para Green, que tinha uma expressão preocupada. — Já faz algumas horas... Preciso que encontre a Raposa. Ela tem um certo... imã para problemas.

— Claro. — ele escutou com atenção, enquanto Henry ditava meia dúzia de lugares onde poderia começar a procurá-la.

***

Jacob entrou na velha fábrica, olhando para as caixas espalhadas e se escondendo atrás de algumas delas ao ver os guardas passarem por ele, arrastando a Raposa.

— Maldição. — ele seguiu os guardas até o escritório, trincando o maxilar ao ouvir um deles comentar sobre o que gostaria de fazer com a ruiva quando o interrogatório terminasse.

— Raposa... Que prazer finalmente conhecê-la. — o homem se aproximou da mulher caída no chão, girando uma adaga de cabo de prata entre os dedos. Os olhos cor de âmbar da Raposa brilharam de ódio enquanto ela olhava para o capanga. — Ah, é mesmo. Isso é seu não é? Parecem ser muito preciosas...

— São. E eu vou ter o maior prazer em te matar com elas... — Jacob viu a ruiva se curvar, quando ele chutou, antes de ouvir uma risada. — Você é igual a ela, um burocrata. Nunca sabem bater direito...

— Ora sua... — Jacob pensou em entrar naquela sala ao ouvir o grito agudo da Raposa. — E inteligência parece não ser uma de suas qualidades...

Ele olhou novamente para dentro do escritório. A Raposa segurava um ferimento na lateral do abdômen que pingava sangue.

— Ótimo, agora preciso de uma distração. — ele olhou ao redor um tanto irritado, antes de quebrar algumas correntes, fazendo um velho caldeirão cair espalhando seu conteúdo incandescente pelo local.

— Mas o que está acontecendo aqui? — ele sorriu ao ver os capangas saírem do escritório, se dispersando enquanto tentavam acalmar o incêndio que o Assassino provocara.

— Vou tirar você daqui... — ele pegou a ruiva em seu colo, que apontou para o par de adagas sobre a mesa, o fazendo bufar antes de as pegar. — É melhor que isso seja muito importante...

Ela deu um fraco sorriso, enquanto eles saíam do velho armazém. Jacob voltou os olhos para ela, enquanto ela apertava o ferimento, fazendo uma expressão de dor.

— Aguente só mais um pouco... — ele deu um sorriso charmoso para ela, a fazendo sorrir fracamente. Aos poucos o sorriso foi se esmaecendo, os olhos se fechando e antes que ele conseguisse chegar ao trem, a Raposa desmaiara.

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Jacob olhou para a ruiva deitada na cama, enquanto o boticário terminava de imobilizar o tornozelo dela. As faixas ao redor da cintura dela ainda estavam manchadas de um tom vermelho vivo.

— Ela vai ficar bem? — Henry alternou os olhos entre o boticário e a Raposa.

— Sim. — o boticário voltou os olhos para ela, ao ouvi-la gemer baixinho. A Raposa abriu os olhos, olhando um pouco confusa ao redor, antes de focar os olhos no médico. — Você vai ficar alguns dias sem conseguir andar...

— Não duvide da minha capacidade de recuperação, doutor... — ela deu um sorriso fraco.

— Não é uma observação, Raposa. É uma ordem médica... — o homem sorriu quando ela fez uma expressão emburrada. — Se quiser voltar a fazer suas... acrobacias, melhor ficar parada por alguns dias.

A ruiva bufou, enquanto Evie e Henry seguiam o boticário para fora do trem.

— Obrigado... — Jacob voltou os olhos para a Raposa, que ainda tinha uma expressão emburrada e tentava se levantar.

— Você não vai se livrar de nós tão fácil assim... Ainda precisamos da sua ajuda. — ele se sentou ao lado dela, a ajudando a se sentar. Ele sorriu ao ouvi-la dar uma leve risada. — Como se sente?

— Não estou tão mal, se é o que quer saber... Só me lembre de acabar com a raça daquele cachorrinho dela da próxima vez que o vir... — ela passou a mão pelas mechas acobreadas, as afastando um pouco do rosto, antes de fazer uma careta de dor por causa do ferimento. — Meu pé estava tão feio assim?

— Bem... Um bocado. — ele deu um sorriso torto para a ruiva, antes que ela desse ombros.

— Jacob. Precisamos ir, se quisermos colocar nosso plano em prática. — Evie encarou o irmão, que acenou, antes de se levantar.

— Com sua licença, senhorita... — ele pegou a cartola, passando a mão pelo cabelo antes de a colocar e seguir a irmã.

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— E então, Greenie... — a Raposa, deu um sorriso travesso para Henry, vestindo uma folgada camisa que pegara 'emprestada' do Frye.

— Já basta o Jacob me chamando assim... — ele riu divertido, olhando para os papéis espalhados sobre a mesa. — Eu realmente espero que isso dê certo...

— O que? — ela olhou por cima do ombro dele para o que parecia ser um elaborado plano de ataque criado por ele e por Evie. — Hmmm... Me diga que isso não é o que vocês planejaram...

— Por quê? — ele olhou por cima do ombro para a ruiva, antes de se levantar, deixando que ela se sentasse. Ela pegou a caneta, marcando alguns 'X' em pontos específicos do beco que eles haviam escolhido para executar o plano de ataque. — Isso é ruim... Me lembre de da próxima vez manter você por perto e informada dos planos...

— Bem, não imaginei que vocês fossem fazer uma manobra de ataque tão... agressiva. Ainda mais levando em conta que você estaria envolvido. — ela olhou para ele, pegando seu par de adagas e um revólver esquecido pelos gêmeos. — Vamos. Eles vão precisar de ajuda...

— Você não deveria nem ter saído da cama! — Henry não admitiria, pelo menos não para ela, que estava preocupado com Evie. — Não vai sozinha para o meio de uma briga de gangues.

— Por isso estou levando você. É o meu apoio. — ela deu uma piscadinha travessa para ele, enquanto colocava uma das botas e dava alguns pulinhos passando o casaco pelos ombros. — Olha, eu sei que trabalho de campo não é seu forte. Mas, você já me salvou uma dezena de vezes assim e agora, para piorar a situação, estou devendo uma ao Frye. Então vamos logo, está bem?

— Não vou te convencer do contrário mesmo... — ele bufou, antes de ajudar a ruiva a descer do trem.

***

A Raposa deu alguns pulinhos em um pé só, praguejando mentalmente por ter sido tão descuidada e ter caído. Ela pegou o revólver, trocando um rápido olhar com Henry, que passou o braço ao redor da cintura dela, lhe dando certo apoio.

— Jacob, se abaixe! — ele gritou para o jovem Frye, que prontamente obedeceu, antes que o tiro passasse zunindo por sua orelha, acertando o Blighter atrás de si.

Ele viu uma adaga de cabo prateado voar na direção de Evie, acertando um homem que se aproximara demais. Henry soltou a ruiva, ajudando a morena a se livrar de alguns agressores, os nocauteando. A Raposa sorriu, ele era um bom homem e excelente combatente, mas estava no ramo errado. Henry Green era, quase, incapaz de matar.

— Você de novo? — Jacob a encarou, deixando um pequeno sorriso escapar enquanto prontamente ia para perto da ruiva, pronto para a proteger. Ela deu um sorriso travesso para ele, enquanto a mulher vinha correndo em sua direção com uma faca.

— Bem, eu ainda te devo uma... — ela voltou sua atenção para um grupo da gangue dos gêmeos, que haviam sido encurralados. Ela deu um sorriso cruel, enquanto acertava com precisão alguns Blighters.

— Aqui. — Jacob entregou seu revólver a ruiva, eliminando quem chegasse perto demais de seu reforço. Ela riu ao ouvi-lo praguejar baixinho, arremessando sua adaga na direção dele.

— Cuide bem dela... A quero de volta inteira... — ela sorriu ao ouvi-lo concordar e dar um sorriso cruel.

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Jacob olhou de soslaio para a ruiva um pouco mais atrás de si. Em algum momento daquela enorme confusão, que agora se tornara uma luta e momentos atrás era um massacre, ele havia perdido sua kukri. Agora ele segurava uma adaga de lâmina curva, precisamente afiada e de cabo de prata, enquanto a Raposa usava seu revólver para exterminar a longa distância os Blighters e mercenários enviados por Artemis.

E, ele tinha que admitir, aquela garota sabia atirar. Ele ainda não tinha a visto errar um tiro ou uma faca arremessada. Cada golpe era fatal ou causava dano o suficiente para deixar a pessoa incapacitada e fora da luta.

Os Blighters restantes se reuniram, batendo em retirada, enquanto os Rooks se reagrupavam, juntando os feridos e contando os mortos.

— Certo, eu preciso de uma ajudinha... — a ruiva deu alguns pulinhos em um pé só, o que fez o Assassino rir. Ele se aproximou dela, passando seu braço ao redor de sua cintura, a segurando contra si. — Só para lembrar a vocês: eu não consigo andar...

— Certo, senhorita. — ele sorriu para ela, limpando a adaga em um lenço e a devolvendo. A Raposa sorriu, lhe entregando o revólver.

— Como sabiam que... isso, ia acontecer? — Evie alternou o olhar entre a ruiva e Henry.

— Bem, não imaginei que vocês fossem partir para o ataque tão cedo... ou que eu iria destruir o meu pé... — ela fez uma careta de dor, passando a mão sobre o ferimento em seu abdômen. — Caso contrário, teria avisado que ela teria elaborado um segundo plano, com emboscadas e muito mais pessoas... Artemis nunca trabalha com apenas uma opção. E por mais que eu odeie admitir, ela é uma excelente estrategista, sabe muito bem como montar armadilhas e coisas desse tipo.

— Certo... Hora de te levar para casa. — Henry se aproximou da ruiva, pegando a adaga e o revólver da mão dela.

— Eu levo ela. — Jacob se abaixou um pouco, pegando as pernas da ruiva e a levantando.

— Ei! Dá pra me pôr no chão? — ela tentou o empurrar, mas desistiu ao quase cair. — Eu não estou morta. Só não consigo andar sozinha... Me põe no chão!

— Se você não parar de reclamar vou te carregar no colo, como uma criança. — Jacob deu um sorriso debochado para a ruiva, que bufou, passando os braços ao redor do pescoço dele.

— Acho que estou começando a te odiar, Mr. Frye... — ele olhou por cima do ombro para ela, que sorriu triunfante por ter conseguido o irritar, mesmo que um pouquinho.

***

— Ela está dormindo... — Jacob olhou por cima do ombro de Henry, pousando os olhos por um momento na bagunça de mechas acobreadas sobre a cama, enquanto o indiano deixava o casaco dela sobre uma cadeira. — Tem certeza de que ela pode ficar aqui? Eu sei bem como a Raposa pode ser... implicante.

— Não se preocupe com isso. — Evie deu um sorriso gentil para Green. — Além do mais, ela parece gostar de irritar o Jacob, então tudo bem...

— Ei. — ele voltou os olhos para a irmã, que deu ombros com um sorriso divertido no rosto.

— Bem, eu vou procurar pelas coisas dela. Devem estar escondidas no armazém. — Henry olhou de soslaio para trás ao ouvir a ruiva murmurar algo, antes de sorrir. — Ela é uma boa pessoa... E acaba te cativando após alguns dias... É melhor eu ir, antes que ela acorde e resolva fazer isso por conta própria. Volto em algumas horas...

— Não se preocupe, não vamos a lugar nenhum, Greenie... — Jacob deu um sorriso sarcástico para Henry, antes de sair, seguindo para outro vagão e se jogando sobre o divã.