U-fano
Último capítulo, pré-revisado. Boa leitura.
CAPÍTULO ANTERIOR: O quarto estava escuro e talvez o que os fizesse acordar fosse justamente o corpo os expulsando da cama pelo horário. Zaneli foi a primeira a abrir os olhos, encarando a escuridão e ficando um pouco nervosa fora o frio que logo a acometeu deixando claro a nudez por baixo dos lençóis macios.
-- Meu deus, onde é que eu estou? -- Zaneli sussurrou e logo sentiu uma mão firme agarrando seu corpo, tateou o local em busca de luz até encontrar um abajur e ao acender deu de cara com os fios platinados e os olhos azuis mais bonitos que já viu.
-- Bom dia querida. -- Satoru sorriu genuinamente encarando o rosto dela que parecia tentar se esconder por trás da vergonha, ele uniu mais os corpos e tirou uma mecha do rosto dela sentindo pele com pele e a fazendo respirar pesado, pois o que tanto tentou evitar o álcool reuniu...
O álcool tende a revelar nossas verdadeiras vontades e Zaneli poderia dar um milhão de desculpas, mas não precisou de muito para acabar na cama de Satoru. Na verdade, o que começou na boate com um simples beijo desaguou nessa situação, onde ela se sentia desconfortável por quebrar as próprias regras. Nunca voltar a se relacionar com alguém que quebrou sua confiança.
Ela não sabia como olhá-lo sem parecer tão indignada consigo mesmo, já Satoru estava bem com o ocorrido, havia finalmente conseguido arrancar um pouco do tempo dela, independente da forma que ocorreu. Claro que tinha ciência de que uma transa não resolveria seus problemas, não quando de tratava de Zaneli.
-- Eu tenho que...
-- É sério que você vai utilizar uma desculpa qualquer para fugir da conversa?
-- Não vou. -- Afirmou sentindo as carícias pelo corpo e um leve tremor que emanava da mais pura e simples recordação do prazer anterior e sentir o corpo Nu de Gojo estava dificultando o raciocínio.
-- Ótimo. -- Deixou um beijo no ombro dela se afastando levemente e saindo da cama, ela nem tentou desviar o olhar, afinal de contas o platinado era uma obra de arte. -- Vou preparar o café pra gente. -- Satoru afirmou ao vestir uma calça de tecido e seguir para fora do quarto.
A cacheada demorou a sair daquela cama, primeiro que seu corpo ainda estava cansado, segundo que ainda estava refletindo sobre o ocorrido e terceiro que tentava de convencer de que não deveria se apegar a um mero momento que julgou como fraqueza.
Quando finalmente tomou coragem para se levantar e seguir em frente, procurou pelas roupas as encontrando largada no chão, vestiu o que deu após utilizar o banheiro do quarto.
-- Finalmente, meu bem. -- Ele entregou um copo de café e ela agradeceu.
-- Satoru, podemos deixar essa noite para trás? Quer dizer, eu não deveria.
Ele sorriu amargo por ela ser tão direta.
-- Você se arrependeu Zaneli é isso que está tentando me dizer?
-- Não! Só que foi impulsivo da minha parte. Ao melhor da nossa parte.
-- Não há impulso nenhum em deixar a verdade corroer por nossos corpos, mas não vou te pressionar.
Apesar de irritado com a ideia, Satoru se manteve firme e ela respirou fundo, terminando o café e agradecendo.
-- Eu vou para casa, preciso estar apresentável quando a versão mini de você chegar. -- Ela sorriu, antes de se despedir e partir, deixando Gojo ainda mais confuso, para ele Zaneli estava guardando o jogo, como se estivesse se restringindo ao máximo e não poderia simplesmente ir até ela e ser direto, não quando estava todo emocionado.
"Dando voltas e mais voltas e mais voltas e mais voltas nós vamos
agora me diga, agora me diga, agora me diga que você sabe
Não tenho muita certeza de como me sentir quanto a isso
Algo no modo como você se mexe
Me faz sentir como se não pudesse viver sem você
Eu quero que você fique"
[...]
O clima na casa estava descontraído, mesmo que os adultos não estivessem em excelentes condições. Satoru logo arrumou uma reunião na empresa enquanto Zaneli veio a se dedicar a Megumi, já que desde o começo ficou estipulado que o platinado só faria uso de seu sérvio de babá quando tivesse de trabalhar, uma vez que estando em casa a atenção era única e exclusivamente para Megumi.
A tarde seguiu com tranquilidade na casa dos Gojo. Satoru havia saído para a empresa, deixando Zaneli e Megumi juntos em casa.
E a Santorini dedicou-se totalmente a Megumi, como sempre fazia quando estavam juntos. Eles decidiram passar a tarde desenhando e conversando sobre diversos assuntos, depois passearam com os cachorros e o Fushiguro sorriu ao aprender a fazer massa de biscoito.
Megumi estava especialmente animado, e Zaneli adorava ver o brilho em seus olhos enquanto ele desenhava, a bancada estava repleta de lápis coloridos, os cães dormindo envolta da cadeira e ela limpando o restante tá bagunça da cozinha.
Enquanto isso, Satoru estava na empresa, precisamente dentro de sua sala tentando manter o foco, mas sua mente estava em outro lugar. Ele não conseguia tirar Zaneli de seus pensamentos, e a noite anterior ainda pairava em sua mente.
Quando Satoru finalmente voltou para casa, encontrou Zaneli e Megumi imersos em seus desenhos na sala.
-- Oi, pai! Como foi o seu dia? -- Megumi perguntou animado, mostrando os desenhos para o pai.
-- Foi ótimo, Megumi. E o seu? -- Satoru respondeu, sorrindo ao ver o filho tão feliz.
-- Foi incrível! Zaneli me ajudou a desenhar vários cachorros! Eu ajudei a fazer biscoitos e tudo mais! -- Megumi exclamou, radiante.
Satoru olhou para Zaneli, agradecido pelo cuidado que ela tinha com seu filho, uma criança que havia deixado de ser introspectiva por completo e de uma forma tão natural que nem ele mesmo se deu conta da mudança.
-- Obrigado por cuidar tão bem dele, Zaneli. -- Ele agradeceu, com sinceridade em sua voz ainda segurando Megumi no colo.
Zaneli assentiu, um sorriso gentil nos lábios.
-- É um prazer cuidar dele, Satoru. Megumi é uma criança incrível.
Eles trocaram um olhar significativo, conscientes de que isso não deveria ser manchado por suas vivências confusas.
[...]
Mais algumas semanas passaram e Gojo mantinha aquele peso involuntário no coração. Definitivamente, gostar de alguém a esse ponto era uma droga, principalmente quando a mulher tendia s ser tão profissional que não ultrapassava a linha sequer uma vez e para coroar, vivia o ignorando, evitando estar no mesmo ambiente que ele sem que fosse necessário, mas Gojo era esperto o suficiente para saber que ali tinha algo, principalmente após ter passado tanto tempo com ela, decidido a acabar de vez com essa situação, o platinado viu no pedido de Geto a oportunidade perfeita.
A esposa de Suguru havia contratado um grupo de festas infantis para montar a melhor festa do pijama infantil segundo as meninas de Geto, por um lado Satoru imaginou os inúmeros gastos com festas que essas crianças faziam, por outro gostou de ver a iniciativa de Megumi ao aceitar o convite e ainda pedir permissão para levar os cachorros e convidar uma amiguinha. Tudo estava correndo tão bem e dessa vez todos seguiam na mesma correnteza. Só faltava resolver seu último dilema, as questões de um coração ansioso que jamais deixou de lado o que vivenciou com ela.
O aroma do uísque impregnava o ar enquanto Satoru, sentado no sofá de sua luxuosa sala de estar, se afogava em lembranças borradas daquela noite na boate. Seus olhos vidrados refletiam a névoa alcoólica que envolvia sua mente, enquanto ele revivia os momentos com Zaneli, cada detalhe ressurgindo em sua mente como um filme em câmera lenta.
Ele se lembrava vividamente de como seus olhares se encontraram na penumbra da boate, a eletricidade pulsando entre eles instantaneamente. Sua conversa fluía com facilidade, as risadas ecoando no ambiente carregado de música e luzes coloridas. E então veio o beijo, um momento de pura paixão e desejo que parecia suspender o tempo ao seu redor, os remetendo há um momento sem preocupação, a mão firme de Satoru que logo apertava as ancas com gosto conforme descia os lábios pelo pescoço cheiroso, assim como o revirar de olhos que deu ao ter a nuca arranhada de leve.
"Vamos sair daqui princesa, ninguém precisa ver o que vou fazer com você?" Ele sussurrou.
"E quem disse que irá conseguir? Talvez essa seja a minha vontade." A resposta parecia tardia, uma vez que já era guiada para fora do estabelecimento.
Mas, mesmo na embriaguez daquela noite, Satoru sabia que havia algo errado. Naquela época estava casado com Utahime, e Zaneli não fazia ideia da complicada situação em que ele se encontrava. O peso da culpa pairava sobre si, uma sombra constante em suas lembranças mais queridas.
Agora, com Zaneli de volta em sua vida como a babá de seu filho Megumi, Satoru se sentia dividido entre o desejo de se aproximar dela novamente e o medo das consequências de seus impulsos. Ele entendia que não podia simplesmente ignorar o passado, mas também não conseguia esquecer os momentos intensos que compartilharam, principalmente após a noite de algumas semanas atrás.
Enquanto ele se afundava ainda mais no sofá, as memórias dançavam diante de seus olhos cansados, misturando-se com os sentimentos confusos que o assombravam. Desejava poder voltar no tempo e consertar as coisas, e agora restava apenas enfrentar as escolhas que havia feito e lidar com as consequências, mesmo que isso significasse abrir mão de sua vontade mais intensa, mesmo que ficasse magoado.
Como Zaneli não teria de cuidar do pequeno Megumi, ela foi até a casa de Gojo apenas pegar os materiais que havia esquecido na noite anterior, mas, bastou que se aproximasse da sala após vasculhar tudo para entender que estava em uma situação desfavorável. Não temia Satoru e sim que se deixasse levar mais uma vez.
-- Você tem alguma coisa para fazer hoje? -- Gojo perguntou na intenção de convidá-la para sair e acabar de vez com a incerteza da própria mente, mas a Santorini pareceu perceber as vontades do patrão.
-- Tenho, sim, vou terminar o meu trabalho. -- Ela foi direta, não estava mentindo e acima de tudo queria afastar-se o máximo possível, mesmo que o sentimento por ele tivesse reflorescido naquela fatídica noite, se é que alguma vez ele foi embora. Ele respirou fundo.
-- Você nunca vai me desculpar, não é mesmo? -- Um Satoru levemente alcoolizado não mede palavras ou controla as próprias vontades e Zaneli olhou para os lados, a respiração dela pesou, não tinha motivos para fugir, fez isso por tanto tempo que agora aproveitaria que estavam sozinhos para conversar:
-- Eu já segui em frente Gojo, acho que o que te incomoda de verdade é que eu não fiquei te esperando ou sequer me apaixonei perdidamente por você. Eu só segui. -- Ela afirmou. Há anos atrás realmente teve sentimentos intensos pelo platinado, afinal, tinham um convívio bem intenso entre quatro paredes, por assim dizer, mas quando descobriu que ele era casado e acabou lidando o cargo de amante, algo dentro dela quebrou, pois, nunca quis estar nesse lugar ou até mesmo sacanear alguém desse jeito e não tem interesse romântico que sobreviva a quebra de confiança, esse tipo de situação pode transformar uma mulher.
Gojo respirou pesado, por um lado imaginou mesmo que ela estaria o esperando que teria outra chance, mas bastava olhar para aquele semblante impassível para entender que estava errado, ainda assim tentou, sem demora tocou o braço dela levemente.
-- Sei que pode parecer ridículo, mas se alguma forma você voltou para a minha vida e agora de forma intensa, tem certeza que não tenho nenhuma chance? Não consegue crer que todo o meu arrependimento foi verdadeiro? -- A cada palavra era um passo dado em direção a ela que respirou fundo, quando sentiu o coração sambar demais. Não deveria estar ali em contato direto com ele, não quando o mínimo de contato possível a levava de volta aos braços dele em tempos atrás quando estavam juntos.
-- Se eu te beijasse agora Zaneli, você fugiria? Pois é isso que eu quero fazer. -- A mulher piscou incontáveis vezes ao sentir a destra que antes tocava seu braço deslizar para a cintura e apertar o local antes de puxá-la lentamente até que os corpos colidissem. Um olhar preso ao outro como se toda expectativa dependesse do próximo movimento, que foi feito por ele subindo pelas costas dela em um carinho, antes de voltar a apertar ambos os lados da cintura com vontade.
-- Satoru não confunda as coisas, você me contratou para ser a babá do seu filho e apenas isso. -- Sussurrou.
-- Mas antes você foi minha mulher, por um ano inteiro princesa e a semanas atrás deixou claro que poderíamos recomeçar.
Ela sentiu a garganta secar, não queria recordar mais, era dolorido, principalmente se parasse para raciocinar que o único relacionamento longo, por assim dizer, que teve, desde que veio morar no Japão, foi com ele.
-- Eu estou atrasada. -- Zaneli se afastou bruscamente notando o olhar entristecido do platinado antes dela mesmo ir embora, as coisas estavam saindo do sério e na manhã seguinte Zaneli não veio trabalhar...
"Não é uma vida e tanto a que você está vivendo
Isso não é apenas algo que você pega, isso é dado
Dando voltas e mais voltas e mais voltas e mais voltas nós vamos
Oh, agora me diga, agora me diga, agora me diga que você sabe"
A ausência dela deixou um vazio palpável na cobertura de Satoru e dois dias depois quando Satoru não pode mais ficar em casa e precisou levar Megumi para o escritório a criança entendeu, percebendo a mudança no ambiente, perguntou várias vezes sobre a babá, mas seu pai apenas disse que ela estava ocupada e logo voltaria. No entanto, Satoru estava preocupado e inquieto com a ausência repentina da cacheada e enquanto isso, Zaneli tentava se concentrar em seu outro trabalho, mas sua mente continuava voltando para o encontro tenso com Satoru. Ela sabia que precisava se afastar, que não podia permitir que o passado tumultuasse sua vida novamente. Mas havia uma parte dela que ainda se sentia completamente atraída por ele, uma parte que lutava para resistir ao chamado de seus sentimentos.
Seu celular vibrou, indicando uma mensagem de Satoru, enquanto pensava sobre o que fazer a seguir. Antes de abrir, ela hesitou um pouco e descobriu um texto simples:
"Eu sinto sua falta Zaneli, por favor, podemos conversar?
Preciso esclarecer algumas coisas."
"Encontro você no nosso lugar favorito às 19h."
Fica difícil de te esquecer quando você está em todo lugar Satoru. Ela pensou se sentindo levemente perturbada pelas palavras dele, que desencadearam uma série de sentimentos que ela estava tentando controlar. Embora estivesse ciente de que encontrar o platinado novamente poderia ser arriscado, havia um sentimento dentro dela que desejava a oportunidade de esclarecer as coisas entre eles.
Zaneli respondeu com o coração acelerado com um simples 'OK' e começou a se preparar. Resolveria o problema de uma vez por todas, mesmo que isso significasse enfrentar os sentimentos do passado que ainda assombravam sua mente.
Após vestida, ela retornou ao texto, teria que acelerar o processo de revisão e entregar antes das dezenove horas se quisesse honrar com o compromisso.
[...]
Satoru se sentia nervoso, as mãos estavam suadas, o olhar um pouco perdido como se estivesse no primeiro encontro, mas quando viu Zaneli relaxou. Não pode deixar de pensar o quanto ela estava bonita em uma calça jeans e blusinha branca de mangas, os fios estavam soltos e trazia em mãos apenas o celular, nos pés utilizava uma sandália de salto neutro e possuía um colar bem simples no pescoço, os lábios em gloss. Por onde andava, chamava atenção, sempre foi assim, inclusive foi por esse mesmo motivo que Satoru, na primeira vez que a viu se sentiu preso a ela, o balançar lento do quadril farto, o sorriso branco e perfeito e olhar intenso, foram o suficiente para fisgá-lo, mas depois de tantas noites o corpo passou a ser irrelevante quando a presença o deixava completamente sem condições.
-- Espero não ter atrasado. -- Ela afirmou e ele se levantou puxando a cadeira para que ela se sentasse.
-- Não, chegou na hora como sempre. -- Ele afirmou e ela sorriu minimamente observando o local, não havia mudado nada desde que pararam de se ver.
O lugar se tratava de um restaurante com vista para o mar direta, um local bem intimista e discreto. Toda vez que iam para lá Gojo costumava reservar toda a área externa, assim ninguém poderia os ver.
O ambiente estava tranquilo, porém havia uma tensão palpável no ar enquanto Zaneli e Satoru se sentavam frente a frente, olhando um para o outro com uma mistura de expectativa e ansiedade.
Satoru começou, percebendo que precisava ser honesto com Zaneli, mesmo que isso significasse enfrentar as consequências de suas ações.
-- Zaneli, eu sei que as coisas entre nós não terminaram da melhor maneira possível, e eu só queria... queria me desculpar. Eu sei que te magoei muito, e eu... eu sinto muito. -- Ele começou, suas palavras soando sinceras, embora ele soubesse que as desculpas não seriam suficientes para apagar o que aconteceu.
Zaneli ouviu, em silêncio, seu olhar fixo no rosto de Satoru, tentando processar suas palavras. Ela estava magoada há muito tempo e isso era um fato, mas também sabia que precisava ouvir o que ele tinha a dizer.
-- Eu fui egoísta, Zaneli. Eu estava preso em um casamento que não fazia sentido, e quando você apareceu... bem, não pensei direito. Não queria me envolver, eu não queria me apaixonar, mas eu... simplesmente não consegui evitar. -- Ele continuou, sua voz carregada de remorso, e tudo piorava para a cacheada, uma vez que em todo o tempo que tiveram junto Gojo Satoru nunca assumiu que estava apaixonado por ela, então por que agora? Por que reabrir uma ferida que foi mal cicatrizada? Magoaria a ambos, ou simplesmente tiraria um peso dos ombros para terminar de vez com esse clima estranho que se criou. Quando Gojo se relacionou com ela há tempo atrás, vivia a pior fase de seu casamento, tinha brigas constantes com os pais por mais que não resvalassem em seu convívio a dois, ainda assim serviam para explicitar o quanto o platinado agia por impulso e foi com muito custo que Utahime aceitou o pedido dele, onde decidiram manter o relacionamento de fachada só para que ela tivesse direito aos bens materiais mesmo que não os quisesse, Gojo havia percebido que o casamento foi um erro e que se envolveu por impulso sendo o sentimento unilateral por parte da ex esposa. Ele só não imaginava que tempos depois se envolveria com uma mulher que o faria esquecer de certas atribulações, como também não fazia ideia do quanto isso a afetou e que apesar de Zaneli ter seguido em frente nunca mais quis se envolver com outro homem seriamente temendo que poderia acontecer o mesmo e para Satoru, as coisas foram ao contrário. Ele, que já era leviano, ficou mais ainda, e nunca levou ninguém a sério depois do casamento e do envolvimento com Zaneli.
A Santorini sentiu um aperto no peito ao ouvir suas palavras. Ela sabia que Satoru estava sendo honesto, no fundo, esperou e imaginou essa conversa em tantos cenários e diálogos diferentes que agora a leveza aos poucos parecia lhe percorrer pelo simples fato da conversa não ter as complicações esperadas, mas ainda assim era difícil aceitar que ela havia sido usada em um relacionamento que nunca teve futuro, enquanto ela, ainda em posse de uma "namorada" vislumbrava e queria bem mais.
Limpando a garganta enquanto bebia um pouco d'água no copo, ela divagou observando os lápis-lazúlis aos quais o olhar de Gojo se remetia: um belo cristal, uma joia preciosa, a imensidão da superfície do mar banhado pelo sol quando atinge seus picos de transparência leitosa reluzindo o mais puro e belo azul.
-- Eu entendo, Satoru. Mas isso não muda o fato de que você me magoou muito. -- Ela finalmente falou, sua voz em um sussurro carregado de emoção. Como se não quisesse recortar ou revisitar os sentimentos que tanto lutou para abdicar, no coração e na mente que ela mesma doutrinou. Satoru Gojo nunca lhe pertenceu, nunca foi seu e não havia motivos para continuar se prendendo a essa sensação, ele era de outra e a batalha já estava perdida. Agora no presente momento continuava tentando se convencer do mesmo.
Satoru assentiu, sua expressão triste.
-- Eu sei, Zaneli. E só queria que você soubesse que... que eu me arrependo. Profundamente. -- Ele afirmou, sua voz falhando um pouco.
Zaneli olhou nos olhos dele, espelhando a sinceridade. Ela queria confiar nele, queria acreditar que ele havia mudado e sabia da seriedade do platinado, mas havia uma parte dela que simplesmente não conseguia deixar de lado o medo de se machucar novamente.
Medo esse que criou uma carapaça perfeita envolta de seu coração.
-- Como eu disse... eu acredito e aprecio suas desculpas, Satoru. Mas as coisas entre nós, mudaram. Eu mudei. E não posso simplesmente esquecer tudo o que aconteceu. -- Ela disse, sua voz firme, mas também cheia de solidão.
E por mais que o chão dele se assemelhasse a um vidro extremamente fino e trincado ao qual estava prestes a se fragmentar. Satoru sorriu, sua expressão triste, sabia que não podia esperar que as coisas voltassem a ser como eram antes.
-- Eu entendo, Zaneli. Eu só queria que você soubesse que... que eu ainda me importo com você. Mais do que eu posso dizer. -- Afirmou, a voz falhando um pouco por ser tão sincero e nunca ter passado por tal situação. Sempre esteve acostumado a dizer o não e a ser posto em um pedestal por seus interesses e nunca imaginou que desceria dele para se pôr em uma situação que se fosse com outra pessoa julgaria como vergonha e humilhação, porém, com ela estava tudo bem, e Zaneli sentiu seu coração apertar ao ouvir tais palavras e precisava ser honesta consigo mesma, nunca o esqueceu, só não conseguia lidar com esses sentimentos por agora.
-- Eu sei, Satoru. E eu também me importo com você. Mais do que eu posso dizer. Mas... eu não posso simplesmente voltar ao que tínhamos. Não agora e mesmo que pudesse isso não nos faria bem.
Ela desviou o olhar antes de continuar:
-- Você formou uma família linda e não pode simplesmente pensar só em você, entende? O Megumi precisa de laços fixos, criar estabilidade com pessoas que sempre possam estar presente para ele além de você. E eu... -- ela o encarou os olhos rubros brilhantes, deixando claro que estava prestes a chorar em qualquer momento.
-- Eu não sou essa pessoa. Não se eu estiver com você agora. -- A voz falhando um pouco pela sinceridade que descosturava todos os pedaços que fora obrigada a juntar sozinha.
Satoru assentiu, sua expressão triste, mas entendia que não podia forçar as coisas, era um homem orgulhoso que se expôs demais e como tal, lidaria com seus sentimentos em outro momento.
-- Eu entendo, Zaneli. Eu só queria que você soubesse que eu estou aqui. Sempre estarei aqui. Se você quiser conversar, ou..., ou qualquer coisa. Eu estarei aqui. -- Estava praticamente derrotado e com a voz suave e cheia de emoção.
Ela concordou, sua expressão um pouco melancólica, mas entendia que esse era o resultado de ser honesta consigo mesma.
-- Obrigada. Talvez eu deva ir... --sussurrou, querendo evitar um possível constrangimento.
-- Não. Ainda podemos jantar não é mesmo? -- Ele sorriu desolado, respeitaria os limites dela e até mesmo tentaria novamente se o futuro lhe quisesse.
-- Sim. -- Zaneli não sabia mais o que dizer, estava tão envergonhada por toda a atmosfera que optou por encarar a bela paisagem. -- Aqui sempre foi perfeito. - sussurrou perdida em lembranças.
-- É mesmo, e sempre será o nosso lugar. -- Gojo completou.
Assim, eles jantaram em silêncio, perdidos em suas próprias memórias e pensamentos, apesar de tudo o que ainda estava por dizer. A noite estrelada e majestosa viu o reencontro de duas almas que já se tocaram, mas agora seguiam caminhos diferentes. Ao final da noite, quando cada um partiu para seu caminho, restou apenas a sensação tranquila de que, mesmo que não estivessem juntos, aquele lugar continuaria sendo o lugar de encontro de suas memórias, um refúgio para sentimentos que, apesar de adormecidos, nunca se extinguiriam por completo.
"Oh, o motivo pelo qual eu insisto
Oh, porque preciso que este vazio desapareça
É engraçado, você é quem está destruído
Mas eu sou a única que precisava ser salva
Porque quando você nunca vê a luz'
É difícil saber qual de nós está desabando"
[...]
Alguns meses se passaram desde a fatídica conversa entre Satoru e Zaneli, a vida havia voltado ao seu normal e ela se dedicava ainda mais ao que a vida propunha, claro que os olhares de Satoru assim como as poucas vezes que passaram tempo juntos nesse meio tempo só serviram para que o coração pesasse, entretanto, queria agir corretamente com os próprios princípios.
Um dia ensolarado de domingo, Zaneli e Megumi decidiram passar a tarde no parque com os cachorros, Luna e Shadow. Quando chegaram ao parque, Megumi correu animadamente para a área recreativa. Zaneli soltou Luna e Shadow e eles correram rapidamente atrás do menino, latindo e abanando o rabo.
Observando-os se divertindo, Zaneli sorriu. Ao se aproximar, Megumi correu em sua direção.
-- Tia Zaneli, olha como eu consigo fazer o Shadow pegar a bolinha! -- Megumi gritou, segurando uma bola de tênis na mão, havia se habituado a chamá-la daquela forma graças a amigada escola que tratava os professores do mesmo jeito quando conversavam.
-- Oh, Megumi! Você é excepcionalmente capaz nisso! Enquanto Shadow tentava retirar a bolinha de Megumi, Zaneli exclamou, rindo.
-- Shadow, pega! -- Megumi gritou, jogando a bolinha para o cachorro.
Shadow levantou a bolinha do ar e correu para Megumi, ele riu e disse: -- Boa, Shadow!
Zaneli se aproximou e se sentou ao seu lado.
-- Você está se divertindo? -- Perguntou desferindo um carinho nos cabelos dele, não importa o quanto arrumasse os fios, continuavam rebeldes.
-- Essa é a melhor tarde de todas! -- Exclamou sorrindo e o coração dela errou as batidas. Vê-lo dessa forma era gratificante depois de tanto tempo, mesmo que, quando estivesse perto de estranhos ou conversando com os colegas que não fossem do seu círculo pessoal de amizades se mantivesse quieto e introspectivo, a mudança ainda é risível.
-- É mesmo? -- Perguntou Zaneli, sorrindo. -- Estou feliz em saber disso.
Eles aproveitaram o sol e brincaram no parque, correndo com os cachorros. Para Zaneli, não havia lugar onde ela preferisse estar.
Um ano havia se passado, desde então Zaneli havia se tornado uma figura extremamente presente para o garoto.
Naquela tarde de outono, eles estavam todos juntos no parque novamente. Megumi corria entre as árvores, enquanto Luna e Shadow brincavam ao seu redor. Zaneli os observava com um sorriso no rosto, sentindo-se grata por fazer parte da vida daquela família.
-- Tia Zaneli, olha isso! -- Gritou Megumi, correndo em direção a ela com uma folha de outono na mão. Ele havia desenhado um parque alguns dias antes e a alegria era causada por essa folha, que se parecia bastante com a que ele havia rabiscado no caderno. Zaneli riu enquanto pega a folha com cuidado.
-- Uau, Megumi, que folha linda! -- ela exclamou. Os olhos de Megumi brilharam de entusiasmo e ele propôs:
-- Vamos fazer um livro de recordações com ela! -- Ela concordou, sorrindo.
Enquanto eles caminhavam pelo parque, Zaneli olhou para Megumi e sentiu seu coração se encher de gratidão por fazer a diferença na vida da criança, também olhou para Satoru, que estava sentado em um banco próximo, observando-os com um sorriso suave no rosto. Ele se levantou e se aproximou deles.
-- Ei que tal uma corrida até o lago? - Satoru sugeriu.
Megumi pulou de alegria, e Zaneli sorriu, os observando.
-- Posso participar também?
-- Mas é claro. -- Gojo afirmou.
-- Vamos lá, então! -- ela disse, correndo atrás de Megumi e Satoru, os cachorros correndo ao lado deles, afinal de contas estava ali justamente para ajudar.
Zaneli sentiu o vento em seu rosto e o riso de Megumi ao seu lado enquanto corriam. Sabia que, apesar do fato de que as coisas entre ela e Satoru nunca voltariam ao estado anterior, havia encontrado algo especial ali, algo que ela não queria perder.
Ela olhou para Satoru e viu o amor em seus olhos enquanto ele olhava para Megumi.
Apesar de todas as incertezas e desafios que o futuro poderia trazer, se perguntou mentalmente se haveria a possibilidade desse laço nunca se quebrar, mas bastou que olhasse para o platinado para entender que um dia eles estariam juntos. E isso era tudo o que importava.
[...]
O tempo foi o melhor remédio para apaziguar um coração desigual e uma mente tortuosa. Megumi já não precisava mais de uma babá, entretanto, todas as emoções e laços que criaram ficaram ali, Zaneli não só se formou em seu trabalho como passou a atuar em sua área e sempre manteve o contato com o pequeno Gojo, para Megumi não importa o quanto se passasse, para o garoto ela acabou por se tornar uma figura feminina presente.
Em uma bela noite, mais uma vez arrastada por Mei mei, se encontrava na boate dançando e conversando com os amigos quando se sentiu observada e a cabeleira branca se destacando na multidão foi o suficiente para fazê-la sorrir, parecia que o destino estava brincando com vocês.
Satoru sorriu perto demais para sentir a respiração alheia e ainda longe do quanto gostaria de estar e foi retribuído da mesma forma.
-- Parece que esse é o nosso lugar. -- Desconversou em um sussurro ao pé do ouvido da cacheada que se segurou para não fechar os olhos e deixar que a famigerada sensação das borboletas no estômago falassem mais alto, ao invés disso, sorriu abertamente roçando o lábio na bochecha dele antes de responder:
-- Somos marcados por esse ciclo inquebrável. -- Se referiu a boate, levando-o a morder o lábio inferior e finalmente tocá-la com a destra apertando levemente o lado esquerdo da cintura.
-- Talvez... Mas não precisamos agir como antes. -- Ele respirou fundo como se tentasse tatuar o cheiro do perfume pela própria mente e Zaneli gostou do que ouviu, se sentindo grata por todas as voltas que a vida deu para que ela pudesse estar ali, naquele momento, afinal de contas uma pessoa sentimentalmente saudável jamais fará mal a outro e não poderia pedir por uma vida melhor, havia se tornado uma boa profissional, estava em seu auge e o coração chegava a pular ao perceber que ele realmente esperou, esperou não só por ela, mas por si mesmo ao absorver melhor as próprias emoções confusas e crescer individualmente. A cacheada deixou um selar do lado esquerdo da bochecha dele.
-- Talvez eu deva me apresentar. -- Gojo brincou levando-a entender que também havia mudado, mas para ela essa questão não importava mais. E de maneira impensada se aproximou mais rodeando o pescoço dele e tocando os lábios macios ao qual sentia saudade.
-- Prefiro descobrir por mim mesma. -- Ele sorriu, correspondendo ao toque em um beijo que soou como uma explosão de sentimentos há muito contidos. Os lábios de Zaneli se moldaram perfeitamente aos dele, como se estivessem destinados a se encontrar, os levando a se perder facilmente naquele momento, esquecendo-se do mundo ao seu redor. Era como se estivessem se redescobrindo, como se estivessem finalmente encontrando o caminho de volta um para o outro.
Os braços de Satoru envolveram Zaneli, puxando-a para mais perto, enquanto suas línguas dançavam em um ritmo lento e apaixonado. Cada toque era carregado de emoção, cada respiração era compartilhada, e quando finalmente se afastaram, ambos estavam sem fôlego, os olhos brilhando de emoção em uma conexão inquebrável envolvida pela melodiosa voz da mulher que sempre habitou seus mais profundos pensamentos.
-- Obrigada Satoru.
"Não tenho muita certeza de como me sentir quanto a isso
Algo no modo como você se mexe
Me faz sentir como se não pudesse viver sem você
Isso me leva do começo ao fim
Eu quero que você fique, fique
Eu quero que você fique"
Stay - Rihana
Fim.
~~~✶~~~
Esse último livro os próximos serão os spin-off's de personagens já citados como o Nanami, o Okkotsu e até mesmo o Megumi na adolescência.
Muito obrigada por cada leitura e estrelinha e não deixem de conferir os outros livros e fics de JJK no meu perfil. Muito obrigada por cada leitura e estrelinha.
Até a próxima.
Bạn đang đọc truyện trên: AzTruyen.Top