Karina's pov:

"O mundo gira mais rápido, Mas você desacelera o tempo."

Continuo amando as tardes de leitura com Minjeong. Só que agora as coisas estão um pouco diferentes, trocamos as poltronas em frente na biblioteca pelo conforto do quarto dela.

Estamos deitadas na sua cama, mais precisamente, estou deitada com a cabeça apoiada em seu colo. Minjeong parece não se incomodar. Com uma mão, ela vai virando as páginas do livro. Com a outra, vai fazendo carinho em minha cabeça. Sempre me surpreendo com essa incrível capacidade que ela tem de ser tão atenciosa mesmo ainda tendo tantas coisas com as quais lidar.

Minjeong ainda vira na cama à noite. Não tanto como costumava fazer, mas ainda assim, ela tem noites de escuridão que veem a seu caminho. Mas no dia seguinte, ela também se levanta disposta a vencer qualquer barreira.

Isso é algo realmente lindo de se ver. Independente de quantos desafios tenhamos que enfrentar, eu vou continuar amando-a em voz alta, do jeito que ela merece ser amada. Vamos dar um jeito em tudo, quando chegar a hora, mas nem um dia antes.

Sim, o processo é lento, mas a medida que nossa conexão se fortalece também aprendemos que a esperança é uma arma tão poderosa quanto.

— A leitura não está interessante? — Ela pergunta em tom calmo, com a maior parte da atenção voltada para o livro.

Penso em dizer que estou aproveitando a leitura, mas acabo fechando o livro.

— Prefiro aproveitar o seu carinho — respondo, sorrindo.

Minjeong aperta os lábios, como se quisesse esconder um sorriso. Estreito os olhos para ela.

— Você não pode me julgar.

Ela sorri.

— Só estava pensando quanto tempo você levaria para admitir isso.

— Você está se tornado uma pessoa bem convencida, sabia?

— Conviver com você faz isso com as pessoas — Ela diz, tocando meu nariz.

Abro a boca para discordar, mas a verdade é que não tenho argumentos para me defender. Minjeong me observa por alguns segundos antes de fechar o próprio livro.

— Jimin, correu tudo bem na faculdade hoje, certo?

— Sim. Tirando os seminários e aulas extras, foi bem tranquilo. Porque?

— Por nada em específico...

Olho para ela com uma expressão de ceticismo.

— Está preocupada por conta de Sunghoon, não é? — Pergunto, sentando-me para encará-la. — Mas pode ficar tranquila, Sunghoon pediu transferência da Yonsei há alguns dias.

Minjeong arqueia uma sobrancelha, surpresa.

— Como assim?

— Achei estranho não ter cruzado mais com ele pela faculdade e hoje ouvi algumas pessoas comentando sobre o assunto. Parece que o pai dele achou melhor mandá-lo estudar no exterior ou algo assim.

— Bom, fico mais tranquila assim — Ela diz antes de se levantar.

Fico observando em silêncio enquanto Minjeong vai até sua escrivaninha e pega uma livro de capa dura. Ela volta para a cama e o coloca na minha frente.

— O que é isso? — Pergunto.

Ela balança a cabeça.

— Beijo primeiro, perguntas depois.

Inclino-me, dou um beijo nela e sorrio quando ela lambe meu lábio inferior.

— O que tem no livro? — repito.

— Alguns contos e poesias que escrevo nos meus momentos de inspiração — ela responde. — Estava pensando em algumas coisas pela manhã e acabei lembrando da conversa que tivemos quando fomos a Yonsei University.

Assinto com a cabeça, sorrindo.

— Então estamos mesmo diante dos trabalhos pessoais de Kim Minjeong? — Ela arqueia uma sobrancelha e me mostra algumas páginas. Posso ver que de fato é o que ela diz. — Não sei o que pensar agora.

Ela sorri.

— Você não precisa pensar nada. — Sua mão começa a passar algumas páginas em busca do que ela procura. — Mas eu quero que veja algo que escrevi para você.

— Minjeong... — falo, completamente perdida por essa garota. Ela não comentou mais nada comigo sobre esse assunto desde aquele dia, e eu deduzi que ainda não se sentia confortável para fazer isso de modo que sou pega completamente de surpresa.

— Jimin. Você queria isso. Lembra? Então vamos aproveitar esse meu breve momento de ousadia, está bem?

Respiro fundo e assinto com a cabeça. Então beijo a testa dela e passo as mãos por seus cabelos. Ela segura o livro aberto em uma página para mim e arqueia uma sobrancelha.

— Quer mesmo que eu a leia? — Pergunto.

— Claro.

Ao segurar o livro em mãos, sorrio.

A ideia de um "para sempre" me assustava por que não parecia algo real. Mas deixei de temer o incerto quando meu nome você sussurrou.

Sua voz era tão suave, parecia tão perto e ao mesmo tempo tão distante. Mas, mesmo assim, eu ouvia suas palavras no meu coração, na minha alma.

O mundo gira mais rápido, Mas você desacelera o tempo.

Eu te conheci por causa de rumos equivocados. Eu te conheci por causa de segredos não revelados.

Não sei como, mas preciso que você seja minha para sempre.

— Isso é lindo... — Digo, sentindo uma sensação de paz atravessar o meu peito. Olho mais uma vez para o livro em minhas mãos. Os versos são novos para mim, mas eu sei exatamente o que cada um deles significa.

Minjeong sorri de forma singela, tirando alguns fios de cabelo do rosto.

— Você gostou mesmo? Ele ainda não está finalizado, então...

Meu sorriso se abre ainda mais quando olho para ela.

— Está perfeito. — Digo e me inclino para ela. — Venha aqui.

Ela avança o corpo para mim. Meu olhar cai sobre seus lábios. Coloco minha mão na parte inferior das suas costas, puxando-a para mais perto. Ela suspira enquanto eu passo o dedo lentamente em seu lábio superior e, lentamente, em seu lábio inferior. Envolvo seu pescoço com minha mão e pressiono minha boca na dela.

É um beijo lento, gentil e repleto de carinho.

Olhamos nos olhos uma da outra, meu coração batendo forte no peito.

— Eu te amo.

— Eu te amo. — Ela fala, fazendo as palavras reverberarem por todo o meu ser. Suas costas arqueiam-se com meu toque, e mordisco seu lábio inferior. Ela suspira, repetindo: — Eu te amo.

Me afasto um pouco para observar esses olhos castanhos que tanto me fascinam e me fazem acreditar que tenho direito a felicidade.

Beijo a ponta do seu nariz.

— Escreva sempre que tiver inspiração. Quero ler tudo o que você conseguir colocar no papel.

— Vou ver o que posso fazer. — Ela ainda está em meus braços. — Isso é empolgante, não é? Essa coisa de compartilhar com você meus pensamentos mais íntimos? — Ela franze o nariz e coloca a língua para fora.

— Você é completamente brilhante. — Pego seu lábio inferior com a minha boca e chupo-o de leve. — Completamente brilhante.

— Você também é, Jimin. Mais do que imagina.

Dou uma risada, jogando-me na cama enquanto Minjeong se levanta para guardar seu livro. Ela pega o celular e parece conferir algo antes de dizer:

— Minha terapeuta chega em alguns minutos, então acho que nossa sessão de leitura está encerrada.

Vou até ela, envolvendo-a em meus braços.

— Tudo bem, nós duas sabemos que é por um ótimo motivo — digo, beijando seus lábios.

— A sra. Park está feliz com o meu progresso — Ela diz baixinho e dá uma risadinha. — Acho que vou te apresentar a ela qualquer dia desses.

— Humm... prometo que vou tentar não deixar ela caidinha por mim.

Minjeong revira os olhos, dando um tapinha no meu braço.

— Não seja ridícula.

Dou uma risada.

— Ah! Isto é para você. — Ela me entrega um convite para o evento de amanhã, encaminha-se para a porta, e faz uma pausa, olhando mais uma vez para mim. — Está mesmo tudo bem por você, né? — Pergunta, franzindo a testa. — Você pode me dizer se tiver mudado de ideia.

Ela nem precisa se preocupar. Quando alguma coisa é importante para Minjeong, é importante para mim também.

— Não. Eu realmente quero acompanhar você.

Ela sorri.

— Obrigada. — Diz, e sai do quarto.

Eu fico ainda mais apaixonada por Minjeong nesse momento. Ela está ansiosa por conta desse evento, mesmo tendo aceitado ir, mas mesmo assim ainda está preocupada comigo.

Sozinha com meus pensamentos decido ir até a varanda para ler um pouco mais, lembrando que preciso confirmar com minhas mães algumas questões referentes a minha estadia em Seul. Na última semana conversei bastante com elas já que estavam preocupadas com o que tinha acontecido na faculdade. Precisei garantir que estava tudo bem, que Taeyeon já havia lidado com a situação e que não precisavam acionar a justiça para ninguém.

Desde então, elas me mandam mensagens de texto todos os dias, para garantir que eu estou encontrando tempo para comer, para estudar, para me divertir. Cada mensagem termina com a mesma frase: eu te amo.

Eu gosto disso.

Assim como também gosto do caminho pelo qual minha vida seguiu. Tudo aconteceu exatamente como precisava acontecer. Até mesmo os dias difíceis que me trouxeram para onde eu preciso estar. Todos os pontos se ligaram, eu só não consegui enxergar isso enquanto trilhava o caminho. Sem os problemas envolvendo Minju, eu jamais teria me mudado para Seul, meses antes. Sem todo aquele sofrimento, eu nunca teria descoberto o que realmente é a felicidade verdadeira.

E, por isso, eu sou grata. Pelos altos e baixos, pelos erros e acertos, pelo sofrimento e pela cura.

Sento-me na varanda com meu livro em mãos, permitindo-me ler sem pausas, absorvendo todos os pensamentos dos seus personagens imaginários. Escuto passos se aproximando por trás de mim. Viro-me e vejo a Sra. Kim segurando uma xícara de chá.

— Atrapalho? — Ela pergunta. — Decidi sair mais cedo da editora hoje e passar um tempo com a Minjeong, mas ela ainda está na sessão. — Assinto com a cabeça e faço um gesto para a cadeira ao meu lado. Ela se senta e olha para mim. — O que está lendo?

Mostro o livro para ela que sorri.

— Você e minha filha tem gostos bem semelhantes para a literatura.

Mordo o lábio inferior.

— Não tenho certeza ainda. Mas nunca tivemos nenhuma divergência na nossa tarde de leitura. — Fechando o livro, me viro para ela. — Minjeong está bem feliz quanto a recuperar a relação de vocês, sabe — falo. — Ela tem comentado algumas coisas comigo.

Os olhos da Sra. Kim se fixam nos meus.

— Eu também estou, Jimin. Não estive presente. Perdi tanta coisa. — Sua cabeça baixa. — Mas agora quero recuperar o tempo perdido e ter minha filha de volta.

— Eu sei. Vamos só tentar respeitar o tempo dela, por enquanto. — Respiro e olho para os jardins — Sra. Kim... Tem certeza que não é um problema eu continuar morando com vocês por mais um tempo?

Ela ri e levanta uma sobrancelha.

— E por que isso seria um problema, Jimin?

Dou de ombros e levo a mão a nuca.

— Eu sou a namorada da sua filha, talvez você ache estranho me ver aqui diariamente.

— Tem razão, isso definitivamente é estranho.

Ela sorri. Eu sorrio. Nós sorrimos. Não um sorriso constrangido, não um sorriso entre pessoas sem intimidade, mas um sorriso verdadeiro.

— Não é problema algum, Jimin — Ela diz em tom gentil. — Nunca vou ser capaz de te agradecer o suficiente por ter trazido minha filha de volta para casa.

Balanço a cabeça.

— Não precisa agradecer. Eu faria tudo de novo se fosse preciso.

A sra. Kim fica em silêncio enquanto beberica seu chá.

— Sei que é um tanto inesperado eu ser tão tranquila quanto a isso. Mas vi como minha filha está diferente depois que te conheceu. Ela parece feliz, Jimin... — Ela faz uma pausa. Seu lábio inferior treme. — Minjeong me contou como você vem a ajudando a enfrentar suas limitações, como vem a apoiando durante todo esse tempo... Então a única coisa que peço é para que continue sendo gentil com ela.

Respiro fundo. Meus braços se estendem para Taeyeon e a abraço.

— Eu prometo, sra. Kim. — Quando me afasto, volto a olhar para o livro em minhas mãos, sentindo um frio na barriga. — Minjeong é tão... boa.

Ela ri, aproxima-se de mim e me dá uns tapinhas no ombro.

— Você também é. E já fiquei sabendo que aceitou acompanhá-la ao evento na minha editora.

— Eu jamais recusaria esse convite — Digo, sendo sincera. O fato de ela me levar a esse evento, de permitir que eu a esteja ao seu lado em um momento tão especial, é mais do que um pequeno gesto. Ela está fazendo uma declaração para todos que a conhecem de que é livre para recomeçar sua vida.

Eu amo isso e amo o fato de ser eu a entrar de mãos dadas com ela.

— Eu espero muito que vocês duas consigam se divertir amanhã a noite, Jimin — A sra. Kim diz, trazendo-me de volta a realidade. — E, por favor, ignore qualquer comentário que possa surgir durante a festa. Vocês duas são tudo o que importa amanhã a noite, está bem?

A sra. Kim me agradece mais uma vez antes de se afastar para entrar na casa. Eu consigo ver alguns traços da personalidade de Minjeong em sua mãe. É bom saber que não existem apenas diferenças entre as duas.

Eu quero ir falar com Minjeong, mas vou ser paciente. Ela ainda está com sua terapeuta, e eu vou estar esperando quando ela voltar para mim.