27
Karina's pov:
"Riscamos itens da lista juntas. Não falamos sobre o seu passado, mas aprendi muito sobre o seu presente."
Depois que voltamos de Busan, Minjeong e eu nos aproximamos ainda mais. É como se eu fosse a sua bússola, e ela fosse a minha — ou, mais precisamente, nós nos ajudamos a enfrentar nossos fantasmas do passado.
Começamos a fazer várias coisas juntas como uma maneira de nos conhecer melhor. Ela passou um longo tempo trancada dentro de si, e eu, tentando ser perfeita para corrigir meus erros. Então, pela primeira vez, escolhemos dedicar um tempo para descobrir juntas quem nós somos como indivíduos.
Fomos ao cinema assistir a filmes aos quais jamais teríamos assistido e amamos. Saímos para correr, mesmo Minjeong reclamando. Ela me ajudou com os trabalhos da faculdade só para mostrar que podia.
No entanto, alguns dos meus momentos favoritos são quando estamos na biblioteca, uma ao lado da outra, lendo livros diferentes juntas. É tão fácil ficar em silêncio com ela. O silêncio parece um lar.
Meus outros momentos favoritos são quando estamos juntas no quarto dela, sem fazer nada, mas conversando sobre nada e sobre tudo.
Depois de algum tempo vou até a cozinha para pegar um suco na geladeira e, quando volto, vejo Minjeong olhando pela janela do seu quarto. Há um sorriso triste em seu rosto.
— Tudo bem?
— Tudo. É só... — Ela se vira para mim e dá de ombros. — Despois que você saiu fiquei pensando sobre algumas coisas.
— Quer compartilhar comigo?
— Não é nada demais. — Ela diz, colocando a mão no meu braço quando me aproximo. — É só que durante a nossa viagem eu pude ver de perto a relação que você tem com suas mães e isso acabou me lembrando de tudo o que eu perdi com a minha.
— Você sente falta disso, não é? — sussurro, colocando uma mecha do cabelo dela para trás da orelha. — Dos pequenos momentos com sua mãe?
— Sinto. Recuperar nossa relação é uma das coisas que eu não sei como fazer... — Ela respira fundo e fecha os olhos. — Depois do que aconteceu, tudo o que eu queria era estar próxima dela e, em vez disso, eu acabei a afastando.
— Você ainda pode fazer isso — falo para ela, pegando sua mão. — Recuperar a relação com sua mãe. Conversando com ela eu percebi que esse é um desejo mútuo. Você é filha dela e tem o seu amor incondicional. Tudo o que precisa fazer é tentar se abrir.
O corpo dela começa a tremer, e eu a puxo para mim, esforçando-me ao máximo para que ela saiba que não esta sozinha nesse momento.
— Você acha que sou capaz de fazer isso? — Ela pergunta.
— A garota que encarou um dos seus piores temores e viajou para outra cidade comigo é mais do que capaz de fazer isso.
A dor de Minjeong vem em ondas.
Por alguns momentos, ela fica bem, mas, então, é como se a verdade a atingisse, a verdade de todas as coisas que ela enfrenta há mais de um ano.
— Jimin — ela sussurra enquanto meus dedos brincam com seu cabelo. — Posso pedir uma coisa para você?
— É só dizer o que você quer.
— Será que você pode ficar deitada aqui comigo e só me abraçar por um tempo?
Sem dizer mais nada, eu a puxo suavemente na cama e me acomodo ao seu lado. Ela me puxa para perto e eu a aconchego contra o meu corpo. Permito que ela desmorone nos meus braços, e permito que ela encontre um momento de conforto.
— Jimin? — sussurra, aproximando-se ainda mais de mim. Nós somos peças de quebra-cabeças diferentes, mesmo assim, nós nos encaixamos de forma perfeita.
— Hã?
Ela respira fundo e solto o ar devagar.
— Eu gosto de ouvir as batidas do seu coração.
\[...]
— Gente, isso é bobagem — reclama Aeri enquanto Yizhuo e eu estamos sentadas em frente a ela no estacionamento vazio da faculdade na manhã seguinte. — Acho que essa ideia não é boa e o momento não poderia ser pior. Vocês já estão fazendo tanta coisa e estão mais ocupadas do que nunca. Acho isso tudo é bem desnecessário — ela revira os olhos, cruzando os braços.
— Uchinaga Aeri, eu juro que se você der para trás agora, eu vou falar com Seungcheol e pedir para ele te ajudar com esse seminário. Agora, vamos lá, faça de novo — ordeno, recostando-me ao lado de Ningning no meu carro enquanto a namorada dela se levanta, segurando alguns papéis.
— Mas... — Ela franze as sobrancelhas e passa as mãos nos cabelos. Ningning se levanta, vai até ela e pega suas mãos.
— Querida, olhe para mim. Você é a melhor garota que eu já conheci, e você é a melhor seminarista que eu já tive o prazer de ouvir, está bem? E eu juro que não há como nós deixarmos você desistir agora, certo? Então, concentre-se. Você consegue. Você consegue fazer isso.
— Como você sabe? — Ela pergunta com a voz trêmula. — Como você sabe que eu vou conseguir?
— Porque você é você. Você consegue fazer qualquer coisa.
É algo inusitado para mim ver a garota despojada e prestativa que Aeri é ter medo de subir ao palco para uma apresentação. Uma faceta nova sobre a personalidade dela. Mas ao mesmo tempo é bom ver o quanto Ningning a apoia em todos os momentos. Eu gosto tanto disso nelas que chega a enjoar.
— Agora, vamos lá — estimula Yizhuo, dando um tapinha no braço dela. — Faça sua apresentação para mim e para Jimin. — Ela volta para o meu carro e se senta.
Aeri respira fundo e começa a falar devagar. Então, faz uma das apresentações mais concisas que eu já ouvi. Ela sente as palavras e dá para perceber que tem domínio sobre o que está dizendo. É algo incrível de se ver.
Quando termina, abro um sorriso sem entender o motivo da insegurança dela.
— Foi bom? — Ela pergunta, ainda nervosa.
Ningning se levanta e a puxa para um abraço bem apertado.
— Foi muito mais do que bom. Foi excelente, Aeri. Agora, faça exatamente a mesma coisa na apresentação do final de semana.
Ela respira fundo e assente.
— Tudo bem. Obrigada. Muito obrigada a vocês duas, por acreditarem em mim. Eu não estaria fazendo essa loucura se não fossem vocês duas.
— Sempre que precisar — declaro para ela, pegando meu material e sorrindo. — Agora, eu vou aproveitar que está cedo e dar um pulo na biblioteca. Talvez eu acabe me atrasando um pouco para minha primeira aula do dia.
— Como é que é? — Yizhuo está boquiaberta. — O que você quer dizer com isso? Jimin, você é a aluna mais certinha que conheço!
— Mas nem sempre eu fui assim.
— Você está falando sobre você mesma? — ela brinca.
Aeri estreita os olhos.
— Parece que esse papo é entre colegas de turma, então vou para o meu departamento agora.
Ela sai, deixando Ningning e seu olhar atento.
— Jimin... — ela começa assumindo um tom mais sério. — Vamos esquecer esse assunto de aula e focar no que realmente é importante aqui. A viagem que fez com a Minjeong realmente foi tranquila? O que quero dizer é que ela não passou por nenhuma crise ou momento delicado. Todos sabem que se confio em alguém com minha amiga, esse alguém é você. Eu só quero ter certeza de que está tudo bem.
— Ningning. — Pego a mão dela. — A única consequência dessa viagem foi eu me aproximar ainda mais da Minjeong.
— Jura?
— Juro.
Ela assente com a cabeça.
— Então isso significa que tenho mais munição contra ela?
— Com certeza.
Ela dá uma risada.
— Tudo bem, então. Vamos logo. Sua aula começa em alguns minutos.
— Como assim?
— Eu não vou deixar você quebrar o seu histórico perfeito. Até porque se alguém vai fazer isso, esse alguém sou eu.
Eu adoro o fato de Ningning estar sempre disposta a aliviar o clima, mesmo quando não compreende o que de fato está acontecendo.
— Certo, então vamos...
— Você parece animada, Jimin — diz alguém atrás de mim.
Viro e avisto Sunghoon se aproximando de onde estamos. No instante em que Ningning o vê, empalidece, quase como se tivesse vendo um fantasma.
Sunghoon fica parado ali com a mão enfiada no bolso.
— Então, vocês duas agora são... amigas? — Ele pergunta, engrossando a voz, o que é muito estranho.
— Sunghoon, não faça isso — Yizhuo pede. — Vá embora.
— É só uma pergunta — ele retruca, aproximando-se mais. Ele se vira para ela. — Eu tenho ligado para você.
— E eu já avisei que bloqueei seu número.
— A gente precisa conversar.
— Acho melhor você ir embora — ela insiste com a voz séria.
A onda de alívio que sente quando coloco minha mão em seu ombro é perceptível. Yizhuo não quer criar nenhum problema, e eu pretendo evitar isso.
— Você deveria ouvir o que ela disse — declaro com firmeza.
— E você deveria ficar na sua — retruca Sunghoon. Ele olha para mim e cruza os braços. — Desde quando você se importa com a minha presença? Você sempre escolheu ignorar tudo o que eu tenho a dizer.
— Exatamente por isso você já pode se retirar.
— É mesmo? — Ele bufa, olhando novamente para Ningning. — Você ao menos podia ter se dado ao trabalho de ser sincera com essa daí, Yizhuo.
— Tudo bem. Depois disso, nós vamos embora. Aproveite seu tempo desprezível consigo mesmo — falo, me afastando.
— Você mudaria de opinião se escutasse o que tenho a dizer.
— Eu não estou nem aí para o que você tem a dizer.
— Mesmo se eu te contar como sua namorada arruinou a vida do meu irmão? — Ele pergunta, chamando minha atenção.
Do que esse cara está falando? Será que ele está tentando me levar ao meu limite? Ou realmente tem algum fundamento nessas provocações? Antes que eu possa responder, Ningning diz:
— Dá para parar com isso, Sunghoon? Nós não vamos conversar, está bem?
Venha, Jimin. Vamos embora.
Quando começamos a nos afastar, Sunghoon rapidamente agarra o punho dela e a puxa para ele.
— Você não é assim, Yizhuo. Eu sei que a Minjeong é sua amiga... mas você não pode continuar escondendo o jogo desse jeito.
— Eu não estou escondendo nada — ela responde.
— Talvez não, mas duvido que sua amiga aí saiba a verdade por trás do incidente de um ano atrás.
— Eu quero que você me solte agora, Sunghoon.
— Não, eu não posso deixar você ir embora até esclarecermos as coisas por aqui — ele insiste, enquanto Ningning tenta fazê-lo soltar o seu punho.
Respiro fundo e dou um passo à frente, a voz baixa enquanto fulmino Sunghoon com o olhar.
— Você tem cinco segundos para soltá-la antes que eu arranque o seu braço do corpo.
Por um instante, ele reluta, incerto se deve levar a ameaça a sério ou não.
— É melhor você fazer o que ela está falando — avisa Yizhuo. — Jimin tem essa pose certinha dentro do campus, mas fiquei sabendo que ela não lida muito bem com pessoas do seu tipo.
Sunghoon abre um sorriso sarcástico, mas solta o braço dela.
— É só uma questão de tempo até aquela garota acabar com você, Jimin. Gente como ela sempre se descontrola.
— E gente como você sempre decepciona.
— Você está agindo de maneira irracional — ele grita.
Eu não respondo porque ele não merece uma resposta. Não é da conta dele como estou agindo.
Ele respira fundo e se aproxima devagar.
— Fique longe daquela família.
— Não me diga o que fazer — rosno, sentindo a raiva crescer.
— Com toda certeza eu vou dizer o que você vai fazer! Eu vi como Minjeong parecia bem ao seu lado. Alguém como ela definitivamente não tem direito de ser feliz — ele berra, me empurrando.
Eu permito da primeira vez.
— Sunghoon, tire as mãos de mim — aviso.
Ele me empurra de novo.
— E o que você vai fazer, hein? Vai bater em mim? Vai revidar? — Ele provoca, batendo em mim de novo. Respiro fundo e cerro os punhos. — Você é só uma garota, Jimin! — ele grita.
Mesmo assim, eu posso acabar com ele. Se tem algo que o meu passado com Minju me ensinou foi a lidar com gente como Sunghoon. Mas se eu fizer isso, vou acabar criando problemas.
— Você não vale a pena — retruco.
— Você ama aquela garota, não é? — Ele pergunta, estreitando os olhos.
— O quê?
— Ah, merda — ele dá uma risada de escárnio. — Você se apaixonou pela Minjeong? Eu não deveria ficar surpreso, considerando como você é fraca. Sua merdinha, você é uma idiota — ele sibila. — Eu nem deveria me surpreender de saber disso — Ele grita. — Você não passa de uma idiota que está sendo usada.
— Cala a boca — aviso.
— Você é uma idiota por achar que ela realmente vai querer alguém como você.
— Cala essa boca — insisto, mas ele não para, não consegue.
A essa altura Ningning observa tudo em estado de choque, sem saber como reagir.
— Ela nunca vai amar você, Jimin. Você realmente acha que ela sente isso quando nunca conseguiu te contar o que houve naquele dia?
— Cala a boca.
— Não. Você acha que ela vai se misturar com alguém como...
Sunghoon não consegue terminar, porque o empurro. Ele cai no chão, e pulo em cima dele, seguro sua camisa e o acerto bem no queixo. Sunghoon cai de novo, mas se vira e ergue o corpo, me fazendo cambalear para trás.
— Parem! — Ningning grita.
Caio no chão quando Sunghoon revida o murro. Ele vem para cima de mim, mas ela se joga entre nós dois no instante em que ele impulsiona o braço para me esmurrar e acaba sendo acertada nas costas. Ela cai para a frente e eu a seguro nos meus braços.
— Ningning — digo, girando seu corpo para o chão e vendo sua expressão de dor. Mas a preocupação logo desaparece e a raiva toma conta do meu ser.
Quando dou por mim, estamos rolando pelo estacionamento. Eu o jogo no chão e ele quase acerta um soco no olho. Quando tento recuperar o equilíbrio, Sunghoon pula em cima de mim, me fazendo cair de costas direto em um dos carros do estacionamento.
Continuamos trocando socos enquanto o tempo parece parar a nossa volta. Ele continua socando, então revido, de novo e de novo. Agarro o seu braço e uso o impulso para torcer o seu pulso e puxá-lo na minha direção. Ele perde o equilíbrio ao mesmo tempo que abaixo a cabeça, batendo a minha testa contra o nariz dele. Ele grita de dor e cai de joelhos, as mãos cobrindo o nariz que começa a sangrar.
— Vá se ferrar!
Sunghoon tenta agarrar minha perna esquerda, mas sou mais rápida e o empurro contra o chão.
— Jimim, larga ele! — Grita uma voz que reconheço como sendo a de Seungcheol. Ele está me puxando para trás e nós dois caímos no chão.
Aeri corre para o lado de Ningning e a ajuda a se levantar.
— Ningning, o que aconteceu? — Ela está com os braços ao redor do corpo dela e visivelmente aterrorizada. Não a culpo. Essa situação foi de imprevisível a caótica em questão de segundos.
Observo tudo como se não fizesse parte da cena. A medida que a adrenalina abandona meu corpo começo a sentir os efeitos dos meus machucados. Respiro fundo e puxo a pulseira de borracha no meu punho. Minha mente está um turbilhão enquanto eu tento controlar meus pensamentos.
Seungcheol se levanta e me encara, com a boca apertada em preocupação.
— Jimin...
Esse é exatamente o oposto de como essa situação deveria terminar.
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