26

Winter's pov:

“Não posso conter minha felicidade, e é inútil tentar. Nesse momento, enquanto estou em seus braços, tenho a certeza de te encontrado o meu lugar.”

Na tarde de domingo estamos na casa de veraneio da família de Jimin para uma reunião de amigos. Ela já havia comentado comigo o quanto suas mães gostam desse tipo de socialização, mas não imaginei o quão dedicadas fossem. Estamos em uma espécie de coquetel social, em um casa tão grande que mais parece uma mansão, em que tudo, da comida às roupas dos convidados, é de primeira linha.

Antes de sairmos de casa, Jimin me perguntou se eu estava de acordo em comparecer a esse coquetel. Mas eu já participei de eventos assim antes, então isso não é um problema.

Meus pais adoravam passar o fim de semana com alguns amigos no litoral de Seul. Faziam isso algumas vezes por ano desde que eu era pequena. Sempre alugavam a mesma casa, faziam os mesmos programas, comiam nos mesmos restaurantes.

Era meio que um evento do grupo literário no qual estão inseridos.

Ainda continuei indo algumas vezes na época do colegial. Mas depois do que aconteceu, eu meio que comecei a evitar esse tipo de socialização.

Olho em volta e me dou conta de que perdi Jimin em meio ao grupo de pessoas. Começo a procurar por ela, mas sou parada por sua amiga.

— Então... Minjeong.

Yeji pega uma taça de champanhe. Ela toma um gole e fica me observando.

— Ouvi dizer que lhe devo os parabéns — comenta.

Olho para ela, confusa.

— Pela forma como lidou com o que Jimin te contou — Yeji continua, tomando mais um gole de champanhe.

— Obrigada.

Ela dá uma risada.

— Ah, qual é? Pelo jeito como você fala, parece que isso não tem importância.

Dou de ombros.

— É que... não é nada de mais.

— Bom, Jimin parece achar muito importante. Ficou falando a respeito por quase meia hora quando estávamos conversando.

Olho em volta tentando encontrá-la, mas sem sucesso.

— Minha amiga parece realmente feliz — Yeji diz em tom gentil. — Bem diferente de como ela estava antes de se mudar para Seul.

— Jimin é uma pessoa incrível. Ela não merece menos do que a felicidade.

— Você realmente está apaixonada por ela, não é?

Sorrio de forma singela.

— Jimin tem me apoiado em tantos momentos... Ela é minha esperança.

Ela revira os olhos, bem-humorada.

— Vocês são muito casalzinho mesmo.

— Será que posso roubar minha namorada por um momento? — Ryujin diz, se aproximando. Ela sorri, abraçando Yeji por trás. — Imagino que ela esteja te contando sobre a infinidade de segredos que compartilha com Jimin, mas sinto em ter que atrapalhar.

— Tudo bem — respondo, sorrindo. — Jimin deve estar me esperando.

Me despeço delas e volto a procurar por minha namorada perdida.

Atravessando o fluxo não tão grande de pessoas, procuro por seu cabelo castanho e brilhante. Ela é uma garota alta, o que significa que não vai ser difícil localizá-la. O grupo de pessoas se dissipa levemente, e eu por fim a vejo. Jimin está maravilhosa, como sempre.

Tem um rapaz que não reconheço falando com ela. Pelo modo como o olhar dele não se restringe ao rosto dela, sei que não sou a única que gostou do visual casual de veraneio. Sinto uma pontada quente e amarga nas costas, e identifico como um sentimento já conhecido por mim.

Ciúme.

Me aproximo e apoio a mão em suas costas. Jimin olha para mim e passa o braço pela minha cintura, parecendo se divertir. Ela sabe exatamente o que estou fazendo.

— Oi — ela diz baixinho.

— Oi — respondo.

Seus olhos encontram os meus e ficamos nos encarando por um pouco além do necessário antes que ela abra o que reconheço como um sorriso social.

— Minjeong, esse é Hyujin. Ele é irmão da Yeji e um amigo da família.

— Ah, é? — Digo, estendendo a mão. — Prazer em conhecer você.

— O prazer é meu — Hyujin responde, apertando minha mão. Ele é simpático, mas sei que perdeu o interesse ao descobrir que Jimin está acompanhada. Depois de alguns minutos de uma conversa relativamente amistosa, ele vai embora, deixando nós duas sozinhas.

Ela sorri, enlaçando seu braço no meu e me conduzindo até uma muro baixo.

— Tenho que dizer que sua família sabe como fazer um evento, Jimin. Quero dizer, quando suas mães comentaram sobre aproveitar nossa presença aqui para fazer uma reunião entre amigos, eu não imaginei que fosse algo dessa magnitude.

— Não acha pretensioso demais? — Ela pergunta.

Balanço a cabeça.

— Não. Na verdade é algo bem legal. — Digo, olhando para o mar que se estende a nossa frente. — Sabe, agora que estou aqui me sinto meio boba por ter sentido medo de encarar essa viagem com você. Não sei por que pareceu tão difícil. Não tem nada demais em conhecer um pouco do mundo da minha namorada.

Jimin olha para o meu perfil, e sei que está surpresa com o que eu acabei de admitir. Ela envolve minha cintura com os braços antes de dizer:

— Está dizendo que está gostando, Minjeong?

— Bom... — sussurro. — Acho que estando com você, sou capaz de gostar de qualquer coisa.

Jimin sorri, se aproximando e me beijando.

— Você entende o que estou dizendo, né? — Ela pergunta, baixinho. — Podemos ir embora se não estiver gostando.

Por mais que seja um evento da alta sociedade de Busan, o nível de esnobismo está relativamente baixo. Tanto as mães como os amigos de Jimin são muito mais do que eu estava esperando. Apesar de terem consciência de seu status social, eles não são nenhum pouco pretenciosos. Pelo contrário, são educados e calorosos, como Jimin.

Não estou me sentindo desconfortável como imaginei que fosse acontecer.

— Estou bem — digo sendo sincera. — Meu pai costumava me levar para eventos assim, então meio que já sei o que esperar.

Jimin me encara em silêncio.

— O que foi? — Pergunto, confusa.

— Você quase nunca fala sobre seu pai — ela diz em tom gentil. — Quero dizer, em todo esse tempo que estamos juntas, você só mencionou ele uma vez.

Isso me faz paralisar de surpresa.

— Eu não tenho muito o que falar. Como você sabe meus pais se separaram quando eu era bem nova, então por um bom tempo não fui muito próxima dele.

Jimin me encara por mais alguns segundos, mas, então, seus olhos castanho-esverdeados brilham em apoio e compreensão.

— O que ele tem de melhor? — Ela pergunta.

— Essa é fácil. Seu coração. A maneira como ele se preocupa tanto comigo mesmo estando longe — digo sobre meu pai. — Seu amor pela literatura e tudo que vem dela.

— Então acho que tenho algumas chances de passar no teste quando conhecer ele — Ela diz, sorrindo.

— Bom, isso nós vamos descobrir na prática. — Brinco.

Jimin sorri e eu também, abraçando-a, puxando seu corpo para mim. Ela não recua, me envolvendo. Tem um cheiro tão fresco. Faço questão de inspirar bem fundo enquanto sinto seus lábios viajando por meu pescoço.

— Você está tentando me provocar? — Pergunto.

Escuto sua risada baixa.

— Você adora isso. — Ela me dá um beijinho e eu faço uma careta.

— Nem vem tentar me seduzir no meio dessa reunião familiar, Jimin.

— Eu não ligo. — Ela ri de mim.

Balanço a cabeça e me afasto dela.

— Mas eu ligo!

Jimin se aproxima e segura minha mão, ainda rindo.

— Então vamos lá falar com o pessoal.

Encontramos as mães de Jimin e ficamos ali conversando enquanto aproveitamos o clima agradável. A conversa flui fácil. Joohyun e Seulgi são dessas pessoas que deixam o clima confortável sem esforço algum. Uma das coisas que eu mais senti falta nesse tempo todo foi de manter um contato saudável com outras pessoas.

E estar na companhia das mães de Jimin de certa forma me fez recordar um pouco de como era minha relação com minha mãe antes do incidente.

Conversamos por mais algum tempo antes delas se entreterem com algum assunto sobre o trabalho. Jimin se levanta, segura minha mão e juntas aproveitamos a oportunidade para despistá-las e ir caminhar na praia.

Como nada me deixa mais irritada que areia nos sapatos, tiro os meus e deixo em cima de uma pedra grande e inconfundível para poder encontrar depois. Jimin faz o mesmo antes de me acompanhar.

Sinto a areia morna sob os pés, mas de um jeito gostoso.

De todos os eventos aos quais minha família participava — e admito, eram muitos —, aqueles que envolviam viagens à praia eram os que mais me agradavam. Poucas coisas eram melhores do que aproveitar esse clima tropical enquanto lia um bom livro ou trabalhava nos meus contos. Mas a melhor parte de tudo isso é ter a praia só para você. Bom. Para você e sua namorada, no caso.

Jimin parece ter uma opinião semelhante, porque ela respira fundo e sorri, parecendo absorver a energia a nossa volta. Já percebi isso durante nossos breves passeios em Busan, mas por algum motivo, estar em contato com a natureza parece consolá-la um pouco.

A maré está baixa, o que faz a faixa de areia parecer infinita. Em uma concordância silenciosa, viramos para a esquerda, embora o lado não faça diferença. Nossa intenção não é chegar a lugar nenhum.

Caminhamos em um silêncio confortável por vários minutos antes de Jimin dizer:

— Sabe, acho que você está conseguindo vencer algumas das suas barreiras pessoais.

Na maior parte do tempo, eu tenho conseguido. Com exceção de quando preciso conversar abertamente sobre como me sinto. E as vezes me pergunto se o fato de me manter apegada ao passado não seria uma questão de insegurança. Ainda penso bastante no que aconteceu, verdade, mas em comparação a quando conheci Jimin, percebo uma melhora significativa.

Embora ainda não saiba muito bem o que pensar sobre isso. Respiro fundo e olho para o céu alaranjado por um momento.

— Não tenho muita certeza. Ainda tem tantas coisas que não consegui compartilhar com você...

— Eu sei — Jimin diz, detendo o passo. Quando ela se vira para mim, sou presenteada com toda a intensidade do seu olhar.

— Algum problema? — Pergunto, cautelosa.

Ela segura meu rosto entre as mãos.

— Sei que você ainda carrega suas inseguranças, mas isso não apaga todo resto, Minjeong — sua mão vem a minha nunca, puxando-me para ela. — Você é uma garota incrível. E cada pequena conquista sua deve ser comemorada com louvor.

— Jimin, eu...

Fecho os olhos, à medida que a emoção começa a cair pelo meu rosto, e ela não para com os beijos, pegando cada lágrima com seus lábios.

— Sei que você ainda têm muitas dúvidas, e tudo bem, mas não duvide disto. — Ela beija meus lábios levemente. — Não duvide do quanto sua presença faz a diferença na minha vida.

— Você também é uma garota incrível, Jimin. A maneira como vem me despertando para a vida mesmo quando tem tantas batalhas pessoais — sussurro, encontrando seu olhar. — Seu amor pela sua família. Sua dedicação em superar o passado e recomeçar...

Desta vez, Jimin fecha os olhos. Ela não responde de imediato. Quando os abre novamente, estão marejados.

— Amo você, Jimin.

Ela não diz nada, apenas se inclina, pairando diante dos meus lábios antes de tocá-los. Nossas bocas se conectam de uma forma que eu nunca experimentei. É preciso criar um novo adjetivo para esse tipo de beijo. Terapêutico. Desconsolado. Bem-aventurado. Todos esses sentimentos lindamente diversos, tudo de uma vez. Eu sei que nunca mais vou querer ser beijada por outra mulher do jeito que ela me beija.

Jimin faz todo o trabalho, explorando meus lábios com os seus. Não é como um beijo matinal, em que estamos sonolentas e dando risada, tampouco um beijo intenso, quando roçamos dentes e trocamos amassos. Este é um beijo leve, sem necessidade de se aprofundar. Do tipo que ela me daria se me...

— Amo você, Minjeong. — Ela diz e se afasta, deixando-me de olhos fechados e coração aberto. — Não sei dizer se isso é suficiente, mas...

— É suficiente — interrompo-a, descansando a cabeça em seu peito. Eu posso sentir seu coração batendo por baixo da camisa, e ela coloca a mão sobre o meu. Palavras não são necessárias, porque sentimos tudo dentro de nós.

Meus olhos se levantam para encontrar Jimin sorrindo para mim. Ela dá três passos largos para trás e olha mais uma vez para o céu ensolarado antes de me encarar.

— Acho que a essa altura minhas amigas mais do que perceberam nossa ausência — brinca.

Não posso conter minha alegria, e é inútil tentar. Girando com os braços abertos, deixo o ar do fim de tarde açoitar meu corpo. Tenho vontade de chorar, mas eu sei que são lágrimas de felicidade.

Corro na direção de Jimin, e ela é tomada de surpresa quando envolvo meus braços em sua cintura para um abraço apertado. Ela não vacila e retribui meu gesto, me abraçando também. Ficamos alguns instantes em silêncio, apenas aproveitando o momento.

— Olha, eu estava falando sério — Jimin sussurra, sem conter uma risada. Me afasto o suficiente para observá-la. — Conhecendo bem Yeji, ela já criou teorias bem interessantes para o nosso sumiço. Algumas das quais não quero nem imaginar.

— É mesmo?

— Pode acreditar — Ela afaga meus ombros por um momento. Seus lábios se aproximam dos meus, e, quando ela mordisca meu lábio inferior, sinto uma onda de calor subir por meu corpo. — Mas eu bem que gostaria de colocar uma dessas teorias em prática.

— Nem adianta, Jimin — digo, segurando sua mão. — Vamos voltar antes que suas amigas resolvam vir nos procurar.

Ela sorri e o sorriso ilumina seu rosto inteiro.

Caminhamos de mãos dadas pela praia silenciosa, cada uma perdida em seus próprios pensamentos.

Mas de todos os pensamentos que eu poderia ter, um me chama a atenção; a certeza de que essa viagem abriu um novo horizonte para a minha vida. E parte dessa conquista se deve ao apoio da garota ao meu lado.

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