25

Karina's pov:

"Nada mais importa no mundo. Todos os problemas são silenciados dentro desse quarto nessa tarde amena de Maio. Bloqueamos todo o barulho, todas as dores."

Estou vendo algumas notificações no meu celular quando o suspiro calmo de Minjeong me alcança do outro lado da cama. Não consigo conter um sorriso bobo ao esticar o braço para tirar uma mecha de cabelo do rosto dela. Ela está deitada de barriga para baixo, com um braço do lado e outro, dobrado debaixo do travesseiro. O lençol está jogado na metade inferior de seu corpo, e se ela não estivesse vestida, eu bem que gostaria de puxá-lo fora.

Me viro de lado e fico observando ela dormir. Depois que conversamos, Minjeong disse que iria descansar um pouco e como eu literalmente não tinha nada para fazer, resolvi vir lhe fazer companhia.

Ainda estou surpresa com o rumo que nossa conversa levou. Estava preparada para todas as respostas possíveis: Silêncio. Por que não me contou? Preciso de um tempo. Mas não para Minjeong me ouvindo, me acolhendo em seus braços e me confortando.

E neste momento eu percebo. Percebo o quanto minha vida era solitária e medíocre antes dela. Percebo que ela se tornou a mais intensa força da natureza a habitar meu mundo. Não é o tipo vazio de amor que eu tinha por Minju, ou o amor descomplicado que eu tenho por Yeji, como amiga. Amo a pessoa que Minjeong é. A escuridão e a luz. Seu sorriso e a bondade que faz tanto esforço para esconder. A jovem garota por baixo das marcas de um trauma.

Eu gostaria de saber mais sobre ela, de saber sobre todas as coisas que ainda não teve coragem de compartilhar. Minjeong não gosta de se abrir com os outros. Mas não dá para culpá-la depois de ver tudo pelo que ela já passou. Em situações assim é compreensível a pessoa se fechar para o mundo.

Então, embora eu queira pressioná-la a falar sobre as crises de pânico, sobre a manhã que mudou sua vida, sempre desisto e mudo de assunto. Não só porque não quero ver seu rosto ficar angustiado ou irritado, mas também porque sei que quando ela realmente estiver pronta, vai me contar.

E vou estar lá para ouvi-la.

Minjeong afunda o rosto no travesseiro. Depois se vira e olha para mim.

— Oi... — ela está sorrindo.

Acho que minhas bochechas vão adormecer com o sorriso que surge em meus lábios.

— Oi.

— Você está bem? — Ela pergunta, sentando-se na cama.

— Sim. E você?

Isso a faz sorrir, como se ela nem precisasse responder. Sem aviso, ela se move, sentando-se em meu colo enquanto envolvo os braços em sua cintura.

— Não quero que você se preocupe com o que aconteceu mais cedo, ok? — Ela diz.

— Continua dizendo isso.

— Bem, é verdade.

Ela segura minha mão na sua e pousa um beijo casto em meu pulso, pouco acima se onde minha pulseira fica. Por alguma razão encontro conforto diante desse gesto tão simples de afeto.

— O que me contou é o motivo de você estar sempre usando essa pulseira, não é? Eu notei que você fica sempre puxando ela.

Viro a cabeça para poder olhar para ela e sorrio de forma singela.

— Sim. Ganhei essa pulseira na reabilitação. Sempre que eu sentia vontade de voltar a beber, meu terapeuta me dizia para puxar a pulseira e soltá-la contra o meu punho como um lembrete de que o que eu fizesse em seguida seria real, assim como a dor. Essa seria a minha chance de ser forte em momentos sombrios.

— Isso é interessante — ela sussurra, assentindo devagar. — Gosto muito disso.

— É. Costuma funcionar na maior parte do tempo.

— Há quanto tempo você está longe do álcool? — Ela coloca uma mecha de cabelo atrás da minha orelha. — Pode ser sincera comigo.

— Pouco mais de dois anos — digo, apertando sua mão.

— Você já quase se desviou do caminho?

— Sim. — sorrio. — Mas acho que é uma luta que vale a pena.

— Vale mesmo — ela concorda. — Eu realmente sinto muito orgulho por você ter conseguido superar isso. — Seus olhos brilham com ternura e ela sorri para mim. — Eu nem consigo imaginar tudo pelo que você já passou, mas você está aqui agora, firme e forte. Isso é incrível.

Isso significa mais para mim do que ela pode imaginar.

— Eu estava pensando aqui...

Minjeong me interrompe, beijando meus lábios de forma suave antes de se mover para encontrar o meu pescoço.

— No que você estava pensando? — sussurra e sinto um arrepio percorrer minha pele.

— Ainda é cedo, então podíamos aproveitar um tempo juntas. — Digo. Ela abre um sorrisinho travesso. Começa a desabotoar sua camisa. — Minjeong... — murmuro, observando seus movimentos.

— É, acho que vamos fazer isso — ela diz.

Fico em silêncio enquanto a observo tirar o casaco. Suas mãos alcançam a fivela do seu sutiã e ela o tira. Ela vira a cabeça na minha direção e sorri de olhos fechados.

— Você está me provocando, Minjeong — murmuro, observando, sentindo-me excitada enquanto olho para seu corpo.

Seus olhos castanhos se abrem e então abre a boca também ao ver meus olhos cheios de ânsia. Quando os braços dela repousam em meus ombros, eu avanço em seu pescoço, sentindo o cheiro suave da sua pele, então chupo o lóbulo de sua orelha, arrancando-lhe um suspiro trêmulo.

— Beije-me. — Minjeong pede. Faço o que ela diz.

Ela morde meu lábio inferior, e eu gemo contra sua boca. Ela envolve seu corpo em torno de minha cintura, e eu a seguro em meus braços. Seus quadris pressionaram fortemente contra mim, como se ela estivesse tentando me segurar ainda mais. Minha boca se move, e eu agarro seu seio, chupando-o, mordendo-o, precisando dela. Seus dedos afundam em meus cabelos, quase como se estivesse agarrando minha existência inteira.

Ela se afasta de mim e prende seu olhar no meu. Fico fascinada por esses olhos castanhos cheios de desejo.

— Deite-se. — peço.

Ela faz o que eu digo.

Levo meus lábios a seu pescoço, passando pelo queixo até chegar a sua boca. Ela retribui o beijo enquanto suas mãos encontram a barra da minha camisa, puxando-a por meus ombros antes dela desafivelar meu sutiã. Nossos corpos trabalham em sintonia, retirando qualquer peça de roupa que ainda possa nos cobrir.

Minha boca beija seu estômago, e eu escuto seu gemido baixo, olhando para cima para vê-la olhando para mim. Eu posso dizer que ela quer fechar os olhos, mas ela não pode. Ela tem que me observar, me estudar.

Minha boca se move para baixo, e eu beijo o interior das suas coxas e entre as pernas. Seu sabor desliza por minha boca e invade minha mente, apagando qualquer vestígio do mundo lá fora. Então subo para me juntar a ela, percorrendo meus lábios ao longo do seu corpo, com suas mãos ainda emaranhadas em meus cabelos, guiando-me para onde ela quer.

Me posiciono contra ela, Passando a mão por sua umidade e começando a acariciá-la com ousadia. Cada passada dos meus dedos em cima do seu ponto sensível causa um gemido nela.

— Por favor... — ela implora baixinho enquanto movo a pontas dos meus dedos, pressionando do jeito que eu sei que ela gosta.

Sorrio, levando minha boca ao seu pescoço e finalmente a penetrando. Ela é tão perfeita para mim. Seu corpo todo é perfeito para mim.

Enquanto mexo meus dedos dentro dela, pressiono seu centro com o polegar e começo a acariciá-lo de forma lenta e constante. Minjeong geme em resposta, seus olhos encontrando os meus sempre que eu vou mais fundo nela.

— Jimin...

— Adoro quando você chama meu nome assim — sussurro, alcançando sua boca e a beijando com avidez enquanto meus dedos trabalham com movimentos firmes e rápidos.

Nós nos movemos juntas sem esforço nenhum, nossas peles em contato total. Nosso amor existindo em cada segundo, em cada toque.

Eu amo como ela se sente, eu amo como ela sussurra, eu amo como ela me ama. Enroladas juntas quando nos tornamos a bússola uma da outra, encontrando nosso próprio caminho.

Quando o luar começa a atravessar as cortinas e a noite começa a cair, continuamos segurando uma na outra enquanto fazemos amor no escuro.

\[...]

Na manhã seguinte estou de volta a praia. Respiro fundo, sentindo a brisa do mar contra o meu rosto. Não venho aqui desde que mudei para Seul, mas não posso ir embora sem fazer uma corrida. Sorrio comigo mesma enquanto disparo pelo cais.

Adoraria estar fazendo isso na companhia de Minjeong, mas para minha surpresa ela parecia bem mais interessada em ajudar minhas mães com os preparativos da reunião de amigos que vão fazer amanhã. As vezes ainda me pego se questionando o quanto tudo isso é real. Aquela garota reclusa e machucada enfim está se reencontrando e isso é algo lindo de se ver.

Balanço a cabeça e diminuo o ritmo quando me aproximo da beira do cais. Pretendia ficar um tempo ali com meus pensamentos, mas paro quando percebo a presença de outra pessoa. Como se eu a tivesse conjurado com minhas lembranças, Minju está aqui. Ela me encara em silêncio.

Eu me esforço para ignorá-la, mas ela chama o meu nome.

— Jimin!

Respiro fundo e me viro para olhar para ela.

— O que você quer, Minju? — Pergunto em tom sério.

— Eu... — Ela passa a mão pelo longo cabelo castanho-claro. — Eu acho que a gente precisa conversar sobre as coisas. Sei que você está zangada, mas a gente ainda tem assuntos pendentes, Jimin. Você não pode me evitar para sempre.

— Não foi você quem ficou irritada quando propus isso na manhã passada?

— Eu sei que não lidei bem com a situação e peço desculpas por isso. As coisas andam um pouco complicadas.

— Você ainda está em condicional. Além disso, sua mãe comentou com a minha o quanto você estava decidida a recomeçar. Sério, Minju? É assim que você quer corrigir seus erros do passado? Criando problemas na menor oportunidade?

Ela baixa a cabeça e faz uma careta.

— Eu cometi muitos erros, mas estou me esforçando para aprender com eles e a me tornar uma pessoa melhor. Eu devo mais pedidos de desculpas a você do que jamais vou conseguir expressar, e só quero que a gente consiga conversar um pouco. Pensei em aceitar ajuda especializada... Você se lembra de que comentou isso comigo uma vez?

— Eu me lembro bem. Depois você começou a dizer que estava muito bem e que não ia perder seu tempo conversando com um desconhecido.

— Estou tão perdida, Jimin. Eu só... Eu preciso de você de volta. Eu sinto sua falta.

Fico confusa. Completamente confusa ao ouvir essas palavras.

— Você só pode estar brincando com a minha cara — declaro, virando-me para me afastar.

Não há terapia ou pedido de desculpas capaz de consertar as coisas entre nós.

Ela destruiu o nosso relacionamento sozinha quando decidiu entrar para esquemas ilegais, e as partes jamais poderão ser consertadas.

— Por que você está namorando com ela? — Pergunta Minju, em voz nada baixa, forçando-me a olhar para ela.

— Como é que é?

— É para se vingar de mim? Porque eu magoei você?

— Eu não estou acreditando no que estou ouvindo.

— Ela não é garota certa para você, Jimin. Você merece alguém melhor.

— E você definitivamente não é esse melhor — retruco com uma risada sarcástica.

— Você realmente me superou, não é? Não existe mais espaço para mim na sua vida, Jimin? Parece que você até esqueceu do quanto a gente se divertia juntas.

Será que ela não vê? Como é irônico me falar essas coisas quando nosso relacionamento não passava de uma dependência mútua.

Nós duas jamais iríamos dar certo a longo prazo. Isso é um fato. Enquanto eu buscava proximidade, ela começou a se afastar. Não demorou muito para que nossa relação já complicada se transformasse em algo destrutivo e instável. Eu nunca sabia onde ela estava ou que tipos de coisas estava fazendo quando não nos encontrávamos em alguma festa regrada a álcool e drogas. Ela parecia estar flutuando, absorvendo informações aleatórias aonde quer que fosse.

E àquela altura eu não estava muito diferente.

— Eu não vou ter essa conversa com você — aviso.

— Tudo bem, então, está claro que você não quer conversar comigo nem me quer por perto. Mas eu realmente estou tentando retomar minha vida, Jimin.

— Você não me deve mais nada, Minju. Você não pode mais opinar sobre o que eu faço ou deixo de fazer com o meu tempo livre. Assim como eu não posso mais me meter na sua vida.

Um silêncio desconfortável paira entre nós até ela dizer:

— Me responde uma coisa... Você ama aquela garota?

É como se ela me desse um golpe. A palavra foi usada com tanta facilidade por Minju e eu ao longo dos anos, nos dois sentidos. Mas agora sei que não estámos nos referindo ao mesmo tipo de amor. Parte de mim quer mentir. Quer evitar o desconforto excruciante que a verdade trará. Mas não posso. Devo a ela — e a mim mesma — honestidade.

— Amo — Digo com firmeza — Sim, eu a amo.

Os olhos dela não deixam o meu rosto e embora ainda haja a mesma presunção neles, também aparece um pouco de dor.

— Talvez isso já não tenha importância, mas quero que saiba que nunca quis magoar você, Jimin. — Ela diz, desviando o olhar para o mar a nossa frente. — Você é uma pessoa livre para fazer suas escolhas e eu não tinha o direto de agir daquela forma. Acho que só preciso de mais algum tempo até conseguir lidar com as coisas.

Entendo o que ela quer dizer, mas para mim é difícil acreditar nas suas palavras. E no momento a única coisa que posso fazer é seguir o meu caminho longe dela.

— Escuta, Minju — digo, chamando sua atenção. — Não podemos voltar no passado e mudar o que aconteceu. Não existe um futuro onde nós duas fiquemos juntas, mas eu espero que você consiga recomeçar a sua vida.

Nós nos encaramos por alguns segundos e ela não diz mais nada antes de eu me virar para ir embora.

Quando volto para casa, paro na varanda e olho pela janela. Minha mãe está na sala, conversando com Minjeong, como se já se conhecessem há anos. Quanto mais eu observo, mais percebo o quanto ela está diferente. Minjeong está sendo ela mesma.

Quando entro, elas param de falar e se viram na minha direção.

— O que você está fazendo aí, Jimin? — Pergunta minha mãe, sorrindo.

— Acabei de voltar de uma corrida — respondo, levando a mão a nuca.

Quando me aproximo da sala de estar, Minjeong se levanta e me abraça. Ela não diz nada. E não preciso que diga. Ser acolhida em seus braços e sentir o calor do seu corpo é todo o conforto de que preciso.

É bom estar no meu lugar de paz.

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