23
Karina's pov:
"Talvez meu coração esteja apenas rezando por um amanhã melhor para substituir todos os ontens horríveis."
Estamos em Busan há poucos minutos, mas já sinto a velha familiaridade de estar de volta em casa surgir em mim. Minjeong está calada desde que entramos na cidade. Ela é normalmente uma pessoa mais reservada, mas hoje eu sei que tem algo a incomodando.
— Está nervosa? — Pergunto, desviando o olhar da estrada por breves segundos.
— Estou bem. — Ela responde, desinteressada, mas sei que está mentindo.
— O jeito que você está apertando os braços sugere o contrário.
Ela me encara por alguns segundos antes de relaxar.
— Só estou receosa por conta da viagem e me perguntando como vou lidar com toda a socialização.
— Meu palpite é "muito mal". — Brinco, cutucando seu ombro.
Ela dá uma risada, lançando-me um olhar severo de brincadeira.
— Obrigada.
— Olha, vai correr tudo bem. — Minha mão encontra a sua em um aperto delicado. — Quando você conhecer minhas mães vai perceber que elas são pessoas bem tranquilos. Mesmo Joohyun que tende a ser um pouco mais séria.
Sendo sincera, fiquei surpresa com o entusiasmo delas quando comentei que estava voltando para casa por alguns dias. Pensei que seriam contra dada as questões envolvendo meu passado, mas parece que o fator "namorando Minjeong" colocou isso em segundo plano. Talvez tenham ficado assim porque são amigas da mãe dela e isso significa que estou com alguém de confiança.
Infelizmente meu antigo relacionamento ainda assombra minha família.
— Espere até conhecer Yeji. Aí você vai ter motivos para se preocupar.
Ela me dá um sorriso singelo antes de desviar o olhar para a janela.
Conheço Minjeong bem o suficiente para saber que ela está escondendo o que realmente a está incomodando. Mas não vou sair desse carro até que ela se sinta confortável.
— Então, o que realmente está se passando pela sua cabeça, hein?
Minjeong fica em silêncio por alguns instantes, então suspira e diz:
— É apenas o caos iminente. Quero dizer, tem certeza que suas mães vão gostar de ver a filha única delas namorando alguém...
— Não termine essa frase — interrompo-a em tom firme. Me machuca quando a vejo se diminuir desse jeito. Quando ela permite que sua condição a defina como pessoa. Temos trabalhado nisso ao longo do último mês, mas as vezes esses momentos de fragilidade ainda vêm a tona. — O que importa é o que eu sinto — digo em um tom mais gentl. — E eu sinto que você é perfeita para mim.
Ela me encara com um olhar cheio de significado.
— Mas se não estiver confortável, podemos ir para algum hotel. Eu ligo para minhas mães e invento alguma desculpa.
— Obrigada, Jimin — ela se inclina, depositando um beijo em meu rosto —, mas nós vamos para sua casa. Eu vou ficar bem, prometo.
Quando pego uma estrada ladeada por árvores, já sinto a ansiedade por estar de volta em casa depois de pouco mais de um mês. Atravessando o portão, posso vislumbrar a residência principal da minha família: uma casa composta por três andares de madeira conservada, chaminé e pé-direito alto. O lugar onde vivi os momentos mais decisivos da minha vida, mas que agora parece tão distante.
Saímos do carro, pegamos nossas malas e caminhamos até a entrada. Como o hall principal é uma área aberta, podemos ouvir minhas mães conversando na sala.
Paro Minjeong na porta, colocando uma mão em cada um dos seus ombros e olhando para seus olhos castanhos.
— Você está pronta para isso? — Pergunto.
Ela enlaça minha cintura com as mãos e pressiona os lábios perfeitos nos meus.
— Com certeza não. — Diz contra a minha boca.
Pego a mão dela e entro a tempo de ver Seulgi rir.
— Você não acha que pode estar exagerando um pouco?
Minha mãe suspira.
— Eu gostaria de estar, mas... — Ela olha em nossa direção. — Vocês finalmente chegaram.
Minha mãe se levanta do sofá e vem ao meu encontro. Ela me abraça e se inclina para trás para me admirar com um orgulho maternal.
— Você parece estar muito bem, querida — Então a atenção dela se volta para Minjeong. — E aqui está ela. Que bom finalmente conhecer você pessoalmente. Sou Joohyun. — Ela estende a mão, e Minjeong a segura de leve.
— Prazer.
— Que voz bonita. Venham comigo. Vou pedir para que levem suas malas para o seu quarto, Jimin — Minha mãe diz já pegando o braço de Minjeong e a conduzindo até onde Seulgi está. — Querida, esta é a Minjeong. Minjeong, esta é minha esposa, Seulgi.
Ela se levanta para cumprimentá-la com um aperto de mão educado.
— Muito prazer. — Minjeong fala.
— O prazer é meu — Ela responde com um sorriso simpático. Então volta sua atenção para mim. — Jimin, Joohyun e eu estávamos ansiosas para sua visita.
Nós nos abraçamos e em seguida, ela nos convida para se sentar enquanto esperamos o meu quarto ficar pronto.
A conversa flui naturalmente, mas mesmo assim dou uma olhada para Minjeong para garantir que não está desconfortável com a situação, mas ela educadamente conversa com minhas mães, que parecem estar adorando cada segundo.
Não posso culpá-las. Minjeong é adorável.
Pego ela me olhando e sorrio para tranquilizá-la. Ela inclina a cabeça e retribui meu sorriso.
— Tenho certeza de que minha esposa já perguntou isso — Seulgi diz, trocando um rápido olhar com minha mãe que está sentada ao seu lado —, mas quando exatamente vocês começaram a namorar?
— Oficialmente, logo depois do festival das luzes em Seul — respondo, lançando um olhar rápido para Minjeong para confirmar se tudo bem. Concordamos em falar a verdade sempre que possível, mas sem entrar em muitos detalhes.
— E como estão as coisas na sua faculdade? — Minha mãe pergunta.
— Então indo muito bem — respondo, pensativa. Não tenho nenhuma intenção de comentar sobre meus problemas com Sunghoon e acabar com o clima agradável da conversa. Além disso, eu posso lidar com essa questão sozinha. — Quero dizer, estou fazendo o que realmente gosto. Então não tenho do que reclamar.
— Estamos muito orgulhosas de você, Jimin.
Notando que Minjeong está em silêncio, Seulgi diz:
— Minjeong, como vai sua família?
— Minha família? — Ela pergunta, como se lesse minha mente.
As feições de Minjeong são o perfeito semblante da tranquilidade, mas seus olhos contam uma história diferente.
— Seus pais, como eles estão? — Minha mãe diz em tom gentil.
— Minha mãe anda focada na editora em que trabalha. — Ela responde, vagamente. — Quanto ao meu pai, ele ainda está fora por conta de um agenciamento que está sob sua responsabilidade. Mas nos falamos com grande frequência.
Joohyun assente com a cabeça realmente interessada.
— Encontrei com Taeyeon pouco antes de Jimin ir para Seul, mas pelo que vejo ela continua a mesma.
— Acho que as vezes é preciso aceitar que as coisas simplesmente... são imutáveis. — Minjeong diz isso tão baixo, tão fácil, que minha família precisa de um segundo para registrar.
Minhas mães olham uma para a outra. Parecem concordar em silêncio que Seulgi mude o assunto discretamente para um de seus favoritos: trabalho. O dela, claro.
Minjeong é educada. Faz todas as perguntas certas e parece realmente interessada nas histórias cansativas da minha mãe. De alguma forma, a conversa prossegue sem que minhas mães toquem em assuntos delicados. Mas isso não impede Joohyun de gesticular para que eu a acompanhe até a cozinha.
— Só quero que saiba que vamos fazer o possível para que ela se sinta bem enquanto estiver em Busan — ela fala baixinho, olhando na direção de Minjeong que ainda conversa com Seulgi.
— Obrigada, mãe — digo sendo sincera. — Minjeong já passou por muita coisa e prometi a ela que essa seria uma viagem tranquila.
— Ela é uma boa garota. Eu só me preocupo, por conta do que aconteceu, mas ela é uma boa garota.
Assinto com a cabeça.
— Ela tem me ajudado a ver as coisas de uma forma diferente.
— Mesmo?
— Sim.
— Bom, Jimin. — Minha mãe diz, sorrindo. — Vamos ter muito sobre o que conversar nesses dias que você vai ficar aqui.
— Mas você não vai estar ocupada com o trabalho? Eu não quero atrapalhar.
Ela bufa.
— Quando é que eu não estou presa no trabalho ultimamente? Além do mais, acho que está na hora de tirar alguns dias de folga e tenho certeza que Seulgi vai concordar.
Assinto com a cabeça, sorrindo.
— Escuta, Jimin... — Minha mãe diz assumindo um tom mais sério. — Também chamei você aqui porque estou preocupada com outro assunto.
— Qual deles?
— Minju, sua ex namorada. Ela parece andar na linha desde que saiu em condicional, mas não consigo confiar. E tenho medo de que vocês acabem se encontrando agora que está aqui.
— Eu entendo, mas não quero que se preocupe com isso.
— Você realmente está me pedindo isso, Jimin? — Pergunta minha mãe. Ela está com uma expressão de descrença no rosto ao cruzar os braços. — É óbvio que a resposta é não.
Respiro fundo.
— Mas eu não quero trazer mais problemas para você e Seulgi — insisto.
— Só para ver se eu entendi direito... — Ela estreita os olhos. — ...você está pedindo para que suas mães finjam que não tem nada acontecendo simplesmente por que não quer ser um problema para elas?
— É isso mesmo.
— Jimin. — Ela suspira. Sempre que ela faz isso, eu sei que está irritada. — Sei que exagero na maioria das vezes, mas dessa vez é diferente. Aquela garota é sinônimo de problema.
— Eu não posso passar o resto da minha vida fugindo disso! — argumento.
— Mas isso não significa que precisa lidar com tudo sozinha — ela rebate. — Veja bem, Jimin, estou do seu lado, está bem? Vou lutar para que você tenha liberdade como uma jovem da sua idade, mas não podemos ganhar a guerra se você entrar sozinha no campo de batalha.
— Sinto muito, está bem? Eu sei que só age assim porque me ama, mas mesmo assim... estou cansada de ser um problema para todo mundo. Eu juro que não vou tentar lidar com tudo sozinha.
— Você não contou nada disso para Minjeong, certo?
— Não. Ela já tem muitas questões com as quais lidar. Então vamos deixar isso apenas entre nós. Por favor? — Imploro como uma garotinha de 5 anos. Faço o olhar de cachorrinho abandonado mais convincente que consigo, e ela faz uma careta.
— Não faça isso.
— O quê? — Pergunto, em tom de inocência.
— Não olhe para mim com esses olhos suplicantes, Jimin. — Ela geme. — Está bem, está bem. Mas apenas por que acho que é você quem precisa conversar com ela sobre esse assunto.
— Pretendo usar esse tempo aqui para fazer isso. — Digo quase em um sussurro. — Se quero que nosso relacionamento dê certo, não posso continuar omitindo meu passado assim. Por mais doloroso que vá ser ver a reação dela quando descobrir.
— Você tem medo que a forma como ela te vê mude por conta disso?
Fico em silêncio.
— Jimin... — Ela leva a mão ao meu ombro. — Minjeong não me parece o tipo de pessoa que te julgaria pelo seu passado.
— Eu só não quero decepcioná-la, mãe.
Ela sorri de forma singela e tira alguns fios de cabelo do meu rosto com carinho.
— E você não vai.
Volto para a sala, onde Minjeong ainda conversa com Seulgi.
Sei que devo contar a ela os reais motivos que me levaram a se mudar para Seul. Mas não sei como ter essa conversa. Não sei como dizer que a sensação de culpa por ter usado a bebida como um escape ainda me consome por dentro.
— Vamos? — Pergunto a Minjeong, realmente interessada em subir para o meu quarto.
Ela assente com a cabeça, se levantando.
— Irei preparar o jantar hoje. Desçam para se juntar a nós — Minha mãe diz, se aproximando.
Depois que concordamos, subimos para o meu quarto. Assim como o restante da casa, tudo está igual, mas de alguma forma diferente.
Colocando minhas coisas sobre minha cama, que está perfeitamente arrumada, vou até a minha escrivaninha. Alguns dos livros que eu deixei ainda estão sobre ela.
Folheando algumas páginas, digo para Minjeong que ela pode se sentir a vontade.
— Tem certeza que posso ficar com você aqui? — Ela pergunta, sentando na minha cama. — Sei que parece estranho, mas estava pensando...
Volto os olhos em sua direção.
— Você é minha namorada, natural que fique no meu quarto. — Digo me inclinando em sua direção. — Não precisa se preocupar com essas coisas.
Ela sorri.
— Se você está dizendo...
Levanto seu queixo e a beijo. Uma sensação de felicidade surge dentro de mim. Quando me afasto um pouco, Minjeong murmura:
— Suas mães são mesmo legais.
— Se com "legais" você quer dizer que elas vão tentar monopolizar a sua companhia enquanto estivermos aqui, claro.
— Bom, você vai ter que lidar com isso — ela diz dando de ombros.
— Ou talvez você possa pensar na sua pobre namorada aqui.
Seus olhos encontram os meus quando seguro sua mão, entrelaçando nossos dedos.
— Acho que elas ficaram encantadas por você.
— Então, isso significa que causei uma boa impressão — ela diz, parecendo pensativa.
Meus olhos passeiam por seu rosto.
— Você está ótima. — Digo, sorrindo. — A propósito, vamos nos encontrar com Yeji amanhã pela manhã.
— Certo — ela diz em tom leve. — Isso significa que já devo começar a me preparar psicologicamente para o que está por vir?
— Não — sorrio. — Nós duas temos.
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