21

Karina's pov:

"Houve momentos em que tive vontade de voltar no tempo e fazer tudo diferente. Mas hoje sei que essa seria uma decisão errada. Porque assim meu coração nunca teria encontrado seu lugar de paz."

Às sete da manhã, estou sentada na minha cama, o notebook ligado a minha frente, trabalhando em uma dissertação. Teoricamente, eu deveria estar me preparando para ir a faculdade, mas ainda tenho algum tempo antes do início da minha primeira aula. E como preciso finalizar esse trabalho até a próxima quinta-feira, resolvi me dedicar a ele antes que minha motivação desapareça por completo.

Porém fico surpresa quando Minjeong entra no meu quarto. Ela sorri e se aproxima, sentando ao meu lado e envolvendo minha cintura com o braço. Percebo que está focada no notebook.

— Está estudando? — Pergunta.

— Tenho que entregar esse trabalho em alguns dias. Então resolvi agilizar o máximo possível.

A boca dela vem no meu pescoço, morna e mordente.

— Posso fazer isso enquanto você estuda?

— Não acho que eu consiga manter o foco.

A risada dela vibra sobre minha pele.
Viro-me para capturar sua boca em um beijo.

— Estou quase terminando.

Sua boca volta para minha nuca. Embora eu tema que esta distração possa afugentar minha inspiração, as palavras parecem ainda mais vivas. Lembro-me deste sentimento — o prazer de estar repleta com algo e conseguir trazê-lo à tona com toda a clareza.

Meu celular começa a vibrar sobre a cama, mas eu o ignoro. Só conheço uma pessoa que sempre está a disposição em qualquer hora, independente de estar na faculdade ou não.

Yeji, minha melhor amiga.

Não recebia notícias dela há algum tempo, mas desde que contei que estou voltando a Busan no fim semana, ela não para de me ligar. Na verdade, parece estar bem mais animada do que eu.

— Não vai atender?

— É minha amiga, Yeji — digo, olhando para o celular. — Ela está bem entusiasmada em relação a nossa viagem a Busan.

— Aposto que ela só quer passar um tempo com a melhor amiga. — Minjeong descansa o queixo no meu ombro. — Quer que eu desligue o celular?

Quero dizer sim. Quero continuar o que estou fazendo, e quero que ela continue a salpicar beijos no meu pescoço, porém, conhecendo bem Yeji, ela vai continuar me incomodando até que eu atenda o celular.

Fecho os olhos. Antes que possa me convencer do contrário, pego o celular.

— Vou falar com ela.

Eu mal atendo e ela já diz:

— Jimin, o que você está fazendo que não pode atender esse celular?

Sei muito bem o que está implícito em suas palavras.

— Estou lidando com um trabalho da faculdade.

— Sério? Então, desculpa...

— Te conheço, Yeji. — Digo, sorrindo. — Até parece que você realmente está arrependida por ter me atrapalhado.

Ela dá uma risada do outro lado da linha.

— Certo. Só estou surpresa por você estar voltando para Busan antes do esperado. Achei que fosse demorar mais alguns meses para vir fazer uma visita.

— Mudança de planos. — Digo a ela.

— Quando vocês vêm?

— Vamos pegar a estrada no sábado a tarde.

Yeji fica em silêncio por um tempo antes de dizer:

— Você sabe que ela vai estar aqui, não é?

Sei exatamente a quem ela se refere; Kim Minju.

Sinto-me incomodada de novo só de pensar no que aconteceu com nosso relacionamento depois da prisão dela, e uma parte de mim se arrepende de estar voltando a Busan. Mas a outra, acha que está na hora de encarar tudo isso de frente.

O maior problema é que ainda não contei a Minjeong essa parte do meu passado. Devo isso a ela. Mas não sei como entrar no assunto de forma natural, o que é um tanto irônico dado meu interesse para que ela compartilhe seu passado comigo.

— Espero poder resolver isso — respondo.

— E eu espero que consiga. Mas e as coisas com sua escritora, vocês estão bem?

Contenho uma risada diante da forma de tratamento que Yeji constuma usar para falar de Minjeong. Não quero nem imaginar a cena quando ela a conhecer pessoalmente.

— Estamos bem — digo baixinho. — Eu estou feliz.

Minjeong inclina-se sobre mim quando digo isto, descansando os lábios no meu pescoço enquanto envolve minha cintura com os braços. Com a mão livre acaricio os cabelos dela.

— Bom... — Yeji ri. — Talvez possamos marcar alguma coisa em casal.

Espera. Isso é novidade.

— Explique-se, Hwang Yeji — digo, sorrindo.

— Conheci uma pessoa. Vou te apresentar quando chegar.

— Acho bom. E você vai me contar tudo depois. Todos os detalhes interessantes: se ela é agradável, se tem um bom papo, quantas vezes você sorriu como uma idiota só por estar perto dela.

— Ah, por favor. Como se eu agisse dessa forma. — Ela retruca, mas sei que está sorrindo. — E você sabe que eu sempre te conto tudo.

— É mesmo? Então por que estava escondendo o jogo?

— É algo recente, então não achei que tivesse necessidade de contar. Mas já que você está voltando a Busan, ia acabar descobrindo de qualquer forma. Além disso, vamos ter a oportunidade de passar algum tempo juntas.

— É, pode ser uma boa ideia — concordo. — Mas agora preciso desligar. Tenho que voltar ao trabalho.

— Sei. Trabalho, não é? — Ela dá uma risadinha.

— Tchau Yeji.

Jogo o celular de lado ao mesmo tempo em que Minjeong se inclina sobre mim, deitando-me sobre a cama.

— O que está fazendo? — Pergunto, sorrindo.

— Estou aproveitando um tempo com você antes de ter que te dividir com as suas fãs. Sério, tenho achado isso uma batalha bem injusta.

Isso me faz sorrir.

Por alguma razão Minjeong continua insistindo nessa história de que tenho um verdadeiro fã clube na faculdade. Eu só não sei como convencê-la de que esse clichê literário não se aplica a mim e que sou apenas uma aluna comum dentre tantos outros.

— Está com ciúmes? — Provoco, lembrando-me da vez que saimos para caminhar juntas e ela comentou sobre a história de Caliope. No dia seguinte fiquei sabendo que Yizhuo era a responsável por esse falso boato.

— Não seja ridícula — Ela diz, movendo-se para ficar sobre o meu corpo.

Toco seu rosto com a mão.

— Você fica uma graça agindo assim — digo, contendo um risinho. — Nem parece aquela mal humorada que conheci no meu primeiro dia aqui.

— Ah, é?

Antes que eu possa raciocinar, seus lábios estão sobre os meus e sua língua encontra a minha quando avança para dentro da minha boca. Escorrego a mão por sua nuca, sentindo a maciez de seus cabelos enquanto me concentro no beijo.

Quando ela se afasta um pouco, eu coloco alguns fios do seu cabelo atrás da orelha.

— Preciso estar na faculdade em meia hora.

Minjeong suspira pesadamente.

— Tudo bem — Ela diz, depositando um último beijo em meus lábios. — Acho que já te atrapalhei o suficiente por hoje.

Não digo nada, apenas a observo.

Ela sorri de forma singela antes de voltar a se sentar na cama.

— Você nunca atrapalha — digo com firmeza. Então me sento ao seu lado. — Posso te perguntar uma coisa?

— Pode.

— Nós não conversamos muito sobre a viagem. Então gostaria de saber se você realmente está confortável com isso. Pode me dizer, ok?

Minjeong respira fundo, pensativa.

— Sendo sincera, ainda estou um pouco apreensiva. — Ela responde. — Mas acho que vai ser bom visitar Busan depois de tanto tempo.

Fico surpresa diante do seu comentário.

— Espera. Você já esteve em Busan? — Olho para Minjeong, pedindo confirmação. Por que ela não me contou antes?

Ela fica em silêncio por alguns instantes, e quando penso que não vai me responder, diz:

— Eu acompanhava minha mãe durante algumas das viagens de trabalho dela.

Meus olhos disparam na direção de seu rosto.

— Certo. Será que posso saber porque nunca encontrei com você antes?

— Simples — Ela diz, inclinando-se para beijar a ponta do meu nariz. — Porque eu sempre ia passear sozinha por Busan quando minha mãe decidia se encontrar com alguns amigos.

Reviro os olhos, mas estou sorrindo.

— Não acredito que poderíamos ter nos conhecido antes se você fosse um pouco mais sociável. — Digo. Então me levanto da cama e guardo meu material. — Mas pensando bem, foi melhor assim. Minha versão antiga não era lá a melhor das companhias.

Minjeong arqueia uma sobrancelha.

— Por que você sempre fala isso?

— Por que é a verdade. — Respondo. E antes que ela possa entrar em um assunto do qual não quero conversar no momento, acrescento: — Preciso ir agora, mas prometo que chego a tempo da nossa sessão de leitura.

Minjeong me observa, confusa, mas se levanta, envolve minha cintura com os braços e toma meus lábios nos seus, com uma demora cheia de significado.

\[...]

Quando chego na faculdade, passo por Sunghoon pelo campus, e ele fica gritando meu nome.

Eu me esforço para ignorá-lo, mas ele não desiste.

— Jimin! Yoo Jimin!

Eu desisto e me viro para olhar para ele.

— O que você quer, Sunghoon? — sussurro sem querer chamar atenção.

— Eu... — Ele passa a mão pelo cabelo curto. — Eu acho que a gente precisa conversar sobre as coisas. Sei que você me odeia, mas a gente ainda tem um assunto pendente, Jimin. Você não pode me evitar para sempre.

— Você quer dizer do mesmo jeito que você evitou a Minjeong quando os dois estavam namorando?

— Eu sei que não lidei bem com a situação, mas as coisas eram complicadas demais para isso. E se você for esperta vai deixar de marra e escutar o que tenho a dizer.

— Quem você pensa que é para me dizer o que fazer?

Ele olha para mim e estreita os olhos. Baixa as sobrancelhas e solta um som como um rosnado.

— Eu não vou avisar de novo. Fique longe daquela garota — ordena, mas suas palavras não significam nada para mim. Ele não tem o foco nem a ética suficientes para se tornar alguém relevante na minha vida. Desse modo, o melhor é ignorá-lo.

— Você me dá nojo — declaro, virando-me para me afastar.

Não tenho disposição mental para ficar mais um minuto na presença desse cara.

— Por que você gosta tanto dela? — Pergunta Sunghoon, em voz nada baixa, forçando-me a olhar para ele.

— Como é que é?

— Aquela garota não merece ser feliz.

— Eu não estou acreditando no que estou ouvindo.

— Ela está te usando, Jimin.

Respiro fundo e cerro os punhos. Minha vontade é fazer ele engolir cada uma das suas palavras, mas eu não vou bater nele. Se eu fizer isso, vou ser tão ruim quanto ele.

— Parece que você entende bem desse assunto, não é? — retruco em tom sério.

— Você realmente quer ser mais uma na lista dela? Você não está sendo nada inteligente, Jimin.

Será que ele não vê? Como é irônico que Sunghoon — o desgraçado que não tem honra alguma — esteja me dizendo que eu estou correndo o risco de ser usada por Minjeong quando ele teve a cara de pau de fazer exatamente a mesma coisa com ela.

— Você não tem o direito de se meter na minha vida. Você não pode opinar sobre o que eu faço ou deixo de fazer com o meu tempo livre.

Vou embora antes que acabe fazendo alguma besteira da qual vou me arrepender.

Sunghoon é como um carrapato nojento do qual eu não consigo me livrar. Pior de tudo é que ele parece ser louco. É quase como se esperasse que eu simplesmente terminasse com a Minjeong só porque ele claramente está incomodado com a felicidade dela e quer acabar com isso a todo custo.

Quando entro na sala, Yizhuo me vê e rapidamente avança na minha direção.

— O que você estava fazendo conversando com o Sunghoon, Jimin? — Ela pergunta, preocupada.

— Ningning... — falo com os olhos arregalados. — Você estava vendo?

— Não, imagina. Não é nada disso — ela retruca, alisando o casaco. — Só estava passando pelo campus e por acaso acabei vendo vocês dois juntos.

Balanço a cabeça.

— Conheci esse cara no dia que trouxe Minjeong para visitar a faculdade. Desde que ele nos viu juntas parece que não consegue esquecer a minha existência.

Ela fica com os olhos arregalados, e eu vejo sua preocupação crescer.

— Sério?

— Sim, sério.

Vou para minha mesa e ela me acompanha

— Se você quiser, eu posso falar com ele.

— Por favor, não faça isso — peço rapidamente. — Eu não quero que você se envolva em problemas por minha causa.

— Mas você não merece ter que lidar com isso sozinha — ela argumenta. — Eu conheço o Sunghoon, ele é uma pessoa extremamente sinica e manipuladora. Qualquer um sabe que não quero criar problema na faculdade, mas você não merece ter que passar por isso! Tipo, se você...

— Ningning, deixe isso para lá, está bem? — Peço, claramente preocupada diante da ideia.

Ela franze a testa.

— Eu só quero ter certeza de que você está bem. Sei que o que aconteceu com Minjeong e Sunghoon foi bem complicado, e eu nem consigo imaginar o que está passando pela sua cabeça, sabe? Eu só não quero que o relacionamento de vocês seja prejudicado por conta dele. Sunghoon é uma pessoa horrível.

— Eu não vou deixar isso acontecer, Ningning — declaro com a voz séria. — E por favor, não comente nada disso com Minjeong. Eu não quero que ela tenha que lidar com nenhum problema agora.

— Só porque você quer protegê-la, não significa que precisa lidar com tudo sozinha.

— Yizhuo...

— Eu prometo que não vou contar nada para ela, Jimin. Essa é a última coisa de que Minjeong precisa agora, mas só quero que você tenha cuidado. Sei que você tem suas próprias questões pessoais, e não quero que ninguém traga mais confusão para sua vida.

— Você se preocupa muito, garota — brinco.

Ela sorri.

— Acredite, já me disseram isso antes.

— Obrigada, Ningning. Você é mesmo alguém especial.

Eu entendo bem por que ela se preocupa sobre Sunghoon estar se aproximando. Yizhuo conhece bem a pessoa que ele é de verdade.

Eu, por outro lado, quero descobrir aonde tudo isso vai terminar.

Quando saio da minha ultima aula no período da tarde, fico um pouco pensativa. Mando uma mensagem de texto para Minjeong e espero algum tempo antes de voltar para casa. Entendo que Sunghoon no fundo só quer acabar com a felicidade dela, mas uma parte de mim também sente que tem alguma coisa nessa história da qual ainda não tenho conhecimento.

Eu me esforço para não dar muita importância a isso. Minjeong tem o passado dela, e eu, o meu. Só é legal quando compartilhamos isso.

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