Karina's pov:
"Isso não é algo que eu quero que desapareça. Prometa que depois dessa dia outro começará."
O dia do festival das luzes enfim chegou. Eu tinha passado a tarde na faculdade por conta de um seminário, mas na volta fiz questão de dirigir até a ponte Bampo. Grande parte da cidade estava ocupada aprontando tudo, e eu tenho certeza de que a noite o evento vai ser incrível.
Minjeong e eu não tínhamos conversado sobre mais nada relacionado a isso, e a verdade é que eu estou atenta com isso. Eu tenho certeza de que nós vamos conversar antes de sair para se encontrar com as garotas, nós sempre fazemos isso por que ela precisa dessa segurança.
Pego minha jaqueta sobre a cama e saio do quarto. A julgar pelo horário imagino que Minjeong vá estar na biblioteca, mas fico surpresa ao encontrar sua mãe trabalhando ali.
— Ah! Desculpe, sra. Kim, não queria atrapalhar você. — Digo, caminhando de volta para a porta da sala.
— Está tudo bem, Jimin — ela avisa, erguendo o olhar do seu notebook. — Imagino que esteja procurando Minjeong, certo?
Assinto com a cabeça.
— Bem, sim. Ela costuma vir para a biblioteca todos os dias nesse horário. Então pensei que fosse encontrá-la aqui hoje também.
A Sra. Kim fica em silêncio por alguns instantes.
— Jimin. — Ela se levanta, com um olhar sério no rosto. — Acredito que você vá sair agora, mas... Podemos conversar um pouco?
Ela sabe que está acontecendo alguma coisa. Dá para ver em seus olhos.
Eu conheço bem essa sensação.
Fecho a porta da sala e me aproximo. Ela senta em uma das poltronas e pede para que eu faça o mesmo.
— Andei conversando com Hayun ultimamente para saber se está tudo bem por aqui. Querendo saber se Minjeong está indo bem. Mas fiquei surpresa com algumas coisas. — Ela diz, cruzando as pernas e me encarando com um olhar atento. — Fiquei sabendo que ela tem saído mais vezes e que tem aceitado a terapia de forma melhor. E pensei comigo mesma: O que ocasionou essa mudança? Minjeong não tinha a menor motivação para nada disso até algum tempo atrás.
Fico em silêncio, tentando decidir entre permanecer na sala ou sair correndo para fora dela. Mas a segunda opção me parece muito surreal.
— E de repente, Hayun comenta com quem minha filha tem feito essas coisas. — A Sra. Kim continua. — E me diz que ela vai levar Minjeong ao festival das luzes hoje. Adivinha quem é?
— Sra. Kim, eu posso explicar..
— Calma, Jimin — Ela diz, interrompendo-me. Eu ergo o olhar e vejo a expressão sorridente em seu rosto. Ela balança a cabeça. — Não estou aqui para discutir com você.
— Mas você já deve imaginar que está acontecendo alguma coisa entre Minjeong e eu, não?
— Sim. Mesmo assim, não estou aqui para discutir — ela insiste. — Confesso que quando concordei com Joohyun sobre sua estadia em Seul, meio que me perguntei se algo assim poderia acontecer. Então não estou completamente surpresa sobre o rumo das coisas entre você e minha filha.
Ela dá de ombros, ainda sorrindo. Mas eu estou sem reação.
— Eu sou uma pessoa com um passado complicado — argumento.
— Então, essa é uma coisa da qual nós duas já conversamos. Se você continuasse a seguir por aquele caminho, esse seria um problema, mas olhe! Eu te conheço há bastante tempo e sei que você é uma boa pessoa, Jimin. Além disso minha filha também tem um passado com o qual lidar.
A Sra. Kim continua e eu balanço a cabeça, incrédula.
— Como você consegue sempre se manter tão positiva? Com relação a minha pessoa?
— Ah, isso é fácil. Eu percebi o quanto Minjeong está diferente desde que você chegou. — Ela ri. — E eu queria conversar com você sobre ela, na verdade. Eu só quero pedir para você ser gentil com ela, está bem?
— O que você quer dizer?
— O coração dela... ainda está frágil. Minjeong já passou por mais do que ela mesma percebe, e não sei se ela vai aguentar mais um golpe.
Ela ama a filha e deixa isso bem claro com suas palavras. Taeyeon não está
gritando para eu ficar longe da Minjeong, só pedindo para eu ter cuidado com o coração e com a alma dela.
— Eu posso fazer isso — respondo.
— Promete?
— Prometo.
Ela sorri esfregando o braço direito com a mão esquerda.
— Eu também queria te agradecer.
— Pelo quê?
— Por dar uma chance a ela apesar do seu lado indiferente. Como você sabe, ela é uma boa pessoa uma vez que você consiga se aproximar verdadeiramente, e significa muito para mim você ter dedicado seu tempo para fazer isso.
— Não é uma via de mão única, Sra. Kim. Ela faz o mesmo por mim. Sempre que eu estou prestes a desmoronar, ela está lá para me pegar.
— Esse é o tipo de namorada que Minjeong é. Leal e sempre lá para você.
Meu coração palpita.
— Você acha que somos namoradas?
A Sra. Kim ri e levanta uma das sobrancelhas.
— Você acha que não? Dizem por aí que ela confia em você.
— Bem, sim...
— Eu não quero soar dramática nem nada — ela continua, inclinando-se na minha direção. — Mas as vezes sinto que ela não consegue confiar por completo nem mesmo em mim. Acho que você deve ser a pessoa favorita dela. Se fosse qualquer outra pessoa, eu estaria bem chateada, mas como é você... Vou deixar passar.
— Então, o que ela fazia nos dias do festival? Ela apenas saia para curtir com suas amigas?
— Não. Em geral, ela ia até a ponte Bampo e assistia ao show dos fogos de artifício.
— Sozinha?
— É. Lembro de ouvir Yizhuo reclamando sobre isso uma vez. Mesmo elas indo juntas ao evento, Minjeong sempre encontrava uma forma de fugir nesse momento. Ela gostava de fazer isso sozinha, eu acho. E tem dificuldade de quebrar esse padrão.
Bem, talvez tenha chegado a hora de alguém tentar quebrar esse padrão por ela.
\[...]
Quando encontro Minjeong na sala de estar, ela parece calma e indiferente, mas sei que é falso, porque eu a ouvi vagando pelo corredor na noite passada.
— Está pronta? — Pergunto.
Ela assente com a cabeça, seu lábio inferior preso entre os dentes.
— E então? Você sente que estou pronta?
Minjeong está usando um dos seus infinitos moletons largos e shorts que fazem um bom trabalho deixando suas pernas expostas. O visual casual cai muito bem nela e me faz perder o fio do raciocínio.
Depois de passar alguns segundos observando cada centímetro do seu corpo, respondo:
— Estou sentindo que você esta mais do que pronta.
Ela encontra meu olhar e sorri.
— E você se sente no direito de me secar desse jeito.
— Sinto que você até gosta.
Me aproximo e a puxo contra meu corpo, repousando as mãos em sua cintura. Ela corre as mãos pelas mangas da minha jaqueta até repousa-las em meus pulsos. Posso sentir as mãos dela tremerem. Ela parece determinada por fora, mas sei que se sente ansiosa sobre essa noite.
— Diga algo que eu precise me lembrar hoje. — sussurra.
Ela quer algo para se concentrar, algum conselho para que não escorregue em uma espiral de nervosismo pelas próximas horas.
Fico pensativa por alguns segundos enquanto ela se mantém em silêncio.
— Confie em você mesma. Não tenha medo de fechar os olhos e apreciar o momento. Quando você faz isso, fica tão natural. Você deveria ver o modo como brilha quando está superando as suas barreiras. — Inclino a cabeça e seguro sua mão, tocando meus lábios em seu pulso. — Você está pronta, Minjeong. Sem dúvidas nenhuma.
Ela segura meu rosto entre as mãos e, no instante em que fecho os olhos, sinto seus lábios macios e úmidos entrando em contato com os meus.
Levo a mão aos cabelos dela, afundando meus dedos em suas mechas com carinho, massageando sua cabeça enquanto retribuo o beijo.
Ela afasta-se alguns centímetros, depositando um último selar em meus lábios.
— Agora, eu estou pronta — ela sorri, enquanto me observa com olhos gentis e cheios de ternura.
Saímos de casa e vamos até a entrada da garagem, onde está o meu carro. Como Yizhuo e Aeri combinaram de nos encontrar no festival, tenho uma liberdade maior para conversar com Minjeong durante o trajeto.
Mesmo a uma certa distância do local do evento, posso perceber o número considerável de pessoas que já circula pelo local. Minjeong está se saindo muito bem em parecer tranquila, mas sua fachada de calma exibe rachaduras: ela fica ajeitando o cabelo que já está impecável e passando as mãos pelo short.
Dou-lhe um abraço apertado, um beijo casto em seus lábios, e então seguro sua mão na minha como uma forma de reforçar silenciosamente que ela não está sozinha.
Sei como esse momento é delicado, mas não posso culpá-la. Depois de ter passado pelo que ela passou, eu também teria relatado quanto a vir a esse festival.
Seguimos para entrada a passos calmos. Sempre que alguém se aproxima, fico alerta. Sempre que Minjeong aperta minha mão, eu sinto vontade de protegê-la. Ela não merece se sentir ansiosa ou desconfortável hoje. Ela merece uma noite tranquila para relembrar de como a vida ainda pode ser bela mesmo no caos.
Encontramos com as garotas cerca de vinte minutos depois e posso perceber como Minjeong parece se sentir mais relaxada com a presença delas. Não demora muito para que Yizhuo e Aeri entrem no espírito da noite. Ao que parece elas estão bem interessadas em aproveitar o festival o máximo possível.
Por uma hora conseguimos nos divertir andando entre as barracas e apreciando cada uma das atrações — sem deixar a culinária de lado, claro — até Aeri e Yizhuo descobrirem que compartilham do mesmo interesse por jogos.
E tenho que admitir, elas estão totalmente no clima para ganhar prêmios. Nós mal saímos de uma barraca e elas já se afastaram para mais uma.
Desvio o olhar e encontro um par de olhos castanhos me encarando com ternura.
— Minjeong... — Digo quase em um sussurro. — Você confia em mim, certo?
Ela arqueia uma sobrancelha, mas assente com a cabeça.
— Por que está me perguntando isso?
— Por que gostaria que você me acompanhasse à um lugar — Digo, estendendo a mão para ela. — Por favor.
Minjeong parece confusa, mas segura minha mão. Avanço por entre as pessoas, sentindo como ela agarra meu braço sempre que se sente mais ansiosa. Eu não digo nada durante o caminho, principalmente porque quero levá-la logo para um lugar mais tranquilo. Embora se esforce para não demonstrar, eu sei o quanto ela está lutando contra suas emoções nesse momento.
— O que você estamos fazendo aqui? — Pergunta Minjeong quando chegamos a ponte Bampo, que tem um fluxo bem menor de pessoas.
— O que parece que estamos fazendo? Vamos assistir à queima de fogos daqui. — Digo e ela me lança um olhar inquisidor.
— Deixa eu adivinhar. Alguma das garotas te falou que eu gostava de fazer isso.
— Na verdade fiquei sabendo através da sua mãe — Abro um sorriso radiante e coloco a mão no seu ombro. — Então vamos ficar.
— Espera, o que? — Ela diz, franzindo a testa. — Você só pode estar brincando.
Levo a mão ao peito, fingindo estar magoada.
— É nisso que você está pensando? Mesmo depois de eu vir aqui por você? Isso é muito rude. Só queria um lugar legal para assistir à queima de fogos.
Minjeong revira os olhos.
— Não começa, Jimin. Quando minha mãe conversou com você sobre isso?
— Pouco antes da gente vir para o festival.
Ela suspira.
— É claro que sim. Como foi a conversa? — Pergunta. Eu dou uma risada.
— E desde quando você se importa com essas coisas?
— Eu não me importo, mas estamos falando da minha mãe, então preciso perguntar.
Envolvo meu outro braço em sua cintura, abraçando-a por trás enquanto descanso a cabeça em seu ombro. Respiro fundo, sentindo uma calma repentina. Espere um pouco, qual foi mesmo a última vez que eu me senti assim com outra pessoa?
Eu nem me lembro.
— Foi uma conversa bem tranquila. Sua mãe só queria saber como estavam as coisas entre a gente. — E eu conto a ela sobre a minha breve conversa com a Sra. Kim e o que isso significa para mim.
— Estou surpresa — ela diz. — Eu pensei que ela fosse discutir com você.
Assinto devagar.
— Eu também. Mas sua mãe não me parece o tipo de pessoa que entra em uma discussão sem motivos claros. Além disso ter essa preocupação com o bem estar da filha é algo natural.
— Acho que foi minha mãe quem te ganhou e não o contrário — comenta Minjeong, fazendo-me sorrir um pouco. — Mas ultimamente não conversamos muito, então não posso afirmar isso.
— Bem, vocês podiam tentar mudar isso. Nunca é tarde para recomeçar.
— É... Talvez. Só estou um pouco cansada de decepcionar minha mãe.
— Às vezes você precisa decepcionar as pessoas para se curar — argumento.
— Talvez — ela responde, ainda incerta.
— Você vai chegar lá — digo. — Você vai chegar ao ponto em que não se importa com o que as outras pessoas pensam.
— Parece um ótimo lugar para se estar.
— Pode acreditar quando digo que é.
Ela se vira para mim e olha diretamente em meus olhos.
— Você realmente é diferente de tudo o que eu imaginei. É muito melhor.
— Ah, fala sério, Minjeong. Achei que já tinha provado para você o quão incrível eu sou — brinco passando a mão nos cabelos.
— Foi mal, eu... foi uma coisa realmente gentil que você disse, Jimin. Obrigada.
— Eu só disse a verdade.
Ficamos ali em silêncio e não demora muito para o grande show começar.
Se há uma coisa que a cidade de Seul faz muito bem — além de se desenvolver — é organizar um show de fogos de artifício.
— Esse festival das luzes foi o último momento feliz que passei antes daquele dia — conta Minjeong, olhando para o céu que se ilumina. — Fiquei aqui comendo picolé e doces, enquanto assistia ao show. Fiquei em silêncio e eu me lembro de ter me sentido inteira, tipo, como se, pela primeira vez em muito tempo, tudo ficaria bem. Eu sei que uma tragédia aconteceu logo depois disso, mas naquele momento, o mundo estava parado. Naquele momento, eu estava feliz.
— É nessas coisas que você deve se prender. Em momentos como esse.
Ela abre um meio sorriso.
— Este é um bom momento — ela comenta com voz baixa enquanto volta a olhar para os fogos.
É sim.
— Então, Jimin, nós somos... namoradas?
Reviro os olhos de forma dramática.
— Não faça isso, Minjeong. Sério mesmo.
— Fazer o quê?
— Ser óbvia.
— E como é que eu estou sendo óbvia?
— Você não sai por aí perguntando para a garota que é caidinha por você se ela é sua namorada. Ela simplesmente vai responder que sim.
— Ah. — Ela assente devagar, olhando para o céu. — Então a gente simplesmente... é?
— Isso. — Digo, beijando seu pescoço de leve. — A gente simplesmente é.
Eu não digo para ela como me sinto bem só por estar com ela.
Enquanto olha para o céu, sua voz fica mais baixa.
— Eu sei que não sou a pessoa mais fácil do mundo. Sou um pouco fria e difícil de ler, então obrigada.
— Por que você está me agradecendo?
— Por ter entrado na minha vida. Eu nunca soube que precisava de você, mas eu precisava. Eu preciso. — Ela se vira para mim com um sorriso, aquele que sempre faz meu coração acelerar. Kim Minjeong não sorri muito, mas, quando o faz, parece que está dando um presente secreto só para mim. — As únicas pessoas importantes que tive na vida foram meus pais e minhas amigas, sabe? Agora, tenho você.
— Você quer saber um segredo? — Pergunto.
— Quero.
— Eu acho que você é a pessoa mais graciosa que já conheci.
Ela ri.
— Duvido.
— Não, é sério. Não estou falando da pessoa que você mostra para a os outros, mas sim de quem você realmente é, uma pessoa que se importa com os outros, que abraça uma garota que está se sentindo perdida, alguém que não desiste por mais difícil que seja continuar. Você é a pessoa mais graciosa que eu já vi.
— Jimin?
— O que, Minjeong?
— Você torna as coisas muito difíceis para mim.
— Que coisas?
— Querer me afastar.
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