17
Karina's pov:
"Você não sabe disso, mas nesse instante, fico feliz por estar ao meu lado. Eu estava desesperada por alguém que ficasse comigo."
Minjeong é diferente de tudo que eu imaginei quando a conheci cerca de um mês atrás. Ela é boa, gentil, engraçada e o completo oposto da garota esnobe, grosseira e egoísta que eu pensei que fosse.
Isso foi incrível de se descobrir.
Minjeong está trilhando o caminho da autodescoberta enquanto eu estou trilhando o caminho de me desprender do meu passado para fazer o que existe entre nós da certo.
E enquanto ela aprende sobre si mesma, eu aprendo sobre ela também.
Minjeong é estranha, corajosa, despedaçada e, ao mesmo tempo, inteira. Eu nunca conheci alguém que tinha sido despedaçado e, ainda assim, consiga se manter inteiro.
Para ser bem sincera, estou apaixonada por ela.
Isso é estranho também — tipo, eu me apaixonar por uma pessoa. Eu não sei muito bem o que isso significa. Se aprendi alguma coisa sobre sentimentos, é que eles não fazem o menor sentido. Então, eu me mantenho ocupada na faculdade. Quando minha mente está mergulhada no universo da literatura, eu consigo me desligar do mundo à minha volta.
Mas não consigo afastar a imagem dos olhos dela do meu pensamento por muito tempo e nem quero isso.
Quando escuto um movimento a minha frente, ergo a cabeça e fecho o livro que estou lendo na biblioteca. Park Sunghoon está parado ali com as mãos enfiadas nos bolsos. Lembro da rápida conversa dele com Minjeong uma semana atrás. Fico tensa. O cara já despertou o meu pior.
Recosto-me na minha cadeira e arqueio uma das sobrancelhas.
— Estou ocupada.
— O quê? Mas você só está lendo um livro — ele comenta.
— Pois é. Acho que estamos em uma biblioteca. Então estou ocupada e você pode dar o fora e levar sua presença para outro lugar.
— Eu não estou aqui para te fazer companhia. Estou aqui para falar sobre a Minjeong — ele declara. — Eu sou o ex namorado dela, Sunghoon.
— Não estou nem aí — respondo secamente.
— Como é?
— Eu não estou nem aí para quem você é. Você machucou a Minjeong, então dá o fora daqui.
— Garota, você não sabe onde está se metendo. Eu provavelmente estou te fazendo um favor vindo aqui conversar.
— Você está tentando causar hoje, ou é só imbecil mesmo? Sai fora.
Ele não sai.
— Preciso que você fique longe da Minjeong — ele declara.
— E com que direito você acha que pode me pedir isso?
Sunghoon parece bem o tipo de babaca com que Minjeong namoraria. Ele está parado aqui como se fosse o dono da razão, usando um blazer que provavelmente custou mais do que todo o meu guarda-roupa. Se aquela garota fosse se apaixonar um dia por um garoto, ele seria esse falso cavalheiro encantador. Ele e eu somos diferentes de quase todas as maneiras possíveis.
Não posso deixar de me perguntar como Minjeong demorou tanto tempo para perceber quem ele realmente é.
— Veja bem — ele começa. — Ela e eu tivemos uma longa história juntos.
— Você terminou com ela da pior forma possível. Acho que isso significa que não tem nada que seja do meu interesse.
— Não aja como se entendesse toda a história quando você só conhece alguns capítulos.
— Eu não estou nem aí para a história. Não estou nem aí para você.
— Mas deveria estar! — Ele grita, chamando a atenção de algumas pessoas. Obviamente, meu comentário o irritou. — Ela só está te usando. Minjeong nunca ia se apaixonar por alguém como você.
— Alguém como eu?
— Você sabe... — As palavras morrem em sua boca e ele dá de ombros. — Você não é o tipo dela.
— Ela deve gostar mais de covardes babacas.
— Não aja como se você conhecesse a mim ou os motivos que me levaram a terminar com ela. Nós já passamos por muito mais coisas do que você possa imaginar. Então, faça um favor a si mesma e fique bem longe dela.
— Não.
Ele arqueia uma das sobrancelhas.
— Como é?
— Eu sou uma adulta. Acho que sou capaz de fazer as minhas próprias escolhas. Agora, me deixe voltar para a minha leitura antes que você não consiga mais fazer isso sozinho.
Ele solta um assovio baixo.
— Você é bem nervosinha, não é? Tudo bem. Estou indo. Mas, se você for esperta, vai se manter bem longe da Minjeong.
— Eu nunca fui conhecida por ser esperta — retruco.
Ele assente com a cabeça e se vira para ir embora. Mas qualquer concentração que eu pudesse ter acabou depois dessa interação. Em minha mente surgem muitos questionamentos sobre o que ele falou, mas obrigo-me a ignorar cada um deles.
Guardo meu material e saio da biblioteca, decidida a passar um tempo nos jardins. Mas antes que faça isso, meu celular começa a vibrar no bolso da calça. O nome de Seulgi aparece na tela. Minhas mães andaram quietas demais na última semana, o que normalmente significa que andaram ocupadas com o trabalho. Quando atendo, sinto um pouco de paz ao escutar a voz familiar da minha mãe.
— Espero não estar te atrapalhando — ela diz do outro lado da linha. — Sei que nesse horário você costuma estar na faculdade, mas eu estava com saudades da minha filha.
Sorrio.
— Você está com sorte, mãe. Sua filha tem o próximo horário livre e está a disposição para conversar.
Escuto sua risada baixa.
— Então, como estão as coisas em Seul?
— Estão uma loucura — digo com voz baixa. — Com essa coisa da faculdade e o início dos projetos de semestre.
Deixo que minha mãe fique ciente da minha grade curricular, por que prefiro compartilhar essas informações a contar o que está acontecendo no âmbito emocional da minha vida. Ao menos por enquanto.
— Como andam as aulas? — Ela pergunta.
— Ótimas — digo. — O professor do curso de estudos literários é um figurão do ramo. É ótimo conhecer alguém que de fato trabalha na área e conhece tudo.
— Fico feliz por isso — ela diz em tom gentil. — Já foi difícil o bastante ver você ir embora para a Yonsei University, imagina se não estivesse gostando do seu curso.
— E como andam as coisas por aí? — Interrompo, sentando-me em um banco nos jardins e tentando não pensar na última vez que tivemos essa conversa.
— Está tudo bem aqui em casa — minha mãe diz. — As coisas estão um pouco mais devagar na empresa, então sua mãe e eu conseguimos passar mais tempo juntas.
Respiro fundo e encaro o céu ensolarado. Sei que ela espera que eu comente mais alguma coisa, mas não consigo. Lembrar de casa inevitavelmente me trás algumas recordações indesejadas. O silêncio cresce, até que minha mãe finalmente o quebra.
— Joohyun conversou sobre Minju com você, não foi? — Ela pergunta, com delicadeza.
— Tem algum tempo... Minha mãe disse que se encontrou com a Sra. Kim na empresa e que ela acabou comentando sobre a condicional da filha.
Escuto sua respiração pesada.
— Encontrei com a própria Minju há alguns dias no cais — ela diz, deixando-me completamente surpresa.
— O quê?
— Não se preocupe, ela não tentou se aproximar.
Eu não respondo porque não sei o que dizer.
— Não quero que você fique pensando nisso, está bem? — Minha mãe diz. — Só entrei nesse assinto porque sei que em algum momento você ia acabar descobrindo. Mas nós duas sabemos que Minju é sinônimo de problema e não quero que você passe por tudo aquilo outra vez.
— Sim, eu sei. — E minhas mães também sabem. Elas sabem que a partir do momento em que permiti que Minju entrasse na minha vida tudo saiu dos eixos. Elas sabem que eu havia me deixado se levar pela sua falsa promessa de felicidade e me entregado ao torpor provocado pelo álcool. Elas sabem que quase acabei com a minha vida quando perdi o controle.
Mas elas não sabem como foi minha última conversa com Minju, como seu corpo tremia enquanto estava sob os efeitos da droga. Elas não sabem como ela havia despertado o pior que há em mim naquele dia, ou em como nossa conversa quase se transformou em violência gratuita. Fecho os olhos.
Lá está ela, provocando minha sanidade. Por que eu fui tão idiota ao ponto de me envolver com alguém assim?
Sai dessa, Jimin.
– Está tudo bem, mãe. – Minto. – Você não precisa se preocupar com essa questão.
– É que eu sempre penso no quanto isso pode te afetar – Ela diz quase em um sussurro. – Então, por favor, não hesite em compartilhar as coisas comigo. Sua mãe e eu estamos a apenas uma ligação de distância.
Depois que ela desliga, respiro fundo e puxo a pulseira de borracha no meu punho. Minha mente está um turbilhão enquanto eu tento controlar meus pensamentos. Minju é a pior pessoa para mim, a única que realmente consegue me afetar e me fazer duvidar de todas as escolhas que eu já fiz.
Eu quero esquecer...
Meu coração dispara no peito, minha visão começa a ficar embaçada e começo a respirar com dificuldade.
Eu quero esquecer...
Puxo a pulseira.
Você não é assim, Jimin. Mantenha-se firme e forte.
Minju é o meu pior pesadelo, e eu odeio o fato de que, quando olho nos olhos dela, vejo meu próprio reflexo olhando para mim.
— Droga! — Exclamo, passando a mão pelo cabelo enquanto me levanto do banco e vou para o estacionamento. Não tem a menor chance de eu continuar na faculdade agora... Nesse momento eu preciso ir para o único lugar que pode me fornecer o que preciso.
\[...]
A casa está silenciosa quando entro, o que talvez seja bom nesse momento. Jogo minha mochila de lado e me sento no degrau da escada, ouvindo atentamente para ver se alguém aparece. Fico ali por alguns minutos, e a única vez que me mexo é para ver as horas no meu celular. Eu não consigo ir para o meu quarto por medo do que meus pensamentos podem me levar a fazer.
— Jimin? — Chama uma voz baixa, me fazendo desviar a atenção das minhas mãos, para as quais eu estava olhando nos últimos minutos. Minjeong está parada ali, com um sorriso suave no rosto. — O que você está fazendo aqui?
— Eu sai mais cedo da faculdade...
Seu sorriso desaparece, sendo substituído por uma expressão atenta.
— Aconteceu alguma coisa?
Respiro fundo.
— Está tudo bem. Eu sempre estou bem.
Ela faz uma careta.
— Você não me parece bem agora.
Fico em silêncio.
Minjeong desce os degraus e estende a mão para mim. Hesito por alguns instantes, mas acabo aceitando seu convite silencioso. Para minha surpresa, vamos para o meu quarto. Ela não diz nada quando nos deitamos na minha cama. Talvez não saiba o que dizer ou talvez sinta que só precisa ficar um pouco em silêncio. Estar em seus braços nesse momento parece estranho, como um refúgio que eu nem sabia que queria.
— Eu odeio maçã. A não ser que estejam picadas em tiras — ela diz, por fim, e eu ergo a cabeça em sua direção. — Sei que mágica não existe, mas sempre que vejo um truque muito bom, fico completamente chocada. Sou péssima jogando Uno, mas sou o máximo em Banco Imobiliário.
— Informações aleatórias? — Pergunto.
— Sim. Para você se sentir mais confortável.
A cada momento que passa, eu me sinto mais apaixonada por ela. Respiro fundo.
— Eu adoro kpop e música clássica na mesma medida. Eu escrevo poesias. Passo no café perto da faculdade pelo menos três vezes por semana e, às vezes, quando o dia está particularmente ruim, eu saio para correr no parque.
Ela respira fundo.
— Eu chorei em todos os filmes da Marvel.
— Eu ainda choro quando assisto ao Rei Leão.
Ela abre aquele sorriso bondoso, capaz de fazer a pessoa mais triste do mundo se sentir um pouco melhor.
— Eu acho que você é uma boa pessoa.
— Acho que você é melhor — respondo. Engulo em seco e olho para a minha mão. — E acho que minha vida fica mais fácil quando você está comigo.
— Ah — ela diz suavemente, olhando para mim. — Então acho que é uma coisa mútua. Mais fatos.
— Reais ou de bobeira?
— Acho que coisas reais são boas — ela responde. — Eu gosto de real. Só não sabia se você gostaria de compartilhar esse tipo de coisa.
— Eu não gosto.
— Tudo bem, então compartilhe o que você quiser.
Respiro fundo e sinto a mão dela roçar de leve na minhas costas, mas não digo nada. Passa-se um longo período de silêncio antes de eu reunir coragem para falar de novo. É como se meu cérebro estivesse avaliando quão real eu quero ser com ela. Nós estamos basicamente deslizando pela superfície de verdades sem realmente mergulhar nelas.
— Minha mãe me ligou hoje enquanto eu estava na faculdade — revelo. — Ela andou bem ocupada com o trabalho na última semana, então queria saber como eu estava. Durante nossa conversa, ela acabou me contando que viu minha ex pela cidade.
Ela me encara, surpresa.
— Mas você não disse que ela estava presa?
— Bem, sim... Mas pouco tempo depois que me mudei para Seul, fiquei sabendo que ela estava respondendo em liberdade.... e agora eu não sei o que esperar disso, Minjeong. Acaba comigo saber que minhas mães já passaram por tanta coisa e que meu passado possa acabar envolvendo elas em ainda mais problemas.
Ela me abraça com mais força, e sinto seu cheiro, seu perfume.
— Estou preocupada com você — ela sussurra junto ao meu corpo.
Abro um meio-sorriso.
— Não sei o que fazer, Minjeong. Está tudo uma bagunça.
— Então conversa comigo.
Eu suspiro, abraçando seu corpo.
— Você merece tantas coisas, Minjeong. Mas você não merece se envolver na confusão que é a minha vida. Você merece uma chance de ter um recomeço de vida normal. Falar sobre meus problemas só vai acabar complicando as coisas.
Ela se afasta de mim, franzindo a testa.
— Pare com isso, está bem? — Diz com firmeza. — Pare de me dizer o que mereço. Não me importo com essas coisas. Não há nada de normal na minha vida. Mas o que temos... o que estamos criando é especial. E eu não quero ser a única a se beneficiar disso.
Fico em silêncio, absorvendo cada uma das suas palavras com todo o meu ser.
— Minhas mães mudavam muito de cidade por conta do trabalho, então eu nunca tinha oportunidade de criar laços com outras pessoas. A primeira vez que isso chegou perto de acontecer foi quando conheci Minju... — sussurro.
Ela fica em silêncio, esperando que eu continue.
— Confesso que essa minha necessidade de pertencer à algum lugar foi minha ruína. Nunca me senti completamente confortável com aquele relacionamento, mas Minju me fornecia a falsa felicidade de que eu precisava. Acontece que não demorou muito tempo para que eu descobrisse o problema que tinha nas mãos.
— Você se refere àquela questão das drogas? — Ela pergunta.
Eu não respondo. Temo entrar em mais detalhes do que estou interessada em revelar.
— Jimin... — ela insiste, aproximando-se de mim.
Respiro fundo.
— Com alguns meses de relacionamento, descobri que Minju não apenas usava, mas como também estava envolvida em um esquema de venda de drogas — Digo. Ela fica em silêncio, finalmente entendendo parte da minha história. — Depois de muitos conflitos, acabamos terminando. E quando Minju foi presa, eu achei que essa história ficaria no passado. Estava enganada.
Eu estou fazendo isso com ela, eu estou a envolvendo nessa situação. A preocupação fica estampada em seu olhar e o sentimento de culpa embarga o meu ser.
— Eu não quero te envolver nisso — Enterro a cabeça em seu peito e fecho os olhos. — Diga alguma coisa para mudar de assunto — imploro. — Diga qualquer coisa para fazer parar esse turbilhão que está na minha cabeça.
Minjeong respira fundo e de repente começa a me contar de quando Ningning a arrastava para algumas confusões na época do colégio.
Eu rio na hora. Preciso disso. Preciso dela ao meu lado para me afastar um pouco da escuridão.
— Mandou bem — falo, soltando o ar e relaxando os ombros.
— Sinto muito por sua ex.
— Tudo bem.
— Você acha que vai conseguir ficar bem algum dia?
— Não sei. Acho que sim. Mas realmente não sei.
— E quanto ao seu coração? — Minjeong pergunta. — Ele está bem?
— Você está aqui, então ele vai ficar bem.
— Ah, Jimin... — Ela baixa a voz, e quando inclino a cabeça para cima, nossos lábios se tocam.
Não dissemos mais nada, mas ela não sai do meu lado por um bom tempo. Minjeong não sabe disso, mas, nesse momento, fico muito feliz por ela ter ficado. Eu estava desesperada por alguém que ficasse comigo.
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