16
Winter's pov:
"Não, você não é uma pessoa inconsequente. Você é a pessoa que me lembra o quanto ainda estou viva."
Em uma tarde de segunda-feira, Jimin aparece no meu quarto depois da faculdade. Leva apenas alguns segundos antes que eu vá ao seu encontro, e ela me envolva em seus braços enquanto eu sinto que encontrei um novo lugar de paz.
Ela me leva para minha cama e me deita, então começa a mexer em torno de meu quarto, procurando através das pilhas de livros. Quando encontra um que ainda não lemos, ela se deita ao meu lado e abri-o para a primeira página.
Ela lê para mim enquanto eu escuto atentamente. Ela lê para mim enquanto as horas passam lá fora. Ela lê para mim enquanto meus batimentos cardíacos acalmam. Ela lê para mim quando meus olhos ficam pesados. Ela lê para mim enquanto eu adormeço.
Sonho com sua voz lendo para mim um pouco mais.
Quando acordo algum tempo depois, ela ainda está aqui. Quando olho para sua expressão adormecida, algumas partes de mim se perguntam se ela realmente é real, mas ela me dá provas suficientes para me dizer que sim.
Eu estou apaixonada.
Não estou certa quando aconteceu. Eu não tenho certeza se é um grupo de momentos coletados ao longo do tempo ou simplesmente os atos heroicos que ela realiza sempre que me impele a sair da minha zona de conforto, mas não importa. Não importa quando, ou por que, ou como aconteceu. Não importa se está certo ou errado.
Esse sentimento não vem com orientação. Não há uma lista de regras a seguir, certificando-se de que você se importa com ele corretamente. Ele simplesmente aparece em silêncio, rezando para que você não deixe escapar.
E enquanto observo ela dormir na minha cama, tento me convencer de que não há razão para fugir. Não há razão para pensar nos problemas dela, ou nos meus, ou em qualquer outra coisa além do fato de que eu a quero ao meu lado.
Respiro fundo e me sento na cama. Seu corpo está relaxado e seus dedos agarram o livro que estávamos lendo.
Devo acordá-la? Minha vontade é observar silenciosamente essa cena por mais algum tempo. Mas a ideia de que minha mãe apareça de surpresa no meu quarto me parece preocupante.
— Jimin.
Ela se mexe.
— Jimin — repito, mais alto dessa vez.
Ela fica quieta, mas sua respiração continua constante. Com delicadeza, coloco a mão em seu ombro. — Acorda.
Seus olhos se abrem, e seu corpo fica imóvel.
Fico parada também, deixando que acorde. Espero a tensão em seu corpo diminuir e sua respiração ficar mais regular, mas é quase como se o ar ficasse pesado no momento em que ela percebe onde está.
Seus olhos encontram os meus.
— Estou vendo que acabei adormecendo aqui — Jimin diz, com a voz rouca.
Assinto com a cabeça, com medo de que, se falar, vou estragar o momento. Então, ela vai se levantar, pegar suas coisas e voltar para o seu quarto.
Não sei quem faz o primeiro movimento. Em um momento, estou me esforçando para não olhar para sua boca e criando coragem para perguntar se quer continuar aqui comigo; no outro, estou debaixo dela.
Deveria estar surpresa, mas não estou. Acho que, no instante em que deixei Yoo Jimin entrar na minha vida, eu sabia que as coisas seguiriam por esse caminho. Ela se apoia no braço esquerdo, passando os dedos da mão direita do meu rosto até o pescoço. O movimento lento continua, descendo pela minha clavícula.
— Não imaginei que fosse adormecer no seu quarto — Jimin sussurra, acompanhando o movimento dos dedos com o olhar.
Toco seu rosto com a mão.
— Mas foi o que aconteceu — digo, passando os dedos por seu queixo, maravilhada com a sensação da sua pele.
Jimin não diz nada, apenas continua me encarando. Mas seus olhos castanho-esverdeados me perguntam o que ela não tem coragem de falar em voz alta.
Minha resposta também vem sem a ajuda de palavras. Mas eu deixo bem claro o que eu quero.
Escorrego a mão por sua nuca, sentindo a maciez de seus cabelos. Ela se aproxima e não há nenhuma provocação quando seus lábios abrem os meus e sua língua busca a minha quando escorrega para dentro da minha boca. Solto um leve suspiro, enlaçando seu pescoço com os braços conforme ela se coloca por cima de mim, pressionando meu corpo contra a maciez do colchão.
A mão dela encontra minha cintura e me acaricia suavemente por cima do tecido da blusa. Jimin mostra um gentileza que eu não esperava, não me toca de forma indelicada e não avança sem permissão.
Minhas mãos passeiam sem descanso por seus ombros e suas costas, amando a sensação do tecido sobre sua pele.
— Minjeong — ela sussurra, se afastando. — O que estamos fazendo?
Tento dizer a ela que também não sei, mas sua boca se move para meu pescoço e ela passa sua língua lentamente sobre ele, sugando-o suavemente, até que não consigo nem pensar, quanto mais falar. Se continuarmos assim, vamos acabar cruzando um limite muito importante. E eu tenho pensado em cruzar. Quero ficar em seus braços, mas tenho medo do que pode acontecer depois.
Então coloco minhas mãos sobre seus ombros e empurro seu corpo.
— Jimin.
— Minjeong — ela sussurra de volta, passando os lábios pela minha clavícula. Sinto um aperto no coração. Droga, por que tenho que ser tão complicada.
— Jimin. — Minha voz é mais firme agora, assim como minhas mãos em seus ombros. — Não podemos continuar.
— Por quê? — Seus lábios continuam na minha clavícula, e eu quase perco toda a determinação.
— Você sabe por quê — respondo.
— Na verdade, não consigo pensar em nada no momento.
Porque não nasci para ficar com alguém. Não assim. Não sem ter certeza do que realmente está acontecendo entre nós. Mas principalmente, porque não quero cometer com ela nenhum erro do qual possa vir a me arrepender.
Ela levanta a cabeça de leve, e a expressão em seu rosto é tão terna que tenho dificuldade de assimilar.
— Tudo bem — ela recua, sentando-se na cama e evitando me encarar.
Sento e a observo. Meu coração aperta ao notar que ela interpretou errado minha reação. O sorriso em seu rosto evapora, substituído por uma expressão preocupada. Ela acha que fez algo errado.
— Desculpa, Minjeong... — culpa enchem seus olhos e quando ela começa a se afastar de mim, eu giro-a de volta, tomando suas mãos nas minhas.
— Jimin — sussuro. — Não é o que você está pensando.
Ela balança a cabeça.
— Eu não deveria ter me deixado levar dessa forma. Prometi que não ia deixar você em nenhuma situação desconfortável e olha o que estou fazendo.
Droga. É por isso que não deveria ter deixado as coisas seguirem por esse caminho. Toda vez que isso acontece, causa mais mal do que bem.
— Sou eu, está bem? — Digo, soltando sua mão e enfiando nos meus cabelos embaraçados. — Eu sou o problema, não você.
Ela fica em silêncio por alguns segundos, observando meu rosto. Vejo o momento exato em que percebe que estou dizendo a verdade, que não é sua culpa eu me sentir insegura sobre isso.
— Bom — Jimin diz de forma gentil — isso é verdade. Você tem mesmo algum problema. Seu cabelo está bagunçado e sua roupa está amarrotada.
Lanço um olhar incrédulo para ela, mas deixo escapar uma risada.
— Você realmente está falando disso?
Ela dá de ombros, mas acho que vejo um esboço de sorriso em seu rosto.
Arqueio uma sobrancelha.
— Da próxima vez que eu decidir acordar você, prometo colocar uma roupa de grife e fazer um penteado nos cabelos.
— Se fizer isso, vou achar que morri e fui direto para o céu. — Ela diz, olhando fixamente para mim.
Sinto minha face esquentar.
— Quer me dizer o que está te incomodando? — Jimin pergunta, se espreguiçando. O movimento faz sua camisa levantar, revelando alguns centímetros da pele da sua barriga.
Me forço a desviar o olhar.
— Desculpa, mas eu não...
— Tudo bem — ela diz, sorrindo de forma singela. — Já sei que não vai querer me contar, então deixa para lá.
Respiro fundo.
— Só acho que estou pensando demais em tudo.
O sorriso dela desaparece.
— Sobre nós? — Ela pergunta com voz baixa, enquanto coloca o meu livro de lado. — Ou sobre o seu passado?
O ambiente fica em silêncio. Olho para minhas mãos, e Jimin suspira, reconhecendo os sinais de quando estou me fechando. Mas, então, sou surpreendida quando ela diz:
— Não preciso que me conte tudo, mas acho que você vai se sentir melhor se conversar um pouco sobre isso.
— Eu sei, mas isso não é tão fácil quanto parece. Venho guardando meus problemas apenas para mim mesma por tanto tempo que acabei me acostumando.
Jimin abre um sorrisinho. Então, em vez de insistir, ela beija o topo da minha cabeça e começa a se arrastar para a beirada da cama. Sei o que está acontecendo aqui; ela vai me deixar sozinha para evitar uma situação desconfortável. Mas eu não quero isso. Não agora.
Seguro seu braço e ela congela, porque é um pedido silencioso.
— Não quer ficar sozinha? — Ela pergunta.
Respiro fundo, e assinto com a cabeça enquanto solto o ar. Eu nem consigo responder.
— Sinto muito por você estar sofrendo tanto — ela diz.
— Está tudo bem.
— Não está, não.
Ela está certa, não está nada bem, e eu não tenho certeza se um dia voltará a estar.
— Você tem razão sobre eu me abrir sobre meus problemas. Todo mundo me diz isso e eu sei que só não estão insistindo para que eu não me sinta desconfortável. Eles se preocupam com meus sentimentos. Só querem que eu recupere minha vida.
— Eu sei. E mesmo que fique incomodada comigo, eu não acho que é de espaço que você precisa sempre.
— Tudo bem. Eu só... Só parece que sempre que eu falo sobre o incidente, as imagens daquele dia ficam mais vividas, sabe? Eu sei que preciso encarar isso de frente se quiser recomeçar, mas acabo revivendo o que aconteceu, e não gosto disso. Minha mãe não comentou nada com você, né?
— Não acho que ela sinta que tem o direito de comentar, Minjeong.
Respiro fundo.
— Todo mundo só sabe aquilo que está no meu depoimento.
Ela pigarreia e curva um pouco os ombros.
— Mas aquela foi uma questão prática da justiça — declara, com voz calma, olhando direto nos meus olhos. — Você só relatou o que viu, não como se sentiu. Ninguém sabe como aquilo te afetou internamente, ninguém sabe o quão seu coração e mente estão machucados. Mas se você se dispor a falar sobre isso, acredito que algumas pessoas vão querer te ouvir. Eu sou uma delas.
— Por quê você insiste tanto em me ajudar? — Pergunto.
Ela esfrega a mão no pescoço e dá de ombros.
— Por quê eu sinto que você precisa disso e quero ser a pessoa que vai ouvir a história do seu coração.
Ah, Jimin...
Primeiro ela foi irritante, agora é surpreendentemente doce.
— Eu não sei como falar sobre isso — confesso. Eu não faço ideia do que posso falar.
— Qual é a parte mais difícil para você? O que mais faz você sofrer?
— Ah, essa pergunta é fácil. — Baixo a cabeça e me abraço. — Os pesadelos, e logo em seguida estar sozinha. Eu não sei como lidar com isso. Quando comecei a fazer terapia, eu realmente acreditei que fosse superar tudo em pouco tempo. E quando percebi que isso não aconteceria, achei que o melhor seria desistir de tentar. Mas as pessoas a minha volta nunca permitiriam que isso acontecesse. E no fundo eu não conseguiria suportar isso. Magoar as pessoas que amo dói.
— E por isso você continua se permitindo acreditar — ela completa.
Assinto com a cabeça.
— Um dia quero contar tudo a você — sussurro, passando a mão de leve no rosto dela.
— Você pode fazer isso, sabe? — Ela diz e sinto um frio na espinha diante da intensidade do seu olhar. Ela se inclina e beija meu pescoço amorosamente. — Você pode confiar em mim para compartilhar seus segredos.
Que pensamento maravilhoso.
— Obrigada por isso... por me ajudar.
Ela me dá um meio sorriso.
— Você quer ficar sozinha agora?
— Não.
— Certo — ela declara, se jogando na minha cama. — Então acho que vou ficar aqui por mais um tempo.
— Antes de qualquer coisa — digo em tom sério — você precisa saber que não estou acostumada a dormir de conchinha.
— Posso fazer você se acostumar. — Ela diz, sorrindo.
— Que tentador — digo, revirando os olhos.
Jimin dá uma risada. Então levanta o braço para abrir espaço para mim, e eu me acomodo ali antes que possa mudar de ideia.
Hesito por alguns instantes antes de descansar a cabeça em seu ombro. Eu não deveria fazer isso. Mas não consigo impedir minha mão de acariciar seu braço. Desço os dedos para o pulso no momento em que ela fica tensa.
Eu a olho, surpresa, mas Jimin desvia o olhar. Ela solta o ar devagar, e eu percebo que está se esforçando para manter a calma.
Meus olhos focam no ponto em que minha mão descansa, perto do pulso dela. A pulseira ainda está ali e quando vejo o que está escrito nela, entendo qual pode ser a sua origem.
— Um lembrete para os meus piores momentos — ela sussurra.
Engulo em seco.
— Quer falar sobre? — Pergunto.
Jimin balança a cabeça e sua expressão muda. Ela parece mais triste quando olha para mim.
— Não — responde enquanto seus dedos sobem pelo meu antebraço. De um jeito delicado e carinhoso. — Não quero ter uma conversa pesada agora.
— Tudo bem.
Sei que vamos precisar conversar sobre tudo o que está acontecendo, mas talvez esse ainda não seja o momento certo. Porque agora parece que ela não quer conversar. E, quando me abraça desse jeito, percebo que eu também não quero.
— Jimin?
— O quê?
— Você não se parece nada com a pessoa inconsequente que descreveu para mim.
Ela franze a testa, pigarreia e apoia o queixo na minha cabeça, abraçando-me com mais força.
— Eu nunca vou permitir que você conheça essa minha versão, Minjeong.
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