12

Winter's pov:

"Talvez você esteja aprendendo a olhar com atenção como eu estou fazendo. Talvez, pela primeira vez, nós duas estejamos nos vendo."

Caminho pelo meu quarto enquanto termino de organizar alguns livros nas prateleiras que tenho ali. Eu já deveria estar livre dessa tarefa, mas graças a interferência de Jimin no último dia, isso não foi possível. Uma parte de mim ainda não acredita que fizemos mesmo aquele passeio, mas a outra se sente grata a ela por isso.
Principalmente que não consigo esquecer o quão bem me senti por estar em sua companhia.

— Posso falar com você, Minjeong? — Pergunta minha mãe, na porta do meu quarto, minutos mais tarde.

Desvio o olhar da prateleira e dou de ombros.

Eu não parava para conversar com ela desde a noite em que jantamos juntas. Sei que ela esteve em casa nos últimos dias, mas nem sequer nos cruzamos pelos cômodos. Kim Taeyeon sempre está ocupada com questões do trabalho. Foi apenas hoje que ela resolveu dedicar um pouco do seu tempo a filha.

— Fiquei sabendo que você saiu na tarde passada — Ela comenta, entrando no meu quarto.

— Não foi nada muito importante. Só fiz um passeio pelo bairro.

Ela passa a mão nos cabelos e me encara. Está vestindo uma calça de alfaiataria e uma camisa social preta. Além de saltos. Muito provavelmente está de saída para algum evento, embora estejamos no final de semana.

— Você não precisa agir assim. Mas confesso que estou surpresa. Quero dizer, desde quando você frequenta outros lugares além dessa casa?

Desde Jimin.

Não digo isso, claro. Depois do que aconteceu nos últimos dias, já estou confusa o bastante em relação a meus sentimentos. A última coisa de que preciso é da minha mãe descobrindo que o motivo pelo qual tenho saído da minha zona de conforto não tem nada a ver com o ultimato e tudo a ver com o fato de eu estar interessada pela sua convidada.

— Qual é o problema? — Pergunto, cruzando os braços, odiando me sentir na defensiva. — Você estava insistindo para que eu voltasse à normalidade há meses. Quando eu realmente tento fazer isso, você parece não acreditar.

— Hayun me contou o que houve. Sobre o fato de você ter saído com Jimin. Por isso achei interessante vir aqui ver como você estava.

— Ela se enganou.

— É mesmo? — Minha mãe diz em tom irônico. — Porque eu acabei de conversar com ela e fiquei sabendo que você e Jimin saíram juntas.

Desvio o olhar e fico em silêncio.

— Mas já que não está discordando disso, talvez seja melhor eu confirmar com a...

— Está bem! — Digo, dando-me por vencida. Respiro fundo e olho para ela. — Jimin me fez esse convite há alguns dias. No começo eu não quis aceitar, mas acabei concordando porque sabia que ela não ia desistir.

— É claro que ela não ia — Minha mãe diz. — Mas acho que devo agradecê-la por ter conseguido esse feito.

Dou um passo à frente e a encaro.

— Ou você pode reconhecer alguma conquista da sua filha.

O rosto dela demonstra confusão e surpresa, e eu me dou conta de que é a primeira vez que quero passar a impressão de que não sou uma vítima.

— É claro que estou feliz por você, Minjeong. — Sua voz sai mais calma. — Eu só não quero que você passe por nenhum constrangimento. Nós duas sabemos que isso não vai ajudar na sua recuperação.

— Eu posso lidar com isso — respondo. Então, suavizo minha expressão porque minha mãe está começando a franzir a testa. — Estou bem, você não precisa se preocupar.

Ela suspira e vai até a janela.

— Esse foi o único motivo de ter vindo conversar comigo? — Pergunto.

— Também queria saber como estavam as coisas entre vocês, mas vejo que estão se dando bem, afinal.

— Bem, sim... — respondo quase em um sussurro.

— Fico mais tranquila sabendo disso. — Ela diz, olhando as horas no seu relógio de pulso. — Tenho um compromisso agora, então preciso ir. Mas pretendo chegar cedo e gostaria que jantássemos juntas, ok?

— Tudo bem. — Respondo, sabendo que não tenho muitas opções.

Depois que minha mãe sai, me sento na minha cama, enterrando a cabeça entre as mãos.

É por isso que não conseguimos manter uma boa relação familiar, nossas tentativas de diálogo sempre terminam de forma vazia. Mas sendo sincera, acho que é impossível resgatar o que tínhamos depois de todo esse tempo, não importa o que faça.

Será que é hora de eu ir morar com meu pai? Esse pensamento me faz rir, porque esse momento veio e foi embora há cerca de um mês.

Quando termino de organizar as coisas no meu quarto, tomo um banho e me vejo procurando o paradeiro de Jimin. Na tarde passada, ela estava muito bem, mas durante o jantar me pareceu um pouco distante e hoje não a vi pela manhã.

Ainda não conversamos sobre o que está acontecendo entre nós, mas de certa forma acho que não há necessidade de fazermos isso. Não só porque não quero entrar nesse assunto com ela, mas também por que estamos em uma situação confortável e não quero acabar com isso.

Jimin não está na biblioteca. Quando estou descendo as escadas, ouço uma voz vinda da varanda. Por um momento penso que possa ser Hayun, mas então me lembro que ela tira os finais de semana de folga. Sendo assim, só me resta mais uma alternativa.

Caminhando até lá, confirmo minhas suspeitas. Jimin está sentada em uma das cadeiras dispostas ali, concentrada. Com a cabeça curvada e um feixe de luz da rua se projetando pela varanda, os cabelos escuros dela parecem quase castanhos. Então, da porta, eu secretamente observo enquanto seus dedos se movem sobre as páginas dos livros, como se estivesse completamente perdida em outro mundo.

Quando termina um capítulo, ela ergue o olhar, pensativa.

— Eu não sabia que você ainda mantinha o hábito de ler na varanda. — Comento atrás dela.

Jimin olha na minha direção e me oferece um ligeiro sorriso.

— Não se preocupe, isso não vai afetar a nossa rotina de leitura na biblioteca.

É impossível evitar revirar os olhos diante do seu comentário. Em uma fração de segundos, a varanda desaparece e somos apenas nós duas.

— Então, posso saber por que está aqui fora? — Pergunto, sentando-me na cadeira ao seu lado.

Os lábios dela se curvam em algo que não é bem um sorriso.

— Bom... acho que eu só estava precisando tomar um pouco de ar. Não é algo realmente importante.

Certo, tem alguma coisa errada aqui. Depois de passar tanto tempo em sua companhia, aprendi a ler os sinais. Hoje parece ser um daqueles dias em que ela não está muito preocupada em manter as aparências. Embora, eu nunca a tenha visto dessa forma.

— Aconteceu alguma coisa? — Pergunto. Eu não deveria me importar, mas a verdade é que me importo.

A expressão dela passa de confusa a prudente.

Fico esperando que Jimin faça alguma das suas provocações, mas ao invés disso ela abre um sorrisinho, e sinto um aperto no peito quando percebo um lampejo de tristeza.

— Não. Apenas devo estar cansada por pensar demais no meu passado — lamenta, pesarosa. — Acho que uma hora isso ia acontecer.

Como esperado, fui longe demais com minha pergunta, e ela se recolheu. Fico tentando entender o significado por trás disso. Mas acabo optando por não tirar conclusões precipitadas e esperar até conseguir mais informações.

— Talvez seja melhor eu deixar você sozinha — murmuro.

— Não, você pode ficar — ela responde.

Ficamos em silêncio enquanto ela continua a olhar para os jardins.

— Eu sei que não estou agindo normalmente hoje. Foi mal. Só acho que preciso de um tempo para colocar minhas ideias em ordem.

— É por isso que você sai para correr? Para colocar as ideias em ordem?

Ela não responde.

Baixo a cabeça.

— Você está se sentindo bem, afinal — Ela pigarreia e quando olha nos meus olhos, a preocupação nesses olhos castanho-esverdeados provoca um aperto em meu coração. — Não pensei muito em como você se sentiria em relação ao passeio de ontem, então peço perdão se tiver forçado demais a barra.

— Não precisa se preocupar — respondo. — Afinal de contas, eu fiz você passar por alguns momentos bem desagradáveis desde que chegou aqui, então acho que agora estamos quites.

— Você não precisa mais fazer isso.

— Fazer o quê?

Ela fica me olhando com uma expressão gentil, e seus lábios demonstram tristeza.

— Afastar as pessoas quando a situação ficar delicada.

— Eu tenho que fazer isso, por que caso contrário... — Enquanto ela olha para mim, tenho que desviar o olhar, porque sinto que minhas emoções querem me atingir. Uma risada desconfortável escapa dos meus lábios. — Porque caso contrário elas vão se irritar comigo — aviso.

— Por quê?

Meu lábio inferior estremece, sinto meu corpo começar a tremer, e respiro fundo.

— Porque essa é a parte em que eu começo a agir como uma idiota para me proteger.

— Eu sei — ela concorda, inclinando-se na minha direção e me lançando um olhar gentil. — E essa é a parte em que eu digo a você que não precisa mais fazer isso quando estiver comigo.

Ela se levanta e coloca o seu livro de lado. Depois, pega minhas mãos e me puxa para que eu me levante, envolvendo-me com seus braços. Jimin me abraça bem apertado e se torna a pessoa que me apoia sem dificuldade alguma. Respiro fundo, pensando em todos os meses de luta, em todos os meses de dor enquanto eu tento criar a vida que uma pessoa roubou bem debaixo do meu nariz.

De vez em quando, Jimin acaricia minhas costas, provocando uma estranha sensação de conforto.

Quando me afasto um pouco, desvio o olhar e não comento nada. Ela passa os dedos pelo meu rosto, colocando alguns fios de cabelos atrás da minha orelha.

Dou uma risada nervosa.

— O que você está fazendo? — Pergunto.

Ela continua me encarando.

— Foi mal — Jimin se desculpa com voz suave e profunda. — Eu acabei me perdendo em pensamentos por um momento.

— Não precisa pedir desculpas. Afinal, eu sou a pessoa mais perdida que você vai conhecer.

— Todo mundo é — ela diz. — Só que algumas pessoas escondem isso melhor que outras.

Não sei por que, mas essa declaração me acalma um pouco. Jimin esfrega o pescoço e pigarreia.

— Você quer entrar?

— Sim, acho uma boa ideia.

Enquanto ela segue para a sala, eu respiro fundo. Meus dedos passam pelo meu rosto, e me pergunto o que está acontecendo comigo. Esse momento é tão confuso e inesperado que quase parece impossível.

— Preciso fazer algumas coisas para a faculdade — Jimin diz com voz baixa, enquanto enfia as mãos nos bolsos. — Mas posso te fazer companhia por um tempo na biblioteca. Se você quiser, claro.

Assinto com a cabeça.

— Acho que você sabe a resposta para essa pergunta. — Antes que ela possa fazer mais perguntas, eu trago o foco da conversa de volta para ela. — Você está mesmo bem?

Ela me dá uma risada irônica.

— Você não desiste fácil, né?

— Conviver com você me influenciou em alguma coisa, afinal.

Jimin respira fundo, e desvia o olhar enquanto solta o ar. Ela nem consegue responder.

— Sinto muito por você estar sofrendo tanto — digo.

— Está tudo bem.

— Não está, não.

Ela me encara por alguns instantes, e eu não tenho certeza do que seu olhar que me dizer.

— Você tinha razão sobre algumas coisas relacionadas a mim. Eu só estou fingindo ter uma vida perfeita para não ter que lidar com o meu passado. E sim, ele ainda me atormenta as vezes.

— Sinto muito por estar certa.

— Tudo bem. Eu só... Só parece que eu não tenho ninguém, sabe? Eu sei que posso conversar com minhas mães, mas isso é tudo, e não quero ser um peso para elas. As outras pessoas que conheço não me deixam confortável para que fale sobre os meus problemas.

Pigarreio e curvo um pouco os ombros.

— Eu me chamo Kim Minjeong — declaro, com voz calma, olhando em seus olhos. — Não sei tocar nenhum instrumento, mas tenho fascinio pelo mundo da música. Aprendi desde cedo o poder das palavras graças aos meus pais e o envolvimento deles com a literatura. Na último primavera, consegui me formar como a melhor da minha turma. Ningning gravou tudo. Tenho pensado em começar a....

— O que você está fazendo? — Ela pergunta.

— Estou falando um pouco sobre mim.

— Eu percebi, mas por quê?

Desvio o olhar e dou de ombros.

— Para que você não se sinta mais desconfortável e possa conversar comigo.

Primeiro ela arqueia uma sobrancelha, depois me lança um olhar surpreendentemente doce.

Esse gesto me surpreende, mas talvez ela tenha aprendido a olhar com atenção como eu estou fazendo com ela. Talvez, pela primeira vez, nós duas estivéssemos nos vendo.

— Eu não sei como falar sobre isso — ela confessa. Eu não faço ideia do que poderia falar.

— Qual é a parte mais difícil para você?

— Ah, essa pergunta é fácil. — Ela diz com um sorrisinho singelo. — A traição, e logo em seguida estar sozinha. Eu nunca me importei muito com essas coisas. Mas quando achei que poderia tentar criar alguma espécie de laço, eu realmente confiei nas pessoas. É uma sensação muito difícil de se lidar. Ser usada dói, queima de um jeito muito pior que o fogo.

— E essa queimação nunca para — completo quase em um sussurro. — Você só acaba ficando dormente para ela.

— Há quanto tempo você se sente assim?

Dou um sorriso triste, que lhe revela minha verdade mais profunda.

— Ah, Minjeong — ela sussurra, passando a mão de leve por meu rosto. — Você é tão incrível para ser tão triste assim.

Fecho os olhos, sentindo a respiração quente saindo pelos seus lábios entreabertos.

— Você está fazendo de novo, Jimin.

— Fazendo o quê?

— Se perdendo em pensamentos.

Ela sorri e dá de ombros.

— É o meu dom e a minha maldição. — Respiro fundo e sinto um frio na espinha diante da intensidade do seu olhar. Ela se inclina e sussurra, como se estivesse revelando o maior segredo do mundo. — E talvez você tenha sua parcela de culpa nisso.

— Você não consegue mesmo evitar me irritar, né? — Digo, sem me importar em esconder um sorriso.

— Tenho certeza de que você não se incomoda mais tanto quanto faz parecer.

— E porque acha isso? — Pergunto, conferindo escárnio na minha voz e torcendo para que considere um aviso para se afastar.

Ela ignora e se aproxima um pouco mais.

— Minjeong... — Seus lábios se aproximam, e eu juro que os sinto roçarem contra os meus. Seus dedos massageiam minhas costas em círculos, e eu sinto meu coração descompassar cada vez que um círculo está completo. — Essa pergunta também é fácil. — O aperto dela na parte inferior das minhas costas fica mais apertado, me puxando para mais perto. Nossos lábios roçam novamente, e meu estômago dá um nó.

— E porque você acha isso? — Pergunto pausadamente. Meu olhar cai em seus lábios, e ela sorri como se tivesse lido minha mente.

— Bom... Olha só.

Antes que possa registrar o movimento, sua boca está na minha. Minhas mãos vão imediatamente para seu peito para afastá-la, mas então seus lábios se movem, firmes e insistentes contra os meus, e eu hesito.

Jimin se aproveita da minha imobilidade. Sua outra mão vai para minha bochecha, de modo que ela segura meu rosto com delicadeza. Seus lábios pressionam contra os meus, suavemente no início, e tudo dentro de mim se torna uma parte dela. Seus dedos envolvendo minhas costas e ela me puxa para mais perto, empurrando seus lábios mais forte contra os meus, e pela primeira vez em muito tempo, eu me sinto viva.

Antes que eu me dê conta do que estou fazendo, inclino a cabeça de leve e meus dedos se enroscam no tecido de sua camisa. Jimin recebe isso como um convite, e sua língua abre meus lábios para entrar na minha boca e aprofundar o beijo.

A última vez que fui beijada foi por um garoto que envolveu seus braços ao meu redor, que me abraçou como se fosse uma promessa e que desistiu de mim na primeira oportunidade.

Mas esse beijo é diferente de tudo o que eu possa imaginar. Nossas bocas se conectam de uma forma que eu nunca tinha experimentado. Não contamos os segundos, mas eu conto as respirações que ela rouba de mim. E ainda que não esteja certa se isso deveria estar acontecendo, não estou pensando muito sobre o assunto. Estou pensando que Yoo Jimin parece convicta da sua decisão. E que está se esforçando para me mostrar isso.

Pare me fazer entender.

Mas, principalmente, estou pensando no que estou sentindo.

Porque, o que estou sentindo, não tem nada a ver com o momento.

O que estou sentindo é real.

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