11
Karina's pov:
"Percebi que você estava me provocando e aceitei, embora provavelmente fosse perder."
Eu poderia estar em casa lendo algum livro. Ou em um café com o pessoal da faculdade. Ou em qualquer outro lugar.
No entanto, algo em mim não consegue deixar Minjeong continuar lidando com tudo sozinha. Para começar, já foi difícil convencê-la de que ela precisava sair um pouco para o mundo exterior. Tive até que fazer um acordo do qual não sei o que esperar.
Ela entendeu. Eu não sei bem por que decidiu confiar em mim, mas o importante é que estamos aqui agora.
— Contar para Ningning que eu tinha aceitado seu convite não trouxe a melhor atenção para mim. — Minjeong reclama enquanto voltamos para casa. O céu já está escuro e faço questão de ficar próxima à ela. Acho que não estou pensando direito no que estou fazendo. Eu só... Sei lá... Estou vivendo o momento.
— Eu precisava de ajuda caso você decidisse voltar atrás quanto ao nosso passeio. Vi a oportunidade perfeita e resolvi aproveitar.
— É, mas não ajuda muito o fato de eu ter aceitado um convite seu, e agora minhas amigas acham que você e eu estamos... — As palavras morrem em seus lábios e ela fica vermelha. — Que está rolando alguma coisa entre a gente.
— E isso te incomoda? Que elas pensem isso? — Pergunto, abrindo um sorrisinho condescendente.
Minjeong revira os olhos.
— Por que? Está interessada em saber se já entrei para o seu fã clube?
— E se eu estiver?
— Então sinto em acabar com suas esperanças, porque isso nem sequer é uma opção.
— Isso foi pesado — digo, levando a mão ao peito como se estivesse magoada. — Eu nem sei como vou viver a partir de agora.
— Você vai superar. Sério mesmo. Acho que as coisas poderiam ser piores. Tipo, as suas fãs da faculdade poderiam ser como eu. — Ela sorri de forma sarcástica. — Elas chamam você de Caliope.
— De quê?
— Caliope. E não é por causa do seu talento para o mundo da literatura.
Arqueio uma das sobrancelhas. Esse apelido específico ainda não tinha chegado aos meus ouvidos.
— Dizem por aí que depois que uma garota dorme com você, os problemas que ela enfrenta na área literária são solucionados. Sejam questões de escrita livre, dissertação ou poesia. É como se suas proezas sexuais tivessem a capacidade de inspirar qualquer pessoa relacionada a arte.
— Você só pode estar brincando. — Dou uma risada. — Entrei na Universidade de Seul há menos de um mês e não faço parte de nenhuma fraternidade. Como esses boatos seriam possíveis?
— Bem, se você não acredita em mim, então sugiro que pergunte as garotas. Só estou repassando a informação que chegou ao meu conhecimento — Ela ri e morde o lábio inferior.
Meu Deus, ela é linda, e nem sabe disso.
— Então, caso você tenha problemas nessa área entre em contato comigo. Eu posso confirmar se essa informação é verdadeira e te ajudar.
— Não faça promessas que não pode cumprir — ela avisa.
— Pode acreditar, Minjeong — sussurro, chegando mais perto dela. — Eu sempre cumpro as minhas promessas.
Eu adoro o jeito como o corpo dela reage quando eu me aproximo. Então me lembro da nossa situação e percebo que o máximo que pode acontecer é ela me jogar na frente de um carro em movimento.
Minjeong respira fundo e olha para o céu estrelado acima de nós. Estamos próximas da sua casa, mas ela parece não ter muita pressa.
— Aposto que você está se achando por ter conseguido me convencer a fazer esse passeio.
— Eu posso mudar minha abordagem — acrescento rapidamente, não querendo ser um incômodo para ela.
— Não, tudo bem. Na verdade, eu deveria te agradecer por estar fazendo isso, não é? Além disso, estou farta de sempre fugir dos meus desafios para tentar me manter numa zona segura. E de alguma forma você conseguiu mudar isso.
— Cuidado — aviso. — Quando você começa a andar com a garota encrenca da cidade, acaba adquirindo uma fama não muito boa.
— A minha fama já mudou há muito tempo. Eu vou arriscar conversar com você por mais um tempo. Mas foi sempre assim com você? Você sempre recebeu olhares duros?
— Nem sempre. Mas com o tempo você acaba se acostumando. Isso só me incomoda de verdade de vez em quando.
— E o que te incomoda?
— Quando falam sobre minhas mães, como se elas tivessem culpa das escolhas erradas que tomei na vida.
Ela me lança um dos seus olhares gentis, e tenho que me controlar para não me perder nesses olhos.
— Acho que ao menos devo um pedido de desculpas para você — Minjeong diz, olhando diretamente para mim. — Porque antes de a gente se conhecer, eu tinha esse conceito sobre a pessoa que você é. Eu acreditava que você era o modelo de pessoa perfeita. Mas tenho percebido que você também tem sua cota de segredos.
— Tudo bem. Não precisa se desculpar. Tenho certeza de que algumas das coisas que você deduziu são verdadeiras. Além disso, você se lembra bem das primeiras vezes que nos interagimos. Eu posso ser um tanto idiota.
— Verdade, mas uma idiota legal.
— Isso não existe.
— Existe, sim.
— Eu também julguei você. Eu tinha essa ideia formada de quem você era antes de te conhecer.
— E você ainda fica incomodada comigo? — Ela pergunta. Uma pergunta fácil de responder.
— Não. E você ainda tem raiva de mim?
— Não.
— Bem, é uma pena. Eu realmente queria manter minha personalidade de garota má por essas bandas.
— Não se preocupe — ela diz, dando de ombros. — Tenho certeza de que muita gente ainda acha que você é a personificação do próprio caos.
— Que bom. Tenho que manter a minha fama de má — comento, e ela ri. Eu gosto quando ela ri.
— Bem, se você quer manter essa fama, é melhor parar de fazer isso.
— Isso o quê?
— Sorrir.
Fecho a cara e franzo o cenho de maneira dramática.
— Assim está bom para você?
— Certo, você ainda consegue ser irritante.
Ficamos em silêncio enquanto nos aproximamos de casa. Apesar de já ser noite, o ar não está tão frio quanto eu esperava. Sempre adorei essas caminhadas sem compromisso. Passa uma sensação de estar livre da correria
diária. Minjeong parece ser da mesma opinião, porque ela respira fundo várias vezes. Quase consigo senti-la relaxar enquanto caminha ao meu lado.
— Bom, você está livre da minha companhia agora — digo quando entramos em casa, fechando a porta atrás de mim. — Eu planejava sair para correr um pouco, mas acho que vou fazer uma pequena mudança de planos e apenas subir para o meu quarto.
— Ah, você corre? — Ela debocha. — Se não dissesse eu não ia perceber. Você é tão magrinha para um garota que corre — brinca.
Parece que ela está se esquecendo dos nossos papéis aqui.
— Pare com isso — digo de um jeito leve.
— Por que? Esse por acaso é um assunto delicado para você?
— Quem está sendo irritante agora? — Inclino-me para a frente, cruzando os braços. — Tenho certeza de que agora é você que está se divertindo aqui.
Minjeong me lança um olhar sério, mas os olhos demonstram que ela de fato está se divertindo.
— Sei que eu deveria retrucar pelo que acabou de dizer, mas, para ser sincera, hoje eu estou me sentindo bem.
Eu também estou.
— Mas é uma sensação muito estranha — ela diz.
— O quê?
— Que a pessoa capaz de proporcionar isso seja uma garota que eu conheço à tão pouco tempo.
\[...]
Depois que subo as escadas, vou para o meu quarto e entro no banheiro. Uma das melhores coisas que ainda me lembro do meu tempo correndo em Busan era chegar em casa para tomar uma ducha longa e refrescante. Me livro das minhas roupas e fico parada embaixo da água morna por vários minutos. Inalo o vapor, deixando-o penetrar nos poros e desejando, como sempre faço, que todas as lembranças desagradáveis sejam lavadas por ele.
Após vestir uma roupa confortável, jogo-me na cama, sentindo a aproximação de uma dor de cabeça com a percepção de que tenho muito trabalho a fazer para a faculdade. Mais cedo, Ningning veio discutir sobre um em questão, mas não tivemos lá muito avanço. Meu celular toca e por alguns instantes penso se tratar de alguma das garotas. Mas sorrio ao olhar para o visor e ver o nome de Joohyun na tela.
– Desculpe ligar nesse horário, mas estou presa a uma pilha de papelada – ela diz quando atendo. – Espero não estar atrapalhando você.
Sorrio de forma singela.
– Está tudo bem. Na verdade, estou na minha cama, decidindo sobre qual trabalho da faculdade dar prioridade primeiro.
– Imagino que a essa altura as coisas já estejam agitadas para você – responde minha mãe com voz cansada. – Mas lembre de tirar um tempo para descansar, ok? Entendo a importância do seus estudos, mas você não deve se sobrecarregar por conta disso.
– Não se preocupe com isso, mãe – digo, sabendo que tal coisa é inevitável para ela. – E posso saber qual o motivo da ligação?
– Bom, eu só queria saber como minha filha está — Ela responde.
No entanto, eu sei que é muito mais do que isso. Os anos de convívio com minha mãe me fizeram reconhecer quando ela está guardando algo só para si.
Respiro fundo.
— Aconteceu alguma coisa? — Solto.
Há um longo silêncio ao telefone que me leva a dizer:
– Mãe?
– Jimin, como estão as coisas em Seul?
– Ah, estão indo bem... – respondo com uma voz quase inaudível. – Estou conseguindo conviver bem com Taeyeon e a filha dela. E apesar das coisas na faculdade estarem um pouco intensas, estou gostando bastante do meu curso.
— É bom ouvir isso... — Ela faz uma pausa antes de continuar: — E eu definitivamente não deveria trazer problemas para você em um momento como esse, mas sinto que não posso esconder isso... Minju recebeu direito a condicional.
Fico em silêncio, pensativa enquanto absorvo essa informação. Sou assombrada por um arrepio e um medo sobrenatural do desconhecido
Ergo meu corpo, e sento-me na cama
— Quando isso aconteceu?
— Tem alguns dias... Encontrei com a mãe dela na empresa e ela acabou me contando o que tinha acontecido.
Eu não sei o que dizer, então não digo nada. Posso sentir o quanto ela está tensa enquanto continua a falar.
— O problema é que eu fico imaginando as consequências que podem acontecer caso ela tente entrar em contato com você. As coisas estavam indo tão bem no último ano e agora uma reviravolta dessas.
— Eu não sei bem o que pensar agora.
Escuto sua respiração pesada.
— Eu sinto muito... não queria arrastar você de novo para isso.
Olho para a janela do meu quarto e respiro fundo.
— Está tudo bem — digo, embora esteja pensativa sobre o quanto essa novidade pode afetar a minha vida. — Em algum momento isso iria acontecer. Mas juro que se eu soubesse das coisas com as quais ela se envolvia, jamais...
— Todo mundo tem direito ao erro, Jimin. — Minha mãe diz, interrompendo-me. — Mas você não tem culpa do que aconteceu. Ninguém conhece de fato as pessoas até conviver com elas. Se você de alguma forma ainda se culpa, pare de fazer isso agora.
Fico em silêncio, absorvendo suas palavras.
— Não quero mais que você se envolva nessa história, Jimin. — Diz com firmeza. — Eu só quero que você foque na sua faculdade e deixe tudo isso no passado.
Assinto com a cabeça, como se ela pudesse ver.
– Eu queria muito ir te visitar, mas não vou conseguir tirar férias tão cedo...
– Está tudo bem, mãe. Eu sei que você tem trabalho a fazer.
– Um que as vezes é bem desgastante – Ela reclama. – Talvez eu consiga um tempo livre amanhã, então podemos conversar melhor. Mas agora preciso desligar.
– Claro – respondo, soando o mais natural possível. – E, por favor, não hesite em compartilhar as coisas comigo. Garanto que vai ficar tudo bem.
Mas nós duas sabemos que nem tudo é tão simples assim. Porque, como uma doença infecciosa, Minju pode invadir minha vida de novo. Eu escapei de seus problemas. Me concentrei nos meus objetivos. Mas, de alguma forma, de alguma maneira, essa história parece não ter chegado ao fim.
Minha mãe não faz mais nenhum comentário sobre o assunto.
Depois que desliga, percebo o rumo que minha vida está levando. Percebo o quanto as coisas mudaram em tão pouco tempo. Mas decido que é melhor manter as coisas para mim, as pessoas à minha volta já tem muitos problemas com os quais se preocupar.
Passo as mãos nos cabelos e fico sentada no quarto silencioso, sentido um peso conhecido voltar ao meu coração e à minha mente, provocando-me um aperto no peito. Entrego-me a essa sensação – na verdade, afogo-me nela por um ou dois minutos –, então faço o que sempre faço quando lido abertamente com momentos como este.
Fecho os olhos, respiro fundo, e puxo a pulseira em meu punho.
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