06

Winter's pov:

"Eu me conforto em saber que você está aqui, porque chorar sozinho sempre pareceu muito deprimente e triste para mim."

O clima está agradável enquanto eu caminho pelo parque onde geralmente venho no início da manhã. Respiro fundo, ouvindo as folhas triturando sob meus passos e vendo o céu escuro crescer mais claro com o passar das horas.

Ultimamente não ando com muito tempo para fazer isso já que estou no último ano do colegial e devo me preparar para entrar em uma boa faculdade. Mas hoje é diferente, porque é final de semana, e eu decidi que merecia relaxar um pouco longe da minha rotina diária de estudos.

Seguindo pela trilha, eu começo a correr até o lago que fica à alguns metros de distância. Muitas pessoas gostam de se reunir ali para fazer piquenique, mas por conta do horário a área vai estar praticamente livre. E eu pretendo aproveitar para observar o nascer completo do sol antes de fazer o caminho de volta para casa. Minha mãe já vai estar acordada nesse horário e talvez eu consiga convencê-la a sair para fazermos alguma coisa juntas.

Paro quando vejo as ondulações da água cristalina, e as pedras, e os sons calmos. Estou diante do lago, e estou diante deles.

"Não vá embora, por favor, Seoyun. Escute-me."

Um garoto está logo a frente com uma garota. Ela continua dizendo que não, dizendo que não pode mais estar com ele, e fica nítido que ele não gosta disso.

"Nós fizemos tantos planos, Seoyun. Eu prometo que vou conversar com a minha família."

"Você está ouvindo? Eu não quero mais ficar com você."

"É sobre aquele amigo da faculdade?"

A garota revira os olhos.

"Não comece isso de novo. É disso que estou falando. Você tem todos esses problemas de raiva. Não consigo manter um relacionamento saudável com você. Não podemos continuar fazendo isso."

Ele passa as mãos pelo cabelo.

"Você está fodendo ele, não é? Você está fodendo o cara da faculdade.”

Antes que ela possa responder, ele fica cada vez mais irritado, seu peito subindo e descendo.

O garoto é alguém que faz minha respiração mais difícil, e meu medo mais temeroso. Eu teria menos medo se tivesse me perdido pelo parque. Eu deveria ter me perdido pelo parque.

Ele grita para ela, sua voz quebrando.

"Você é uma puta!" ele grita, batendo-lhe com força no rosto. Ela tropeça para trás e choraminga com sua mão voando para sua bochecha. "Eu te dei tudo. Fizemos tantos planos juntos. Eu pretendia oficializar tudo quando terminasse a faculdade!" Seus olhos estão arregalados, como se ele estivesse completamente perturbado.

Minha garganta aperta quando meus olhos focam no caminho, onde o garoto que me lembra os personagens mais insanos dos livros de ficção envolve suas mãos ao redor do pescoço da garota.

"Você não pode me deixar," ele diz, quase implorando enquanto ele a sufoca. Ela grita, agarrando suas mãos e tentando respirar fundo. Ele a sacode. Ela grita, e eu sinto suas mãos.

É como se suas mãos estivessem ao meu redor. Sacudindo-me. Arrastando-me.

Meus dedos em volta do meu pescoço e eu imploro por ar, sabendo que se eu sinto que não consigo respirar, a garota está sofrendo ainda mais.

Então ele começa a arrastar seu corpo em direção ao lago.

Nesse momento eu sei o que vai acontecer.

Ele puxa o corpo da garota para a água e empurra sua cabeça sob as ondas.

E eu paro de respirar.

Não é a primeira vez que eu acordo completamente agitada, mas isso tampouco torna as coisas mais fáceis. Jogo minhas cobertas de lado e me sento no chão, sentindo meu coração bater acelerado dentro do peito e minha mente viajar do passado para o dia presente com cada piscar de olhos.

O objetivo principal é controlar minhas emoções, para impedir que elas assumam o controle sobre minha mente.

Shh...

Pisco lentamente, e quando fecho meus olhos, vejo o sorriso malicioso em seu rosto.

Ele vem em minha direção e se lança para frente como se fosse me bater. Um puxão afiado em minha camisa me leva para trás. Minha respiração está entrecortada e eu grito quando ele me joga no chão, colocando todo seu peso em cima de mim, suas mãos cobrindo minha boca, silenciando meus gritos.

Eu chuto e grito. Ele vai me matar.

Quando eu abro meus olhos, ainda estou no chão, cobrindo meu rosto com as mãos, tremendo de medo, sacudindo minhas memórias. Eu odeio essa parte de mim, essa que às vezes cai de volta ao passado. Eu odeio como isso me afeta, como ainda me prende às vezes, mas na maior parte, eu odeio quando os outros notam. Esse foi um dos motivos da minha reclusão pessoal: ninguém precisa testemunhar meus ataques de pânico.

Mas como se para ir contra o que eu penso, escuto a porta do meu quarto ser aberta lentamente.

— Ei, você está bem? — Uma voz forte e feminina sussurra enquanto se aproxima de mim.

Estremeço por dentro quando escuto seus passos. Vejo suas mãos se estendendo para mim e dou um salto de susto, sem querer que ela me toque. Ela deve ter notado minha reação e recua.

— Foi mal — ela se desculpa, e eu dobro mais meus joelhos contra o corpo.

Quando encaro seu rosto, tudo congela. O mundo fica em silêncio, e eu estou olhando para os olhos castanho-esverdeados da pessoa que está decidida a me arrancar da minha zona de conforto.

Então, eu me dou conta de que ela está aqui. No meu quarto.

O motivo é bem claro.

O pesadelo. Devo ter gritado, e Jimin veio descobrir por quê.

— Saia, agora! — Ordeno, levantando e me afastando antes que ela possa tentar me tocar outra vez.

— Você estava gritando — ela diz, calma, enquanto tenta se aproximar de mim.

— É claro que estava gritando. É a droga de um pesadelo.

Levo alguns segundos para compreender o que falei, então passo as mãos pelo meu rosto para ver se acordo. Tento ver algo que não seja aquela garota morrendo, mas não tenho muito sucesso nisso. Lembranças são mesmo assustadoras, a maneira como podem acabar com a gente com nossos próprios pensamentos.

— Sai daqui — insisto.

— Com que frequência isso acontece?

Eu a ignoro e vou para o outro lado do quarto. No peito, meu coração continua acelerado. O pânico me sufoca e eu não consigo decidir se é melhor puxar ou soltar o ar. Apoio as mãos sobre a escrivaninha e fecho os olhos, começando a tentar estabilizar minha respiração.

— Quer tomar um pouco de água? — Ela pergunta.

— Ah, claro. Água vai consertar tudo — digo com ironia. — Você não sabe de nada, garota.

— Ótimo — ela retruca. — Muito original. Você acha que eu nunca tive que lidar com gente idiota? Surpresa, isso já não me afeta nenhum pouco. Mas tenho que admitir, essa sua atitude está começando a ficar repetitiva.

A parte decente que ainda existe em mim, que eu sei que está em algum lugar, quer pedir desculpas. Não, quer implorar para que ela me perdoe, porque eu não sou o tipo que desconta suas frustrações nas outras pessoas.

Sinto dedos envolvendo o meu pulso. Seus olhos se fixam nos meus, e eu tento puxar minha mão de volta, mas ela segura firme, porque parece conhecer a expressão em meu rosto e compartilhar em parte da sensação responsável por ela.

— Para.

Solto sua mão de maneira brusca e me afasto, ignorando seu olhar.

Ela está perto demais, e sua presença é tão equivocada que não sei como reagir. Então viro as costas para Jimin e levo as mãos à cabeça, tentando encontrar um ponto de equilíbrio nas minhas emoções conturbadas. Mas nesse momento, meu maior desejo é mergulhar no nada e nunca mais voltar.

— Minjeong.

— Para — repito com firmeza. — Só porque fui educada e deixei que falasse um pouco sobre sua vida em Busan enquanto jantávamos há alguns dias não quer dizer que você pode vir aqui para me consolar sem nem ter ideia do que aconteceu.

— Então me diz o que aconteceu — ela pede, completamente calma e racional, o que só me deixa ainda mais irritada. — Ou diz para alguém.

Novidade. Como se eu nunca tivesse recebido esse conselho antes.

Mas não é o conselho em si que me irrita; é o fato de que, pela primeira vez, fico tentada a segui-lo. Pela primeira vez, quero deitar a cabeça no ombro de alguém, deixar que me conforte e ouvir que vai ficar tudo bem. Quero compartilhar as coisas terríveis que guardo dentro de mim.

É perigoso para qualquer pessoa ficar perto de mim quando tenho esses pesadelos. Mas ela está aqui, com sua gentileza, invadindo meu espaço quando minha adrenalina corre solta, quando estou com raiva, prestes a desmoronar de vez...

— Saia do meu quarto — exijo. Minha voz fica falha. Depois da droga do pesadelo e de tanto sentir raiva, não apenas me sinto fisicamente exaurida, como emoções mais suaves começam a aflorar. — Quantas vezes vou precisar repetir isso?

Giro a cabeça de leve, só para ver sua reação.

Jimin continua me observando e não consigo ler sua expressão. Odeio o fato de não poder decifrá-la. Ela pisca rapidamente e levanta os olhos.

— Vou embora quando prometer conversar com alguém sobre os pesadelos. E se escrevesse sobre eles?

Pelo último ano tenho escondido bem minhas emoções. É meio que uma habilidade necessária quando tudo o que você conhece, tudo o que um dia você foi, é tomado de si. E admito que em alguns momentos até penso não ser capaz de sentir mais nada. Mas agora tenho certeza de estar enganada, porque a atitude insistente e sem qualquer constrangimento de Jimin é como uma facada no peito. Pior ainda, pelo modo como o sorriso desaparece do seu rosto, posso dizer que ela entende. Ela entende que as coisas não são tão simples assim de serem resolvidas.

— Você realmente não consegue respeitar o meu espaço, não é? — Digo, porque é a única coisa que me vem à mente. Lembrar de tudo o que aconteceu mexe com as minhas emoções. — Nem sequer nos conhecíamos até alguns dias atrás.

Olho para Jimin, que me observa cheia de pesar, mas não fala nada. Eu estou desmoronando.

— E então você tem a coragem de entrar no meu quarto para me fazer imposições?! Como se tivesse esse direito?! — As palmas da minha mão estão suadas, e meu coração bate disparado e com força no peito. — Minhas lembranças não vão desaparecer! Falar ou escrever sobre elas não vai mudar absolutamente nada!

Estou irritada e nervosa. Irritada porque não consigo esquecer o meu passado e tudo que ele representa. E nervosa porque estou com medo de nunca mais conseguir recuperar a minha vida por conta disso.

Começo a caminhar de um lado para o outro no meu quarto, prestes a ter um colapso mental, prestes a desmoronar quando sinto Jimin tocar em meu ombro e me viro, prestes a me desvecilhar.

— Minjeong, pare — ela ordena.

Eu não posso. Estou fora de mim, consumida pela tristeza, pelas lembranças.

— Eu não deveria ter saído naquele dia. Tinha que colocar algumas matérias atrasadas em dia, mas achei que merecia sair para caminhar no parque... Que imbecil. Eu poderia ter evitado tudo com uma decisão!

Eu continuo ofegando, mas nada parece funcionar. Meu corpo está prestes a cair no chão, e eu estou prestes a ceder à minha dor.

Jimin me segura pela cintura, mas continuo tentando me libertar.

— Me larga! — Ela segura com mais força. Começo a puxar, arranhando seus braços, tentando sair de seu abraço. Meus protestos ficam mais profundos e a dor só se intensifica. — Me larga!

— Não. — Ela continua firme e me coloca contra a parede para controlar meus movimentos. Meu corpo para contra a parede fria e eu desabo. — Eu não vou largar você, Minjeong. Não vou deixar você assim.

— Você vai! Você vai me largar.

Ela não tem consciência disso, mas está mentindo para mim.

Porque todo mundo sempre me larga.
Minha visão começa a embaçar e fico tonta.

— Você está tendo um ataque de pânico — Jimin sussurra para mim, enquanto minha respiração continua a acelerar. Sinto um forte aperto no peito. — Acalme-se, por favor. Controle sua respiração. — Jimin me vira de frente para ela. Dessa vez não tento me desvecilhar.

Ela me pega. Ela me abraça.

Ela não me deixa cair.

Eu me agarro à blusa dela, puxando-a para mais perto de mim, enquanto desmorono diante dela. Eu quero ser corajosa, quero acabar com esse colapso, mas, por um breve segundo, enquanto Jimin me abraça, parece que eu posso desmoronar. Quando meus soluços ficam intensos demais, quando parece que a ansiedade e o pânico vão me engolir por inteiro, ela me abraça com mais força.

Era para eu estar zangada. Era para eu odiá-la.

Mas tudo o que posso fazer é abraçá-la, puxá-la para junto de mim e chorar em seu ombro. Eu não sei o que pensar sobre essa interação.

E talvez amanhã eu vá estar com raiva novamente.

E talvez quando ela retomar as provocações eu volte a odiá-la. Mas agora? No momento em que perdi o controle?

Jimin ainda está aqui. E eu agradeço silenciosamente por isso.

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