prologue
ARYA KIRA CLOVER acordou com o som de batidas na porta de seu quarto, e suspirou, sabendo que seu precioso tempo de sono havia acabado.
Ela olhou a pouca luz que escapava das cortinas do cômodo e então puxou o lençol para cobrir o rosto, tentando raciocinar que horas eram. De qualquer forma, Arya, ainda sonolenta, resmungou para que suas aias entrassem no quarto.
─ Bom dia, Vossa Alteza! ─ as quatro mulheres: Alice, Liv, Alya e Margot, respectivamente, se dividiam em preparar o banho da princesa, separar os trajes e acessórios que ela usaria, além trazer um carrinho com o café da manhã.
─ Arya, querida? Por favor, acorde ─ a jovem ouviu uma voz suave sussurrar, mas não fez questão de responder, fingindo que continuava a dormir. ─ Você está atrasada para a Cerimônia dos Grimórios.
Com os olhos arregalados, Arya sentou rapidamente na cama, ainda desorientada após acordar. ─ É hoje?! Eu estou atrasada?!
Alice riu e negou com a cabeça. ─ Não, mas foi engraçado ver sua reação. Você está esperando por esse dia há meses, e não para de falar sobre como imagina ser seu grimório.
─ Verdade... ─ concordou a princesa, olhando para a mulher. Nos últimos dias, estava completamente ansiosa para o momento em que receberia seu grimório, e então ingressar em um esquadrão de Cavaleiros Mágicos.
Sendo sincera, a ideia de se tornar uma Cavaleira Mágica não era exatamente um sonho que tinha, nem um objetivo. Mas por sua magia incomum e o desejo de orgulhar sua falecida mãe, era a melhor escolha a ser feita no momento. Também seria bom conviver com pessoas de sua idade e conhecer mais do reino ao realizar missões.
Entre suas opções, estavam os Cavaleiros da Rosa Azul ─ na opinião de Arya, a Capitã Charlotte Roselei era uma mulher incrível ─, os Reis Leões Carmesins ─ uma das pessoas que Arya mais admirava no mundo era Fuegoleon Vermillion ─, e o Alvorecer Dourado ─ não havia um motivo específico, mas o Alvorecer era considerado o melhor esquadrão de Cavaleiros Mágicos do reino.
Após tomar um relaxante banho para começar o dia e vestir um elegante vestido dourado para a ocasião do dia, a princesa começou a comer seu café da manhã: torradas com manteiga de amendoim e mel, iogurte com granola e geléia de frutas vermelhas, e ovos mexidos com salmão defumado e trufas.
─ Liv, por acaso viu meu tio hoje?
A aia olhou para cima parecendo pensar, colocando uma mão no queixo. ─ Acho que Sua Majestade está na sala do trono.
Depois de agradecer pela informação e se despedir das aias, a princesa Arya saiu de seu quarto, andando pelos exuberantes corredores em direção ao salão principal, ouvindo apenas o som de seus saltos batendo contra o chão.
Ela desceu as escadas de mármore branco, cobertas por um longo tapete roxo que se estendia até o piso lustrado, iluminado pela luz das velas no grande lustre de ouro que pairava acima de si.
Os guardas que vigiavam a sala do trono fizeram uma reverência para a princesa, e logo depois abriram o portão, revelando um extenso cômodo, e no fim, uma pequena escadaria até trono feito de ouro puro, onde o Rei de Clover encontrava-se sentado e na companhia de duas mulheres sorridentes.
─ Vossa Majestade? ─ chamou Arya, fazendo uma pequena reverência. Constrangida, ela evitou olhar para as companhias do rei, que davam risadinhas enquanto o alimentavam com uvas e morangos.
─ Algum problema, Arya? ─ perguntou ele, com um completo tom de desinteresse, e a princesa andou em passos lentos e hesitantes até ele.
─ Hoje eu recebo o meu grimório, e gostaria de saber se Vossa Majestade irá comparecer na cerimônia ─ murmurou ela, passando os dedos pela gola do vestido, e balançando levemente o pé, tentando esconder seu nervosismo.
─ Peça para outra pessoa ir, eu não me importo ─ Augustus respondeu, e continuou rindo com as duas mulheres ao lado, que o alimentavam com frutinhas.
Os ombros da princesa se encolheram com a resposta seca do tio, e ela fez mais uma reverência, virando-se para ir embora. Já havia desistido de qualquer aproximação com ele há muito tempo, era apenas mais uma humilhação pedir algo assim para o rei, pois não queria ir sozinha no evento.
Arya começou a pensar quem poderia ir com ela na cerimônia. Suas aias estavam muito ocupadas hoje, e ela tinha certeza que seus outros familiares igualmente grosseiros e esnobes como o tio não iriam perder seu tempo na companhia da princesa.
Ela decidiu falar com sua melhor amiga Noelle Silva, que também iria sozinha, então pelo menos ficariam juntas na reunião. Com a solução para seus problemas, a princesa saiu do castelo em direção da Casa Silva, logo sendo recepcionada pelo mordomo, que a informou onde Noelle estava, e como Arya pensava, no jardim.
O jardim dos Silva, assim como o das Casas Vermillion e Kira, era bem extenso, abrangendo uma grande diversidade de flora no local, e ela admirou por alguns momentos as gardênias que tinham nos arbustos, suas flores preferidas.
Seu sorriso sumiu quando ouviu um som abafado de choro, e olhou para trás, vendo Noelle Silva encolhida em um banco escondido atrás de árvores.
─ O que aconteceu? ─ questionou ela ao se aproximar da garota, sentando ao seu lado. Arya notou que ao redor haviam crateras no chão e várias poças de água, além das roupas e cabelo da Silva estarem encharcados. ─ Eles fizeram aquilo de novo?
Ela assentiu, e Arya compreendeu a situação.
Noelle Silva era constantemente provocada por seus irmãos mais velhos devido à falta de seu controle mágico, algo impensável para alguém nascida na realeza.
Infelizmente, Noelle e Arya eram consideradas as maiores decepções da família real, uma vez que a princesa era filha ilegítima, e ninguém sabia a identidade de seu pai. Ambas compartilhavam o mesmo sentimento de vulnerabilidade em seus corações, vítimas das provocações das famílias.
Arya pegou um lenço em seu bolso do vestido, e usou para limpar as lágrimas da amiga. Depois de alguns minutos em silêncio, Noelle tinha parado de chorar, e a princesa colocou as mãos em seus ombros, seus lábios se curvando em um grande sorriso.
─ Hoje é o dia da Cerimônia de Laureado dos Grimórios! Então quando receber o seu, é provável que poderá controlar melhor sua magia. Eu pensei se poderíamos ir juntas, o que você acha?
Noelle sorriu com a tentativa de Arya de fazê-la se sentir melhor e levantou do banco, com determinação brilhando em seus olhos cor de rosa. ─ Vamos! Quando receber meu grimório, finalmente controlarei minha magia e irei orgulhar meus irmãos!
A princesa também levantou, e ficou ao seu lado, mas a Silva a olhou com uma expressão séria. ─ É melhor não contar a ninguém que me viu chorando. E muito menos para a Mimosa!
Arya riu. ─ Não contarei para ninguém, eu prometo.
Cada região do reino tinha sua própria Torre Grimório, interligada entre si com magia espacial, caso o grimório de um local seja chamado em outro. A torre era feita de rocha ígnea, e tinha formato de cilindro, sendo bem alta para guardar a imensa quantidade de livros.
Quando Arya Kira Clover e Noelle Silva finalmente chegaram ao local, a primeira coisa que a princesa observou foi o teto, com o formato de um trevo de três folhas, que refletia a luz do sol, causando um lindo efeito dourado na sala.
Seus olhos azuis brilharam ao observar as centenas de estantes com muitos livros, esperando apenas para serem recebidos. Qual deles poderia ser o seu?
─ Bem-vindos, jovens nobres. Vocês todos iniciam hoje uma jornada. Eu lhes desejo fé, esperança e amor ─ os presentes ouviram uma voz grave falar, e em seguida, um mago de vestes douradas e brancas se aproximou deles. ─ Eu sou o mestre desta Torre Grimório. Sei que a maioria de vocês entrará para os Cavaleiros Mágicos, portanto, orgulhem suas Casas e demonstrem suas poderosas habilidades mágicas. Agora, é hora de serem laureados com os grimórios!
No mesmo instante em que ele levantou os braços, os livros brilharam e voaram de seus lugares, flutuando acima do grupo. Sussurros preencheram o salão, mas a única coisa que Arya conseguia ouvir no momento eram as batidas aceleradas de seu coração, disparado pela emoção.
Um grimório de tamanho médio veio até si, reluzindo uma forte luz dourada. Sua capa era branca, com bordas intrincadas pelo que parecia ser ouro, e na capa frontal, havia um trevo de quatro folhas.
As três folhas de um trevo representavam fé, esperança e amor. Um grimório com esse trevo era comum, todos do reino tinham um livro como esse, mas para Arya Kira Clover, havia sido diferente.
Ela foi escolhida.
Dizia-se que em um grimório com trevo de quatro folhas residia o bom-agouro, sendo recebido apenas por um mago excepcional. Quando a princesa estendeu a mão para tocar o livro, ele brilhou ainda mais, quase a cegando, e chamou a atenção dos outros nobres no salão, que começaram a comentar sobre ela.
Noelle Silva a olhou, surpresa, e Arya apenas exibiu um sorriso tímido, sentindo seu rosto ficar quente. Ela não esperava por isso.
Depois do fim da cerimônia, muitas pessoas vieram cumprimentá-la, e a princesa avisou para Noelle que a encontraria mais tarde, pois precisaria visitar um velho amigo.
Saindo da torre, Arya procurou pelo guarda mais próximo, e pediu para que ele abrisse um portal para o escritório do Rei Mago. Em poucos segundos, ela estava na sala de do Rei Mago Julius Novachrono, que observava o reino pela janela, com uma expressão serena.
─ Julius! ─ exclamou ela, e escondeu o grimório atrás de si, segurando firmemente com a mão esquerda, deixando seu outro braço livre.
O homem se virou, e sorriu ao vê-la. Julius era um homem alto, com cabelo loiro curto e olhos que poderiam variar entre cinza e azul, dependendo do dia.
Uma de suas características mais notáveis era a estrela azul de seis pontas no lado esquerdo de sua testa. ─ Arya! Hoje é a Cerimônia de Laureado dos Grimórios, já recebeu o seu?
A princesa assentiu freneticamente, estendendo seu grimório para Julius, que no mesmo instante sorriu, animado, e começou a perguntar sem parar sobre a cerimônia, ao mesmo tempo em que folheava o livro, analisando a capa e o trevo de quatro folhas.
Apesar de seu importante e poderoso título como mago mais forte do Reino Clover, haviam momentos em que Julius agia de modo infantil. Sua fascinação e curiosidade por diferentes tipos de magia o fazia sair escondido e se aventurar na Capital Real com um disfarce.
Uma batida na porta interrompeu seus pensamentos, e o principal conselheiro de Julius, Marx François, adentrou o cômodo, chamando o Rei Mago para uma reunião sobre a preparação do Exame dos Cavaleiros Mágicos.
Julius suspirou, triste por ter pouco tempo para conversar com a garota, e devolveu o grimório reluzente para ela.
─ Bom trabalho, Arya. Tenho certeza que sua mãe estaria orgulhosa ─ afirmou ele, e logo saiu da sala, acompanhado por Marx.
"Mãe...", pensou Arya, com um pequeno sorriso. "Eu realmente espero que sim."
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