͏ ͏ ͏͏ ͏ ͏ ͏ ͏͏epilogue
ARYA KIRA CLOVER abriu os olhos de repente, o coração acelerado martelando contra o peito.
Sentou-se na cama em um movimento rápido, inspirando profundamente enquanto tentava controlar a respiração ofegante. Os dedos trêmulos descansaram sobre os lençóis, e ela fechou os olhos ao ser atingida por uma pontada aguda de dor de cabeça.
Os pesadelos estavam se tornando frequentes, e cada vez piores. Na maioria das noites, ela revivia memórias dolorosas da morte de sua mãe ou vislumbres do futuro sombrio — a batalha contra a Tríade Negra.
As consequências das noites mal dormidas estavam cada vez mais evidentes em seu rosto. Olheiras profundas marcavam sua pele pálida e o cansaço constante era insuportável.
Os primeiros raios de sol começaram a invadir o quarto, atravessando as frestas da cortina fina e iluminando o ambiente com uma luz suave e quente. Arya suspirou, bocejando enquanto esfregava os olhos.
Depois de alguns minutos reunindo forças, Arya se levantou e tomou um banho gelado, na tentativa de dissipar o torpor. Em seguida, vestiu o uniforme do esquadrão, ajustando o tecido do manto sobre os ombros enquanto se preparava para mais um dia.
No refeitório para o café da manhã, o cheiro de pão recém-assado e café quente preenchia o ar. Seus colegas a cumprimentavam ao vê-la passar, e ela respondia com um leve aceno de cabeça, mais por educação do que por genuíno interesse.
A princesa escolheu uma mesa afastada das demais, sentando-se sozinha. Sua bandeja continha apenas um copo de suco e algumas torradas, mas o apetite era quase inexistente. Ela mordiscava uma das torradas distraidamente, o olhar perdido em algum ponto do salão.
De repente, um garoto alto e ruivo ocupou o assento vazio à sua frente, puxando-a de seus pensamentos.
— Eu tenho um plano, mas é provável que você não goste — sussurrou Logan Morningstar, inclinando-se ligeiramente para frente.
Ela arqueou uma sobrancelha, intrigada. — Por favor, me conte.
Logan olhou ao redor antes de continuar, certificando-se de que ninguém prestava atenção. — Você vai fazer exatamente o que o rei quer.
Arya piscou, incrédula. — Como é?!
Ele ergueu uma mão, pedindo paciência. — Espera. Você faz exatamente o que ele quer, apenas para seu tio pensar que está no controle. Assim, ele vai baixar a guarda.
— Mas...
Logan segurou seus ombros com firmeza, encarando-a diretamente nos olhos. — Pensa... Yuno está na mira do rei. Se você fizer o que ele quer, ele vai parar de te observar tão de perto e, enquanto isso, você terá mais liberdade para pensar em uma solução. Além disso, não pode confiar em todos os nobres deste esquadrão. Muitos são aliados do Augustus. Se virem você e Yuno juntos, não hesitarão em reportar aos pais, e isso vai direto para o rei.
Arya abaixou os olhos, sentindo um nó no estômago. Ela odiava aquela situação, odiava ser manipulada, mas precisava admitir que a ideia de Logan fazia sentido. Pelo menos até encontrar uma solução definitiva.
— Agora eu preciso ir — disse ele, levantando-se apressadamente. Estava atrasado para uma missão com sua irmã. — Não precisa fazer o que eu disse, foi só uma sugestão.
Logan desapareceu pelo corredor antes que ela pudesse responder, deixando Arya sozinha e imersa em pensamentos reflexivos. A conversa continuava ecoando em sua mente enquanto ela andava pelos corredores, sua expressão desolada refletindo o caos interno que a consumia.
Não era seguro manter Yuno por perto, não enquanto seu tio tivesse controle sobre tudo. Fingir aceitar o casamento arranjado era a única forma de proteger Yuno de qualquer retaliação até ela virar o jogo.
“É pelo bem dele, é pelo bem dele...”, Arya repetia para si mesma enquanto caminhava até a área de treinamento do Alvorecer Dourado. Suas pernas tremiam a cada passo, a dor no peito crescia, como se um pedaço de seu coração fosse arrancado.
Ao chegar à clareira escondida na floresta, ela parou atrás de uma árvore. O som das rajadas de vento ressoava no ar, Yuno estava lá, concentrado em destruir uma parede de pedra com sua magia.
Ela ficou ali, imóvel, observando-o em silêncio. Por um instante, pensou em como ele merecia mais do que ela podia oferecer naquele momento. Sentiu os olhos arderem, mas respirou fundo, reunindo coragem para fazer o que precisava.
A princesa saiu de trás da árvore, a respiração descompassada. Quando se aproximou de Yuno, ele interrompeu o treinamento e a olhou, surpreso.
— Está melhor do resfriado? Achei que ainda estivesse na cama - disse Yuno, andando em sua direção.
Ele já estava pensando em terminar o treino mais cedo e visitá-la em seu quarto. Mas o olhar dela... Havia algo diferente. Uma tristeza opressora preenchia o ar entre eles, e ele nunca a vira assim antes.
— Eu quero terminar com você — afirmou Arya, com a voz fria. Cada palavra era uma facada em seu próprio coração.
Yuno ficou estático, incapaz de processar o que havia acabado de ouvir. Era uma piada que ele não entendia?
— Você não está falando sério — murmurou ele, a descrença estampada em sua voz.
— Estou — disse Arya, encarando os olhos cor de âmbar dele com firmeza. — Serei bem direta com você. Não fale comigo, apenas me esqueça.
Yuno deu alguns passos na direção dela, a mão estendida para alcançar seu ombro, mas Arya recuou instintivamente, afastando-se de seu toque.
Antes que ele pudesse insistir, ela desapareceu em um brilho dourado, deixando apenas o silêncio atrás de si.
O garoto ficou ali, encarando o espaço vazio onde ela estivera. O eco das palavras dela martelava em sua mente, deixando-o paralisado. Bell, que assistiu tudo em silêncio, também parecia incapaz de reagir, chocada com o que havia acabado de acontecer.
Yuno se perguntou se havia feito algo errado. Ele fechou os punhos, não podia deixá-la partir assim, não sem respostas.
Determinado, ele foi atrás dela.
A PRINCESA estava na cidade litorânea de Atlanta, refugiada na casa de praia de sua bisavó. Ali, escondida sob o céu amplo e o som constante do oceano, ela sabia que Yuno jamais a encontraria — embora tivesse certeza de que ele a estava procurando.
Com os olhos fixos no horizonte, Arya sentia a brisa úmida acariciar seu rosto, os cabelos dançando suavemente ao vento. O som das ondas batendo nas rochas e espumando na areia era seu único consolo.
Ela suspirou profundamente e fechou os olhos por alguns segundos. Não conseguia apagar a imagem do rosto de Yuno, relembrar a expressão dele fazia o nó em sua garganta se apertar, mas, após tantas lágrimas, parecia que já não havia mais nenhuma a cair.
Os pensamentos logo se voltaram para seu tio. Embora ele nunca tivesse sido um homem justo ou gentil, Arya não esperava que ele fosse tão longe, mas ela não se surpreendia.
Infelizmente, a princesa nunca fora bem-vista pela nobreza. Bastava ser uma filha bastarda para ser rejeitada. A morte de sua mãe, acusada de ser uma "amante de plebeus", e suas duas magias incomuns apenas agravavam sua situação.
Com frequência, ela se sentia deslocada entre eles. A ironia de tudo isso era que um dia seria rainha de Clover.
Por vezes, Arya se pegava imaginando como seria sua vida se não carregasse o título de princesa. Livre das correntes da realeza, que tipo de pessoa poderia ser?
O céu estava escuro quando finalmente decidiu deixar a praia. O tempo havia voado enquanto ficava ali, sentada na areia. A brisa noturna era fria, e ela sabia que não era sensato ficar ali por mais tempo, considerando que ainda se recuperava do resfriado. Enquanto caminhava de volta à casa de sua bisavó, algo no chão chamou sua atenção.
Um trevo de quatro folhas. Que ironia.
— Alteza? — uma voz cortou o silêncio, chamando sua atenção. Arya ergueu os olhos e viu uma das criadas da casa se aproximando com passos rápidos. — Seus aposentos estão prontos, e a Lady Arabella está acordada, talvez queira vê-la. Também chegou uma carta endereçada a você.
— Certo, obrigada — respondeu Arya, pegando o envelope que a criada lhe estendia.
Ela abriu a carta com cuidado, o papel amarelado emitindo um som leve ao ser desdobrado. Havia apenas duas palavras escritas:
Bom trabalho.
O coração de Arya apertou ao reconhecer as letras horrorosas do rei. Seu tio continuava a mover as peças do tabuleiro, acreditando que a princesa se submeteria à sua vontade.
Antes de entrar na casa, ela virou o rosto, lançando um último olhar à paisagem. O mar escuro reluzia sob a luz prateada da lua, enquanto o vento frio acariciava seu rosto.
Arya havia tomado sua decisão. Passaria os próximos meses treinando incansavelmente contra a ameaça da Tríade Negra e, no tempo certo, derrubaria o império de seu tio... Peça por peça.
Mesmo encurralada e vulnerável, ela não desistiria.
Arya não perderia a esperança.
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