͏ ͏ ͏͏ ͏ ͏ ͏ ͏͏chapter ͏ ͏03 ͏ ͏- ͏ ͏megicula

A MASMORRA estava absurdamente fria.

Dois guardas do palácio do Reino Spade tinham papéis de anotações em suas mãos, observando as máquinas usadas para experimentos de magia em humanos.

- Ei, Ayo, pegue logo a garota - pediu um deles, com um olhar de tédio no rosto. - Em pouco tempo a maldita Resistência invadirá o castelo, e ficaremos na linha de frente.

- Zuri... - sussurrou o outro, os olhos arregalados para a figura feminina escondida parcialmente nas sombras. - Acho que ela está morta.

Arya Kira Clover estava pendurada pelos pulsos em correntes de ferro cheias de espinhos, e finas linhas douradas e brilhantes marcavam seu corpo, como rachaduras de mana que se espalhavam por seus braços e mãos. Seu uniforme do Alvorecer Dourado estava em farrapos, sujo de sangue dos ferimentos novos e antigos que não foram cicatrizados.

- Ela está fingindo, não é a primeira vez que faz isso - retrucou Zuri, sem dar atenção. Ele estava de costas, terminando de anotar no papel as últimas observações da experimentação do dia enquanto olhava para os tubos de máquinas e outros líquidos fluorescentes em uma estante.

Apesar da falta de preocupacão do colega, Ayo Lains se aproximou da princesa, e esticou o braço para tocar em seu pescoço e checar os batimentos cardíacos. - O pulso dela está fraco, não podemos entregá-la para Morris desse jeito. Ele a quer viva, e parece que ela não vai conseguir resistir à outra-

Zuri enfim se virou, com uma expressão irritada. - Apenas faça o que nossos superiores ordenaram!

Tudo o que Arya sentia era dor.

Não sabia quantos dias haviam se passado desde a sua captura, mas tudo o que pensava era em fugir e voltar pra casa. Sabendo das mínimas chances de seu plano dar certo, tinha se fingido de morta para tentar ouvir informações úteis dos guardas até que conseguisse uma oportunidade para fuga, ou que seus amigos viessem resgatá-la.

Ela se perguntou como as pessoas poderiam ser tão cruéis e maldosas. Seu tempo naquele lugar foi uma verdadeira tortura, Arya suportou a extração de sua mana repetidas vezes, um processo doloroso que a fez pensar que não conseguiria resistir, mas pensar em sua família e amigos ajudou a suportar as intermináveis horas de dor.

Primeiro, ela ouviu as fechaduras que rodeavam seus pulsos serem abertas, e prendeu a respiração no mesmo instante. Mãos fortes envolveram sua cintura e a carregaram antes que seu corpo caísse no chão após se livrar das correntes que pendiam do teto, então Arya sentiu que era apoiada no piso frio da masmorra.

Sem respirar, os batimentos cardíacos da princesa aumentaram rapidamente até diminuir em uma velocidade impressionante. Apesar da necessidade de ar nos pulmões, Arya continuou concentrada e imóvel, pensando que em poucos segundos estaria livre dali.

- Zuri, traga um curandeiro, rápido!

O guarda logo correu, apesar de protestar, e em seguida, a princesa abriu os olhos, agarrando o pescoço do homem em sua frente com força.

A mana do homem, de um vívido tom azul, parecia sair de seu corpo e ir até Arya, enquanto as linhas douradas nos braços da princesa recuavam lentamente. Ela roubou sua mana em questão de segundos, uma habilidade que deve ter adquirido nos últimos dias ou talvez fosse apenas temporário,  por conta dos experimentos.

O inimigo caiu imóvel para o lado, enfraquecido. Finalmente livre, a princesa se ergueu do chão com dificuldade, tossindo e mancando conforme andava até a porta para fora da masmorra. Vendo que o corredor estava vazio, Arya estranhou a falta de guardas no castelo, mas finalmente entendeu quando viu pelas vidraças um enorme demônio e uma figura brilhante como fogo que o atacava.

Arya sorriu ao reconhecer a mulher. - Mereoleona... Se ela está aqui, então...

- PEGUEM-NA! ELA ESTÁ ALI!

A princesa correu em disparada ao ouvir o som de passos a seguindo, e virou os corredores, fugindo dos guardas e desviando dos feitiços que eles lançavam em sua direção. Ela quase foi pega, até que o chão desmoronou aos seus pés e a princesa sentiu seu corpo ser segurado por alguém.

- Achei você! - exclamou Gwendolyn Mornigstar, com um grande sorriso no rosto, abraçando a amiga com força. - Eu sabia que estava viva e que ia encontrá-la!

Evangeline Rosier, ao lado das duas, usou sua magia para congelar os guardas, que logo viraram apenas estátuas de gelo. A garota se virou para a princesa, e soltou um suspiro de alívio. - Todos ficaram preocupados, depois que você desapareceu em um portal depois de lutar com Zenon.

Gwendolyn deu um gritinho de felicidade, e segurou os ombros de Arya com força. - Você não vai acreditar, uma novidade muito muito legal!

A princesa a olhou com curiosidade, rindo de sua animação repentina. - O que aconteceu?

- Yuno é o príncipe de Spade!

Arya ficou boquiaberta, processando a informação. Uma ideia surgiu em sua mente, na possibilidade de voltar a falar com o garoto que tanto amava e pensava todos os dias. Se ele era mesmo um príncipe, então o que seu tio poderia falar contra?

Evangeline se aproximou, olhando para o estado deplorável da princesa, cheia de hematomas e o uniforme sujo de sangue. - O que eles fizeram com você?

- Não é nada demais. Fizeram alguns experimentos sobre minha magia, essas coisas - murmurou Arya, desviando o olhar enquanto seus ombros ficavam tensos ao lembrar do que passou nos últimos dias.

- Vamos encontrar Finral ou Nacht, e eles te levam de volta para Clover - afirmou Gwendolyn, olhando ao redor do corredor do castelo. - E seu pai está morrendo de preocupação.

O rosto de Arya ficou pálido ao ouvir um nome que não era mencionado há tantos anos. - Nacht...?

- EI, ARYA!

A princesa se virou, vendo alguns dos seus amigos do esquadrão dos Touros Negros. Asta, Zora Ideale, Luck Voltia, Magna Swing, e a pessoa que Arya não esperava ver depois de tantos anos... Nacht Faust.

Ele estava diferente, parecia que havia mudado bastante desde o incidente com o falecido irmão-gêmeo, Morgen Faust. Nacht estava mais alto, seu cabelo longo e preto preso em um rabo de cavalo baixo, e seus olhos azuis pareciam frios.

Asta se aproximou da garota com um sorriso, e a abraçou em seguida. - Que bom que você está bem! O vice-Capitão Nacht pode te levar de volta para Clover.

- Há quanto tempo, Arya - cumprimentou Nacht, olhando para a princesa, que cerrou os punhos ao vê-lo, e tinha uma expressão enraivecida.

Decidida a ignorar aquele homem, Arya se virou e começou a andar pelo palácio em passos rápidos, logo seguida pelo restante do grupo.

[...]

O CASTELO estava infestado de magia demoníaca, uma mana sombria e obscura que se fortalecia a cada segundo que passava.

Arya Kira Clover conseguia ouvir uma voz fria e arrastada ecoar pelo corredor. - Explodirei Loropechka e matarei todos os humanos que estão nesse castelo de uma só vez. E então... Minha manifestação estará completa.

O grupo de Cavaleiros Mágicos adentrou o salão, se deparando com a rainha de Heart, Loropechka, em uma forma demoníaca, e Noelle Silva, com sua Armadura Valquíria ativada, além de Megicula.

O demônio tinha um par de chifres grandes e curvos em forma de carneiro, orelhas pontudas e cabelos longos, ondulados e claros, além de três olhos com pupilas em forma de fenda, e manchas escuras ao redor deles.

Arya sabia que não estava em condições de lutar, então se recuperava lentamente, observando a luta que prosseguia conforme se curava.

- Loropechka! - Noelle gritou o nome da rainha, que estava prestes a ser consumida pelo demônio, mas um vulto pequeno foi mais rápido em salvá-la. Em sua espada e com o grimório do trevo de cinco folhas flutuando ao lado, Asta retirou sua outra espada entre as páginas do livro.

- Cara, essa foi por pouco! Quase que não consigo! - Asta havia usado sua segunda arma para anular a forma demoníaca da rainha, que agora estava desacordada em seus braços. - É bom nos vermos são e salvos! Não é, Noelle?

A garota sorriu ao vê-lo, com lágrimas surgindo no canto de seus olhos. - Não estamos completamente são e salvos, Astúpido.

Eles olharam ao redor. Rill Boismortier, o Capitão dos Cervos Cianos, e Charlotte Roselei, a Capitã das Rosas Azuis, estavam ambos ajoelhados no chão, parecendo indispostos para continuar lutando, e Undine, o Espírito da Água, estava inconsciente.

Arya logo se apressou para tentar curar o Guardião Espiritual, Gaja, depois de ver o corpo parcialmente queimado em um canto. Mas a princesa sabia que apenas Mimosa Vermillion seria capaz de curá-lo, devido a gravidade dos ferimentos.

Magicula então decidiu matar Loropechka e Vanica Zogratis, para que o demônio enfim pudesse se manifestar plenamente, no entanto, as runas das maldições sobre as duas desapareceram, o que o deixou surpreso.

De repente, um espinheiro floresceu do chão, com rosas azuis e vermelhas, e a Capitã Charlotte se ergueu, com um olhar determinado. - Eu ainda... Consigo lutar!

- Esse não é o tipo de feitiço que costumo usar, então demorou um pouco para ser ativado. Apenas por alguns minutos, somos invencíveis! - disse o Capitão Rill, com o pincel em mãos. - Uma vez que o tempo acabar, todos os danos voltarão, mas a essa altura, quem se importa?

- Rill, uau! Isso é insanamente incrível! - elogiou Asta, o olhando com admiração. - E também, estou feliz que esteja vivo!

Megicula sorriu. - Vocês, humanos, realmente são fascinantes. Os Discípulos das Trevas que serviram para entreter Vanica e a mim, estão adormecidos abaixo desta torre. Irei controlá-los com o poder demoníaco, e com o poder de Acier e Vanica, cujas almas pertencem a mim.

Surgiram cerca de cem cadáveres vivos de sangue e aço, com uma força monstruosa. Trabalhando juntos para detê-los, Charlotte usava sua espada de roseiras como especie de chicote para prender o máximo de oponentes que podia, enquanto Rill controlava os guerreiros do seu feitiço Crepúsculo de Valhalla para lutar contra os mortos-vivos.

Arya se assustou quando uma onda gigante veio em sua direção de repente, e se tranformou em uma bolha de água que a protegia, junto com Asta e Loropechka.

- Desculpa, nesse momento, sou totalmente inútil! O resto é com vocês! - comentou Asta, olhando para os companheiros. - Noelle, você é capaz de cuidar disso!

- Do que está falando?! Você acabou de chegar! - a garota retrucou, mas depois sorriu, com o rosto ruborizado. Só o fato de simplesmente pensar nele, fazia Noelle Silva ter forças para continuar.

E em um momento como aquele, percebeu que amava o Asta.

- Estágio final do Nível Santo! - Noelle assimilou o Espírito de Água em seu corpo e armadura. A tiara se tornou uma pequena coroa com um halo acima, e as asas na parte inferior das costas tornaram-se emplumadas, como se ela fosse um anjo celestial.

- Noelle, você é incrível! - exclamou Asta, admirado, enquanto torcia para a colega, junto com Arya.

[...]

OS IRMÃOS Silva haviam conseguido derrotar o demônio Megicula. 

Luck Voltia e Gaja também avançaram contra o inimigo, usando em conjunto sua Magia de Raio, e conseguiram destruir o corpo do demônio, deixando seu coração exposto para que apenas um golpe fosse necessário para finalizá-lo.

No entanto, quando Noelle Silva acertou o órgão, o feitiço Mundo Decadente de Megicula parou a espada de água. O demônio iria retribuir o ataque com força revigorada, mas Nozel Silva protegeu sua irmã no último segundo, e juntos, o derrotaram de uma vez por todas.

- Sinto muito, Charlotte. O efeito do feitiço irá acabar em breve - disse Rill, olhando para a amiga com pesar.

A mulher sorriu gentilmente. - Não precisa se desculpar. Você fez tudo o que podia para que eu pudesse lutar, sou muito grata por isso.

O feitiço do Capitão se dissipou. Gaja, Charlotte e Rill caíram no chão, imóveis.

- Magia de Luz: Cura Sagrada!

- Aquenelle Lore!

A princesa Arya e a rainha Loropechka tentaram usar feitiços para curar os três, mas não eram o bastante.

- Não podemos fazer nada - Nacht Faust surgiu de um portal nas sombras, andando até eles. - Nem todo mundo que luta pelo bem é recompensado por isso. Essa é a realidade. Eu trouxe quem você me pediu para trazer, mas não sei se vai funcionar.

Arya sorriu ao ver outra pessoa surgir no portal. - Mimosa!

- Não deixarei ninguém morrer! - a Vermillion exclamou, pegando seu grimório que brilhou em uma luz verde. - Utopia da Princesa Floral!

No corpo de Mimosa, surgiu um vestido alado feito de flores, e ela criou uma grande matriz de mana natural de várias camadas sob seus alvos. As flores cresciam ao redor da matriz, cobrindo o chão, enquanto um grosso feixe de hastes crescia do centro e formava uma torre com um berço de flores no topo.

Logo, Rill, Charlotte e Gaja acordaram, e todos os seus ferimentos haviam sumido, como se nunca tivessem sido machucados.

Todos ficaram surpresos com a potência daquele feitiço. Arya também notou que seu ferimento na barriga havia desaparecido, e agradeceu à amiga.

- Gaja! - exclamou Loropechka com lágrimas nos olhos. - Isso foi tudo minha culpa! Sinto muito!

- Não fiz nada além do meu dever como um Guardião Espiritual - disse ele, sem esboçar reação.

- Vocês não tem nada a dizer um para o outro? - murmurou Noelle.

- Eu te amo - afirmou Gaja, com um tom firme, enquanto todos o olharam com surpresa para a repentina declaração. - Não como minha rainha, mas como mulher.

Loropechka parecia prestes a desmaiar, o rosto com uma cor tão vermelha quanto um pimentão, sem conseguir acreditar no que ouvia. Ao lado dela, Undine chorava dizendo que a rainha era apenas sua.

- Agora, falta apenas mais um membro da Tríade Negra! - comentou Nacht, olhando para os demais.

- Quem está lutando com Zenon agora? - perguntou Arya, mas no fundo já sabia a resposta. A imagem de um garoto moreno e de olhos dourados surgiu em sua mente, e a princesa rezou para que ele estivesse bem.

- Yuno e Langris.

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