15 - Ao menos uma vez, não seja idiota
— NOTAS INICIAIS —
SEGUINTE, MEUS AMORES.
O Brasil ganhou e pra comemorar eu já trouxe logo o cap 15 que tô devendo há um tempo (mesmo sem ter terminado de responder os comentários anteriores ainda).
Como eu já reforcei várias vezes (alguém lê isso aqui?), eu fiz muitas modificações em SBY em vários pontos e obviamente eu não podia deixar de acrescentar mais caos para o nosso querido casal.
Eu juro que as coisas vão melhorar, mas antes de melhorar elas vão piorar. Mais? Talvez um pouco viu kkkk eu amo vocês, de verdade. obrigada por quem acompanha desde que comecei a repostar, por quem veio do spirit, por quem nunca leu antes, por quem já leu várias vezes e tá dando uma chance a essa versão reescrita.
Meu ig, onde eu mais posto sobre as minhas histórias (entre fanfics e originais) é @ chadaescrita igual aqui, fiquem à vontade pra me seguir lá e interagir comigo (tô usando mais que o twitter, mas também tô lá com o mesmo @ que aqui)
Boa leitura! <3
— * —
A expressão de Jimin era pura incredulidade. Yoongi, por um momento, chegou a acreditar que tinha quebrado o garoto quando ele não se mexeu.
— Como é que é?! — Jimin subiu em cima da cama, encarando Yoongi de cima, os olhos arregalados e, se ele fosse sobrenatural, prestes a soltar faíscas. — Repete.
— Não sei se devo. — Yoongi deu um passo para trás. — Parece que você vai matar alguém.
— Porque eu vou! — A voz dele soou contida, mas irritada o suficiente para que Yoongi sentisse um arrepio por seu corpo. — Como assim eles nunca foram namorados?
— Foi o que eu ouvi — comentou Yoongi, dando mais um passo para trás até encostar na porta do quarto de Jimin.
Era um lado de Park Jimin que ele desconhecia completamente e, apesar de estar receoso com o olhar raivoso do garoto à sua frente, havia um alívio dominando o peito de Yoongi.
Foram pegos de surpresa, é claro, mas isso permitia que eles fossem um pouco mais do que realmente eram, sem se esconder atrás de uma máscara falsa. Era uma sensação tão reconfortante que os ombros de Yoongi relaxaram no mesmo instante.
— Eu meio que ouvi a conversa deles — Yoongi confessou, desviando o olhar. Sentia-se envergonhado. Ele foi até o quarto dos dois na intenção de conversar com Jeongguk e ver como os dois estavam, considerando que ele não tinha intimidade suficiente com Taehyung para tanto. E foi aí que ele ouviu. — O Taehyung pediu desculpas ao Jeongguk por meter ele nisso e foi quando...
— Espera. — Jimin se sentou na cama. — Me conta tudo o que você ouviu.
Yoongi suspirou e se sentou no chão, as costas encostadas na madeira da cama de casal em que Jimin estava. Era estranho estar ali, tão próximo, conversando como pessoas civilizadas depois de tanto tempo guardando mágoa por algo que agora ele sabia, sequer havia existido.
Sentia-se tão estúpido por não ter dado ouvidos a Jimin naquele dia. Pior, sentia-se no auge da imbecilidade quando pensou que poderia ter dado uma chance ao ex-namorado quando seu coração estava menos ferido, apenas para que eles pudessem conversar.
O problema é que Yoongi não imaginava que toda aquela mágoa que ele acreditava ter enfiado em um baú e jogado nas profundezas do oceano, pudesse, na verdade, estar exposta na superfície assim que ficasse cara a cara com Jimin outra vez.
O universo havia sido cruel quando aproximou Yoongi de Jimin daquela maneira, afinal, por causa disso Taehyung e Jeongguk resolveram ter um namoro falso, o que levou, supostamente, ao retorno de Bogum.
O que eles não faziam ideia é que Bogum nunca sumiu completamente da vida de Taehyung.
Jimin colocou a mão no ombro de Yoongi quando percebeu o ex-namorado imerso em pensamentos.
Yoongi fez um sol esquisito com a boca, uma espécie de muxoxo que arrancou uma risada fofa de Jimin. Então ele contou tudo o que ouviu, desde de Taehyung pedindo desculpas por ter metido Jeongguk nessa confusão, do namoro ser falso e tudo o que Bogum fez.
Quando terminou, havia lágrimas escorrendo pela bochecha de Jimin e seu lábio inferior tremia. Toda a raiva que ele sentia anteriormente se dissipou no mesmo instante.
O brilho no olhar de Jimin se apagou. Era claro como o dia que a história de Taehyung e Bogum mexia com eles e Yoongi sequer sabia o motivo. E esse era o principal problema, ele nunca deixou que o ex-namorado se abrisse e contasse tudo o que o afligia, quem eram as pessoas mais importantes em sua vida, apenas porque ele optou por acreditar naquilo que viu e ouviu ao invés de confrontar e esperar uma explicação.
Era muito provável que Jimin, naquela época, não pudesse revelar uma história que não era sua e, independente do tipo de conversa que eles tivessem, talvez levasse para o mesmo lugar: um término.
No entanto, o que o Yoongi do passado falhou em entender é que um fim de relacionamento com uma conversa sincera era melhor do que despejar suas inseguranças em alguém que também estava sofrendo.
— Eu sinto muito — Yoongi disse com a voz quebrada, se erguendo para enxugar as lágrimas de Jimin com o polegar. — Sinto muito por tudo o que fiz a gente passar nesses últimos anos.
Jimin balançou a cabeça, fungando. O nariz escorria e estava um pouco avermelhado, mas se recusava a ceder. Ele juntou as mãos de Yoongi nas suas e extravasou em palavras. Tudo aquilo que ficou entalado, por anos, finalmente foi permitido sair de seu peito.
Naquela época, Taehyung era apenas um garoto feliz e inocente. Nunca havia namorado antes ou se envolvido com alguém, estava descobrindo o que seu coração queria, por quem batia mais forte, e Bogum se aproveitou para conquistá-lo. Foi fácil.
Taehyung não era uma pessoa manipulável, ou ao menos ele achava que não era. Quando alguém chega te dando carinho, flores e amor, fazendo você se sentir como a pessoa mais querida do mundo, isso muda sua perspectiva em um relacionamento.
Foram quatro meses. Parecia pouco, mas foram o suficiente para que Bogum transformasse algo bom em algo ruim. Ele começou a notar que Taehyung era gentil com todo mundo e barrou isso. Notou, também, que ele amava demais Jimin e Hoseok, os abraçava e beijava, dava todo o carinho que ele podia aos melhores amigos. Isso também foi barrado.
A sutileza com que Bogum fazia as coisas e manipulava era perversa. Algo que no começo passou despercebido por Taehyung, mas não sem antes encher a cabeça dele com frases que ficavam no seu inconsciente e, com o tempo, passaram a se tornar algo que ele acreditava.
Com o tempo, Taehyung se afastou dos amigos porque acreditava na palavra de Bogum. As amizades viraram rastros fantasmas e ele passava o tempo todo com o namorado, para qualquer lugar que desejasse ir.
Era uma liberdade disfarçada.
Apesar de tudo, quando Bogum o tratava diferente, Taehyung desconfiava daquele tal amor e começava a sentir falta do que ele tinha no passado. Não era em nada parecido com o que via nos filmes clichês que assistia na sexta à noite com Jimin e Hoseok. Sentia saudades dos melhores amigos e provavelmente isso foi o que moveu sua decisão no dia em que ganhou a cicatriz em suas costas e na coxa.
Bogum se desesperou ao ver o namorado machucado, mas isso não impediu Taehyung de terminar o namoro. Era a chance que precisava, mesmo com medo.
Apesar dos protestos de Bogum, ele foi embora. Deixou Taehyung sozinho e não voltou mais.
Taehyung chegou no dormitório de Jimin naquela noite, chorando, implorando por perdão. Como era perto das férias, os dois viajaram justamente para a cidade onde Jimin havia conhecido Yoongi, afinal era onde ele possuía uma casa e o único lugar que poderiam fugir da presença de Bogum caso ele resolvesse voltar pedindo outra chance.
Quando Bogum não voltou, Jimin e Hoseok viram uma esperança no fim do túnel. O que eles não esperavam eram o estrago que já havia sido feito. Os pesadelos, as crises de ansiedade e o vício por cigarros que Taehyung desenvolveu mostravam uma pessoa quebrada.
No fundo, os amigos não tinham mais conhecimento de quem era Kim Taehyung e só não o desconheciam por completo porque tinham um longo passado juntos.
Contudo, o brilho no olhar de Taehyung havia desaparecido. O menino gentil e alegre voltou com o tempo, feito por uma máscara que ele criou para que os amigos não se preocupassem mais.
Taehyung soube manipular as próprias emoções e isso o destruiu por dentro, dia após dia.
No início, Taehyung sonhava com rosas manchadas de sangue. Era um sonho que se tornou recorrente, mas naquela noite em específico ele acordou com uma sensação estranha e pediu para, na manhã seguinte, para Jimin ir passear com ele no lago.
Foi a primeira vez que ele se quebrou na frente do melhor amigo. Taehyung chorou tanto que Jimin não soube o que fazer, então ele fez o que sua mãe fazia quando chorava, beijou as lágrimas do melhor amigo e sussurrou que tudo ficaria bem e que ele o amava muito.
— Eu não fazia ideia — sussurrou Yoongi quando enfim descobriu a verdade diante do que viu e ouviu. — Sou um idiota e egoísta. Vocês estavam passando por algo tão delicado e eu simplesmente... Esqueci que as pessoas estão passando por batalhas que desconhecemos.
— Não tinha como você saber. Se fosse o contrário, você e o Jeongguk, eu teria pensado o mesmo.
Yoongi soltou uma risada pelo nariz, era algo triste, mas que não traduzia toda a dor em seu peito por sua teimosia.
— Você jamais teria feito o que eu fiz.
— Talvez — admitiu Jimin —, mas a gente não tem como garantir. No calor do momento, pensamos e fazemos muitas coisas que não queremos.
— Que assustador, você parece o Namjoon falando — murmurou Yoongi.
— Adoro aquele homem intelectual. — Jimin riu, enxugando as próprias lágrimas. — Seres humanos são complicados, Yoongi, é óbvio que os relacionamentos também vão ser.
— Mas eu não precisava ter te magoado.
— Não. — Jimin sorriu e segurou o rosto de Yoongi entre suas mãos. — Mas já foi, é uma mágoa passada que eu não guardei no meu peito. Sempre quis ter essa conversa com você porque, no fundo, sabia que entenderia.
Yoongi assentiu e se inclinou para frente, encostando sua testa na de Jimin. Os dois ainda tinham muito para conversar, para se resolver, mas no momento aquilo era mais do que suficiente.
— O que nós vamos fazer?
— Sobre o quê?
— O relacionamento falso dos dois — Yoongi sussurrou.
— Ah. — Jimin abriu um sorriso travesso e parecia até que havia se esquecido de que estava sendo enganado esse tempo. — Nós vamos observar e ver o quanto desse relacionamento é realmente falso.
— * —
Havia algo de estranho. Desde a invasão de Bogum, a segurança foi reforçada e, como esperado, ele não retornou até a mansão.
Contudo, Jeongguk achava esquisito a ausência do ex-namorado de Taehyung depois de uma mensagem tão íntima. Bogum dizia algo com aquele colar e palavras ou a sua presença constante não eram necessárias para afetar Taehyung.
Ainda assim, Jeongguk sentia que o clima havia mudado, não apenas entre ele e Taehyung, mas entre os sete. Havia segredos demais entre as pessoas presentes naquela mansão de vidro no momento.
Jeongguk esticou os pés na areia, impaciente. O silêncio o incomodava de um jeito que nunca ocorreu antes. Até mesmo o barulho do mar o deixava inquieto e com vontade de gritar.
Havia se acostumado a ser invisível, muito embora soubesse que chamava a atenção das pessoas com suas roupas pretas ou o seu olhar fechado. Contudo, sentir-se como um fantasma era diferente de ser evitado.
Ele odiava ser evitado, mas mais ainda, odiava que Taehyung fizesse isso depois de toda a conversa que tiveram.
Nos dias que se passaram, Taehyung passava muito tempo grudado em Jimin e Hoseok, às vezes até mesmo conversando com Yoongi e sorrindo para ele. Porém, quando Jeongguk chegava perto, o sorriso desaparecia, era como se a presença do falso namorado o deixasse incomodado.
Jeongguk não sabia o que fazer diante da mudança brusca de atitude, embora compreendesse que Taehyung fazia isso para afastá-lo. O que, na sua opinião, era idiota. Eles ainda tinham um relacionamento falso e, mesmo se terminassem de repente, o sentimento não iria embora.
Na frente dos amigos a farsa continuava como se nada tivesse acontecido, mas Jeongguk conseguia perceber as diferenças. Ser observador e conhecer Taehyung melhor do que ele gostaria com o tempo em que passaram juntos o fez perceber atitudes que o falso namorado fazia que não eram sua verdadeira vontade.
Quando andavam juntos, ele sentia os dedos entrelaçados de Taehyung, sentia o calor do seu sorriso, sentia o sentimento transbordando pela mentira. Porém, quando Jeongguk o olhava diretamente nos olhos, o mundo começava a ruir à sua volta.
Taehyung estava fugindo até mesmo do que sentia e tudo o que Jeongguk queria, além de xingar o falso namorado, era dar umas boas porradas naquele rosto lindo e dizer que ele, mais do que ninguém, era digno de ser amado.
Nunca na vida Jeongguk sentiu tanta raiva de alguém como sentia de Bogum e das coisas absurdas que ele falou para Taehyung durante o relacionamento dos dois. Palavras que machucaram uma alma tão bela.
E, de quebra, Bogum machucava todo mundo à volta de Taehyung.
— Já chega! — Jeongguk falou alto, assustando os amigos que descansavam na praia. — Inferno!
— O que foi? — perguntou Yoongi, encolhido debaixo do guarda-sol, com uma camiseta duas vezes maior do que ele, para se esconder dos raios solares.
— Nada. Tudo. — Jeongguk se jogou na areia e abriu os braços, o céu, antes todo azul, agora já estava quase coberto por nuvens. Ele começava a odiar tempestades e tudo o que elas traziam. — Eu já nem sei mais.
Taehyung se levantou de repente e esticou a mão para Jeongguk. Por um breve segundo, ele ficou confuso, mas aceitou o pedido existente no olhar do falso namorado.
Em silêncio e ignorando todos os olhares dos amigos, os dois se afastaram o suficiente para que não fossem ouvidos. É claro que eles perguntariam se eles brigaram ou qualquer outra coisa quando voltassem, o que Jeongguk tinha certeza, dependendo da conversa, estaria estampada em sua cara.
Ele podia ser emocionalmente constipado, mas não dava para disfarçar algumas coisas e tudo o que Taehyung lhe causava, com certeza era uma delas.
— O que-
— Jeongguk — o falso namorado interrompeu, virando-se de frente —, eu sou grato por tudo o que você fez pra me ajudar.
— Certo... — Jeongguk franziu as sobrancelhas. — Por que está falando isso agora?
— As coisas finalmente estão dando certo com o Jimin e o Yoongi, né? — Taehyung mordeu o lábio inferior e olhou para o chão. Ele brincava com um monte de areia, cutucando com o chinelo. Quando ergueu o rosto, a intensidade dos olhos de Jeongguk o pegou de surpresa. — Acho que... — Ele engoliu em seco. — Acho que a gente pode terminar essa farsa e seguir o nosso caminho. Continuaremos amigos e-
— Você só pode tá brincando. — Houve uma pausa e então Jeongguk deu um passo para trás, a língua passando pelos lábios ressecados pelo vento. — Por quê?
— Porque é o que faz sentido e foi o que nós combinamos.
— Em momento algum nós combinamos o caos que rolou até agora, mas eu estive do seu lado o tempo todo — Jeongguk comentou.
— Por isso mesmo eu sou grato.
— Deixa eu ver se eu entendi onde você quer chegar. — Jeongguk riu, soltando o ar pelo nariz. Ele se sentia nervoso com aquela conversa. — Você quer terminar tudo agora, justamente quando tem uma merda gigantesca acontecendo com você desde que a gente começou a se envolver?
— Não tem nada a ver com ele — murmurou Taehyung.
— Ah não? — Jeongguk apertou a ponta do nariz. — Eu errei muito em não ter contato nada pros meninos, mas por um pedido seu, fiquei quieto. Aí essa porra desse cara volta, consequentemente todos os seus pesadelos e medos voltam, mas não tem nada a ver com ele?
— Minha decisão não tem nada a ver com a presença dele — Taehyung reforçou o que havia dito.
— Certo. — Jeongguk riu de novo, indignado. Parecia que tudo o que estava entalado em sua garganta até aquele momento, precisava sair ou ele sufocaria. Ele pressionou as mãos suadas em punho ao lado do corpo. — Eu entendo que o Yoongi e o Jimin tão se resolvendo e que, na teoria, a gente devia terminar porque não temos mais motivo para sustentarmos a farsa, mesmo que eu tenha pedido pra você não fazer isso enquanto estamos aqui.
— Sim, mas-
— E o problema não é o Bogum — interrompeu Jeongguk e viu Taehyung assentir. — Claro. Porque o problema agora é outro.
— C-como assim?
— Nós dois. — Os olhos de Jeongguk estavam marejados e ele fazia um esforço absurdo para não começar a chorar. — Você ignorou todas as vezes que eu disse que gostava de você. Sabe que eu não falaria isso da boca pra fora. Porra, você me conhece, me chamou de emocionalmente constipado noventa por cento do nosso namoro e quando eu digo que eu tô apaixonado por você, o que você faz? Reage como se fosse mentira, mas sabe que não é. Eu sei que você também sente algo.
Taehyung abriu a boca para responder, mas Jeongguk esfregou o rosto e deu mais um passo para trás.
— Juro. — Outro passo para trás de Jeongguk. O abismo que começava a construir entre ele e Taehyung ficava cada vez mais evidente com suas atitudes. — Me desculpa se eu te pressionei, não quis isso. É óbvio que o Bogum aparecer assim deixou tudo mais — ele gesticulou com a mão, sem saber qual palavra usar —, difícil. Nem é essa a palavra que eu quero usar. Mas... mas a gente tem algo aqui. Eu sei disso. Podemos enfrentar tudo juntos e você não precisa mais engolir toda essa dor sozinho, porque você nunca esteve sozinho.
A postura de Taehyung mudou ao ouvir tudo aquilo. Jeongguk sabia que o falso namorado era atingido por cada uma de suas palavras, passou tempo demais com ele, derrubando suas barreiras, uma por uma, para não o conhecê-lo.
Esperava que dessa vez Taehyung compreendesse que não estava sozinho, que podia contar com todos eles e que juntos procuraria por uma solução para por Bogum na cadeia. Não seria fácil, mas o ex-namorado de Taehyung tomava atitudes desesperadas e ele já havia errado ao invadir uma mansão. Agora, ele era procurado por invasão de domicílio, não era muito, mas era algo.
— Jeongguk, você entendeu errado. — A voz de Taehyung tremia e Jeongguk não sabia dizer se era por desejar chorar igual ele ou se pelo vento frio. — Você não me pressionou nem nada. Eu realmente sou grato por tudo, mas... Eu só não gosto de você da mesma forma.
E, aquilo, Jeongguk definitivamente não esperava ouvir. Outro passo para trás, com as pernas trêmulas e prontas para cederem na areia.
— Não gosta de mim da mesma forma — repetiu Jeongguk, incrédulo.
— Não. Desculpa.
— V-você me beijou. — Jeongguk engoliu em seco. — Aquele dia, você me beijou de verdade.
— Foi só um beijo. — Se Taehyung tinha a intenção de enfiar uma lança no coração de Jeongguk e puxá-lo para fora de seu peito, estava conseguindo. — Não era para significar nada demais. Era pra fingir que a gente tava se pegando, como você pediu. Sinto muito se fiz você entender errado.
Jeongguk sabia que Taehyung mentia bem. Todo aquele tempo eles mentiram com maestria para os amigos, embora em um certo momento Jeongguk soubesse que não estava mais fingindo.
— Algum dia você vai realmente se dar uma chance? — Jeongguk ousou perguntar, as lágrimas rolando pelo seu rosto.
— Não sei do que você tá falando.
— Não se faça de sonso, Taehyung. — Mais lágrimas, eram salgadas e se infiltraram na sua boca. Jeongguk não se importava. Ele era assim, sensível, romântico e um tremendo de um idiota. — Você tá fazendo exatamente o que ele quer e sabe disso. Tem medo e eu compreendo. Talvez até ache mesmo que eu confundi as coisas ou qualquer outra merda que esteja passando na sua mente por causa das coisas que o Bogum falava. Mas, no fundo, você sabe que só tá fugindo de se dar uma chance, de gostar de mim da mesma forma.
— Não viaja. — Taehyung cruzou os braços, encolhendo-se do frio. Ele fazia um esforço tremendo para não chorar, Jeongguk conseguia notar, mas não precisava apontar o óbvio. Não conseguiam mais mentir um para o outro e estavam apenas se machucando. — Eu tô bem assim, sozinho. Sempre estive e não tava buscando um namoro de qualquer forma. O Jimin e o Yoongi finalmente se acertaram, não tem mais motivo pra gente continuar essa palhaçada.
A palavra atingiu Jeongguk em cheio, ele balançou a cabeça e riu. Tão alto que por um momento Taehyung o olhou com preocupação. Suas pernas cederam e ele se agachou, enfiando as mãos na areia e deixando as lágrimas caírem e o nariz escorrer.
Quando Jeongguk se levantou, ele esfregou as mãos sujas na roupa e olhou para Taehyung uma última vez.
— Parabéns, Kim Taehyung, você conseguiu o que queria. — Jeongguk abriu os braços, dando alguns passos para trás. — Está livre, não só de mim como namorado, mas como amigo também.
— Jeongguk, por favor. Nós podemos ser amigos.
— Não, não podemos.
— Por favor...
— Ao menos uma vez, não seja idiota, Taehyung.
Jeongguk deu as costas para Taehyung, caminhando com passos apressados até chegar perto de onde os amigos estavam. Quando viram que ele voltou sozinho e com o rosto inchado de tanto chorar, Yoongi se levantou, preocupado.
— Nós terminamos — Jeongguk anunciou alto o suficiente para que todos os amigos ouvissem e continuou andando, para longe de tudo e todos. — E eu quero ficar sozinho.
— * —
Jeongguk só queria tirar aquele peso do peito. Era tristeza e raiva misturada, porque no fundo sabia que Taehyung só queria que ele se machucasse na intenção de parar de gostar dele.
E, céus, isso só fazia ele se apaixonar mais. Taehyung sempre colocava os outros em primeiro lugar e não pensava em si mesmo.
No fundo, Jeongguk sempre soube que se meter em um relacionamento falso seria uma furada. Estava em todos os livros e filmes românticos existentes com esse assunto. Embora não esperasse ser o primeiro a se apaixonar, claro.
Na sua vasta experiência em romances clichê, Jeongguk contava que alguma coisa caótica acontecesse depois que Taehyung assumisse seus sentimentos e, em algum ponto entre a merda tacada no ventilador e o amor que sentiam um pelo outro, ambos conseguiriam encontrar o seu final feliz.
O problema é que isso não era a droga de um romance e ele precisava parar de ser tão emocionado. Até porque parecia ser difícil fazer Taehyung assumir o que sentia, ao menos em voz alta.
Jeongguk puxou os cabelos para cima, a voz entalada na garganta. Queria muito gritar por ser tão egoísta naquele momento. Taehyung tinha infinitas coisas mais importantes para pensar, é claro que a última delas seria o que sente ou deixa de sentir pelo cara que aceitou ser seu falso namorado.
Pelos deuses, ele pediu para que Jeongguk não se apaixonasse. Mas como Taehyung esperava isso sendo simplesmente a pessoa mais incrível que Jeongguk já teve o prazer de conhecer?
Ele amava Taehyung de verdade e sabia que era recíproco, por isso mesmo doía muito mais aquela negação.
Era culpa sua ter ido contra os pedidos de Taehyung, claro. Seu coração estúpido se apaixonou sem permissão. O beijo que trocaram naquele dia dizia claramente que o falso namorado também sentia o mesmo. Jeongguk se negava a acreditar no contrário.
Jeongguk acreditava em contos de fadas e desejava um namoro semelhante a tudo aquilo que estava vivendo desde o dia que iniciou a farsa com Taehyung. Era pedir muito por eles juntos?
Os pés de Jeongguk vagaram pela areia e, quando percebeu, já havia se afastado o suficiente sem notar para onde estava indo. Ele soltou um longo suspiro e se sentou perto da beira do mar.
A água fria molhava seus pés e vez ou outra chegava até seu shorts, mas ele não se importava. Queria que o mar levasse todas as preocupações de Taehyung e que ele próprio se permitisse ser feliz.
— Bogum filho da puta, se eu pego esse cara... — murmurou para si mesmo.
— O que você faria? — Uma voz séria perguntou e Jeongguk caiu para o lado, olhando para a pessoa que falou.
— É só modo de dizer. — Jeongguk viu a mancha roxa no olho de Jisoo, a garota parecia ainda mais infeliz do que a última vez que ele a viu tão de perto assim. — O que está fazendo aqui?
— Acho que o mesmo que você.
— Duvido muito. — Jeongguk soltou um riso pelo nariz e apontou para o olho de Jisoo. — Foi ele, né?
— Foi. — Jisoo sentou ao lado de Jeongguk, sem pedir permissão. — Taehyung te contou por que o Bogum persegue ele?
Jeongguk estreitou os olhos e puxou na memória toda a conversa que teve com o falso namorado. Em nenhum momento Taehyung mencionou os motivos de Bogum, apenas deixou claro que ele era tóxico e abusivo.
— Não — confessou Jeongguk, abraçando os joelhos com a sensação de impotência e por estar ali, ouvindo Jisoo. — O que você sabe?
— Bogum namorava meu primo — Jisoo confidenciou, olhando para o horizonte. Sentia a água do mar em seus pés, molhando parte da sua saída de banho quando avançava pela areia. — Eles eram um casal muito fofo, naquela época eu achava que tudo seria pra sempre. Até que o meu primo morreu atropelado na minha frente.
— Eu sinto muito.
— Já faz tempo — Jisoo continuou, o olhar perdido. — Bogum nunca superou a perda. Por mais que eu tentasse ajudar, ele preferiu o caminho da destruição. E quando não foi o suficiente, ele começou a direcionar para outras pessoas.
— Como assim?
— Taehyung é parecido com o meu primo.
— C-como?!
— É, fisicamente. — Jisoo deu um sorriso triste. — São algumas semelhanças. Não foi o primeiro, mas há algo em Taehyung que deixa o Bogum... Não sei, perturbado. Ele não admite que o ex-namorado esteja feliz.
— Isso é doentio. — Jeongguk endireitou as costas e Jisoo olhou para ele. — Por que o Taehyung não pode ser feliz? Por que ele não pode se permitir ficar comigo?
— Porque o Bogum acha que o Tae tem que ser feliz com ele. Não é pra fazer sentido, é a narrativa que ele criou quando perdeu o meu primo.
— Eu odeio esse cara — murmurou Jeongguk.
— Por muito tempo eu tentei fazer o Bogum olhar pra mim. — Outro sorriso triste e Jeongguk lembrou quando Yoongi contou que Jisoo e Hoseok foram namorados no passado. — Eu causei mágoa em pessoas boas para que ele simplesmente esquecesse meu primo, mas não adiantou. Não fui o suficiente.
— Você é suficiente — garantiu Jeongguk. — Não deixa ele dizer o contrário.
— Eu sei. — Jisoo se encolheu e tombou a cabeça para o lado, fitando os olhos escuros de Jeongguk. — Demorei muito, mas agora eu sei. E é por isso que estou aqui.
— Explica.
— Ele colocou na cabeça que precisa falar com o Taehyung, mas eu tenho receio de que o falar dele não seja bem assim... — Jisoo gesticulou com as mãos, de forma rápida, sem saber como explicar. — Tome cuidado, Jeongguk. Bogum entrou naquela mansão com ajuda.
— Você ajudou ele a entrar?
— Não. — Jisoo estreitou os olhos, parecia ofendida, mas Jeongguk tinha o direito de perguntar. Não confiava totalmente nela. — Mas acho que o seu amigo dono da mansão deve desconfiar dos próprios seguranças.
— Foi um deles?
— Faz sentido, né? — Jisoo olhou para Jeongguk e ele assentiu. — Mas não foi. Lembra da mulher que estava na casa quando vocês chegaram?
— Acho que o Namjoon falou que ela se chama Jieun — comentou Jeongguk.
— Foi ela. — Jisoo viu Jeongguk arregalar os olhos e ficar boquiaberto.
— Não acredito em você.
Jisoo deu de ombros, virando o rosto contra o vento. Ela ponderou o que falar e o que fazer, então voltou a olhar para Jeongguk.
— Sabe por que o Bogum nunca foi pego? — Jeongguk balançou a cabeça e ela estreitou os olhos. — Porque ele é rico. Muito rico.
— E o que isso tem a ver com a Jieun? Ela parecia uma boa pessoa.
— Acho que você sabe. — A ausência de brilho nos olhos escuros de Jisoo traziam uma sensação ruim para Jeongguk. Não havia motivo para ela contar tudo aquilo, a menos que ela tivesse intenção de ajudar Bogum caso eles acreditassem em tudo o que dizia. — Algumas pessoas são compradas com dinheiro, principalmente se elas precisam disso. Ela pode ser boa, não significa que não esteja desesperada.
— Namjoon nunca vai acreditar nisso — sussurrou Jeongguk e a garota deu de ombros novamente. Não era função dela fazê-los acreditar. Na verdade, sequer era função dela fazer qualquer coisa, mas ainda assim, Jisoo estava ali, disposta a revelar coisas sobre Bogum que pareciam suspeitas. — Por que está nos ajudando?
— Porque eu quero que ele pare! — Jisoo falou alto, exaltada. — E isso não vai acontecer enquanto o Bogum não estiver morto.
— Eu não vou matar ele — Jeongguk franziu as sobrancelhas —, mesmo que às vezes dê vontade de esganar esse cara.
— Não disse que você iria. — Jisoo abriu um sorriso indecifrável. — De qualquer forma, não acho que ele vai tomar alguma decisão precipitada agora, o que o impede de ser preso mesmo sendo procurado pela polícia. Ele vai se esconder.
— Como eu vou relaxar sabendo que esse cara tá solto por aí? — Jeongguk deslizou os dedos pelo cabelo.
— Já disse, ele vai se esconder.
Jeongguk fez uma careta e encarou os próprios pés. Saber que Bogum estava escondido não ajudava a amenizar o desconforto que Jeongguk sentia. Nem mesmo mentir para os amigos ajudaria, afinal, era a segurança de todos, principalmente de Taehyung, que estava em jogo.
Mas, é claro, Jisoo não se importava com isso.
Jeongguk era pateticamente apaixonado por Taehyung para deixar que qualquer coisa acontecesse com ele. Ou seja, era um impasse. Não estavam seguros em nenhum lugar enquanto Bogum não morresse, como Jisoo mesmo disse.
E era exatamente isso que Jeongguk temia.
— Sabe onde Bogum está? — Jeongguk observou Jisoo se levantar e notou um roxo em sua coxa quando a saída de banho se ergueu um pouco.
— Ele sumiu de novo — admitiu Jisoo. — Desapareceu do hotel em que estávamos hospedados e me deixou lá sozinha.
— Como posso saber que você diz a verdade? Sobre tudo.
— Você não pode. — Jisoo olhou outra vez para o horizonte, o vento estava a seu favor e levou seus cabelos escuros para longe de seu rosto. — Mas terá que escolher confiar em mim ou esperar pra ver.
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