12 - Idiota impulsivo e idiota apaixonado

— NOTAS INICIAIS —


VOLTEI mais cedo do que nós imaginávamos e espero que possa continuar com esse ritmo pra dar um final a SBY o quanto antes

Cheguei com o cap 12 pra vocês, estrelinhas preciosas!

Fico muito feliz de saber que vocês gostaram do capítulo anterior.

Esse capítulo aqui traz uma grata surpresa, mas também ódio hahaha leia por sua conta e risco

Obrigada pelos votos e comentários <3 isso me motiva muito!!!

Boa leitura!


— * —


Estava escuro do lado de fora e chovia forte quando Jeongguk despertou com um trovão. Seus olhos se arregalaram e ele se sentou na cama, sem saber onde estava.

Jeongguk esperou os olhos se ajustarem ao ambiente, percebendo que estava no quarto da mansão de vidro. A janela estava aberta, embora ele se lembrasse de ter fechado, e o vento carregava a cortina para fora.

Ele tentou se mexer do lugar e foi aí que sentiu os braços de Taehyung ao redor de sua cintura. O falso namorado o abraçava e tinha o rosto encostado no seu travesseiro e um espaço gigantesco sobrando do outro lado da cama. Era a primeira vez, desde que chegaram em Jeju, que Jeongguk o via dormindo de forma profunda.

Haviam dormido o restante da tarde toda na mesma posição, de conchinha, do jeito que Taehyung gostava, pela terceira vez desde que chegaram em Jeju. O pior de tudo, e Jeongguk nunca confessaria isso em voz alta, é que ele havia gostado de se sentir importante para alguém a ponto de ser um porto seguro.

Taehyung não havia escolhido Jimin ou Hoseok para embalar o seu sono, mas ele, Jeon Jeongguk, seu desafeto e falso namorado. O status dos dois ainda era aquela esquisitice, mas não se importava. As migalhas eram suficientes naquele momento.

Droga, eu virei quem eu mais temia, o idiota apaixonado, pensou com um sorriso bobo no rosto.

Jeongguk tirou uma mecha de cabelo do rosto de Taehyung e acariciou sua bochecha com gentileza. Ele respirava de forma tranquila e vez ou outra contraia os dedos contra a pele da cintura de Jeongguk. Era fofo.

— Inferno, eu vou achar tudo o que ele faz fofo agora? — resmungou para si mesmo, admirando a beleza de Taehyung. — Eu vou me socar.

Ver o idiota do Taehyung confortável ao seu lado fazia seu coração se aquecer e Jeongguk odiou e ao mesmo tempo amou a sensação de orgulho e pertencimento que isso trazia. Ele se sentia feliz em saber que uma atitude tão simples parecia acalmar, um pouco que fosse, o falso namorado.

Desde que assumiu para si mesmo estar apaixonado, suas atitudes em relação a Taehyung não mudaram. Eles continuaram se xingando e Jeongguk manteve seus sentimentos da mesma forma, ligeiramente retraído.

E isso estava o matando por dentro aos poucos porque, no fundo, ele queria que aquele maldito namoro falso fosse algo mais. Contudo, ainda assim, o que tinha com Taehyung era, de certa forma, parte do que desejava em um relacionamento.

Faltava apenas reciprocidade nos sentimentos. O que, é claro, ele duvidava muito que Taehyung fosse corresponder.

De repente, o barulho de um vaso se quebrando no chão cortou a linha de pensamentos que Jeongguk havia estabelecido, e seu coração se acelerou. Sua mente imediatamente cogitou a hipótese de alguém ter invadido a casa, ainda que os alarmes não tivessem tocado, isso não significava que uma pessoa com mais habilidade não pudesse burlar o sistema.

— Taehyung — chamou, dando tapas no peito do falso namorado —, acorda, tem alguém na casa.

— Impossível — murmurou, batendo na mão de Jeongguk. — São só os meninos.

— Pode ser, mas eles falaram que chegariam só mais tarde e tá chovendo muito, duvido que eles venham na chuva — grunhiu, abrindo os olhos de Taehyung com os dedos com o rosto em cima dele. — E eu ouvi alguma coisa se quebrando.

— Quê?! — Taehyung se sentou de imediato, os olhos arregalados e os lábios entreabertos. — Como-

Jeongguk cobriu a boca de Taehyung com a mão e apontou o indicador para cima, na intenção de pedir que ele acompanhasse o som. Eles ouviram o barulho de um sofá sendo arrastado do lugar e automaticamente pensaram a mesma coisa. Era um assalto.

— Cadê seu celular? — Taehyung perguntou baixinho. — O meu tá sem bateria.

— Eu acho que deixei na sala. Ou na cozinha. Não lembro.

Taehyung fez uma careta e deu um peteleco na testa de Jeongguk. Então, em movimentos cuidadosos, se levantou e foi até a porta com os protestos do falso namorado logo atrás.

— Relaxa. — Taehyung sibilou e girou a maçaneta com cuidado, abrindo uma fresta da porta e evitando que ela fizesse barulho. — Só vou espiar.

— Toma cuidado, sua besta! — Jeongguk se apoiou atrás de Taehyung, ficando mais acima, a fim de ver também. — Abre mais um pouquinho, mas devagar.

Aos poucos, Taehyung foi abrindo a porta, mordendo o lábio inferior toda vez que ela fazia barulho. Quando ele colocou a cabeça para fora, viu uma pessoa toda de preto, no fundo, ser iluminada pelo trovão que soou no céu e isso o assustou, fazendo-o ir para trás.

Em uma confusão inesperada, os dois se embolaram e Taehyung caiu no chão, puxando Jeongguk e fazendo-o cair em cima de si. A altura da queda foi quase inexistente e apenas por isso ela não causou um baque alto, chamando a atenção de quem quer que tivesse entrado na casa.

— Porra! — Jeongguk esfregou o ombro e olhou para Taehyung deitado, fazendo uma careta desconfortável. — Você nunca pensa antes de fazer as coisas, né?

— Eu me assustei!

— Eu acabei de falar que tinha gente na casa! — Jeongguk deu uma cabeçada na testa de Taehyung e o falso namorado mordeu a língua para evitar xingar. — Sua anta.

Jeongguk encostou a porta devagar, com medo que quem quer que fosse começasse a invadir os quartos daquele andar, considerando que ela já estava por ali. Precisavam fazer alguma coisa urgente e manter a voz ainda mais baixa.

— Você é carinhoso feito um cavalo mesmo! — Taehyung formou um bico com os lábios e esfregou a testa dolorida. — Enfim — ele se ergueu do chão e ficou de frente para Jeongguk, seus rostos perto demais —, acho que realmente tem alguém na casa.

— Não diga?! Que ótima percepção a sua. — Jeongguk revirou os olhos e se sentou nas pernas de Taehyung com os joelhos para cima, onde apoiou os próprios braços. — A gente precisa de um plano.

Outro trovão iluminou o céu, ainda mais perto da mansão de vidro, e Taehyung estremeceu com o susto repentino. Ele deu um beliscão na coxa de Jeongguk.

— A gente precisa que você saia do meu colo.

— Eu vou pegar algum objeto aqui no quarto — explicou, ignorando o pedido e as tentativas frustradas de Taehyung de tirá-lo do lugar —, e vamos para a sala.

— Certo. — Taehyung cruzou os braços e bufou. — E o que mais, senhor dos planos mirabolantes?

— Aí você vai pra cozinha e pega uma faca — Jeongguk continuou, os olhos fixos em Taehyung. — Mas é pra se defender, ok? Não é pra fazer nenhuma cagada.

— Ah, por favor, tenha mais confiança em mim!

— Você é maluco! — A voz de Jeongguk era baixa, perto demais do rosto de Taehyung, não porque ele não conseguia ouvir, mas porque aquilo tudo era um jogo para ver quem cederia primeiro as próprias vontades. Estava implícito entre eles desde o começo e só piorou quando Jeongguk percebeu o óbvio. — A única coisa que confio é que você provavelmente enfiaria a faca na pessoa pra me defender sem nem ver quem era.

— Por que acha que eu te defenderia? — Taehyung sorriu de canto, curioso com a afirmação repentina. — Hm?

— Querido — Jeongguk ergueu o queixo de Taehyung e passou a língua nos lábios, a vontade de beijá-lo consumindo seu interior —, você tava defendendo uma aranha das vassouradas do Seokjin ontem mesmo. Sei que me odeia, mas não me deixaria morrer.

— No máximo eu te salvaria pra te matar depois. — Taehyung voltou a empurrar Jeongguk para fora de seu colo, resmungando o quão pesado ele era. — Tem um secador no banheiro, pega ele.

Jeongguk assentiu e foi na ponta dos pés pegar o secador que Taehyung mencionou. Ele enrolou o fio até que ficasse curto o suficiente e segurou junto do cabo. Na sua cabeça a ideia era simples, arremessar o objeto na cabeça do invasor — se ainda estivesse presente — e sair correndo.

Quando voltou para o quarto, Taehyung tinha um travesseiro amarrado ao redor do corpo com um lençol e já estava na porta.

— Você é ridículo. — Jeongguk o empurrou para o lado, com receio de que se Taehyung estivesse na frente, fizesse alguma maluquice. Eles ouviram um barulho de porta se fechando. — Será que foi embora?

— Vamo lá vê.

Jeongguk abriu a porta devagar e colocou a cabeça para fora. Olhou para os lados e viu os corredores vazios, então gesticulou para Taehyung.

Os dois seguiram em silêncio e descalços para a sala, onde tudo estava escuro e apenas a iluminação fraca da noite do lado de fora entrava pelas janelas de vidro.

A tempestade ainda era forte e molhava toda a parte descoberta do lado de fora. As espreguiçadeiras perto da piscina haviam voado e uma delas caído dentro da água. Estava escuro, as luzes estavam todas apagadas.

Jeongguk chegou na entrada do corredor e observou a ampla sala. Não parecia ter ninguém, o que significava que ou a pessoa tinha ido embora mesmo ou subido para os andares desocupados.

Ele pegou Taehyung pelo pulso e o puxou, os olhos atentos a qualquer movimentação dentro da casa. Até que seu pé pisou em algo e ele segurou um berro no fundo da garganta.

Taehyung sentiu o aperto em seu pulso e seus olhos se arregalaram quando viram o sangue se formando debaixo dos pés de Jeongguk. Cacos de um vaso quebrado.

— Merda — xingou baixinho, se agachando no lugar. — Ótimo, era tudo o que eu precisava.

— Não se mexe — pediu Taehyung, se agachando também. — Fica aqui, eu vou ver se não tem ninguém e aí a gente acende a luz e vê como tá.

— Eu não vou deixar você ir sozinho!

— Tem uma ideia melhor? — Taehyung pegou o secador da mão de Jeongguk e estava prestes a se levantar quando ouviu o barulho da porta da frente se abrindo. — Droga.

Os dois ficaram em silêncio, encolhidos na frente do sofá. Estava escuro, mas aquela região era bastante iluminada pelas janelas, então se alguém viesse onde eles estavam, veria que havia gente.

— Calma, vamos devagar — falou uma voz bastante conhecida e Taehyung franziu as sobrancelhas. — Isso... Cuidado porque acabou a energia.

— É o Jimin, meu bolinho precioso de voz inconfundível — Taehyung comentou, olhando para Jeongguk com alívio. — E pelo visto estamos sem luz.

— Foi um vexame — murmurou outra voz, um pouco embriagada, e também bem conhecida. Parecia ser Yoongi.

Taehyung ficou em dúvida entre dar uma de curioso e tentar descobrir o motivo de os dois estarem na mansão antes do horário, sozinhos, ou anunciar sua presença. Ele optou pela primeira opção, é claro. Jeongguk apenas revirou os olhos, ciente de que o falso namorado faria algo estúpido do tipo.

— Tá tudo bem. — A voz de Jimin soava calma. — Foi legal o que você fez.

— Eu derrubei refrigerante na cabeça de um cara que tava dando em cima de você e recebi um soco por isso. — Yoongi riu, zombando de si mesmo. — Na verdade, foram vários.

— Bom, ele tava me assediando, não dando em cima de mim — respondeu, envergonhado.

— O Hobi falou que você parecia desconfortável.

— E ele tinha razão. — Jimin sorriu para Yoongi e o fez sentar em uma das cadeiras da mesa da sala de jantar, longe da sala de estar onde Taehyung e Jeongguk estava, em teoria, se escondendo. — Eu sou gentil com as pessoas e elas acham que isso é uma abertura para dar em cima de mim. É tão desconfortável. Já tentei ser rude, mas é difícil...

— Sua gentileza foi a primeira coisa que me chamou atenção quando te conheci — confessou Yoongi.

— Você nunca disse o que gostava em mim.

— Eu nunca disse muitas coisas — Yoongi soltou um suspiro cansado —, e esse foi meu maior erro.

— Foi. — Jimin concordou, torcendo os lábios para o lado. — Mas estamos aqui agora, não é? Podemos tentar.

— Não vai se arrepender disso amanhã?

— Eu nem bebi pra poder me arrepender disso amanhã. — Jimin riu e se inclinou para frente, tocando o rosto de Yoongi com cuidado. Ao redor do olho estava avermelhado e o ex-namorado pressionava um saco de gelo enrolado em uma toalha para aliviar. — Tudo o que eu sempre quis foi uma chance de conversar com você.

Yoongi segurou os dedos de Jimin, impedindo que continuasse a tocá-lo e, por um segundo, pareceu que ele ia rejeitar o contato. Contudo, ele apenas puxou Jimin para mais perto e encostou os lábios nos dedos do ex-namorado.

— Me perdoa? — pediu em um sussurro, olhando com uma intensidade que parecia ser capaz de pôr fogo na pele de Jimin. — Por te magoar, por não te ouvir, por ser um tremendo teimoso, mas, acima de tudo, por não fazer o básico em um relacionamento que era falar sobre o que eu estava sentindo.

— Eu fiquei muito chateado. Muito mal. Mas eu não guardo mágoas. — Jimin deixou um beijo na bochecha de Yoongi. — Se você está realmente arrependido e pretende mudar, tudo bem. Eu aceito seu pedido de desculpas.

As lágrimas surgiram nos olhos de Yoongi no mesmo instante e ele soltou um chiado quando as sentiu cair em seu lábio machucado. Um corte feio na lateral.

— Mas foi uma surra, hein?

— Jeongguk sempre foi o cara que sabia dar uns socos. Aposto que se estivesse lá, ele me ajudaria — Yoongi reclamou, mas havia um tom divertido em sua voz.

— Você se saiu bem. O cara tomou um chute nas bolas. — Jimin riu, colocando a mão na frente do rosto. — Obrigado.

— Sem problemas. Podemos começar do zero? — Yoongi sorriu e esticou o indicador. — Meu nome é Min Yoongi e o seu?

— Park Jimin — respondeu, envolvendo o indicador esticado com o seu próprio e o balançando. Era uma piada interna dos dois e Jimin ficava feliz que Yoongi não havia esquecido dos momentos bons que passaram juntos.

Talvez desse mesmo para recomeçar aquela história.


— * —


A ideia idiota de Taehyung de ficar ouvindo a conversa alheia o fez perder a chance de surgir diante dos amigos sem deixar um clima estranho. Agora, os dois estavam perto do sofá, sem saber o que fazer, enquanto Jeongguk tentava retirar a maior parte dos cacos de vidro do próprio pé sem fazer barulho.

Claro, os dois estavam satisfeitos que um avanço considerável havia ocorrido entre Jimin e Yoongi, no entanto, eles sequer podiam se gabar daquilo no momento.

Eles não faziam ideia de que decisão tomar daqui para frente, tanto em relação ao momento em questão quanto ao relacionamento falso deles que, querendo não, deveria expirar quando Jimin e Yoongi voltassem aos bons termos.

Contudo, nenhum dos dois pretendia comentar sobre isso agora.

Taehyung havia retirado o travesseiro e estava deitado ao lado de Jeongguk, coberto pelo lençol que usou de corda para se amarrar. Ele acompanhava o falso namorado xingar baixo toda vez que um caco de vidro saía de seu pé.

— Você precisa desinfetar isso — apontou para o pé de Jeongguk, uma observação óbvia.

— Eu teria feito isso se você e o seu lado fofoqueiro não tivessem falado mais alto.

— Desculpa — Taehyung ergueu as mãos —, mas eu precisava saber se eles estavam a um passo de transformar nossa vida em algo mais fácil.

— Taehyung, quem transforma nossa vida em algo difícil é você!

— Sempre tão dramático. — Ele revirou os olhos e cutucou a bochecha de Jeongguk com o dedo. — Posso te perguntar uma coisa?

— Já tá perguntando.

— Seus dias são mais divertidos comigo do seu lado? — Taehyung questionou, ignorando a alfinetada anterior de Jeongguk.

Jeongguk olhou para os dedos com sangue seco e para o pé machucado. Seu corpo quase não possuía cicatrizes. Ele não era um menino agitado na infância ou na adolescência, embora tivesse sua quota de maluquices.

Quando lhe perguntavam se ele era feliz, costumava dizer que havia uma diferença entre ser e estar. Jeongguk tinha dias em que se sentia feliz, outros não, mas de um modo geral ele acreditava que era feliz.

Contudo, como saber se aquilo era felicidade genuína? Até pouco tempo atrás, Jeongguk não teria essa resposta. Agora, no entanto, ele acredita que sabe.

Taehyung era o tipo de pessoa que o deixava irritado com as coisas mais idiotas, mas ao mesmo tempo o fazia olhar para trás e dar risada de cada uma das imbecilidades em que eles se enfiaram.

Desde que o conheceu, em nenhum momento Jeongguk se sentiu entediado. Porque estar com Taehyung era como estar em uma montanha russa, cheia de caminhos diferentes, altos e baixos, mas nunca sem emoção.

Taehyung fazia você se sentir especial.

— Não houve um dia em que eu estive realmente triste — Jeongguk confessou, tão baixo que apenas a proximidade dos dois permitia que Taehyung ouvisse.

— Que bom. — Taehyung se apoiou nos cotovelos. — Você fica mais bonito quando sorri.

Jeongguk sentiu seu coração falhar uma batida e virou o rosto para o lado oposto, longe das vistas de Taehyung. Ele tinha o dom de deixá-lo envergonhado com qualquer coisa.

Precisava voltar ao clima normal ou entraria em combustão.

— Então — Jeongguk pigarreou e voltou a procurar por cacos de vidro no próprio pé para manter suas mãos ocupadas e longe da sua vontade súbita de agarrar Taehyung ali mesmo —, você meio que tem prazer em meter a gente em merda, né?

— Desculpa se você é um frouxo que não sabe lidar com as minhas ideias inteligentes.

— Ideias inteligentes? — Jeongguk soltou uma risada que mais pareceu um ronco, um pouco mais alto do que deveria. — Coitado, um iludido.

— Olha aqui — Taehyung apontou o indicador na cara de Jeongguk —, se eu te beijar, você cala a boca?

— Isso não seria uma desculpa esfarrapada para me beijar? — Jeongguk se inclinou para frente, o rosto bem perto de Taehyung.

— Ai. Meu. Deus. — Taehyung enfiou a mão na cara de Jeongguk e o empurrou para longe. Estava ficando com fome e isso o deixava irritado. — Fica quieto!

— Eu sinto dor, não vou ficar quieto! — Jeongguk chiou, mostrando a língua para Taehyung. — Nunca mais, Taehyung. Nunca mais.

— Blablabla. — A mão de Taehyung se mexeu e ele soltou um suspiro, o semblante ficando sério. — Será que era um ladrão mesmo?

— Vai saber. — Jeongguk soltou um suspiro cansado e olhou para o próprio pé. O sangue já estava seco e ele havia arrancado a maioria dos cacos de vidro que conseguia ver na escuridão. — O Namjoon é de uma família influente, as chances dele sofrer um sequestro devem ser grandes.

— Às vezes eles estão escondidos nos andares de cima apenas esperando o Namjoon retornar.

— Aí já acho que você tá assistindo filme demais, Taehyung.

Jeongguk abriu a boca para responder, mas no mesmo instante as vozes de Jimin e Yoongi ficaram mais próximas, o que significava que eles estavam vindo naquela direção. Ambos arregalaram os olhos, desesperados.

— O que a gente faz? — Taehyung olhou para os lados, pensando em um método de desaparecer o mais rápido possível. — Que droga, por que eles não vão pro quarto se pegar?

— Eles acabaram de recomeçar!

— Que seja! — Taehyung puxou as almofadas do sofá. — Vou me esconder.

— Céus, tão lindo e tão perdido! — Jeongguk bateu uma das almofadas na cara de Taehyung e segurou suas bochechas com a mão. — Foco. Me beija.

— Do nada?!

— De mentira! — Jeongguk puxou Taehyung para o meio de suas pernas. — É só fingir que tá me beijando, nada demais. Já fizemos isso antes.

— Mas...

— Vai, teimoso! Nós ainda estamos em um relacionamento. — As vozes ficaram mais altas e Jeongguk viu um filete de luz, provavelmente de uma lanterna de celular. — Um casal sentado no escuro não fica olhando pra cara um do outro, sabe?

— Tá, tá. — Taehyung engoliu em seco. — Um beijo falso.

— Vem logo! — Jeongguk o puxou pela cintura e o trouxe ainda mais perto, encostando seu nariz contra o maxilar de Taehyung.

Era estranho estar assim tão perto. Estavam acostumados a fazer isso na frente de todo mundo, mas não sozinhos, no escuro.

Algo dentro de Taehyung fisgava e dizia que ele podia. Ou melhor, que ele devia, que era sua única chance de provar aquilo que já sabia.

Que se foda, não vai ser beijo falso coisa nenhuma, Taehyung pensou em um momento impulsivo.

Jeongguk foi puxado pela gola da blusa por Taehyung, ele resvalou seus lábios na boca do falso namorado. Cuidadoso e provocativo.

Taehyung deu um sorriso de canto e puxou o lábio inferior de Jeongguk com os dentes, achando graça quando o falso namorado tentou beijá-lo e encontrou apenas o canto de sua boca. Ele mordeu a ponta da língua e, quando percebeu que Jeongguk já estava no limite de sua paciência, Taehyung o beijou.

Era um beijo faminto e desesperado, onde as bocas e línguas pareciam não se saciar. A mão de Taehyung subiu pelo rosto de Jeongguk e ele se pressionou mais. A busca pelo contato ficava maior e, quando percebeu, estava quase no colo do falso namorado.

Jeongguk notou a relutância de Taehyung e o puxou para seu colo mesmo assim. Era inevitável. Sua boca queria mais, seu corpo queria mais, tudo dentro dele gritava por mais. Um gemido abafado escapou em meio ao beijo.

Taehyung deslizou os dedos pela nuca de Jeongguk, puxando os fios com delicadeza antes de se afundar mais na boca dele. Era melhor do que ele imaginava e isso significava perigo.

E quando Taehyung estava prestes a jogar tudo para o alto e simplesmente destruir sua própria sanidade com aquele beijo, ele sentiu a luz da lanterna em seu rosto.

— Tae? É você? — Jimin perguntou, se aproximando com a lanterna do celular do casal.

Um verdadeiro estraga prazeres, vale ressaltar.

— Hey, Ji. — Taehyung empurrou Jeongguk para longe, aliviado que o melhor amigo havia aparecido antes que ele fizesse uma loucura. — Não ouvimos você chegar.

— Deu pra perceber — comentou Yoongi, com o rosto virado para o lado. Ele parecia envergonhado pela cena que acabou de presenciar. Não só ele, mas Jeongguk também.

Jeongguk ajeitou a gola da blusa, amassada pelos dedos de Taehyung e virou o rosto na direção oposta. Não queria que ninguém olhasse para sua cara agora ou o veria todo vermelho, com os olhos lacrimejantes e uma completa bagunça.

Ele iria pirar e a culpa era toda de Kim Taehyung. E dele próprio também, mas é claro que Jeongguk nunca admitira isso.

— Aconteceu alguma coisa pra vocês voltarem antes? — Taehyung se levantou e se sentou no sofá, tentando não demonstrar o calor que sentia, mesmo que a casa toda estivesse fria.

— Depois eu te conto — Jimin falou, um sorriso pequeno em seus lábios.

— Tudo bem — Taehyung sorriu pequeno —, também tem uma coisa importante que preciso te contar. Sobre aquilo.

— Certo. Ok. — Jimin tentou não deixar transparecer seu desconforto diante da menção do assunto e desviou o olhar para o chão, franziu o cenho e apontou para o sangue espalhado. — O que aconteceu aqui?!

— Ah! — Taehyung esfregou a nuca. — Então, a gente acha que a casa foi invadida.

— Como assim... Jeon Jeongguk, isso é sangue?! — Yoongi arregalou os olhos e ele se agachou ao lado de Jeongguk no mesmo instante. — Vocês tão bem?

— Eu só pisei nos cacos de vidro de um vaso quebrado — explicou Jeongguk, apontando para o próprio pé e para o sangue. — A gente ouviu a pessoa indo embora, pelo menos parecia ser uma pessoa só, e viemos conferir.

— Que ideia de gênio! — Yoongi deu um tapa na testa de Jeongguk. — O que eu vou dizer pra sua mãe se algo acontecer a você?

— Eu não sou criança, Yoon!

— E daí? — Yoongi parecia furioso e era a primeira vez que Jimin o via daquele jeito. Parecia até um pouco com a sua relação com Taehyung. — Do jeito que você é metido a romântico, aposto que se jogaria na frente do Taehyung só para protegê-lo.

Taehyung quis dizer que aquilo era uma tremenda besteira e que era bem capaz de Jeongguk usá-lo como escudo, mas algo no rosto do falso namorado não parecia concordar com o seu discurso interno e isso o incomodava.

Será que Jeongguk realmente o defenderia?

— O ponto é — Jeongguk falou, esfregando a testa —, a gente não sabe como ou quem entrou e nem o que estava procurando.

— Precisamos contar para o Namjoon agora!

— Já fiz isso. — Jimin balançou o celular. — Mandei a mensagem no celular e ele disse que já estão verificando as câmeras de segurança. Também falou que tem gerador lá nos fundos.

— Vou ligar o gerador. — Yoongi se levantou e deu as costas, mas, antes de ir, se virou e olhou para Jeongguk. — Não se mexe. Ouviu? Fica aí.

— Tá bom, Yoon. — Jeongguk cruzou os braços. — Não pode me ver machucado que pira.

— É fofo — Taehyung comentou com um sorriso. — Não sabia que ele era assim.

Jimin prendeu o lábio inferior entre os dentes e acompanhou com o olhar Yoongi se afastar. Dava para perceber que a admiração pelo ex-namorado cresceu mais ainda aquela noite, por três motivos diferentes.

Quando a luz acendeu, os três respiraram aliviados. A situação do pé de Jeongguk não era grave, apenas alguns cacos médios ainda estavam presos na pele. Felizmente, o vaso havia se partido em pedaços grandes.

Taehyung se levantou na intenção de pegar um kit de primeiros socorros e foi quando todo e qualquer resquício de felicidade foi sugado de seu corpo.

— Tae? — Jeongguk estreitou os olhos ao ver o falso namorado tremendo e precisando sentar outra vez. Ele se ajoelhou e pegou as mãos de Taehyung, visivelmente preocupado. — Ei, o que foi?

Não houve resposta verbal, mas Taehyung levantou o braço e apontou para o aparador do outro lado da sala, com um buquê de rosas cheias de espinhos no centro. Não estava lá antes.

Jimin se aproximou e pegou um cartão por entre as flores.

Para o meu precioso, espero que ainda se lembre. — Jimin leu em voz alta. Ele se virou e olhou para Taehyung, um colar prateado entre seus dedos. Ao esticá-lo, um pingente com a letra B apareceu.

Jeongguk não precisava conhecer o passado de Taehyung para saber o que aquilo significava. Desconhecia a história, mas era óbvio que havia acontecido algo entre ele e o rapaz de sorriso misterioso que o perseguia.

Havia raiva, nojo e receio na feição dos dois. E, pela primeira vez, Jeongguk se sentiu temeroso quando ouviu a voz rouca de Taehyung admitir:

— Ele voltou.

Bạn đang đọc truyện trên: AzTruyen.Top