11 - Idiotas também são sensatos

— NOTAS INICIAIS —

50 mil anos depois eu finalmente estou de volta.

Por favor, não desistam de mim.

Uma sequência bizarra de coisas aconteceu, mas no fim acabou dando tudo errado e eu precisei atrasar a atualização de SBY.

Mas ela está entre nós e eu quero deixar alguns avisos.

Primeiro: o capítulo contém uma cena de crise de ansiedade, portanto se você não se sente confortável, sugiro que não leia. 

Segundo: se você me acompanha no twitter ou no ig (eu posto mais aqui), sabe (ou não né?) que eu lancei um conto sáfico de basquete chamado Cesta de Três. Se você se interessar, peço que me dê uma chance com ele também! \o\

Terceiro: eu tô devendo a playlist de SBY, mas logo ela sai oijasjiasji 

Não esqueçam de deixar seus votinhos e comentários, assim posso saber se estão gostando da história ~~~ obrigada!

Acho que é isso! Boa leitura, meus amores!

— * —

O passeio na floresta foi frustrado por uma chuva repentina. Isso, no entanto, não impediu que eles saíssem para conhecer Jeju mesmo debaixo de grossos pingos.

Namjoon serviu de guia turístico, mostrando todo seu conhecimento sobre a ilha e fatos aleatórios que ninguém além de Seokjin se mostrava realmente interessado.

Eles pararam em um restaurante famoso de frutos do mar para experimentar o abalone que Namjoon jurou ser maravilhoso.

Seokjin se sentou na ponta e já estava conversando com Namjoon, à sua frente, sobre o que eles podiam pedir, enquanto Jimin se sentou ao seu lado. Taehyung estava prestes a deslizar pelo banco junto do melhor amigo, quando Jeongguk o puxou com tanta força para perto de si que o fez sentar em seu colo.

— Tá ficando maluco? — grunhiu entre dentes, tentando sair de cima de Jeongguk, mas o falso namorado o manteve no lugar. — Praga do inferno, me deixa sair de seu colo de pedra!

— Quero que aquele pateta sente perto do Jimin. — Jeongguk murmurou, apontando com o queixo para Yoongi, perdido e sem saber o que fazer. — E meu colo é muito macio, obrigado.

— Só tem músculo nessas coxas, seu troglodita. — Os olhos de Taehyung viram o instante em que Yoongi pareceu cogitar sentar ao lado de Jimin. — Sabe que às vezes você até que tem boas ideias, trequinho — balbuciou, tocando na ponta do nariz de Jeongguk.

— Meu Deus, eu não podia ter escolhido um namorado mais insuportável.

— Preciso te lembrar que fui eu que te escolhi?

— Que seja. — Jeongguk revirou os olhos e voltou a fingir que estava ocupado com Taehyung em seu colo enquanto olhava, disfarçadamente, para Yoongi. — Ele só precisa sentar do lado do Jimin e abrir a boca.

Yoongi esfregou a nuca, incerto do que fazer. Ele respirou fundo e, ao contrário do que Jeongguk achou que o melhor amigo pudesse fazer — que seria fugir com o rabo entre as pernas —, Yoongi deslizou pelo banco de madeira e se sentou ao lado de Jimin.

Os dois estavam lado a lado, estáticos. Uma pedra parecia mais comunicativa do que eles. Céus, Taehyung e Jeongguk em todos os seus palavrões e relacionamento ao avesso eram mais comunicativos que os dois.

Jimin apagou a tela do celular e o colocou em cima da mesa, mexendo-se no lugar de forma impaciente. Enquanto Yoongi ficou encolhido, como se o mínimo movimento pudesse tocar na pessoa ao seu lado e causar faíscas.

— Eu vou ter um negócio! — Jeongguk olhou para Taehyung, agora ao seu lado, e o pegou pelos ombros, chacoalhando o falso namorado. — Pelo amor de Deus, faz alguma coisa!

— O que você quer que eu faça?

— Sei lá — sussurrou —, chuta o Jimin debaixo da mesa e manda ele ser gente.

— Não fala assim do meu bolinho, ele é tímido.

Jeongguk puxou Taehyung para perto de si com um meio abraço e fingiu lhe contar um segredo. Para quem visse de fora, parecia lindo, mas entre os dois, era uma guerra de cotoveladas e beliscões.

— Taehyung, minha coisinha nada preciosa, se depender da velocidade do Jimin e do Yoongi nós vamos precisar de um contrato de casamento falso!

— Não seja tão dramático, eles- — Taehyung olhou para Jimin, colocando o cabelo atrás da orelha e murmurando um oi para Yoongi. — Ok, talvez eles sejam um pouco lerdos, mas tá indo!

— É isso — Jeongguk jogou as mãos para o alto e se afastou de Taehyung —, eu vou morrer com noventa anos e ainda vou te ter ao meu lado.

— Nossa, mas que confissão mais amorosa! — Hoseok disse, sentando-se do lado de Taehyung com um drink colorido em suas mãos. — Gosto de gente que pensa assim, no futuro.

Taehyung deu um largo sorriso e entrelaçou as mãos dos dois, dando um tapa forte na coxa de Jeongguk para que o falso namorado esboçasse alguma reação diante do comentário.

— Sabe como é — Jeongguk encostou no ombro de Taehyung —, eu sou romântico, Hobi.

— O Jeongguk é a pessoa mais romântica e brega que eu conheço — comentou Yoongi, o olhar divertido no rosto do melhor amigo.

— Cala a boca.

— E também o mais carinhoso. — Yoongi riu com o revirar de olhos de Jeongguk.

— Eu concordo! — Taehyung se inclinou para frente. — Um verdadeiro poço de carinho. Até meloso demais às vezes.

Jeongguk deu um beliscão na barriga de Taehyung e viu o falso namorado se contorcer diante de seus dedos. O sorriso continuava estampado, como um exímio mentiroso.

Eram em momentos como esse que Jeongguk percebia porque nem todo mundo notava as mentiras de Taehyung. Claro, se você prestasse atenção — o que ele sabia que os amigos faziam, mas provavelmente respeitavam o fato de Taehyung não querer falar —, você veria as várias camadas através da máscara que ele sustentava.

Contudo, quando ele estava em um bom dia, as mentiras fluíam de sua boca e de seu sorriso como se fossem naturais. Era até um pouco triste.

— Sabe — Jimin se inclinou para o lado, falando com Yoongi —, eu acho que o Taehyung combina bem com o Jeongguk. Você não acha?

— Cada dia que passa eu tenho mais certeza disso — confessou Yoongi, os braços cruzados em uma análise meticulosa do casal. — É estranho, se me falassem isso um ano atrás, eu acharia loucura.

— É porque você não viu um tempo atrás — Seokjin comentou, apontando para os dois com as sobrancelhas franzidas. — Nunca que eu diria que eles eram um casal.

— Digo facilmente que são o meu casal favorito — falou Namjoon, dando tapinhas nas costas de Jeongguk ao seu lado. — Embora tolos.

— Tolos? — Taehyung colocou a mão no peito, ofendido. — Com licença, nós podemos ser idiotas, mas não tolos!

— São sinônimos.

— Mas tolo é uma palavra feia!

— Tolice. — Namjoon balançou a mão e se virou quando o garçom apareceu, apontando o que eles pediriam de entrada.

— Tolos! — Taehyung se virou para Jeongguk, indignado. — Que audácia.

Jeongguk encostou a testa na madeira, ignorando as lamentações de Taehyung. Contudo, seu ouvido se manteve atento e seus olhos, por debaixo da mesa, viam os pés alheios.

Ele viu quando Jimin se virou de lado e começou a conversar com Yoongi, muito embora o foco do assunto fosse o relacionamento de Taehyung e Jeongguk, algo que o falso casal não apreciava muito.

Contudo, era um diálogo e isso era muito mais do que eles haviam conseguido até então.

— * —

No dia seguinte, o sol surgiu e se manteve pelo dia inteiro, o que permitiu que os sete fossem, finalmente, na maldita floresta que havia deixado Namjoon resmungando por todo o almoço — apesar de ele visitar o lugar toda vez que vem a Jeju.

Contudo, Namjoon falhou em avisar que não Havia bicicletas para alugar e Hoseok ficou frustrado com a quebra de sua expectativa, embora ele tivesse reclamado do suposto passeio de casal no dia anterior.

Eles descobriram que a floresta Bijarim tinha a possibilidade de um curso menor, e uma caminhada de mais ou menos quarenta minutos era o suficiente para eles a conhecerem. Também descobriram que precisavam pagar uma quantia para entrar, o que não estava nos planos da maioria, afinal era só um passeio e ninguém queria gastar.

Felizmente, Namjoon reforçou aos amigos que ele os convidou para a viagem e, portanto, pagaria por todas as despesas necessárias. Era um jeito sutil de dizer que possuía dinheiro e o valor gasto naquela viagem toda chegava a ser irrisório perto de sua fortuna.

O local mantinha suas folhas verdes, exatamente como Namjoon gostava. Não havia muito barulho, exceto pelas conversas paralelas, o que tornava a experiência mais agradável e fazia parecer que você estava sozinho diante da natureza.

Hoseok bufou, sentindo-se cansado de andar — e mal haviam começado — e observou os amigos andando à sua frente. Yoongi estava engajado em uma conversa com Namjoon e Seokjin, o amigo sorria de forma genuína, o que ele não via há muito tempo.

Um pouco mais atrás, havia Jimin enganchado no braço de Taehyung, trocando carícias e dando risada, como sempre se comportavam. Vez ou outra Hoseok via Yoongi desviar o olhar da própria conversa para fitar Jimin, sem deixar que o sorriso saísse de sua face.

Em sua mente, a pergunta se Yoongi finalmente havia compreendido o laço de amizade que Taehyung e Jimin tinham, surgiu. Nada podia separá-los novamente, e Hoseok esperava que o amigo entendesse que se pretendia conquistar um lugar na vida de Jimin outra vez, seria necessário acreditar em si mesmo primeiro.

Yoongi parecia uma pessoa confusa desde o começo, alguém que confiava apenas nas próprias habilidades profissionais. Ele era muito bom em tudo o que fazia, sempre se dava bem nas aulas e conquistava facilmente os professores. Contudo, quando se tratava das pessoas, era tão emocionalmente constipado quanto Jeongguk.

Era até curioso como duas pessoas tão complicadas e idiotas se tornaram melhores amigas. Sempre que Hoseok via Yoongi e Jeongguk passeando pela Universidade, ele notava a pequena máscara que eles sustentavam, cair. Ambos confiavam um no outro.

A questão sobre confiança é que ela se conquista e Taehyung fazia isso com facilidade. Era quase como um dom. Quando o amigo piscava aqueles olhos grandes e dava um largo sorriso, o mundo inteiro parecia se encaixar e fazer sentido. Você despeja suas frustrações sem medo de ser julgado.

No entanto, com o tempo de convivência, você percebia que Taehyung, embora confiasse em você, ainda preferia manter algumas coisas em segredo. Às vezes por vergonha, outras por ser dolorido demais, ou simplesmente porque nem sempre você sente necessidade de compartilhar algo com alguém.

Jimin e Hoseok aprenderam a dar esse espaço a Taehyung. Sabia que ele demorava para contar algumas coisas, mas quando se sentia confortável ou achava que era algo que valia compartilhar, o amigo vinha ao encontro deles.

E as amizades funcionavam assim, de uma forma estranha. Contudo, o que fazia Hoseok ter certeza de que eles eram amigos era o fato de que estavam ao lado um do outro, na alegria e na tristeza, em todos os momentos idiotas, caóticos e que traziam lágrimas.

Hoseok também sabia que sua amizade com os outros era diferente, mas não menos importante. Gostava de todos eles e o fato de estarem ali, significava que até mesmo desavenças e mágoas não podiam se sobressair.

No fundo, quando Yoongi não apareceu para viajar com eles, Hoseok achou que o amigo havia os jogado de escanteio apenas para não aparecer na presença de Jimin. Ficou aliviado quando o viu no dia seguinte, mesmo que ainda um pouco desconfortável, tentando deixar sua idiotice de lado.

Aos poucos, Hoseok notava que Yoongi estava mudando. O almoço no dia anterior havia sido uma prova. O amigo havia conversado com Jimin quase o tempo inteiro, trocando risadas e algumas piadas sem sentido. Era um progresso e tanto.

Aquela viagem tinha tudo para continuar sendo bastante promissora até o seu fim. Considerando que nada desse errado, é claro. O que daria, mas não vem ao caso.

Sentiu um braço resvalar no seu e virou o rosto de lado, notando a presença de Jeongguk, imerso em pensamentos. Hoseok acompanhou o olhar do amigo, notando que ele fitava Taehyung com um sorriso gentil nos lábios.

Aquele parecia um momento tão íntimo. Hoseok conhecia Jeongguk há algum tempo, mas nunca havia visto o amigo sorrir daquela forma. Era como se algo houvesse mudado após conhecer Taehyung.

No início, Hoseok realmente achou aquele namoro esquisito, mas quando passou a observá-los juntos, ele percebeu que ambos eram simplesmente perfeitos um para o outro. Havia tanta diferença entre os dois, mas ao mesmo tempo havia tanta semelhança.

Se pudesse explicar melhor, Hoseok imaginava os dois como um quebra-cabeça impecável. As peças surgiam com o passar do tempo e se encaixavam uma na outra com facilidade.

Um riso baixo escapou de seus lábios. Felicidade pura. Hoseok podia dizer com propriedade que Taehyung merecia o mundo inteiro aos seus pés, mas o mundo não o merecia. Ele era bom, carinhoso e gentil. Claro, possuía defeitos, como qualquer ser humano, mas suas qualidades se sobressaem facilmente. E o problema é que o planeta terra estava lotado de pessoas dispostas a abusar delas.

Contudo, Jeongguk não parecia ser uma dessas pessoas. Ele parecia encantado por cada pormenor de Taehyung de forma genuína.

— Eu achava que você só gostava dele, mas agora vejo que você tá é apaixonado mesmo — Hoseok comentou com um sorriso largo no rosto, cutucando o braço do amigo. — Tipo, super apaixonado.

— Q-que?! — A expressão de Jeongguk se desmanchou no mesmo instante e o pânico tomou sua face. — Do que você tá falando?

— Ué — Hoseok estreitou os olhos —, que você tá apaixonado pelo Taehyung.

A vontade que Jeongguk tinha naquele momento era de rir. Na verdade, quis gargalhar, mas a risada ficou presa na garganta e ele engoliu em seco. Tinha que se manter no personagem de namorado apaixonado, embora não entendesse o motivo de Hoseok dizer aquilo tão de repente.

— O que entregou?

— O jeito como você olha pra ele, sabe? — Hoseok enganchou no braço de Jeongguk. — Querido, nunca vi você olhando assim para alguém antes. Seus olhos brilham e você sorri feito bobo.

Ouvir aquilo era um sinal vermelho e bastante sonoro dentro de sua cabeça. Era algo comum nos filmes de romance, o tal brilho no olhar. Jeongguk balançou a cabeça, tentando afastar os pensamentos desesperados.

Não estava, em hipótese alguma, apaixonado por Kim Taehyung.

Ou era o que ele dizia para se enganar. Mas, cedo ou tarde, Jeongguk vai descobrir a verdade. Enquanto isso, sua mente segue dizendo o contrário de seu coração.

Jeongguk tinha certeza que não podia se apaixonar por Kim Taehyung.

Não ele. Não o cara que Jeongguk jurou que odeia só porque Taehyung o fazia se sentir como um fantasma, pelas poucas — porém existentes — vezes em que, com aquele seu jeito espalhafatoso e espontâneo, acabou por trombar em Jeongguk e se esquecer do seu rosto dias depois, quando fizesse a mesma coisa.

Não o cara que Jeongguk jurou que odeia porque, em uma tarde qualquer, Taehyung não o viu e sentou em cima dele, como se fosse um garoto invisível.

Não o cara que Jeongguk sempre pensou ser insensível, egoísta e que só se importava com seu namoradinho Park Jimin. Nada mais, nada menos.

Não o cara que Jeongguk percebeu ter julgado completamente errado quando passaram a se conhecer melhor. Não ele.

Jeongguk passou a língua nos lábios e olhou para frente, bem a tempo de ver Taehyung lhe dando um sorriso de canto, como se soubesse que era ele quem ocupava seus pensamentos.

— Acha que ele é apaixonado por mim? — Jeongguk perguntou baixo, fitando o rosto sereno de Hoseok.

— Isso é meio óbvio, não? — Hoseok ergueu uma sobrancelha, mas a expressão impassível de Jeongguk o fez soltar um suspiro frustrado. — Olha pra ele — apontou para Taehyung, conversando com Jimin, mas o rosto sempre virado de lado, fitando o falso namorado com atenção e quase tropeçando nos próprios pés no meio do caminho —, não tirou os olhos de você um minuto sequer.

— Isso não significa nada.

— Claro que significa, meu anjo. — Hoseok deu um sorriso terno. — Você não nota, mas o Taehyung está sempre com os olhos em você. Não importa onde esteja, ele sempre te procura.

O que Jeongguk faria com aquela informação? Tinha plena certeza de que Taehyung não estava apaixonado por ele, afinal de contas, apesar das provocações e do desejo bizarro que os dois tinham de querer se beijar e se atracar entre socos e mãos bobas — o que eles não fizeram, vale ressaltar —, não havia mais nada. Não havia paixão.

Um equívoco, é claro. Jeongguk não era apenas emocionalmente constipado, ele também era tolo o suficiente para se convencer do contrário. Estava bem diante de seus olhos o quanto os dois se encaixam como peças perfeitas de um quebra-cabeça maluco.

Jeongguk não queria ver e tampouco aceitar. Porque, no fundo, ele sabia que não devia e não podia se apaixonar por Taehyung. No entanto, o que faria se compreendesse que estava mesmo apaixonado por Kim Taehyung?

Naquela noite em que estava com sono demais, quando Taehyung falou que Jeongguk não podia se apaixonar, mas não deixou claro o motivo. Tentava ignorar, mas a voz do falso namorado voltava com frequência na sua cabeça.

Era um clichê, sabia disso. Jeongguk estava acostumado a ouvir aquela frase idiota em filmes de romance com namoro falso, adorava quando eles aconteciam. Contudo, quando era com ele, a situação se tornava diferente.

Passou a odiar o quanto a sua própria vida parecia um filme bobo indo ladeira abaixo e sem chances de final feliz. Jeongguk detestava finais tristes ou finais em aberto.

— Você já namorou com alguém pela qual não era apaixonado, Hobi?

— Já. — Hoseok franziu as sobrancelhas. — Mas não deixei que durasse muito tempo, quando percebi que só estava fazendo mal a nós dois, eu terminei.

— E se... — Jeongguk fez uma pausa e ficou rígido. Sabia que o amigo conseguia sentir a tensão de sua musculatura. — E se você fosse o apaixonado e o outro lado não?

— Acho que depende. — Hoseok puxou o queixo de Jeongguk e fitou os olhos escuros. Havia incompreensão no rosto do amigo. — Quando se está muito apaixonado, às vezes acabamos por ser mais idiotas que o normal.

Jeongguk assentiu e olhou para frente de novo. Taehyung estava sozinho, parado perto de uma árvore, com os braços cruzados e um pirulito na boca, como se o esperasse.

Foi naquele momento que Jeongguk se perguntou como era possível não se apaixonar por um idiota daqueles.

— Posso roubar meu namorado um pouco, Hobi? — Taehyung abriu um sorriso travesso e Jeongguk revirou os olhos por força do hábito.

— Todo seu, meu botão de rosa — Hoseok disse, com as mãos erguidas. — Ei — berrou ao sair correndo, tropeçando no pé de outro turista e caindo de quatro no chão. — Desculpa — pediu às pressas ao se levantar, os olhos arregalados vendo os amigos um pouco mais longe e o joelho sangrando. — Esperem por mim, seus ingratos. Eu tô machucado, sabia? Ó aqui meu joelho.

— Cuidado, Hobi! — Taehyung bateu na própria testa, prestes a ir ajudar o amigo, mas Hoseok foi mais rápido. — Cabeçudo!

— Eu tô bem — berrou por cima do ombro, andando mais rápido, como se nada tivesse acontecido instantes antes. — Eu nunca mais compro doce pra você, Park Jimin!

— E aí — Jeongguk murmurou, o tom arrastado. — O que foi?

— Eu que te pergunto. — Taehyung franziu o nariz e passou o braço ao redor dos ombros de Jeongguk. Ele se arrepiou inteiro, temendo a própria reação diante do falso namorado. — Você tava me olhando com uma cara esquisita.

— Só tenho essa cara.

— Ficou azedo de repente?

— Não é você que diz que eu sou azedo? — Jeongguk bufou e olhou para o rosto de Taehyung. Os lábios estavam comprimidos em uma linha fina, como se estivesse decepcionado com a sua atitude repentina. No entanto, a boca estúpida de Jeongguk foi mais rápida do que seu cérebro aparentemente sensato, e ele se arrependeu no instante em que se ouviu perguntar: — Não tem nada melhor pra fazer além de me encher o saco?

A feição de Taehyung ficou inexpressiva. Era como se um balde de água fria tivesse caído em sua cabeça. Claro, estavam acostumados a se xingar, mas naquele momento sequer havia motivo para um ataque gratuito daquela maneira.

— Parabéns, você provou ser um idiota. Se está esperando seu prêmio, busque ele na puta que pariu. — Taehyung se desvencilhou de Jeongguk e derrubou o pirulito no chão. Ele olhou para o doce e o chutou para longe, descontando sua raiva. Apressou os passos pela ponte de madeira a sua frente e pegou outro pirulito do bolso.

Não havia como eles conversarem ali, então, por segundos intermináveis, Jeongguk segurou na barra da camiseta de Taehyung para não se perder dele. Quando saíram daquela região, ele puxou o falso namorado para um canto.

Taehyung colocou o pirulito na boca e cruzou os braços, o queixo empinado como se esperasse uma resposta boa o suficiente de Jeongguk para o ataque repentino.

— Desculpa! Eu sei que eu sou um idiota completo e que foi grosseiro — falou alto, encostando a testa contra o peito de Taehyung. — Eu não tava tentando... Eu não... Desculpa.

— Não me faz perder tempo olhando pra sua cara agora que tô irritado. — Taehyung jogou o novo pirulito de um lado para o outro com a língua, se controlando para não retribuir o contato repentino vindo de Jeongguk. — Desembucha o motivo do seu surto.

— Eu tive uma conversa super confusa com o Hoseok e... — Jeongguk mordeu o lábio inferior várias vezes, deixando-o inchado. Ele olhou para os lados, incerto e confuso. Depois, voltou a mirar o rosto de Taehyung. — Me desculpa, acabei descontando em você a minha frustração comigo mesmo — confessou.

— Vocês brigaram?

— Não! — Jeongguk se ergueu rapidamente, balançando as mãos em negação a pergunta. — Ele me falou umas coisas que me fizeram... pensar demais. E eu meio que não gosto de pensar demais em coisas que eu já estava pensando antes porém só agora percebendo que talvez elas sejam mesmo verdade e...

— Você tá fazendo zero sentido.

— Que saco! — Jeongguk puxou os próprios cabelos. — Parte disso é tudo culpa sua, sabia?

— Minha?! — Taehyung cruzou os braços, olhando Jeongguk com certa irritação. — Pode esclarecer como você estar nervosinho é minha culpa, Jeon?

Jeongguk estremeceu ao ouvir seu sobrenome. O modo como Taehyung o pronunciava era de alguém que estava furioso.

— Você me faz pensar demais e tá me deixando completamente maluco. — Jeongguk pegou a mão de Taehyung e sentiu o falso namorado ceder ao seu toque. Ele fez um carinho suave no pulso até as palmas se juntarem e os dedos se entrelaçarem.

— Jeon-

— Eu tenho uma pergunta — interrompeu, o olhar sério.

— Qual?

— Por que eu não posso me apaixonar por você?

— Como...? — Taehyung suspirou e balançou a cabeça. — Você ouviu.

— Ouvi.

— O motivo realmente importa?

— Sim. — Jeongguk estalou a língua no céu da boca. — Não que eu vá me apaixonar, não tô dizendo isso, só tô curioso.

— A curiosidade vai te matar, jumentinho.

Taehyung contornou o corpo de Jeongguk e voltou a andar, deixando-o para trás. Ele se esquivou da pergunta com maestria, mas não se atentou ao fato de que o falso namorado não desistia tão fácil assim quando tinha interesse em algo.

O passeio já estava no fim e Jeongguk o seguiu em silêncio. Quando estavam livres da multidão que os cercava, ele empurrou Taehyung para um canto mais isolado e o prensou contra um muro.

— O que você faria se eu me apaixonasse? — Jeongguk tentou outra abordagem, uma mais direta, na esperança de obter alguma resposta. Ele sentia que precisava, desesperadamente, de qualquer tipo de motivo ou entraria em colapso. — Hipoteticamente, é óbvio.

— Você não pode.

— Conhece o significado de hipoteticamente, seu chato?

— E mesmo hipoteticamente eu digo que você não vai se apaixonar por mim porque... porque não! — Taehyung acariciou a bochecha de Jeongguk, um sorriso quebrado em seu rosto. — Encara a realidade, eu tô solteiro porque ninguém suporta ficar comigo, ou o meu jeito, ou tudo junto e misturado. De quebra eu ainda pedi pra você fingir ser meu namorado. Por que você se apaixonaria por alguém assim?

Aquela era a pior desculpa que Jeongguk já havia escutado na vida e ele tinha a impressão que nem mesmo se ele pedisse a sua mãe por conselhos amorosos, ela poderia resolver sua situação — até mesmo porque isso implicaria contar os detalhes daquele plano idiota e explicar que Taehyung era seu namorado de mentira, o que, é claro, ele não faria nem morto.

— Seu argumento é um lixo e sem o menor sentido, Taehyung — argumentou, a voz soando nervosa.

— Você me conheceu como eu sou, Jeongguk, acho que é o suficiente pra perceber que não dá pra se apaixonar por alguém como eu.

— Tudo o que eu falei ontem você jogou na privada e deu descarga, porra?

— O quê? — Taehyung riu, descrente. — Que você me acha perfeito como sou?! Para. Você só disse aquilo pra fazer eu me sentir melhor! — falou alto, os olhos ardendo.

— Vai à merda, Taehyung. — falou ainda mais alto e o som à volta deles diminuiu de repente. Jeongguk o puxou mais para o canto, afastando os olhares curiosos da discussão dos dois. — Eu nunca falaria aquilo pra fazer alguém se sentir melhor, ainda mais alguém que eu gosto!

— Por que você torna tudo mais difícil?

— Eu?! — Jeongguk soltou uma risada, que pareceu um ronco indignado, e prensou Taehyung contra a parede, seu rosto bem próximo do falso namorado. O cheiro do mar impregnado nas roupas e no cabelo. — A gente tá brigando por um negócio que eu nem sei o que é!

— A gente não tá brigando. — Taehyung revirou os olhos. — Discutindo talvez.

— Mesma merda! — Jeongguk olhou para Taehyung, suplicante. — Você tem transformado minha vida de ponta cabeça e é um teimoso do caralho, mas eu nunca mentiria pra você. Nunca.

Taehyung se calou e mordeu o pirulito esquecido em sua boca. Sua cabeça estava uma confusão completa. Prometeu a si mesmo que iria seguir em frente, mas sempre que Jeongguk vinha com aqueles olhos escuros lhe prometendo o mundo sem segredo — algo que nem ele mesmo sabia que estava fazendo —, Taehyung sentia suas pernas vacilarem.

Era aterrorizante pensar que a possibilidade de tentar se encontrar em relacionamento outra vez estava diante de seus dedos e, ao mesmo tempo, poderia escapar em questão de segundos.

Quando ele teve essa ideia idiota de chamar Jeongguk para ser seu falso namorado e ajudar Jimin, ele jamais imaginou que seu passado voltaria a espreitar na porta.

Agora, o maldito aparecia onde queria, como eu lembrete vivo de que não havia para onde fugir. Taehyung tinha medo de arriscar e machucar todo mundo à sua volta, principalmente Jeongguk.

— Me dá um motivo — Jeongguk voltou a falar, a voz mais controlada. — Um motivo só, pelo qual eu não posso me apaixonar por você e eu juro, por tudo o que você quiser, que eu até volto pra Seul hoje mesmo se ele for convincente o suficiente.

Taehyung engoliu em seco, os lábios entreabertos sem saber o que responder. A voz daquele desgraçado era motivo o suficiente para não convencer Jeongguk a desistir. Contudo, teimoso como era, Taehyung tinha certeza de que ele não se importaria.

Dentro de si, continuar odiando o falso namorado era muito mais fácil do que permitir se apaixonar. Continuar sozinho era a sina que precisava carregar. Sempre foi.

Ninguém nunca vai te amar como eu, Taehyung, porque você não merece ninguém além de mim. Eu sou perfeito pra você, meu precioso, repetiu a voz grave em sua cabeça.

Taehyung balançou a cabeça, tentando afastar a lembrança.

— Eu tenho medo — Taehyung confessou em um sussurro.

— Medo do quê?

— De muita coisa, seu... seu... — Taehyung bateu contra o peito de Jeongguk, sem saber que xingamento usar naquele momento. — Eu vou enfiar sua cara na areia. Tô falando sério. Para de me fazer acreditar que eu posso...

— Não tô te fazendo acreditar, tô te falando que você pode! — Jeongguk sorriu de canto e pegou os pulsos de Taehyung, trazendo-o mais para perto. Ele olhou para os lábios do falso namorado, tentado a fazer uma loucura gigantesca. — Taehyung, você pode o que quiser e-

— Se você me beijar eu vou socar sua cara.

— Você não sabe ser romântico, né? Quebra clima do caralho — Jeongguk sussurrou, chegando mais perto e sentindo Taehyung fazer o mesmo apesar das palavras que saiam de sua boca.

— Que saco que eu não consigo ficar longe de você.

— E você quer isso?

— Eu... — Taehyung estava prestes a dizer um sonoro não, quando viu o casal em sua visão periférica. Um arrepio percorreu seu corpo e todos os temores surgiram no mesmo instante. Era ilusão pensar que podia, mesmo que por um segundo, ignorar seu passado. — Eu... quero terminar o nosso namoro.

— Você o quê?! Nossa, hoje você tá impossível.

— É isso que você ouviu. — Taehyung virou o rosto na direção contrária de onde o casal estava e apertou os olhos fechados.

— Nem você acredita no que tá dizendo.

— Vai ser melhor assim.

Contudo, Jeongguk não era idiota. Sentiu que havia algo errado assim que o corpo de Taehyung ficou tenso contra o seu.

Ele aceitaria ser rejeitado, sem problema algum, embora tivesse certeza absoluta — e com razão — de que isso não aconteceria, mas não aceitaria terminar aquele namoro falso daquela forma, sem atingir o objetivo que Taehyung tanto desejava.

Jeongguk olhou para os lados e foi então que os viu. O sorriso cativante — e perverso — do garoto e a expressão sem vida da garota. O casal improvável, esquisito e que começava a tirá-lo do sério.

Do mesmo jeito que surgiram, eles se foram, e era isso o que mais incomodava. Ambos eram como assombrações.

— O que caralho eles tão fazendo aqui?

— Só vamos embora, por favor.

— Eles te seguiram até aqui?!

— Não sei! — Taehyung tentou se esconder. Queria desaparecer contra o chão debaixo de seus pés. Sua respiração ficou pesada e mais rápida, como se alguém tivesse sentado em cima de seu peito. Ele apertou ainda mais os olhos e balbuciou: — Eu... Eu acho que... Acho que tô ficando maluco. Ele fica aparecendo, depois de tanto tempo, e eu perco o controle dos meus próprios pensamentos. Controle que eu finalmente tenho! Porque eu nunca tive antes controle de nada! Eu nunca tive... Eu-

— Respira fundo, meu amor — sussurrou, a voz carinhosa demais e o apelido passando despercebido pelos dois. — Respira fundo. Vamos, devagar.

— É difícil... Tá difícil... — Taehyung ouviu um zumbido em seus ouvidos, estridente e irritante. O mundo pareceu rodar por um instante. Ele abriu os olhos e apertou a cintura de Jeongguk em reflexo. — É sufocante, entende? Muito...

— Respira junto comigo — Jeongguk pediu, gesticulando com a mão para que Taehyung acompanhasse. — Inspira... Agora expira... Isso.

Taehyung seguiu as instruções e passou a olhar as coisas à sua volta, algo que fazia quando tinha crises, focando no que podia nomear. Uma árvore, uma pessoa de camisa azul, um pássaro...

Ele não sabe quanto tempo durou, mas aos poucos o peso em seu peito foi diminuindo e seu foco foi retornando.

— Obrigado.

— Eu tô aqui — falou, um tom que passava segurança. — Ok?

Jeongguk notou que Taehyung parecia querer ficar um pouco quieto, então ele o puxou para uma caminhada. Os dois foram lado a lado, andando devagar.

Durante o caminho, Jeongguk apontava algumas coisas para distrair Taehyung e o falso namorado dava um sorriso breve.

Vez ou outra, Taehyung apertava os dedos de Jeongguk com força e chegava mais perto.

— Quero voltar pra casa — pediu de repente.

— Tudo bem. — Jeongguk puxou o celular do bolso e mandou uma mensagem no grupo avisando que eles retornariam para a mansão antes.

O caminho que percorreram foi em silêncio até arranjarem o meio correto de locomoção para retornar à mansão.

Quando chegaram na praia perto da mansão de vidro e voltaram a caminhar, Taehyung parecia um pouco mais aliviado. Ainda assim, Jeongguk sentia-se atordoado e ficava atento à sua volta. Tinha receio que o casal aparecesse do nada, como parecia acontecer toda vez.

— Eu tô bem agora, você não precisa pisar em ovos comigo — Taehyung disse ao ver Jeongguk olhar por cima do ombro pela milésima vez. — E eu não acho que eles estejam seguindo a gente. Tudo o que ele faz é pensando nele mesmo. Se ele cumpriu o objetivo de hoje, que era me atormentar, não vai aparecer de novo.

— Quem é ele afinal?

— Um pedaço podre do meu passado — sussurrou.

Havia algo de pesaroso na voz de Taehyung e um fantasma de lembrança em seus olhos.

— Vai me contar sobre?

— Não sei. — Taehyung olhou para o mar, as ondas se quebrando contra os seus pés na beira da praia. — Eu falei sério quando disse que acho que devemos terminar esse namoro falso e voltar a só, sei lá, se odiar.

— Cala a boca, isso não vai acontecer.

— Jeongguk, é mais fácil.

— Fácil? Eu não me contento com fácil. Por favor, a palavra fácil não existe no vocabulário dos meus pais e nem no meu. — Jeongguk parou no lugar e Taehyung continuou andando, só interrompendo seus passos um pouco depois. Ele olhou para trás e viu o falso namorado com os punhos cerrados, o cabelo escuro bagunçado pelo vento e a mandíbula trincada. — E desde quando se isolar é a melhor solução?

— Não é, mas...

— Você quer me afastar? Ótimo. — Jeongguk se aproximou e apontou o indicador no peito de Taehyung. — Me afasta o quanto quiser quando estivermos só nós dois. Eu juro que fico longe se essa for sua decisão, durmo no chão e nem olho na sua cara, mas espera essa viagem acabar pra destruir esse relacionamento e me tirar fora do nosso grupo.

— Obrigado. — Taehyung balançou a cabeça e colocou as mãos na cintura quando entendeu o que Jeongguk dizia. — Espera, quê? Por que você acha que vai sair do nosso grupo de amigos?

— Não vou ficar olhando pra sua cara toda vez que a gente sair com os meninos e precisar explicar porquê não estamos mais juntos!

— Eles vão nos perdoar por termos mentido sobre o relacionamento.

— Ah, faça me o favor, Taehyung! — gritou, indignado que o falso namorado fosse tão denso. — Você é uma completa anta mesmo.

— Pois agora voltamos com os xingamentos?

— Meus xingamentos nunca foram embora, sua porta! — Jeongguk bateu contra o ombro de Taehyung, irritado que parecesse tão fácil assim dar adeus ao que eles tinham construído.

Ainda assim, parte de si achava um completo exagero sua reação, afinal eles se detestavam e não tinham nada realmente. O que Taehyung propunha nada mais era do que contar a verdade.

Maldita conversa com o Hoseok, deixou minha cabeça perturbada, pensou enquanto marchava pela praia.

— Volta aqui, seu treco desenfreado! — Taehyung saiu correndo e pegou Jeongguk pelo braço, fazendo-o parar. Quando fitou os olhos escuros do falso namorado, viu que ele estava chorando. — Você tá chorando?

— Não?! — Jeongguk enxugou as lágrimas de forma violenta. Sentia-se patético. — Entrou areia nos meus olhos.

— Idiota.

— Você que é.

— Por que você me quer tanto por perto, Jeongguk? Por que insiste tanto? — Taehyung perguntou baixinho, o coração acelerado na espera da resposta.

— Não é óbvio? — Jeongguk franziu as sobrancelhas e socou o braço de Taehyung com pouca força. — Você conseguiu, Taehyung. Eu me apeguei a você.

Embora também fosse óbvio, para todos, menos para Taehyung, que aquela não era a resposta correta. Por enquanto.

— * —

A mansão de vidro estava vazia quando eles chegaram. Os alarmes de segurança gritaram quando abriram a porta dos fundos e Jeongguk foi rápido em colocar o código que Namjoon passou por mensagem.

Os seguranças estavam com Namjoon, é claro, e monitoravam a mansão através do celular.

Eles deixaram os sapatos cheios de areia do lado de fora e lavaram os pés no chuveiro externo antes de entrarem na casa.

Taehyung estava sempre atrás de Jeongguk, vez ou outra sua mão o alcançava, na tentativa de puxar sua blusa e falar tudo o que estava entalado em sua garganta. Contudo, seus dedos se retraiam e ele desistiu.

Não era covardia e sim receio.

Apesar de tudo o que Jeongguk dizia, Taehyung tinha medo das consequências de seus atos. Era mais fácil magoar as pessoas ao afastá-las do que lidar com alguma dor maior caso as mantivesse por perto apenas pelo seu egoísmo em querer ser feliz.

Ainda se lembrava do que aconteceu com Minho, o último amigo que Taehyung fez e que tentou, de forma falha, construir um relacionamento. Nem mesmo Jimin e Hoseok sabiam sobre ele. Foi tudo tão rápido e tão cruel.

Naquele período Taehyung sentiu como se tivesse regredido na terapia. Demorou mais um bocado de tempo para compreender que o problema não era ele.

Nunca foi.

Ainda assim, havia uma voz insistente que dizia que era. Tudo era sua culpa. Voltava em momentos como esse, de insegurança e de se sentir quebrado por dentro.

Acontecia agora, depois de tê-lo visto mais de uma vez em Jeju, em uma viagem, onde Taehyung deveria se sentir seguro.

Apesar disso, Taehyung possuía sonhos.

Desejava alguém que entendesse que precisaria estar ao seu lado quando as peças estivessem espalhadas pelo chão e ele não tivesse coragem de reuni-las outra vez.

Precisava de alguém ao seu lado que suportasse vê-lo no seu pior momento, desejando ficar debaixo das cobertas sem fazer nada.

Porque no fundo, Taehyung sabia que era um processo demorado. Não queria alguém para curá-lo, isso não existia. Amor não curava sua ansiedade, não curava suas feridas e seus pensamentos.

Mas amor podia ser suporte. Como era com seus amigos e que ele insistia, por puro medo, em afastar. Outra idiotice sua. Fazia de tudo para Jimin ser feliz, mas não permitia que o amigo o ajudasse em momentos que ele mais precisava como agora.

Sua psicóloga já dizia que não era o certo a se fazer. Mandar pessoas que te querem bem ir embora e ficar na solidão só trazia mais dor.

Taehyung respirou fundo e puxou a blusa de Jeongguk quando ele estava prestes a entrar no quarto dos dois.

— Jeongguk, me promete uma coisa?

— O quê?

— Não conta pro Jimin e pro Hobi.

— Eu sei que você é idiota, mas... Cara, você é idiota? — Jeongguk cruzou os braços, o semblante sério. — Garoto, eles são seus melhores amigos. O Jimin já tá preocupado e eu segurei a língua porque eu achei que era um assunto seu, mas agora... — Ele apontou de forma discreta para o casal. — Eu que não vou esconder deles que tem dois esquisitos te seguindo.

— Eu sei, não quero que você esconda, quero que você deixe eu contar.

— Ah. — Jeongguk se espantou com o pedido e assentiu. — Tudo bem, eu não pretendia contar nada. Quer dizer, ia falar pra você falar.

— E se eu dissesse que não ia contar?

— Aí eu ia falar pra você que eu ia contar, ué — Jeongguk respondeu como se fosse óbvio.

— Por que você é assim?

— Porque eu me importo com você, seu grande imbecil!

Taehyung grunhiu com aquela resposta e puxou Jeongguk pelo pescoço, pressionou seus lábios contra os dele em um selar rápido e raivoso.

— Eu odeio você — sussurrou contra os lábios de Jeongguk.

— Eu falo que me preocupo, você me beija e diz que me odeia? — Jeongguk fez uma careta inconformada. — Eu desisto de te entender, garoto.

— Me faz um favor e cala a boca.

— Ah, vai precisar vir calar se quiser isso — Jeongguk provocou, uma sobrancelha erguida. Taehyung soltou um suspiro e deu um passo para frente, mas foi impedido de avançar pelo falso namorado. — Mas é pra falar com eles assim que voltarem, ok? Sem enrolar.

— Tá, tá! — Taehyung empurrou Jeongguk para dentro do quarto e fechou a porta com o pé. — Mandão.

— Vou tomar um banho — Jeongguk anunciou, tirando a camiseta e jogando-a no chão. Ele olhou para Taehyung, que o encarava. — Ou você quer ir primeiro?

— Não, pode ir.

Jeongguk deu as costas e, antes que pudesse entrar no banheiro, Taehyung passou os braços por sua cintura e o puxou. Ele colou as costas nuas do falso namorado em seu peito e sussurrou em sua orelha:

— Mas, me diz... Essa história sobre precisar ir calar a sua boca...

— Eu falei zoando, Taehyung!

— Sei... — Taehyung mordeu o lábio inferior com força e cutucou a bochecha de Jeongguk com o dedo. — Você se preocupa mesmo comigo, né?

— Eu vou parar de me preocupar se você continuar perguntando isso.

— Mentiroso. Mas é por isso que é meu idiota favorito.

— Quieto, praga! — Jeongguk resmungou, puxando Taehyung para mais perto naquele abraço de costas. — Não faz eu me arrepender de dizer essas coisas em voz alta.

— Tão fofo — sussurrou.

Jeongguk soltou o ar pelo nariz, mas não disse nada. Ele beliscou as costas da mão de Taehyung e sentiu quando o falso namorado encostou os lábios em seu pescoço.

— Posso te pedir mais uma coisa?

— O que é dessa vez?

— Dorme comigo? — pediu, envergonhado. O corpo de Jeongguk ficou rígido com o pedido. — Não quero ficar sozinho.

— E a gente não tá dormindo junto todo dia na mesma cama?

— É, mas — Taehyung ronronou e, de repente, ele parecia inocente. — Sei lá, juntinho sabe? De conchinha.

— De conchinha? Certo...

Jeongguk sentia que sua cabeça ia explodir. Em um momento Taehyung o queria bem longe e em outros o queria perto até demais. E o pior de tudo é que ele estava inclinado a compelir, porque mais nada fazia sentido para si do que ver aquele idiota sorrindo ao invés de triste.

Desde a primeira vez que Jeongguk viu Taehyung com os olhos perdidos e o sorriso ausente, ele teve certeza de que não havia nada naquele mundo mais dolorido do que o falso namorado sem ser quem comumente era.

Ele daria tudo que Taehyung queria se isso o fizesse sorrir de forma genuína.

— O que você quiser, Taehyung — falou por fim. — O que você quiser.

Ali, Jeongguk soube que não tinha mais volta. Ali, Jeongguk soube que estava desesperadamente apaixonado por Kim Taehyung.

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