A TECNOLOGIA DO SÉCULO XXI

Seokjin POV

⏳️

— Isso é um pouco... diferente? — O conde Park fala atrás de mim enquanto observo os arredores de Londres. Ao menos penso eu que ainda estamos em Londres.

— Essas máquinas paradas aqui pelo caminho são o que? Parecem com carruagens, mas não vejo nenhum cavalo por perto. — Minha irmã passou a mão no vidro de uma dessas máquinas, Park a seguiu e tentou olhar através.

Os dois são extremamente curiosos com tudo, enquanto ainda estou processando o fato de termos realmente viajado no tempo, Jennie e Jimin estão explorando tudo como duas crianças.

— Sua graça, aquele ali é o Big Ben, estamos no lugar certo. — O barão aponta pra trás de mim, me viro e logo vejo a grande torre do relógio. Estamos mesmo em Londres e é notável que nada disso faz parte da realidade do nosso século.

Mas como vamos encontrar meus irmãos?

— Jin, as famílias normalmente se conhecem, podemos pedir abrigo em uma dessas casas e nos informar se eles conhecem a família Clarke, você me disse que esse é o sobrenome da Emilly, estou certa? — Mirla segura em meu braço e tenta me acalmar, relaxo a postura em segundos.

— Só temos um problema, eu não posso me apresentar como o duque de Devonshire, lembra? — Mirla desanima e eu desanimo junto.

— Que horas são, Kim? — Ouço a voz do Park atrás de mim, tiro meu relógio do bolso pra respondê-lo.

Onze horas da noite. Não é mais hora de estarmos fora de casa, principalmente com Jennie e Mirla.

— É hora de se acomodar, Park. Precisamos encontrar um lugar pra repousar, pela manhã podemos procurar por eles. — Yoong toca duas vezes em minhas costas.

— Senhor... — Sua voz soa como se eu precisasse prestar atenção em algo, olho pra frente ao invés de olhar para o barão que me chamou e vejo um grupo de pessoas vestidas de forma ridícula ao longe na rua.

Quando um deles dá um passo pra frente e chama meu nome sinto meus olhos marejarem. Largo o relógio no bolso e corro até ele.

Namjoon me prende em seus braços de uma forma tão carinhosa e cheia de saudades que sinto meus ossos protestarem com a força com que ele me abraça. Ele sempre foi o mais forte da família.

Nos soltamos um do outro e Namjoon me olha com os olhos cheios de lágrimas, da mesma forma que, com certeza, estão os meus. Olho pra ele como um todo, seu tamanho, suas roupas, mesmo já sendo um adulto consigo ver as marcas do tempo em meu irmão.

— Você está... — Busco as palavras enquanto olho sua camisa e seus sapatos. — Estranho? — Soa mais como uma pergunta.

Ele ri, mas antes que possa me responder todos nós nos assustamos com um grito.

— JIMIN, SEU VAGABUNDO! — Um homem de cabelo grande corre como um louco pela rua, se joga em cima do conde e os dois caem no chão embolados um no outro.

Acho que encontrei meu outro irmão.

Todos ao nosso redor começam a rir de uma forma que nunca presenciei antes, tudo na minha vida é sempre muito sério, muito burocrático, então ver o barão com os olhos arregalados e todos os outros se divertindo as custas do Taehyung outra vez é algo que senti muita falta.

Vejo Emilly pela periférica chegando com mais pessoas, mas não consigo tirar os olhos do Tae e do Park abraçados no chão.

— Digamos que Taehyung continua sendo... bem... ele mesmo. — Namjoon dá um passo, para do meu lado e assiste a cena junto comigo.

— Acho que bati minha cabeça, Taehyung! — O loiro ralha com o amigo, Tae levanta do chão e puxa Jimin pelos braços, depois o abraça de novo.

— Se tivesse sido sério tava desmaiado. Eu senti tanto tua falta, cara! — Jimin sorri e retribui o abraço, percebo o quanto Taehyung se sente mais livre aqui, e só vi ele por alguns segundos, acredito que fiz a escolha certa ao permitir que eles viessem pra cá.

Jennie se aproxima de nós e abraça Namjoon, aproveito pra cumprimentar os outros.

Emilly continua a mesma que vi naquela última vez antes de ela desaparecer com meus irmãos dentro do espelho, esboço um sorriso quando ela para na minha frente e faz uma reverência, devolvo da mesma forma.

— Sua graça. — Ela me cumprimenta, estendo a mão para pegar a sua e dou um beijo no dorso.

— Bom vê-la outra vez, senhorita Emilly. — A moça sorri.

— Digo o mesmo, tivemos pouco contato mas escutei muitas histórias sobre você esses meses que os rapazes passaram aqui. — Ela puxa uma moça pelo braço e me apresenta. — Não sei se o senhor lembra da Madison.

— Claro que lembro, ela fugiu de casa com meu irmão sem acompanhante e os dois pensaram que ninguém percebeu. — Madison ri, tomo sua mão na minha com um beijo e a cumprimento também.

— Aqueles foram bons tempos. — Ela responde, viramos todos pra onde Taehyung havia ficado com Jimin, agora ele está enchendo a paciência de Min Yoongi novamente.

— O Tae deve apanhar do barão logo logo. — Emilly fala ao meu lado, depois se vira pra minha esposa. — Você deve ser a Mirla, fico feliz que tenha vindo junto.

As mulheres engatam uma conversa animada quando Jennie se junta a elas, Taehyung se solta do barão e passa o braço atrás de meus ombros enquanto me leva andando até dois homens que ficaram parados observando tudo de longe.

— Não acredito que você está mais alto que eu, Taehyung. — Meu irmão ri.

— Você e o Nam foram largados pra trás pelo mais novo. Sou o homem mais alto dessa família. — Ele me mostra o próprio braço em uma pose de força, depois aponta para os rapazes. — Esses aqui são Jungkook e Hoseok, os dois são a alegria lá de casa, nós moramos juntos.

— Você é o duque Kim? — O que usa óculos me pergunta, ele está usando umas roupas bem coloridas que deixa tudo com um ar muito estranho.

— Nesse século eu sou só Seokjin. — Dou um meio sorriso enquanto tento não reparar demais nas roupas deles.

— Meu querido amigo Seokjin... — O mais alto dos dois, acho que Jungkook, cruza os braços e me olha com a sobrancelha levantada. — Não sei muito bem como funciona a formalidade no teu século, mas se for parecida com os livros que o grandão ali escreve cê vai ficar horrorizado com a nossa realidade nos dias de hoje.

A calça do tal Jungkook está rasgada, como as pessoas não acham isso estranho? A não ser que ele estivesse em um lugar que precisasse de roupas velhas não vejo o menor sentido de se vestir com trapos.

Acho que já estou um pouco horrorizado.

— Acredito que todos aqui se comunicam da mesma forma que o Taehyung, estou certo? — Tae me olha como seu eu tivesse insultado até sua décima terceira geração.

— O Tae consegue ser desnecessário até nesse século, Jin. — Namjoon puxa a orelha do mais novo, Tae dá um tapa na mão dele.

— Teu cu!

Nesse momento todos param de conversar e encaram Taehyung. Jungkook e Hoseok estão rindo, Namjoon está tentando não rir, Madison e Emilly estão de olhos arregalados, Jimin está de queixo caído, minha esposa coloca a mão no peito surpresa e Min Yoongi parece que vai ter uma síncope de tão vermelho que ele está.

Bom, Jennie pegou a própria bolsa e bateu na cabeça do Tae com ela.

— Isso são modos, Kim Taehyung? — Ele esfrega a cabeça assustado com Jennie o encarando de forma assassina.

— Credo Jen, tá parecendo a senhora Drummond.

— Talvez seja melhor nós entrarmos? — Emilly sugere, Jungkook e Hoseok correm pra dentro de uma das casas enquanto as moças vão atrás deles.

Seguro na mão de Mirla e nós todos os seguimos.

⏳️

— Que incrível! — É a primeira coisa que falo depois de quase trinta minutos explorando a casa de Emilly e Madison.

Elas tem uma luz mais potente que a luz do sol vinda de um vidro no teto da casa, o nome é energia elétrica.

Tem uma caixa grande e branca na cozinha que parece armazenar o inverno londrino dentro dela, a mudança de temperatura quando abre a tampa é surreal.

Tem uma outra caixa de metal que faz um som de apito e esquenta qualquer coisa em segundos! Perguntei para a senhorita Emilly se ela esquenta a água para o banho dentro desta caixa de metal.

Então eles me levaram pra um lugar chamado banheiro. A água sai quente de dentro de uns tubos no teto do compartimento, também tem um tal de vaso sanitário que é muito mais viável do que a casinha que usamos no fundo do quintal.

Você aperta um botão e os dejetos desaparecem!

Mas ainda estou fascinado com a claridade, nunca estive em um lugar tão iluminado durante a noite do que agora.

— Então o futuro é assim? — Jennie pergunta sonhadora enquanto encara o sol no teto com os olhos apertados.

— Gostou? — Emilly pergunta, minha irmã assente várias vezes.

— É surreal! — Jungkook se levanta da poltrona ali perto e se aproxima de nós.

— Vocês ainda não viram nada. — Ele vai até o balcão da cozinha e fala pro nada. — Alexa, toca o cover do Taehyung de You Call it Madness. — Uma música começa a tocar de um negócio preto redondo, nós cinco nos aproximamos como se aquilo fosse um explosivo.

Então juro que escutei a voz do Taehyung sair de lá de dentro.

— Isso está vivo? — O barão pergunta ao meu lado.

— O nome dela é Alexa e ela atende comandos de voz. — Jungkook fala orgulhoso, depois olha pra "Alexa" outra vez. — Alexa, dá oi.

"Olá, tudo bem?"

Todos nós damos um pulo pra trás com o susto, então ouço um barulho forte no chão.

— Puta merda, Jungkook, tu matou o cara! — Taehyung corre pra acudir Yoongi, me ajoelho no chão ao lado dele.

O barão desmaiou.

— Eu só não estou tão surpreso porque Madison me falou de todas essas invenções quando ela esteve na nossa época, mas escutar histórias e ver com meus próprios olhos é muito diferente. — O conde se aproxima da "Alexa" e toca nela com os dedos, Jungkook vai para perto dele.

— Qual teu nome? — Jimin o olha e sorri.

— Park Jimin, conde de Durham. — O Park faz uma reverencia, Jungkook devolve de um jeito estranho.

— Jeon Jungkook, universitário plebeu pobre lascado. — Os dois começam a rir.

— Gostei de você. — Taehyung se aproxima emburrado quando escuta as palavras de Jimin.

— Jeon Jungkook, já tá roubando meu melhor amigo? Sai pra lá, macho! — O Kim empurra Jimin pra trás de si e mostra a língua para o Jeon.

— Deixa de ser ciumento, saxofonista. — Jeon empurra a testa de meu irmão e sai andando. Jennie chega pisando o pé e arranca Jimin dos braços de Taehyung.

— Você que está querendo roubar meu marido, Kim Taehyung. — O mais novo engasga com absolutamente nada e arregala seus olhos verdes imensos pra ela.

— VOCÊS CASARAM? — Quem dá um grito não é Taehyung, é Emilly, depois ela corre até Jennie e a sufoca com um abraço de urso. — Eu não acredito! Meu casal tá junto! Meu Deus Jennie, você tem muito o que me contar desse casamento! — Ela puxa Jennie pra longe de nós. — Vai dormir sem ela hoje, Jimin. Foi mal! — As duas entram em um quarto e se trancam lá.

— Eu não preciso te ameaçar por ter casado com a Jennie não, né? — Tae pergunta receoso, Jimin nega.

— O Jin já me ameaçou no nome de vocês dois. — Namjoon vem pra perto de nós.

— Vocês ainda tem muito o que conhecer desse século, mas por enquanto acho que todos precisam dormir. — Madison boceja do outro lado do cômodo confirmando as palavras do Nam.

— Eu tô indo pro quarto com as meninas, também quero saber do casamento. Cês conseguem se amontoar na casa aí na frente, né? Se não um de vocês pode dormir aqui no sofá. — Ela boceja novamente.

— Vamos respeitar a privacidade de vocês. — Namjoon dispensa delicadamente a sugestão de Madison. — Tae, cê vai liberar teu quarto hoje pro Jin dormir com a senhorita Mirla.

— Eu não vou dormir contigo, não! Tu e o Hobi parecem uma sanfona de tanto que roncam de noite, não sei como a Emilly te aguenta. — Ele se desespera, Jungkook passa por trás do Tae e bate na cabeça dele.

— Tu vai dormir comigo, ô mané! — Ele olha para o conde. — Você pode ficar com a gente também, Jimin. Acredito que o Tae vai querer matar a saudade do melhor amigo.

— Eu sei que isso é um plano teu pra roubar o Jimin de mim, seu vagabundo. — Tae encara Jungkook com os olhos cerrados.

— Que seja. O Yoongi é uma pedra quando dorme então ele não vai se incomodar de ficar no quarto comigo e com o Hobi. — Namjoon tira o barão desacordado do sofá e carrega por sobre o ombro. — Taehyung e Jungkook, não derrubem a casa e nem traumatizem o Jimin. Bora Hobi! — O homem de óculos se levanta do sofá e segue Namjoon pra fora.

Estamos quase todos saindo quando Taehyung corre até Madison pra se despedir.

Então ele a beija.

Na boca.

Na frente de todo mundo.

Os que moram nesse século parecem estar acostumados com esse comportamento do meu irmão, mas Jimin e minha esposa o encaram horrorizados, tenho certeza que o barão desmaiaria novamente se visse isso.

Eu mesmo estou sem palavras.

Eles estão se abraçando e se beijando de uma forma que deveria estar restrita ao quarto, e somente para casados.

Na verdade, eu até relevo isso para noivos porque nem sempre é possível refrear os desejos, mas pelo menos deveriam prezar por estarem sozinhos.

— Desentupidor de pia, larga a boca da Madison e vamo embora! Todo dia é essa putaria, não sei como é que cês não transaram ainda. — Jungkook grita do lado de fora da casa e as bochechas de Mirla ficam roxas.

— JK, temos moradores do século XIX aqui, segura a língua. — Jungkook arregala os olhos quando escuta Namjoon e percebe nossa fisionomia.

— Foi mal, duque. Mas não sou só eu que tenho que controlar a língua não. — Ele olha pro lado de dentro outra vez. — KIM TAEHYUNG!!

Tae dá um último beijo em Madison e sai correndo pro lado de fora, dou um último aceno meio constrangido e nós saímos também.

Não sei se vou conseguir me acostumar com as coisas tão... Explícitas...

Atravessamos a rua e nos acomodamos na casa de meus irmãos.