6. The count of Monte Cristo

- HATHAWAY -

O médico que me examinou não conseguiu resolver nada, eu não estava com febre, nem gripada, muito menos doente, então o argumento que ele utilizou foi que o que eu tinha era algo que estava além da medicina moderna.

Eu quis rir quando ele falou essa palavra, sério? Moderna? Okay...

Quem me acompanhou de perto foi a lady Kim, ela era uma mulher incrível, devo afirmar. Me tratou muito bem e também pediu desculpas pelos olhares acusadores das senhoras que estavam no chá das cinco. Talvez, e só talvez, ela tenha levado em conta alguma das palavras de Taehyung.

Mas eu acho que ela não tirou da cabeça um possível casamento entre nós dois, depois que o médico foi embora, ela disse que eu não precisava me preocupar com o meu futuro porque breve eu faria parte da família dela, acredite, se ela não pensasse que eu fosse casar com seu filho estaria agora se perguntando o que fazer com uma garota sem memória dentro de casa.

O resultado de tudo foi tocar a vida como uma convidada na casa dos Kim, segundo lady Kim eu poderia ficar lá o tempo que precisasse até conseguir um marido em uma das temporadas, acho que está tão preocupada em Taehyung continuar solteiro que me aceitou de boa, mas pensando bem, quem neste século aguentaria Taehyung por mais de dois meses? Qualquer uma que casasse com ele ficaria enjoada de suas atitudes nem um pouco comuns, principalmente nas leis em que essa sociedade é regida.

Então eu também entendo a preocupação da lady Kim em casar o filho, como ela viu que nos demos bem então aceitou nós dois tranquilamente.

O problema nisso é que, olha só! Não existe nós dois.

Não que eu não queira tirar uma casquinha do caçula gostosão, mas acho que uma mulher sair pegando alguém sem compromisso aqui é o cúmulo do absurdo.

E eu não quero compromisso porque em breve vou voltar pra minha época, só preciso achar o espelho de Madison, isso me lembra que preciso descobrir também qual o conde que precede a linhagem dela.

Peguei um banco de dentro da sala em que fui avaliada pelo médico e me sentei no corredor, ainda faltavam alguns minutos para encontrar Kim Namjoon e meu coração já estava a mil por hora, então abri a minha bolsa e peguei meu celular para ver se ela funcionava.

Me admirei em ver a carga dele cheia, mas eu precisava racionar já que aqui não tinha chance de recarregar ele, não neste século.

Abri na galeria pra olhar algumas das minhas fotos, meus olhos se encheram de lágrimas ao enxergar Jungkook e Hoseok na tela, não fazia nem 24 horas desde que eu vim pra cá e já estava sentindo uma falta absurda dos dois, e pensar que eles ainda nem nasceram...

Guardei o celular quando ouvi alguns passos se aproximando, mas somente porque eu não podia mostrar o celular pra ninguém deste século, só isso, não é porque eu estava nervosa, de jeito nenhum.

- Senhorita Clarke? Está aqui há muito tempo? Perdoe a demora. - Kim Namjoon me viu sentada no corredor e fez uma mesura, fiquei em pé imediatamente.

- Eu não tinha nada pra fazer, e não precisa se desculpar, o senhor está adiantado.

- Mesmo assim, é desrespeitoso deixar uma dama esperando.

Cara, ele era muito incrível! Eu podia ver as linhas de seus livros sendo escritas enquanto ele falava a minha frente, meu Deus eu não posso dar uma de tiete, mas é impossível!!!!

- Bom, o senhor está aqui agora não é? - Ele assentiu e me estendeu o braço, caaaara eu estava tocando no braço de Kim Namjoon!!!

- Preciso que saiba antes de irmos, não encontrei a senhora Drummond em nenhum lugar da casa e minha irmã está ocupada costurando, então não teremos companhia, se quiser esperar para que alguém vá junto conosco eu vou entender.

Se fosse com Taehyung eu diria que não tinha necessidade de trazer ninguém, mas como é com Namjoon então eu preciso ter a mente mais aberta, ele não é o irmão, então essas regras pra ele são a base do respeito.

- Creio que não terá problema se mantivermos a porta aberta.

- Ela ficará.

As lâmpadas a óleo iluminavam nosso caminho pela casa, a escuridão não era muito comum pra mim, já que eu estava acostumada com a energia elétrica, então mesmo que para Kim Namjoon aquele corredor estivesse iluminado, pra mim não estava.

O corredor se abriu em um espaço bem amplo aonde podia-se ver a sala de visitas, local que ocorreu o chá da tarde, mas Kim Namjoon nos levou para o outro lado, em direção as escadas da casa. Ele retirou meu braço do seu e me fez subir na frente, não pensei muito nisso, apenas segurei o vestido que eu estava usando e levantei um pouco a saia dele para que eu não tropeçasse e caísse da escada.

Ao fim da escada era possível ver vários móveis de madeira rústica e um piano de cauda perto da parede, ele era lindo. Muito diferente do que eu estava acostumada a ver, mas mesmo assim não deixava de ser lindo.

- Gostou do piano? - Namjoon foi até aonde o instrumento estava, eu o segui.

- Ele é lindo. - Passei meus dedos pelas teclas e depois me afastei.

- O piano é do meu irmão mais velho, o duque. Ele teve paciência para ensinar Taehyung a tocar mas eu nunca aprendi. - Ele olhou pra mim então. - Sempre preferi os livros. Venha, a biblioteca fica por aqui.

Segui atrás dele até que Namjoon abriu duas portas grandes de madeira, o que vi lá dentro foi fascinante.

Fileiras e mais fileiras de livros antigos, além de algumas mesas com cadeiras ao redor do ambiente, Namjoon sorria enquanto recolhia alguns livros espalhados, era como se aquele lugar fosse a casa dele de verdade.

- A senhorita se interessa por quais tipos de livros? - Ele perguntou após guardar os livros que estavam em suas mãos.

- Livros críticos, que mesmo tendo uma história por trás, faça o ser humano questionar a si mesmo.

- Boa escolha. - Ele disse e se enfiou entre algumas das estantes, pensei que não seria muito prudente segui-lo então eu permaneci aonde estava. - Tenho dois livros assim, um é de romance, o outro é sobre injustiça e vingança.

Quando ela voltou e colocou dois livros sobre a mesa eu me aproximei.

- Quais são esses?

- "O conde de Monte Cristo", esse foi publicado no ano em que eu nasci, 1844. Esse outro é mais leve, com mais história, ele foi publicado no início do ano em que estamos: "Grandes esperanças" de Charles Dickens. Eu já li os dois, se quiser ler também, você é livre pra vir aqui quando quiser.

Peguei "O conde de Monte Cristo" em minhas mãos, eu já havia lido ele, claro, foi uma das primeiras leituras pedidas na faculdade, o livro era critico ao extremo, Namjoon fez uma escolha ousada como primeiro livro a me apresentar.

Mas claro, ele não fazia ideia que eu já tinha estudado frase por frase desse livro de cabo a rabo.

- “As feridas morais tem a particularidade de que se escondem, mas não se fecham; sempre dolorosas, sempre prontas a sangrar quando são tocadas, ficam vivas e abertas no coração.”

Ele abriu um sorriso enorme, por enorme eu quero dizer enorme mesmo, tenho certeza que ficou surpreso, e com isso parte da sua postura formal foi embora.

- A senhorita já leu.

Assenti enquanto folheava o livro.

- "Por vezes é penoso cumprir o dever, mas nunca é tão penoso como não cumpri-lo." - Ele fez uma citação um tanto leve do livro em questão, eu sorri a reconhecendo, mas então resolvi aperta-lo, pra ter certeza de suas convicções, afinal, de tanto ler seus livros eu tinha uma vaga ideia de no que ele acreditava.

- "São as mulheres que nos inspiram para as grandes coisas que elas próprias nos impedem de realizar.", acredita nisso senhor?

Ele me encarou pelo que se pareceram horas, mas não passou de alguns segundos, fiquei me perguntando se fiz certo em questiona-lo, mas eu estava levemente curiosa pra saber sua resposta.

- Eu acredito que tudo é uma questão de entender o contexto em que o livro foi escrito, creio que a senhorita tem consciência de que as mulheres não são muito valorizadas na nossa sociedade, e existem algumas que simplesmente agem errado e acabam influenciando esse pensamento generalizado, na minha opinião a única pessoa que pode atrapalhar você de alcançar seus sonhos é você mesmo, e jogar a culpa disso nas mulheres é covardia.

- Então não concorda com a citação senhor?

- Muitas mulheres podem não apoiar o seu marido em suas escolhas, mesmo as tendo incentivado antes, mas generalizar isso e jogar a culpa de algo não ter dado certo nelas eu não concordo.

E aí está, o pensamento crítico que eu tanto vi nos escritos de Kim Namjoon, pessoas podem te influenciar para o bem e para o mal, mas o culpado de escolher um dos caminhos é você mesmo.

A forma que ele faz as pessoas assumirem a responsabilidade por seus próprios atos e não se odiarem por isso é incrível.

É por isso que eu amo essa cara mano!! Olha isso!!!

- O contexto do livro também influencia para esse pensamento, afinal, o conde foi traído por todos que julgava serem bons, a alma dele estava amargurada. - Tentei buscar algo que nos fizesse pensar.

- Mesmo assim, após sair da prisão ele poderia ter escolhido recomeçar, mas quis seguir com seu plano de vingança. - Namjoon rebateu.

- Um plano arquitetado por ele mesmo.

- Por inteira responsabilidade dele. - Ele completou.

- No fim de tudo, todas as escolhas feitas pelo conde não foram por causa da traição para com ele, foi simplesmente porque ele quis que fosse assim.

Namjoon sorriu e eu retribuí o seu sorriso, a discussão foi tão profunda que nem percebemos sua irmã na porta.

- Me perdoe atrapalhar vocês, mas a senhora Drummond já arrumou seu quarto Emilly.

Entreguei "O conde de Monte Cristo" nas mãos de Namjoon e fui pra perto de Jennie.

- Voltarei para ler o livro "Grandes Esperanças", sou grata pela companhia senhor Kim, e por ter compartilhado algumas de suas convicções comigo.

- Tenha uma boa noite senhorita Clarke.

- Boa noite senhor Kim.

Então eu saí de lá ao lado de Jennie sem olhar pra trás, mas a cada passo que eu dava eu me sentia ainda mais revigorada, então quando cheguei no quarto em que a senhora Drummond arrumou pra mim a primeira coisa que fiz foi pegar meu caderno e anotar os detalhes de minha conversa com Namjoon.

Acabei dormindo com o livro "As margens do Tamisa" jogado ao meu lado na cama.

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