10. Namjonniezinho

- HATHAWAY -

Entrei a passos lentos na biblioteca, eu sabia que Namjoon estava lá mas eu não queria que ele soubesse que eu só fui até lá por causa dele.

Não fui lá por isso fui?

Eu fiquei me martirizando desde o momento que Taehyung saiu do meu lado, eu não havia percebido a profundidade de meus sentimentos por Namjoon até que Taehyung jogasse na minha cara, pode parecer muito repentino já que eu vi o Kim poucas vezes, mas a admiração que eu tinha por ele só multiplicou quando percebi que ele é um homem incrível.

Mesmo Taehyung já sabendo e eu admitindo nem que seja um pouco que tenho uma leve queda pelo Namjoon, eu não posso criar esperanças de chegar a ter algo com ele, em breve eu vou voltar para a minha época e ele vai ficar no passado.

Só em pensar que não verei mais Taehyung e Jennie já me faz sentir uma dor no coração, mas estou com saudades do Jungkook e do Hobi... Até da Madison!

Expulsei esses pensamentos de minha mente e fui até o fundo da biblioteca, no caminho peguei o livro "Hamlet" de William Shakespeare, um pouco de teatro cairia bem hoje. Quando cheguei na mesa lá no fundo eu me lembrei do livro "As margens do Tâmisa", eu estava a um tempo sem lê-lo desde que que agora me preocupava em conhecer mais o autor dele. Como era um pouco perigoso ler ele aqui então o tirei de minha bolsa e o coloquei entre as páginas do exemplar de Hamlet que estava em minhas mãos, depois disso abri uma página aleatória e retomei minha leitura.

"As chamas das velas e dos candeeiros reluziam no ritmo da dança no salão, o primeiro encontro social da nova temporada havia sido um fiasco, o visconde Hughes apenas foi atormentado diversas vezes por mães de mulheres solteiras e damas que não largavam de seu pé querendo saber se ele podia lhes oferecer uma dança ou se estava procurando uma noiva aquele ano.

Ele como sempre não disse absolutamente nada, apenas foi embora e se embebedou em casa, chamando uma garota da vida para passar a noite consigo, ele não estava preparado para largar essa vida. Agora o visconde se encontrava no baile do dono de um dos maiores ducados de Londres, ele acompanhava o leve movimento da chama de uma das velas que estava próxima a si, e percebeu admirado que tudo ao seu redor emitia sombra, menos a chama foco de sua atenção.

Envolvido pela sua nova descoberta e pelas diversas cores que aquele pequeno foco de fogo emitia o visconde não percebeu quando uma jovem dama se sentou ao seu lado, quando se deu conta não mostrou instantaneamente pra ela que havia notado a sua presença, ele queria um pouco de paz antes de ser atazanado novamente por moças pedindo casamento.

- Achou essa chama interessante visconde?  - A garota de vestidos cor de pastel e cabelo armado perguntou, ela já a havia visto anteriormente, sim ele a viu, na temporada anterior ela havia causado um reboliço na sociedade londrina por recusar um casamento, a dita senhorita era exigente e isso lhe causou olhares atravessados com o passar dos anos.

- Hum. - Foi apenas o que ele respondeu, o maldito visconde ainda era um ranzinza estúpido que não sabia como tratar decentemente uma mulher. Mas ele não podia ser julgado, analisando todas as suas raízes é possível perceber que suas vivências na infância em seu meio social e familiar contribuíram para o caráter que o mesmo tem hoje, infelizmente a visão generalizada da vida do visconde só se restringe aos leitores dessa obra, as pessoas com o qual ele convivia não sabiam nem um grão de tudo o que ele já passou, o que faz com que o mesmo seja ainda mais inconveniente.

- Ah eu posso ver, encantado por um pequeno foco de fogo, não o julgo visconde, Deus sabe o quanto eu prefiro casar com uma chama dessas do que com esses lordes paspalhos e falsos que só querem um corpo quente para aquecer sua cama. - O visconde se sentiu ultrajado ao extremo com as palavras ferinas da dama ao seu lado, se fosse em outro momento ele levantaria a voz e a repreenderia como sempre faz, mas naquele momento ele fez algo diferente, ele pensou. Claro que o visconde procurava corpos quentes para aquecer sua cama, ele fez isso por vários anos, mas não era assim que via sua futura esposa, ele a colocaria em um pedestal, sim! Ela passaria por uma seleção tão rigorosa que todos a cobiçariam e desejariam, não era qualquer uma que iria conseguir o grandioso feito de se casar com o visconde Hughes, e a mesma teria seu devido respeito e posição na sociedade.

Isso mostra que talvez as experiências vividas pelo visconde não guiem sua vida ao todo, ele ainda é o homem arrogante que pensa em si mesmo como o maior e melhor, mas ter parado para analisar as palavras de uma simples dama que se sentou ao seu lado foi um ato muito distinto das antigas atitudes do conhecido e odiado visconde Hughes.

- Concordo com a senhorita. - Ele falou poucas palavras de acordo com moradores londrinos que falam pelo cotovelo ao serem questionados, mas como o silêncio sepulcral do visconde já era bem conhecido, a jovem dama teve o ato da noite que ascendeu sua convicção de que esse homem era sim aquele que podia compartilhar de suas críticas contra a sociedade, então a mesma se despediu formalmente já com o intuito de voltar no próximo encontro social e questioná-lo novamente."

- William Shakespeare! Boa escolha. - Kim Namjoon se sentou na minha frente e eu quase tive uma mini parada cardíaca, me envolvi tanto na minha leitura que quase esqueci estar usando Hamlet para esconder o verdadeiro livro que escolhi, livro esse que só seria lançado daqui a dois anos.

- Já li todas as obras dele, gosto muito de teatro, e as palavras rebuscadas de William Shakespeare são incríveis. - Puxei "As margens do Tâmisa" para baixo da mesa discretamente e o guardei dentro de minha bolsa, Kim Namjoon deveria estar o escrevendo nessa época.

- Costumo me inspirar em Shakespeare para alguns textos que faço, mas não concordo com a visão de amor trágico dele, tenho convicção de que nem tudo são flores, porém também acredito que é possível sim uma história ter um final agradável, abordando claro todos os defeitos que o ser humano tem, mas apresentando esses defeitos como obstáculos que devem ser derrubados para encontrar a harmonia entre duas almas, consegue me entender?

- Plenamente. - Respondi sem rodeios. - Então o senhor escreve pequenos textos? Gostaria de ter a honra de ler um, assim podemos discutir suas convicções mais a fundo.

- Talvez eu mostre para a senhorita. - Ele respondeu um pouco encabulado. - Um dia.

Meu coração se aqueceu com a mera possibilidade de ler algo que ele escreveu, algo que por livre e espontânea vontade me entregou nesse século para ler e discutir, mas preciso ser paciente, se não posso estragar tudo.

- Já pensou em escrever livros também? Creio que venderia quantidades absurdas, suas ideias e críticas são incrivelmente envolventes, a forma que nos leva a pensar, o senhor seria um ótimo escritor.

- Acredita nisso?

- Com toda a minha alma. - Nos encaramos pelo que pareceram séculos, não foi algo constrangedor, foi como um encontro de pensamentos ocorrendo em segundo plano que nos fazia manter uma conexão talvez até palpável por causa de sua intensidade.

- Você é diferente, senhorita Emilly. - E aí estava, a tão sonhada abertura que consegui em minutos com Taehyung, o convite para um contato mais informal, o "você" na frase acompanhado pelo "senhorita" mostrando que mesmo com a intimidade adquirida, o respeito ainda estava presente.

- Você que pensa diferente de todas as pessoas com quem já tive contato em minha vida senhor Kim. - Tanto neste século quanto no século XXI, Namjoon se levantou e me estendeu a mão, esta que eu prontamente segurei.

- Preciso lhe mostrar uma coisa, e pode me chamar da forma que quiser, me encanto demais por seus pensamentos e estou curioso pra saber que nomes me daria.

- Posso começar por Namjonniezinho. - Exagerei? Talvez um pouco, mas nada paga a gargalhada que escutei logo em seguida.

- Esse nome é ridículo! - Saímos da biblioteca de mãos dadas, nada de braços entrelaçados como todos os cavalheiros acompanhavam as moças aqui, mas de mão dadas, e acho que ele nem se deu conta.

Não seria eu a reclamar.

- Jonnie?

- Esse é menos estranho, mas não.

- Não posso escolher uma forma de lhe chamar se não gosta de nenhuma. - Ele parou e olhou pra mim ainda sorrindo.

- Tente ser menos criativa.

- Okay, menos criativa, lorde Kim Jonnie!

- Menos formal Emilly. - Namjoon arregalou os olhos e eu sorri discretamente, antes que ele pudesse pedir desculpas eu me adiantei.

- Gosto de Emilly, é a forma que você vai me chamar a partir de agora.

Ele ficou um tempo raciocinando, depois deu um meio sorriso e assentiu, voltando a andar e nos levando para sei lá aonde, mas sinceramente, eu não me importava em descobrir agora, eu iria aproveitar o caminho e depois me encantar com o que quer que ele me mostrar, porque eu ainda acredito que tudo o que sai da mente de Namjoon esbanja inteligência.

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