Capítulo 9: Bruce


Spoiler: Quem fala muito, acaba escorregando

O clima entre Kathy e eu estava tenso, especialmente depois que anunciaram que Clara e Derek haviam vencido. Ela se afastou, recusou o jantar e se isolou do grupo.

Eu já tinha feito algumas amizades, o que não foi difícil, pois na cozinha você quase vira um rei. Fui o descascador oficial de alho, enquanto Juana, uma mexicana talentosa, preparava toda a comida. Conversa vai, conversa vem, e acabei ficando distante da minha "linda namorada" por quase uma hora.

A cada olhar na direção dela, uma pontada de preocupação me atingia. O silêncio de Kathy me incomodava. A última coisa que eu queria era que, dentro do reality, acontecesse o mesmo que na faculdade, e ela fosse excluída pelos outros. Não era só pelo prêmio; de algum modo, eu me sentia responsável pelas feridas antigas dela.

Me aproximei. Kathy, com os braços cruzados, estava encostada numa pilastra da área gourmet externa, olhando para a piscina iluminada e vazia. Ela precisava comer alguma coisa. E se a próxima prova exigisse muito de nosso físico? As provas de resistência podiam ser desgastantes, e não queria vê-la lidando com mais pressão do que o necessário.

— Kathy...

Ela se virou com os olhos estreitados e rebateu, como se tivesse veneno na ponta da língua:

— Lembrou que eu existo, garoto do Canyon?

Respirei fundo e olhei para a câmera mais próxima.

— Ei, minha... minha querida...

Ela mudou a expressão ao perceber minha leve gagueira. Kathy com certeza lembrou do que eu disse outro dia: "Quando eu gaguejar ou ficar sem palavras, provavelmente estarei mentindo."

— Não precisa sentir ciúmes... — falei, acariciando seus cabelos. Ela esboçou resistência no início, porém suspirou e abraçou minha cintura.

— Bruce, não fiquei com ciúmes, mas você me deixou sozinha.

Aquele olhar decepcionado, acho que era genuíno.

— Foi só dessa vez. Prometo que não vou te deixar mais. Nunca mais. — enfatizei, numa tentativa de parecer um namorado atencioso, contudo, soou mais como uma ameaça de um stalker. Kathy franziu a testa, abriu a boca, cogitei que diria algo a respeito, mas desistiu, apenas encostou a cabeça no meu peito.

Eu gostei de senti-la bem de perto, admito. Em pensar que houve um tempo que eu não suportava...

Esfregando suas costas, perguntei:

— Morgan, o taco está uma delícia. Tem certeza de que não quer?

— Brooh, você sabe que pimenta me mata, né? — Kathy respondeu com um tom dengoso. Não resisti e beijei sua testa. Se depois ela reclamasse do afeto excessivo, diria que sou um ator perfeccionista. Pelo meu histórico, não tinha como negar isso.

— Eu sei... Eu sei...

— Sabe? — Ela ergueu rapidamente o rosto, os olhos arregalados. E vi o meu reflexo em tons de verde e castanho.

— Esqueceu dos chocolates que Tobby te deu? Tinham vários sabores, e você escolheu justo o de pimenta.

— Nossa! Eu mesma nem me lembrava disso. Foi praticamente no início do curso. Como você lembra?

— Porque eu te encontrei desmaiada no camarim.

Kathy ficou paralisada, me encarando com incerteza.

— Achei que tivesse sido o Tobby. Ele confirmou. — Arqueou a sobrancelha, parecendo ansiosa por um esclarecimento. — Se foi você, por que nunca me contou?

Ela me instigava, como se precisasse de outras boas ações minhas para limpar a minha ficha. Mas não era momento. Na verdade, achava que o passado não deveria ser mencionado no reality. Não sei como o encararíamos depois de anos.

De novo, mirei a câmera e não disse nada. Kathy entendeu que não tínhamos tempo. Havia um cronômetro na casa, mostrando que faltavam quinze minutos para sermos chamados.

E ela deu de ombros. Já eu, torcia para que ela esquecesse aquele assunto.

— Bom, Brooh... Acho que vou fazer um sanduíche. Estou morrendo de fome.

Suspirei, sentindo o clima desconfortável desaparecer entre nós. Passei o braço por cima de seus ombros e, enquanto a levava para a mesa onde estavam todos, disse de forma dramática:

— Minha linda namorada, por que acha que eu te esqueceria? Pedi a Juana que separasse um pouco do recheio sem pimenta para você.

💗

Minutos depois, o apresentador apareceu, convocando os participantes para mais um desafio:

— Agora é hora de mostrar o quanto funcionam bem como um casal. Na vida, vocês sempre terão desafios. O importante é saber enfrentá-los, equilibrando as emoções!

Que porra de introdução é essa?

De repente, as luzes se acenderam do lado oposto à piscina, no fundo do terreno. Os participantes vibraram de ansiedade ao verem uma grande cortina azul presa numa estrutura metálica. Kathy me deu a mão naturalmente. Olhei para ela e, apesar de não falar nada, parecia tensa com a grandiosidade.

As cortinas se abriram, revelando uma plataforma de madeira inclinada, a uns três metros do chão acolchoado, uma para cada casal, estreita demais até para uma pessoa. Kathy inspirou e expirou lentamente. Mais calma, percebeu nossos dedos entrelaçados e, bruscamente, os soltou.

Sacudi a cabeça, achando graça da situação.

— Sabe que vamos ficar agarradinhos, né? — sussurrei com um tom de escárnio.

— Ninguém falou isso — retrucou, enquanto ganhávamos equipamentos de segurança: capacete, joelheira, cotoveleiras, um colete onde nos prenderiam elásticos para a queda ser amena.

Mark Evans voltou a narrar:

— Os casais ficarão abraçados sobre a plataforma.

— Puta que pariu! — Kathy não conseguiu segurar.

Cobri minha boca, evitando que minha risada saísse alta e a desestabilizasse. Afinal, dependíamos um do outro para o sucesso. E com a vitória de Clara e Derek na prova anterior, estávamos em desvantagem.

Kathy bufava feito um touro no momento em que passei os braços em volta dela.

— Tente não se aproveitar muito — disse ela, contraditoriamente encostando a cabeça em meu peito.

— Digo o mesmo a você, querida.

O desafio da noite, como previ, era resistência. Os casais restantes estavam todos concentrados, tentando manter o equilíbrio. Eu estava ocupado, tentando não surtar com a movimentação exagerada de Kathy.

O tempo passou devagar, cada minuto intensificando nossa competição silenciosa. Quarenta minutos depois, o suor escorria pela minha nuca, e eu conseguia vê-la tremendo à minha frente, embora fizesse o possível para esconder o cansaço.

De repente, ela murmurou:

— Pode chegar um pouco para trás? Estou sentindo ele...

Tá de sacanagem! Do que ela falava? Eu me controlava, mantendo o foco em outras coisas para esquecer com quem eu estava abraçado.

— Morgan, é você que está esbarrando nele o tempo inteiro. Fica parada no mesmo lugar, que eu fico no meu. É simples.

Ela virou o rosto para mim, e o olhar que me lançou era uma mistura de sarcasmo e algo que eu não conseguia identificar. Era como se ela estivesse tentando decidir entre me xingar ou...

— Você é um idiota, sabia? — resmungou, com um tom de voz manso e sexy. — Seu cheiro, diferente do meu, não está muito agradável. Estou quase me jogando daqui de cima voluntariamente, porque está fedendo a alho.

Sorri e perguntei, mordendo o meu lábio:

— É vampira por acaso? Tem alergia a alho?

Ela arqueou as sobrancelhas, os olhos queimando de provocação.

— Ah, se eu fosse vampira, cowboy, chuparia o seu sangue até a sua morte, só para não ouvir mais a sua voz irritante.

Meu sorriso alargou-se de forma quase exagerada, sem imaginar no que vinha a seguir.

— Já que não é vampira, talvez possa chupar outra coisa então...

O choque foi instantâneo. Ela arregalou os olhos. Eu, indignado comigo mesmo, fiz igual.

Merda. Falei sem pensar.

Antes que pudéssemos reagir, ainda constrangidos, um compartimento acima de nós se abriu, despejando água e sabão sobre todos. Mas, claro, nós dois fomos os únicos pegos de surpresa. Era como se o universo estivesse decidido castigar meu momento de distração.

A água nos atingiu em cheio, e tudo aconteceu rápido demais.

Fui o primeiro a escorregar, meu corpo despencando sobre o colchão inflável. Logo em seguida, senti o impacto do peso dela. Kathy caiu quase de pé, mas, num instante, se recompôs e saiu do acolchoado me pisoteando sem o menor remorso.

— Seu babaca! Escroto! — ela gritou, com a voz transbordando de raiva, enquanto a plateia de participantes gargalhava.

Nós dois juntos éramos um desastre anunciado. Quem estávamos tentando enganar?

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