Capítulo 7: Kathy

Spoiler: Se você acha que fingir um romance é complicado, tente fazer isso com um cara que parece saber exatamente como te desestabilizar.

Será que foi errado o que eu fiz? Juro, me esforcei para tirar essa ideia louca da cabeça, mas, quanto mais ele obedecia o que eu impunha, mais eu ficava terrivelmente tentada a atiçá-lo e testar se ele faria o que eu quisesse.

Ele quis me beijar pra valer, eu acho. Confesso que fiquei assustada.

Bruce tinha fama de beijar bem. Minhas amigas que ficaram com ele já comentaram sobre isso. Só de olhar para seus lábios carnudos se mexendo devagar, dava para imaginar. E aquela voz rouca, baixa, arrastada, funcionava como um ímã. Era inevitável encarar a sua boca.

Seus lábios eram macios, como me contaram, e tinham um gosto bom. Ainda mais depois de ele tomar o milk-shake de morango. O pouco que senti da sua língua, doce e gelada, contrastou com o calor intenso que subiu pelo meu corpo. Além do beijo, conheci outras partes de Bruce. O cowboy não conseguiu conter sua ereção. Ele era todo grande, e lá embaixo não deveria ser diferente.

Talvez, depois disso, aquela sensação de "assunto inacabado" se apartasse de mim. Agora seríamos estritamente profissionais.

Eu não podia me envolver com Bruce. Apesar de ter dado a ele o benefício da dúvida, nunca saberia se ele era confiável.

Se não foi ele quem me delatou para o reitor, quem mais poderia ter sido? Não tinha mais ninguém nos bastidores do teatro. Só ele e eu... E claro, o professor Matteo Davis.

Mas era difícil ignorar o jeito como Bruce me olhava, como se carregasse um peso de algo que não sabia como compensar. Talvez fosse culpa ou... Sei lá. Talvez fosse o novo jeito dele.

O problema era que quanto mais eu tentava decifrá-lo, mais me perdia nesse misto de desejo e rancor. Além de reviver tristes memórias. Foram meses lidando com a fama que me destruiu. Acordava todos os dias esperando que as pessoas voltassem a me reconhecer pelo meu talento, não como "a garota que se vendeu para o Davis em troca de um estágio."

Foi engraçado Bruce achar que o papel de "namorado meigo" acabaria com a sua reputação.

— Kathy, Kathy... Bruce não presta. Só tem feito o que quer porque se sente culpado... — falei alto, para ver se o meu cérebro registrava e me livrava de uma "cilada romântica".

Os três dias que antecederam nossa entrada no reality foram caóticos. Nós dois não nos vimos, não nos ligamos, nem trocamos mensagens. Por mais que tentasse usar a brincadeira para aliviar a tensão, não dava para negar: Bruce e eu ficamos em choque depois daquele selinho.

Na quinta-feira, às quatro da manhã, esperei meu namorado falso aparecer para entrarmos na mansão do "Together Forever". Assim que a picape surgiu na esquina da minha rua, desci. Ao entrar, cumprimentei Bruce sem olhá-lo.

— Como você está? — Eu cutucava as unhas, sem saber onde colocar as mãos.

— Bem. E você?

— Eu? — Suspirei. — Também estou bem... Você sumiu... Pelo sumiço, deve estar seguro quanto ao papel que encenará.

— Nesses anos depois do teatro, fiquei tão bom quanto você no improviso — ele disse, em um tom leve que me deixou confortável. Olhei para ele como quem diz "impossível". — Morgan, tudo que precisamos saber é que você é louca por mim. E eu... — Ele piscou. — Sou louco por você.

Bruce ajeitou a camiseta justa demais nos ombros. Não respondi, apenas admirei o peitoral se destacando na roupa. Tive receio de já ter entrado na atuação e não saber como sair do personagem. E acho que ele percebeu, porque riu enquanto saía com o carro.

💗

Depois do ensaio fotográfico de casal, a produção nos levou até a mansão. O portão de ferro deslizou lentamente, revelando uma entrada pavimentada com pedras claras que brilhavam sob o sol. A alameda era ladeada por palmeiras altas e perfeitamente alinhadas, tão simétricas que pareciam parte de uma pintura.

Quando a mansão surgiu, não pude evitar a surpresa. Era moderna, mas com um toque de imponência clássica. A fachada branca era marcada por grandes painéis de vidro e luzes discretas que destacavam as linhas da arquitetura. As janelas refletiam o céu, criando um contraste impressionante com o verde do jardim.

Pararam o carro diante de um pátio amplo. O silêncio entre Bruce e eu era palpável. Ele me olhava, eu sabia, mas não consegui encará-lo. Saí primeiro, fingindo confiança, mas assim que meus pés tocaram o chão de lajotas de pedra, percebi que estava entrando em algo muito maior do que imaginava.

Câmeras estavam por toda parte. Algumas escondidas entre os arbustos, outras pairavam como pequenos drones, registrando cada movimento nosso. Era impossível não sentir a pressão de estar sendo observada o tempo todo. Meu estômago embrulhava.

No pátio, outros participantes estavam reunidos. Alguns se abraçavam exageradamente, outros pareciam desconfortáveis, claramente atuando. Risadas e conversas animadas.

Quem mais chamou minha atenção foi uma mulher deslumbrante: morena, cabelos longos ondulados, traços marcantes e um sorriso perfeito que exalava confiança. Mas seu olhar era calculista. Ela não parava de encarar as câmeras.

— Nervosa? — A voz grave de Bruce veio de trás, baixa o suficiente para que só eu a escutasse. Encarei-o, tentando esconder o frio na barriga.

— Nervosa não é a palavra. Ansiosa, talvez. Curiosa. Você sabe, sentimentos normais quando jogam você num coliseu vigiado com um monte de leões esfomeados.

Ele riu, mas não disse mais nada. Em vez disso, colocou a mão na minha lombar e a esfregou, um gesto íntimo que me deixou em alerta.

— Sabe quem é aquela mulher? — perguntei, gesticulando levemente com a cabeça. Ele se virou para olhar, e eu aproveitei para me esquivar do seu toque.

— Ah, é a Clara. Pelo que ouvi, ela é uma influenciadora famosa. E aquele ruivo ao lado dela é o Derek. — Ele indicou um homem alto, encorpado, que parecia encantado com tudo o que Clara dizia.

De repente, Clara nos olhou. Seus olhos percorreram dos meus cabelos soltos que balançavam com o vento até o Bruce. Em seguida, voltou sua atenção para Derek, tocando de leve o braço dele enquanto gargalhava. Sua risada mexeu com minha autoestima. Quase peguei o prendedor na bolsa e fiz um coque alto, imaginando que meus cachos estavam armados e bagunçados. Fiquei observando Bruce por um tempo, prevendo ele se engraçando para cima da namorada dos outros. Isso seria um absurdo.

A grande porta da mansão se abriu com um estalo, revelando o apresentador do programa, Mark Evans. Ele surgiu como se encenasse sua própria entrada triunfal. O sorriso branco, realçado pelo contraste com a pele bronzeada, brilhava, e a camisa floral em tons extravagantes o fazia parecer mais uma caricatura do que uma pessoa real.

— Bem-vindos ao "Together Forever"! — anunciou, com voz teatral. — Vocês estão prestes a embarcar na experiência mais emocionante de suas vidas. Aqui, não só o amor será testado, mas também a confiança, a compatibilidade e, claro, a capacidade de se conectar com nosso público.

Bruce se inclinou para mim, sua voz baixa no meu ouvido:

— Aposto que metade dessas pessoas já tem um plano de como enganar todo mundo.

— Só metade? — retruquei, tentando esconder minha própria inquietação.

Mark continuou com seu discurso, gesticulando como se estivesse apresentando um show de mágica:

— Serão seis dias de confinamento. Tudo pode acontecer. Até troca de casais... Caso achem o outro mais interessante. Mas tem um porém, os participantes que fizerem perderão os pontos adquiridos antes da troca.

Ao ouvir aquela informação que eu desconhecia, olhei rapidamente para Bruce e vi o seu maxilar enrijecer.

— Vai me trocar por outra garota? — sussurrei, enroscando meus braços no dele, como se quisesse prendê-lo ali.

Ele arqueou uma sobrancelha e virou para mim com um olhar divertido.

— Jamais. Você é a mais linda.

Sorri, achando o seu comentário fofo.

— Mas, e você, Morgan, vai me trocar?

Franzi a testa e deixei ele esperando um pouquinho, gerando uma leve agonia, porque foi também por duvidar da minha fidelidade que me elogiou.

— Não vou te trocar. Claro que não. Você é um problema que já estou acostumada.

O apresentador, começou a andar no nosso meio, explicando outros detalhes:
— Algumas provas quem dará a vitória são os jurados, outras, o público de casa. Os dois casais com o maior número de vitórias irão para a fase final. E será vencedor do Together Forever quem provar que é o casal perfeito.

Clara e Derek foram os primeiros a entrar na mansão. Os saltos dela ecoaram no piso de porcelanato, um som que ressoava com autoridade. Antes de desaparecer pela porta, ela olhou para trás. Seus olhos encontraram os meus por um instante que pareceu mais longo do que realmente era.

Eu não sabia por que ela tinha cismado comigo, mas sabia de uma coisa: fraquejar não era uma opção.

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