Capítulo 5: Kathy

Spoiler: As regras do reality show são simples. Mas nada é simples quando Bruce McAllister está no mesmo cômodo.

Sábado pela manhã, acordei com o celular tocando insistentemente. Olhei para a tela. Claro, era Bruce. Foi quando me dei conta de que a esperança no plano não era o bastante. A paciência com ele tinha um papel muito maior.

- O que foi? - atendi, tentando soar menos irritada do que realmente estava.

- Bom dia para você também, querida. - Ele falou com aquele tom sarcástico que fazia minha vontade de jogar o celular pela janela aumentar.

- Não me chame de querida.

- Tudo bem, docinho. - Ele riu. - De qualquer forma, precisamos começar a planejar nossa "história de amor". Os outros casais já devem estar treinando para parecer perfeitos, e você sabe que adoramos uma competição.

Sentei na cama, esfregando os olhos.

- Que tal mais tarde, Bruce? Acabei de acordar.

- Mais tarde não, Morgan. Se quer convencer o público, precisamos ser consistentes.

Cocei a cabeça de nervoso e, relutante, concordei em encontrá-lo na cafeteria onde ele jurava que nossa "história inventada" tinha começado.

Logo que desliguei a ligação, fui surpreendida por uma mensagem da minha mãe, cujo tom sereno contrastava abruptamente com a urgência quase palpável de Bruce. Uma foto do meu antigo quarto em Ohio, agora transformado em uma sala de meditação.

"Talvez seja melhor para você, filha. Los Angeles é difícil demais. Aqui sempre vai ter um espaço para você."

Meu peito apertou. Era como se ela já tivesse desistido de mim. E a pior parte? Parte de mim pensou que ela estava certa. Meu currículo era um amontoado de trabalhos temporários que nunca imaginei fazer quando deixei Ohio: garçonete, atendente de loja e, claro, animadora de festas infantis.

Meus olhos pousaram na mala no canto do apartamento, abarrotada de fantasias e a sensação de constrangimento voltou. Respirei fundo, recordando do olhar gentil de Bruce, que ainda ecoava na minha mente, confundindo minha razão.

De alguma forma, ele sempre ocupava o papel principal no palco dos meus pensamentos, mesmo quando tudo que eu queria era esquecê-lo e ter alguns segundos de paz antes de encarar seis dias ao seu lado no reality.

Eu não poderia mais deixar o rancor me cegar. Desta vez, éramos obrigados a trabalhar juntos.

- Meu namorado Bruce... - balbuciei baixinho, e meus ouvidos estranharam aquelas palavras. Fiz uma careta de medo. - Que merda! É Bruce McAllister, o cara repugnante da faculdade.

Bufei, mas me peguei pensando na barba por fazer, nos ombros mais largos e no bronzeado que só aumentavam o charme. Ele estava mais forte, mais... atraente.

Estar com ele era como andar em uma corda bamba: a queda parecia inevitável, mas, ainda assim, eu tentava me equilibrar. Bruce sempre foi um desafio, mesmo depois da faculdade. Lembro do dia em que ouvi meu pai contar à minha mãe que o pai dele apareceu no escritório, desesperado, implorando para que retirássemos o processo. Ele dizia ter uma prova.

Minha curiosidade foi maior que o desprezo, e quis ver o que era: um poema sobre uma garota que Bruce chamava de Star. Meu pai riu, achando aquilo um insulto, mas, naquela noite, enquanto ele dormia, eu peguei a folha amassada de caderno escondida na pasta. Li os versos com atenção. Não dava para saber se eram sinceros ou se ele mesmo os havia escrito, mas tinha algo ali que me intrigava. O poema falava de um amor que nunca aconteceu, de algo que foi sufocado antes mesmo de começar.

Eu não consegui ser forte, por isso, no dia seguinte, fui até meu pai e fingi que tinha mentido sobre o bullying. Talvez por pena, talvez por medo de Bruce não ter mesmo culpa. Talvez porque, no fundo, uma parte de mim queria acreditar.

Fiquei deitada ainda por mais alguns minutos, cogitando o que meu pai faria depois que me visse ao vivo com Bruce na TV.

Será que reconheceria o garoto do processo? Será que faria alguma arruaça na frente da produção, querendo me arrancar de lá contra a minha vontade? Talvez até mencionasse no impulso o incidente com o professor...

- Não, melhor nem pensar nisso agora. - Sacudi a cabeça, como se pudesse afastar os maus pensamentos. - Eu sou adulta! E vai dar certo! - Ganhei força para finalmente me erguer da cama. Tomei um banho e me arrumei bem rapidinho, pois havia um cowboy me esperando.

Quando cheguei na cafeteria, Bruce já estava sentado em uma mesa no canto, com aquele sorriso convencido no rosto.

- Você faz isso de propósito, não faz? - Perguntei, jogando minha bolsa na cadeira ao lado.

- O quê? Ser pontual? Talvez você devesse tentar.

- Ha-ha. - Fiz uma risada forçada.

- Certo, vamos lá. - Ele se inclinou na mesa, rabiscando algo em seu bloco de notas. - Precisamos de mais detalhes sobre o "nosso namoro". Bom, você disse a eles que eu era um cliente irritante que insistiu até você sair comigo... Só acho que seria mais convincente me chamar de irresistível... - Ele ergueu o olhar, com um semblante sedutor.

- Bruce, vamos focar? - Tentei não transparecer que concordava.

Ele deu de ombros e continuou a escrever, como se estivéssemos ensaiando para o maior papel de nossas vidas. Fiquei observando os cabelos pretos caindo sobre os olhos, os ombros largos jogados contra a cadeira.

Droga, por que estou notando essas coisas agora? Ele ainda é o mesmo Bruce irritante...

Lembrei do primeiro dia de aula, quando ele sentou ao meu lado e me deu um sorriso encantador. Foi complicado prestar atenção nas explicações do coordenador do curso. Nenhum garoto, até aquele momento, me fez achar que eu pudesse me apaixonar. Ele era inteligente, sagaz, engraçado, atencioso e... também muito safado.

- Ei, Kathy. - Ele me chamou, me tirando do transe. - Está me ouvindo?

- Ahn? Ah, sim. Claro.

- Certo. Então, qual vai ser a nossa história favorita juntos? Algo marcante...

Fiquei quieta por um segundo, batucando os dedos na mesa.

- Já sei! Que tal se eu tiver jogado café quente em você porque você fez um comentário idiota?

Ele franziu a testa, negando com a cabeça.

- Não acho que isso vai nos fazer parecer adoráveis, apesar de parecer realista. E não tem porquê eu fazer o papel de namorado trouxa.

- Não? Bruce, são 200.000 dólares!

Ele fez um biquinho, fingiu estar ofendido, mas acabou anotando a minha sugestão no bloco. E, por mais outro momento, me peguei observando suas mãos, os dedos firmes, a forma como ele segurava a caneta com tanta precisão. Os pequenos detalhes já não passavam despercebidos. Pelo contrário, agora roubavam completamente o meu foco.

Estou ferrada!

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