Capítulo 16: Kathy
Spoiler: Às vezes, o maior mistério não é o que aconteceu, mas quem escolheu qual verdade contar.
— O que está fazendo aqui, Tobby? — perguntei, aproximando-me cautelosamente e me sentindo um pouco desconfortável.
Ele me abraçou, e eu retribuí por educação, enquanto olhava para as câmeras apontadas para nós e os outros participantes conversando com seus respectivos ex.
— Você está linda... — elogiou em um tom sussurrado, próximo ao meu ouvido. Eu me afastei imediatamente.
— Vocês vão participar do reality?
Já imaginava Bruce e ele no mesmo lugar. Seria loucura.
— Só por esta noite. Então aproveita, Kathy Cat, para fazer o que quiser comigo.
O sorriso contido nos seus lábios revelava uma intenção maliciosa. Já a minha, naquele momento, era bem menos charmosa: agir como uma detetive e interrogá-lo até o fim da madrugada.
— Preciso que vá até o meu quarto — murmurei discretamente, enquanto o rodízio de pizza acontecia ao fundo.
Tobby mordeu os lábios e assentiu. Era estranho estar com meu ex subindo as escadas de forma furtiva, como se estivéssemos prestes a cometer um delito. Quando chegamos, ele se acomodou no sofá, dando umas batidinhas ao lado para me chamar. Neguei com a cabeça e me sentei na cama. A frustração ficou estampada no rosto dele por quase dez minutos.
— Não confunda as coisas, Tobby. Trouxe você aqui porque o som não é gravado neste quarto. O que quer com tudo isso? Não estava filmando em Lisboa?
— Minhas cenas terminaram há uma semana. Então, quando a produção do reality me convidou, eu aceitei. Estava com saudades, Kathy. Você parou de responder às minhas mensagens...
— Ai, Tobby... Eu tinha tantas coisas na cabeça. Não queria um relacionamento. A gente já tinha terminado há um tempo... Isso não ia mudar depois da faculdade.
— Mas com o McAllister mudou, não é mesmo? — Ele suspirou, lançando um olhar julgador. — Você não entende. Eu só quero ser pelo menos seu amigo. Que mal tem?
— Um amigo não fica perguntando o tempo todo se você conheceu alguém. Nem tenta convencer de que era tudo perfeito no passado... — Passei as mãos pelo cabelo, eufórica. — Tobby, aquela foi a pior época da minha vida. Eu só queria que tudo acabasse.
— Você sempre fazendo pouco caso dos outros — disparou, ríspido.
— Não é sobre você — respondi, em um tom baixo, sem encará-lo.
— Não, claro que não. É sobre o que eu te faço lembrar. Foi a última coisa que me disse nas mensagens, e agora está com... com... ele.
Meu coração acelerou. A confiança que eu tinha em suas palavras despencou para zero depois do vídeo exibido na telona do reality show.
— Sabe, Tobby, fiquei pensando numa coisa... Tem alguma chance de você ter inventado tudo aquilo só para ficar comigo?
Os olhos dele se arregalaram, e ele se levantou de súbito. Sacudiu a cabeça, como se estivesse decepcionado.
— Esquece, Kathy. Não vou ficar aqui sendo bombardeado pela sua falta de consideração a troco de nada.
— Falta de consideração? — Levantei, ficando de frente para ele. — O que quer dizer com isso?
Ele se aproximou e se inclinou para tentar me intimidar, contudo, permaneci firme.
— Eu deveria ter te deixado passar aquela humilhação sozinha... A humilhação que o seu namoradinho atual causou!
A voz dele reverberou no meu ouvido. Seus olhos grandes estavam marejados, os lábios tremiam, e seu rosto se avermelhava. Droga! Ele era mesmo um ótimo ator. Com certeza devia estar encenando.
— Talvez eu tenha esquecido como as coisas aconteceram naquela época. — Virei de costas, escondendo qualquer expressão que pudesse denunciar o que eu planejava. — Será que pode me lembrar?
Eu precisava encontrar inconsistências nos relatos. Se mantivesse a cabeça fria, conseguiria decifrar as entrelinhas.
— Eu sei o que está fazendo, Kathy.
Óbvio que sim, ele me conhecia muito bem. Olhei-o de esguelha, mas permaneci em silêncio.
— Você quer que eu diga que não foi ele. Mas não dá, porque tudo indica que foi.
— "Tudo indica" já é alguma coisa — retruquei, estarrecida. — Por que você não falou assim antes? Por que me deu certeza? Você não é uma má pessoa, Tobby, mas fez seu amigo parecer o pior do mundo só para namorar comigo?
— Você não dividia quarto com ele, Kathy. — Ele deu um sorriso amargo. — Era eu quem me esbarrava com uma garota diferente todo santo dia. E ainda por cima, tinha que dar uma voltinha enquanto ele comia elas. Depois de um tempo, me recusei a sair... Até me acostumei com os barulhos. Mas eu não queria que fosse você ali. Não ia suportar.
— Ah, tá. Como se eu tivesse coragem de transar com ele na frente de alguém? Eu nunca faria isso.
— Não? Você já fez. — Tobby apontou para um canto alto do quarto, e foi aí que lembrei da câmera.
A cena erótica com Bruce tinha dado certo. No entanto, o milésimo de segundo que demorei para entender do que ele falava, vi Tobby franzir a testa e sorrir.
— Kathy, fala sério! Não me diga que vocês... Vocês estão fingindo?
— N-não... — hesitei levemente.
Que merda!
Tobby começou a gargalhar alto e se jogou dramaticamente na cama.
— Será que você pode parar? Vai chamar a atenção do pessoal da casa? — Quase implorei, desesperada.
Ele me olhou, o rosto todo molhado, pois chorava de tanto rir.
— Ah, minha gatinha, vem cá. — Ele se sentou e estendeu a mão para mim. Encarei a palma esticada e não me atrevi a segurá-la. Então ele a abaixou, continuando com um sorriso debochado. — Não vai trair seu namoradinho assim. Vem, Kathy... Vem para o meu lado...
Relutante, fiz o que pediu e me sentei. Tobby tocou minha mão apoiada no colchão e me fitou, incisivo.
— Estão fazendo isso pelo dinheiro?
Confirmei com a cabeça, observando o carinho que fazia em meus dedos. Não vi outra opção a não ser aguentar.
— Então você não gosta dele?
Ergui o rosto rapidamente e dessa vez minha interpretação foi impecável.
— Claro que não! Só estou te perguntando essas coisas porque queria algumas respostas. É complicado dividir a cama com alguém que você não confia, mesmo sendo de mentirinha. — Dei de ombros.
Meu ex, encarando minha boca, admitiu:
— Eu queria um beijo.
Mordi o lábio inferior e resolvi retribuir a provocação. Tinha que ser convincente.
— Eu também, mas tem câmeras por todos os lados. E se eu fizer isso, todo o meu esforço vai ter sido em vão, meu bombonzinho.
Ao chamá-lo com o apelido carinhoso que eu inventei, por causa do bombom de pimenta, resolvi persuadi-lo a me esclarecer sobre aquele dia.
De um jeito descontraído e sorrindo, comecei:
— O Bruce me falou que foi ele quem me encontrou desmaiada no camarim, por causa da minha alergia a pimenta. E você me disse que foi você quem me salvou. Que cara de pau, Tobby!
Ele soltou uma risada leve e se ajeitou na cama.
— Se parar pra pensar, eu também te salvei. Eu já estava indo atrás de você pelo mesmo motivo que ele.
— O motivo ele não me contou, deve ter esquecido... — falei, tentando parecer despreocupada.
— É que tinha uns caras na plateia, conversando e rindo. Eles estavam com uma faixa dobrada, tinha algo escrito sobre você...
Suspirei, percebendo que os dois tinham ido lá só para me alertar. Mas ainda não conseguia entender como o Bruce faria isso, já que não estávamos mais nos falando.
— Eu percebi a armação deles, porque o McAllister estava do meu lado, bufando de ódio. Quando ele se levantou, olhei ao redor e saquei o que estava acontecendo. Fui atrás e encontrei vocês no corredor. O Bruce te carregando no colo, todo em pânico. Já estava te levando para a enfermaria, se culpando pelo que aconteceu.
— Mas por quê? Ninguém teve culpa, até você ficou me pedindo desculpas. Não tinha como saber da minha alergia.
Tobby deu de ombros.
— Minha gatinha, eu queria fazer algo por você, por causa da apresentação. Sei lá, umas flores... Mas eu estava estudando e o McAllister já estava na rua. Além disso, eu ia precisar dele. Ele sabia muito mais sobre você do que eu. Então liguei pra ele, pedi que comprasse algo. Ele me disse que sempre comia chocolates quando ficava nervosa e me mandou te dar antes do monólogo, para te acalmar... Só que deu no que deu.
A história toda só me fez gostar mais do Bruce.
— Que fofo... quer dizer, fofos — Tentei me corrigir, quando notei seu estreitar de olhos. — Você ainda foi o mais fofo, porque ficou cuidando de mim até no dia seguinte.
Ele sorriu, todo orgulhoso, o que me deu um certo alívio.
De repente, bateram na porta do quarto.
— Amiga, vocês ainda vão querer pizza? O Derek é um esfomeado, está acabando com tudo. — Era Fannie, mas alguém lá no fundo pedia para ela nos deixar em paz.
— E aí, Kathy cat? Eu tô morrendo de fome...
Ver como Tobby me olhava apaixonado, mesmo depois de anos, não tinha como ficar com raiva dele. Eu sabia que ele me queria longe do amigo. Talvez por isso ele mesmo tenha acreditado, culpando-o instintivamente, porque agora eu o via sendo sincero, me ajudando a revelar parte do meu passado.
E, no impulso, antes de concordar em descer para o rodízio de pizza falido, o abracei.
— Obrigada por ter ficado do meu lado.
— Eu sempre estarei por perto, se você me deixar ficar — sussurrou no meu ouvido.
Era uma situação horrível, pois iria ferir seus sentimentos, mas era necessário. Pessoas com ciúmes podem ser vingativas, eu sabia de diversos casos, porque meu pai trabalhava defendendo as vítimas desse sentimento.
— Me liga quando essa farsa terminar, gatinha. — Tobby me deu um beijo na bochecha.
Respirei fundo e o apertei mais forte.
— Pode deixar... — disse, mas nunca poderia cumprir.
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