Capítulo 13: Kathy
Spoiler: O sentimento real vem à tona nas piores horas.
Saímos do pequeno cômodo nos olhando de forma cúmplice, como se carregássemos um segredo proibido. No corredor, ele segurou minha mão e a beijou com carinho.
— Tenho camisinha na minha mala — Ele sussurrou.
Tentei conter o misto de sensações que eu tive a partir daquela informação. Aquilo significava que planejava ter algo comigo há algum tempo.
Bruce...
Quando chegamos na sala principal, Mark Evans surgiu na TV. Ele sempre fazia questão de sorrir demais, como se quisesse mascarar a crueldade por trás das regras.
O apresentador parecia estar em uma praia. No fundo, mais distante, havia umas rochas. E perto dele as folhas das árvores balançavam bastante. Mesmo dentro da mansão dava para sentir que o clima do lado externo mudava. Eu começava a congelar com a roupa molhada da outra prova.
— Bom, antes de tudo... Parabéns a Bruce e Kathy! Vocês venceram a prova do beijo pela votação do público de casa! — anunciou Mark, arrancando alguns aplausos e assobios dos outros participantes.
Fiquei feliz. Finalmente víamos a chance de ganharmos o prêmio. Estávamos agradando aos telespectadores.
Bruce me puxou pela cintura e me deu um selinho um pouco demorado. Ele era o próprio fogo. Um simples contato com ele me reacendeu facilmente. Estava doida para a produção nos liberar, para ficarmos novamente a sós.
— Agora, vamos para a nova dinâmica! — continuou o apresentador. Todos pareciam confusos, se entreolhando. — Um de vocês deve pegar a caixa que está perto da piscina e trazê-la para sala.
Clara ergueu o dedo, indicando que ela iria. Respirei fundo e Bruce passou o braço sobre meus ombros. Não sei o porquê, mas tinha um mau pressentimento.
Assim que ela voltou carregando a caixa preta de tamanho relativamente médio, Mark continuou a dar as instruções:
— Os casais serão separados em dois grupos, representados pelas cores vermelho e azul. As mulheres irão sortear uma bolinha na caixa, que indicará a cor de seu grupo. Automaticamente, os parceiros ficarão no grupo oposto ao das suas companheiras. Essa dinâmica trará um certo desconforto, testando a força das relações ao lidar com essa separação.
Encarei Bruce e disse baixinho: — A gente tem que tomar cuidado com o que falaremos. A nossa história precisa ser a mesma.
Ele assentiu, mantendo o olhar na televisão. Vi que estava tenso por causa do maxilar rígido, das sobrancelhas contraídas e da respiração alta. Era desse jeito que ele ficava quando enfrentávamos um ao outro durante as antigas brigas.
Esfreguei as suas costas, buscando aliviar o nervosismo que deixava transparecer. Não que eu não estivesse, porém, a vontade de cuidá-lo se expandia naturalmente dentro de mim. Ele suspirou e seu semblante foi ficando mais leve.
— Assim que vocês pegarem a bolinha, meninas, mostrem para a câmera. — Mark reforçou.
As participantes estavam indo uma a uma. Eu fui a terceira, depois de Clara tirar a bolinha azul e já ter se separado de Derek, ficando um de cada lado na sala.
Nunca fui muito religiosa, mas falava com Deus como se fosse um amigo de longas datas.
Azul, por favor, me deixe tirar a azul...
— Ver... vermelha... — Minha voz saiu trêmula, era uma decepção tão grande que quase engasguei.
— Kathy, mostre para câmera — lembrou Mark, me vendo paralisada olhando com ódio para o pequeno objeto. — Vá para o lado do grupo vermelho.
Quando Bruce parou ao lado de Clara, ela vibrou, erguendo as mãos para que ele batesse em cumprimento. Ele não pareceu muito à vontade, pois forçava um sorriso. Porém esse jogo estava aí, provavelmente para ensinar a trabalharem em equipe.
Parei à esquerda de Derek, que não demonstrava um pingo de ciúmes da namorada. Talvez estivesse certo. A confiança faz parte de um relacionamento saudável. Só que ele se divertia, gargalhando alto quando os outros casais ficavam tristes por se separarem. Juro, aguentei firme para não mandar ele calar a droga da boca.
— Agora que sabemos quem faz parte de cada grupo, peço que o grupo azul se despeça imediatamente do grupo vermelho e siga a produção. Boa sorte nas próximas etapas! — disse Mark, encerrando com um sorriso mais largo que de costume.
Aquilo foi um choque.
Eles não poderiam nem se trocar? Para onde iriam?
— Ei — Bruce se achegou, segurou meu rosto entre as mãos —, não se isola, tá? — Seus olhos mostravam uma preocupação plausível. Eu não me dava bem em grupos. A pessoa mais próxima, depois de Bruce, era Juana, que também sorteou a bolinha azul.
Senti minha garganta apertando.
— Vou tentar. — disse, cutucando a gola da sua camisa por um instante antes de nos beijarmos pela última vez.
Eu não queria desconfiar dele, mas ele era o Bruce "cafajeste" McAllister.
Quando ele se virou, pronto para seguir o grupo, agarrei o seu pulso.
— Bruce... — hesitei, esfreguei a testa sem saber como falar. Não éramos namorados de verdade.
— Fala, Kathy... — Ele estava apreensivo, como eu. Não tive coragem de exigir fidelidade. — Olha, vai ficar tudo bem... Vamos tentar só comentar sobre o que combinamos... O café na cara, o piquenique no parque... Isso, se for necessário. Vamos nos sair bem. Te prometo.
Bruce beijou a minha testa e se foi.
Enquanto ele se afastava com Clara e outros participantes, a visão dele rindo casualmente me fez sentir uma pontada de ciúme e insegurança. Tive medo de que ele ainda fosse o mesmo cara da época da faculdade, trocando de garotas sem se importar com os sentimentos das que ficavam para trás.
Agora, eu fiquei para trás, uma regra imposta de repente pelo jogo.
Enquanto isso, Clara estava liberada para circular ao lado dele.
Que raiva!
Clara era tão bonita, confiante. Será que o faria esquecer de mim? Já tinha notado o quanto ela o encarava e ria das bobeiras que ele falava, descaradamente. Bruce, não sei se fingia, mas parecia sempre distraído.
Senti um grande enjoo. Respirei fundo, tentando afastar esses pensamentos, pois precisava me concentrar para a prova misteriosa que o grupo vermelho participaria.
Entretanto, era assustador o quanto sua distância me impactava. Não era apenas sobre ciúmes. Era como se a cada passo que ele dava longe de mim, uma parte do meu chão fosse se desfazendo.
Eu tinha saudades, mesmo ele tendo deixado a casa por pouco tempo.
O mundo inteiro pareceu suspenso, porque, naquele instante, eu soube: não precisava mais encenar. Eu estava completamente apaixonada por Bruce.
E o que seria de mim quando as câmeras se apagassem? Quando a vida real, com seus obstáculos, o levasse de volta ao Arizona? Eu temia que ele me esquecesse tão facilmente quanto um espectador troca de canal.
Será que eu também seria só mais uma?
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