Capítulo 4
Terminei de ajeitar a transa que tinha feito nos cabelos. Era totalmente idiota e patético, mas sim, estava me arrumando só porque Jason viria nos visitar.
Há três semanas houve um ataque ao palácio de Thompson e infelizmente eu estava no lugar errado, mais precisamente no banheiro. Acabou que os invasores me acharam e no meio de tudo isso Mabel apareceu e acabou sendo levada como refém temporária. Foi ai que conheci Jason, isso porque ele a pedido de Bels me escolheu quando os invasores disseram que levariam uma de nós duas.
Ouvi o barulho da porta de entrada da casa abrindo e logo após as vozes já conhecidas. Meu coração acelerou imediatamente e respirei fundo para tentar faze-lo voltar ao normal. Borrifei mais um pouco de perfume e me olhei uma última vez no espelho, antes de sair do quarto e descer ao primeiro andar.
Ali na nossa pequena sala encontrei os dois homens sentados, um de frente para o outro. Jason sorriu assim que me viu e rapidamente se colocou de pé.
— Senhorita, — Cumprimentou pegando minha mão e beijando o dorso — Como está?
— Bem e você? — Sorri nitidamente encantada.
Não queria admitir, mas estava acontecendo. Desde que conheci Jason não conseguia pensar em outra coisa senão nele. Nos momentos em que passávamos juntos, mesmo que não fosse completamente a sós.
Às vezes ficávamos na sala conversando enquanto minha avó terminava de preparar alguma torta, ou bolo. Nós falávamos sobre a província, sobre nossos gostos ou coisas aleatórias. Jason perguntava sobre mim e até podia arriscar que estava querendo me conhecer melhor, pelo menos nos meus sonhos.
— Vim apenas ver como estão e obviamente comer um pedaço de torta de Susan. — Explicou dando de ombros.
Ouvi a risada de vovó vindo da cozinha e logo ela aparecia com um pedaço generoso de torta para Victor. Meu avô ficou algum tempo conosco na sala conversando, até avisar que precisava ir trabalhar. Jason prontamente se ofereceu para leva-lo até o centro da cidade e aproveitei para ir junto, afinal tinha que entregar as tortas de vovó. Desde que Bel foi para o palácio era eu quem fazia as entregas nos mercados.
Jason deixou vovô em frente à casa em que trabalharia hoje e continuou seguindo pela rua principal.
— É logo ali na frente. — Avisei.
Estacionamos em frente ao mercado e ficamos ali, apenas em silêncio. Acho que nenhum dos dois queria se despedir. Virei minimamente o rosto e percebi que Jason me encarava de forma observadora.
— O que? — Questionei sentindo meu rosto ficar quente.
— Você é muito bonita. — Elogiou sorrindo.
— Ah, — Murmurei — Obrigada!
Devagar Jason levantou uma das mãos e colocou a pequena mexa de cabelo atrás da minha orelha. Senti a pele formigando e automaticamente fechei os olhos em expectativa, do que? Não sei, talvez de tudo.
— Sam... — Jason chamou quase em um sussurro.
Abri os olhos devagar e encontrei com seu rosto bem perto, a alguns centímetros de distância.
— Vai me beijar? — Perguntei com toda coragem que tinha no momento.
— Não... Ainda. — Sussurrou — Não sem seus avós saberem sobre meus sentimentos.
— Sentimentos? — Franzi a testa.
— Sim, — Afirmou sorrindo — Estou apaixonado por você pequena Sam.
Senti meu coração acelerar consideravelmente. Quem sabe ele estivesse ouvindo, mas não me importava com isso no momento. Então, contrariando nossa vontade do momento, Jason beijou minha bochecha carinhosamente.
— Avise seus avós que vai ter alguém a mais para o jantar. — Comentou piscando.
Dei risada e assenti concordando. Mal podia esperar para a noite.
~TEMPOS DEPOIS~
Estava sentada no banco embaixo da enorme árvore do jardim do palácio. Haviam cinco guardas distribuídos ao redor, fazendo a segurança. Isso foi uma das exigências do príncipe e da minha irmã Bel. Só assim poderia me encontrar com Jason.
Nós não nos víamos há bastante tempo, mas às vezes parecia que foi ontem que estávamos sentados na varanda de casa, rindo e conversando sobre várias coisas bobas. Jason sempre sabia como fazer me sentir bem, feliz e alegre.
Por isso não entendia como conseguiu fazer o que fez com Lorenzo, seu melhor amigo. Nós jamais traímos quem amamos. Pelo menos fui criada assim.
Ouvi a movimentação dos guardas e automaticamente olhei para trás.
— Oi! — Jason acenou discretamente.
— Oi! — Sussurrei.
Deslizei mais para o lado no banco deixando um espaço para que ele sentasse. Minhas mãos estavam entrelaçadas e as torcia nervosamente no colo.
— Você está muito bem. — Comentou enquanto reparava em meus cabelos e roupa.
Agora estava morando aqui no palácio, então podia pedir para as costureiras da minha irmã fazerem alguns dos vestidos que desenhava. Não precisava mais dos retalhos da senhora Amélia, pois Sisi e Lisa os davam.
— Você também. — Dei de ombros, mesmo que não fosse completamente verdade.
Jason parecia um pouco mais magro e a barba estava por fazer.
— Obrigada por ter aceitado me ver. — Agradeceu — Sei que não tem obrigação nenhuma.
Quando Mabel veio conversar comigo e disse que tinha encontrado com Jason, não soube muito bem o que pensar. Obviamente que fiquei sabendo da história dos ataques, do sequestro do rei e os planos de Nolan junto de Jason, mas depois de um tempo passei a me perguntar se essas atitudes erradas o tornavam uma má pessoa. Todos nós temos o direito de errar, óbvio que não é justificável você fazer outros sofrerem apenas para se sentir melhor, mas o importante é aprender com isso.
— Todos temos direito a uma segunda chance. — Expliquei.
Jason assentiu concordando desviando os olhos e encarando o canteiro de flores a nossa frente.
— Meus pais morreram quando eu ainda era criança, — Começou — Primeiro meu pai e depois minha mãe, que não aguentou a ausência dele.
— Sinto muito. — Sussurrei.
— Sei que isso não justifica nada do que fiz, mas perder quem amamos é doloroso demais. — Negou com a cabeça — Às vezes acaba nos cegando... Que foi o que aconteceu comigo. — Concluiu me olhando novamente — Me arrependo muito do que fiz. Magoei pessoas importantes na minha vida e quebrei a confiança delas. — Suspirou alto — Sei que tem todos os motivos para não querer mais minha companhia e juro que entenderei se negar, mas do fundo do coração peço que me perdoe.
Devagar Jason deslizou a mão e pegou uma das minhas. Pelo canto do olho notei um dos guardas dar um passo a frente, mas parou ao ver que não esbocei nenhuma reação de aviso ou alerta.
Senti o coração falhar uma batida assim que nossas mãos estavam unidas. Jason acariciou meus dedos gentilmente enquanto me encarava intensamente.
— Eu... — Mordi o lábio inferior — Te perdoo.
Ouvi seu suspiro alto de alivio. Entrelacei nossos dedos e os apertei levemente.
— Obrigada... Pequena Sam. — Sussurrou.
Sorri levemente ao ouvi-lo chamar pelo nosso apelido. Era como se tivéssemos voltado aos velhos tempos. Confesso que sentia falta de tê-lo por perto e conseguia ver seu arrependimento no olhar. Jason tinha errado, mas estava disposta a seguir em frente e deixar o passado para trás.
~MAIS ALGUM TEMPO DEPOIS~
Meu estomago parecia cheio de borboletas voando de um lado ao outro. Alisei o vestido pela milionésima enquanto esperava no salão.
Ouvi os passos e imediatamente me virei encontrando com Jason.
— Está atrasado! — Acusei.
— Ei, não estou não. — Negou verificando seu relógio de pulso — Você que está nervosa demais... Não devia ser o contrário?
Revirei os olhos já acostumada com seu senso de humor, na verdade, era uma das coisas que amava em Jason. Ele sempre estava disposto para uma piada ou brincadeira, quer ver quando juntava com Victor e Lorenzo. Esses três eram imbatíveis e insuportáveis.
— Só estou ansiosa. — Dei de ombros.
Desde que Jason pediu minha mão em casamento nós estavamos mantendo isso em segredo. Isso foi há três semanas. Nós resolvemos não contar, pois a família estava em função do vovô. Tínhamos descoberto sua doença no pulmão há alguns meses, quando começou a sentir dores. Desde então começamos com o tratamento, que tinha altos e baixos.
Nós evitávamos falar muito nesse assunto, acho que porque sabíamos qual vai ser o final. No começo tudo continuou normalmente, meu avô ainda ia aos jardins do palácio, frequentava alguns eventos da realeza, jantava conosco no salão e tomava o chá da tarde. Mas depois de um tempo sua situação foi piorando gradativamente e agora vovô ficava a maior parte do tempo no quarto. Às vezes sai para sentar na varanda do palácio e apreciar os canteiros de flores, e nessa maioria quem lhe faz companhia é Bel.
— Sabe que te amo, não é? — Jason questionou segurando minhas mãos.
Assenti concordando e me aproximei beijando seus lábios carinhosamente.
— Também te amo! — Sussurrei o abraçando.
— Então, vamos? — Segurou minha mão e puxou em direção a escada.
Batemos com cuidado na porta do quarto e vovó logo a abriu. Ainda era de manhã e ela sempre tomava o café junto com vovô, sentados na cama.
— Querida, — Sorriu — Que bom vê-los!
— Nós podemos entrar? — Perguntei olhando vovô sentado na cama.
— Claro. — Abriu mais a porta do quarto.
Entramos ainda de mãos dadas. Jason começava a suar levemente a palma e imaginei que seria de nervosismo. Já estava acostumado a conversar com meu avô, mas agora seria diferente.
— Os dois juntos há essa hora só pode ser algo importante. — Vovô comentou.
Dei uma risada baixa e sentei ao lado dele na cama. Beijei sua bochecha e segurei sua mão.
— Espero que seja coisa boa. — Vovó comentou piscando.
Algo me dizia que ela já sabia sobre o que era. Minha avó sempre teve um sexto sentido muito bom. Acho que Mabel herdou isso dela.
— Isso vai depender da resposta que o senhor dará... — Jason deu de ombros discretamente — Mas espero que sim.
— Diga jovem! — Vovô incentivou.
Jason respirou fundo e pigarreou baixo.
— Nós já nos conhecemos há algum tempo e tenho um afeto grande pela família Fischer... — Começou fazendo uma pequena pausa — E ainda maior por Samantha. — Acrescentou me olhando diretamente.
Dei um pequeno sorriso de encorajamento e fiz um sinal com a mão para que continuasse.
— Já conversamos uma vez sobre meus sentimentos com relação à Samantha e desde então isso só vem aumentando. — Mordeu o lábio inferior — Eu a amo e quero passar o resto da vida ao seu lado. — Suspirou alto — Então, estou oficialmente pedindo a mão de Samantha em casamento, se o senhor a conceder.
Apertei gentilmente a mão de meu avô enquanto todos permaneciam em silêncio. Vovó estava parada aos pés da cama e sorria levemente nos encarando.
— Sabe Jason... — Vovô começou olhando-o diretamente — Desde que começou a frequentar nossa casa assiduamente, percebi seus interesses, então quando falou dos sentimentos por Samantha não foi surpresa nenhuma. — Sorriu levemente — Você errou no passado e tem se redimido diariamente por isso, o que prezo muito.
— Obrigada senhor. — Jason acenou com a cabeça.
— Sei que Samantha está em boas mãos. — Suspirou baixo — Por isso têm minha benção.
Dei uma risada alta de completo alivio. Apertei a mão de vovô que ainda segurava e beijei sua bochecha demoradamente.
— Obrigada! — Sussurrei abraçando-o — Amo você!
~AINDA MAIS ALGUM TEMPO DEPOIS~
Sentia meu coração bater fora do ritmo. Hoje era o dia e estava mais do que nervosa. Meu estomago revirava sem parar enquanto esperava Bels voltar avisando que tinha chegado o momento.
Encarei meu reflexo no espelho do closet. Tinha desenhado o modelo do vestido de noiva que usava, mas quem costurou foi Lisa e Sisi. Ajeitei o véu que estava bem preso nos meus cabelos com uma tiara de diamantes, presente do meu cunhado e príncipe de Thompson, Lorenzo.
— Samy? — Ouvi alguém chamar.
Virei e encontrei com Mabel parada na entrada do closet. Ela me olhava com um sorriso enorme. Estava visivelmente feliz. Sabia que Bel sempre torceu pelo meu bem. Cuidou de mim desde que nossos pais morreram. Eu era eternamente grata a tudo que fez e extremamente orgulhosa da mulher que se tornou.
Mabel era uma rainha excepcional. Desde que assumiu o trono junto com Lorenzo nossa província vinha prosperando cada vez mais. Alexander Junior estava com seis anos e os gêmeos com um e meio. Eram os sobrinhos mais lindos que poderia desejar.
— Você está perfeita! — Sussurrou segurando minhas mãos.
— Estou muito nervosa. — Admiti.
— Não fique... Jason te espera no altar. — Tranquilizou-me — Vai ser tudo lindo e você será muito feliz.
Senti meus olhos enchendo de lágrimas que esforcei para segurar e não borrar a maquiagem.
Mabel fez o melhor que pode desde sempre, mas isso não fazia com que a saudade de nossos pais sumisse completamente. Por isso essa era uma das coisas que desejei para o dia de hoje, que os dois estivessem aqui para desfrutarem de tudo que tínhamos.
— Obrigada Bels. — Sussurrei apertando suas mãos gentilmente — Por tudo... Desde sempre.
Mabel negou com a cabeça e tocou minha bochecha carinhosamente.
— Eu te amo Samy. — Declarou.
Sorri e toquei o colar que ela sempre usava. Tinha um pingente de coroa que ganhou de Lorenzo e a aliança da nossa mãe, presente de vovô.
Ah, que saudade! Pensei e suspirei baixo. É doloroso demais perdemos quem amamos, mas a vida segue e o que importa são as memórias que ficam.
Mabel sorriu e puxou levemente para que saíssemos do closet e seguíssemos para fora do quarto, onde duas criadas esperavam para ajudar com a cauda do vestido.
O casamento seria no mesmo lugar atrás do palácio em que foi o de Bel. Veronica tinha cuidado de toda a organização e agradecia por isso. Obviamente que decidi sobre as cores, flores, comida e convidados, mas depois disso tudo ficou sobre responsabilidade dela.
Assim que chegamos ao salão principal encontramos com Victor esperando. Era ele quem me levaria até o altar. Queria que fosse vovô ou meu pai, mas ás vezes a vida não é como planejamos ou desejamos.
— Uau! — Victor assoviou quando nos viu.
— Até parece que nunca me viu arrumada... — Desdenhei.
— Não tanto assim! — Deu de ombros.
Revirei os olhos e caminhei em direção a ele, engatando nossos braços.
— Vamos logo, sei que a noiva tem que atrasar, mas não precisa ser tanto. — Bufei baixo.
Mabel e Victor deram risada enquanto seguíamos para fora do palácio, pela porta lateral do salão. Estávamos no verão e o sol começava a descer, mas o calor ainda se fazia presente.
Assim que chegamos perto do lugar que seria a cerimônia, Bel seguiu para seu lugar de madrinha, ao lado de Alisson e Amanda. Do outro lado estava Lorenzo e daqui a alguns minutos Victor, depois que me deixasse no altar.
Sorri assim que vi Jason parado em frente a grande armação de flores azuis. Ele torcia as mãos e estava visivelmente nervoso, me fazendo rir da situação. Sempre tão confiante que era até estranho vê-lo assim agora.
— Pronta? — Victor perguntou dando um passo a frente.
Respirei fundo e assenti minimamente concordando.
Sim, estou pronta! Pensei enquanto seguíamos pelo corredor em direção ao altar, ou melhor, ao amor.
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