Capítulo 3

Hoje era dia de festa em Thompson. Isso porque rei Philiph estava de aniversário. Todos os anos era feita uma grande festa para comemorarmos essa data. Mabel e Verônica estavam trabalhando nos preparativos junto com Elisabeth há semanas, e é claro que tudo estava mais do que perfeito.

Eu e minha família vivíamos em Thompson. Depois de eu e Amanda nos casarmos Lorenzo me convidou para ser seu assessor e braço direito. Obviamente aceitei e desde então vivíamos em uma linda casa no centro da província, cortesia do casal real.

Podia dizer que era um homem feliz, afinal tinha uma linda mulher e uma filha fofa. Sophia tinha quatro anos e era muito espoleta. Amanda dizia que ela puxou a mim e não duvidava mesmo que fosse, mas não daria o braço a torcer, então sempre negava veementemente.

Amanda era uma mãe exemplar. Carinhosa e dedicada. Sempre admirei seu jeito centrado de ser, desde a convocação em que ela participou junto com as outras catorze garotas, inclusive Mabel, que hoje era rainha e esposa do meu melhor amigo. Sim, uma loucura. Eu sei.

Ainda lembro da primeira vez em que conversamos de verdade. Foi logo depois da sua eliminação, na qual Lorenzo escolheu Mabel como esposa e futura rainha.

Quando tudo terminou me prontifiquei a leva-la de volta para casa. Sua família iria com o mesmo carro em que vieram, mas Amanda seria levada por um carro real, especial, então depois do que ela tinha passado achei melhor que um rosto amigo fizesse isso.

*Começo da lembrança*

Estacionei o carro em frente à casa de Amanda. Nós havíamos feito o percurso todo do palácio até aqui no mais absoluto silêncio. Sabia que devia estar sendo difícil para ela tudo isso, afinal esteve tão perto de ser escolhida, bom, tecnicamente né, já que sabíamos que Lorenzo escolheria Mabel. Ele a amava e era mais do que nítido isso.

Obrigada! — Amanda agradeceu finalmente quebrando o silêncio.

Não precisa agradecer, — Dei de ombros e virei um pouco no banco do carro ficando de frente para ela — Ter uma garota bonita ao meu lado não é trabalho nenhum.

Vi um pequeno sorriso surgir em seu rosto e comemorei por dentro. Ela tinha tirado o vestido de gala da cerimônia e agora usava um simples, de alças fina e delicados desenhos de flores. Estava bonita, na verdade, Amanda era uma garota muito bonita.

Ouvi seu suspiro baixo e percebi que ela encarava suas mãos. Parecia pensativa e com o coração apertado vi uma lágrima rolar pela sua bochecha.

Não chore! — Pedi pegando suas mãos em um ato de impulso.

Odiava ver as pessoas chorando. Seja homem ou mulher. Adulto ou criança. Não era algo com que soubesse lidar bem.

Eu nem devia estar chateada, — Fungou baixo me olhando novamente — Já sabia que não seria escolhida, mas isso não faz com que o sentimento de rejeição diminua... Entende? — Questionou.

Entendo, — Sussurrei ao lembrar de como me senti quando Mabel disse que meus sentimentos por ela não eram correspondidos — Entendo perfeitamente.

Não é como se amasse Lorenzo, ou coisa parecida, no final nós fomos bons amigos... Eu acho. — Explicou pensativa — Mas mesmo assim isso não me impede de pensar no fato de que em nenhum momento fui opção, — Franziu a testa — Que não fui boa o bastante para isso!

Apertei gentilmente suas mãos e a encarei nos olhos, que nesse momento demostravam toda sua insegurança.

A culpa não foi sua. Não é você o problema. — Afirmei suspirando baixo — A grande chave de tudo isso é que nós não mandamos no coração, — Dei de ombros — Ele simplesmente faz o que quer e nós como reles mortais estamos condenados a conviver com isso, — Soltei uma de suas mãos e levantei meu dedo indicador — Mas não quer dizer que não podemos e devemos seguir em frente.

Ficamos em silêncio por algum tempo. Acho que Amanda estava processando o que eu disse. Geralmente não costumo ser tão profundo assim. Sou mais piadista e brincalhão.

Obrigada. — Agradeceu sorrindo levemente — Suas palavras me ajudaram.

Que bom! — Suspirei alto.

Percebi que ela puxava sua mão da minha devagar e rapidamente a soltei. Amanda respirou fundo e abriu a porta do carro.

Amanda! — Chamei quando ela estava saindo, fazendo com que se virasse e me olhasse — Eu posso... — Fiz uma pequena pausa e pigarreei baixo — Ver você de novo? Algum dia desses... — Dei de ombros, deixando o questionamento no ar.

Vi seu olhar meio confuso e então um pequeno sorriso surgir em seu rosto.

Claro. — Concordou — Será um prazer.

*Fim da lembrança*

Tomei um generoso gole de bebida. Lorenzo e Jason estavam fazendo piadas sobre algo que eu não tinha escutado. Estava pronto para pedir que repetissem quando vi Amanda indo em direção as portas do salão com Sophia em seu colo. O que será que nossa pequena tinha aprontado dessa vez?

Pedi licença a eles e segui atrás delas. Quando sai do salão consegui ver parte do vestido vermelho que Amanda usava indicando que tinham virado à direita. Dei uma pequena corrida e alcancei as duas quando estavam chegando a escada.

— Onde minhas meninas estão indo? — Questionei chamando a atenção.

Sophia imediatamente esticou os braços e se jogou em minha direção. Sorri e a peguei beijando sua bochecha gordinha.

— Molly sumiu, — Amanda explicou — De novo.

Franzi a testa e vi o olhar dela que dizia: Não podemos mais ficar assim, temos que fazer algo! Assenti concordando e então juntos nós subimos ao segundo andar.

Não era a primeira vez que Molly fazia isso. Tínhamos contratado ela a cinco meses, isso depois que Amélia a antiga cuidadora de Sophia ficou doente e teve que se afastar. Molly era uma garota de vinte anos que foi recomendada pela escola, mas já era a terceira vez que Sophia se perdia dela, ou melhor, fugia.

Quando chegamos ao segundo andar vi Amanda fazer um barulho de desgosto. Olhei para a frente e encontrei com Molly que vinha correndo pelo corredor. Seu rosto estava meio vermelho e a respiração rápida.

— Me desculpem, — Pediu ofegante — Sophia estava comigo no quarto de brincar, mas acabei me distraindo um minuto com as outras crianças e quando vi ela já tinha sumido. — Explicou enquanto gesticulava com as mãos, visivelmente nervosa.

— Molly... — Amanda começou, mas parou e apenas negou com a cabeça.

— Me desculpe senhora. — Sussurrou e percebi que sua voz estava embargada.

Notei que Amanda estava em um conflito interno. Seu bom coração não deixava que a dispensasse, pelo menos não agora. Suspirei alto fazendo com que Molly me olhasse preocupada.

— Só fiquei com Sophia, ok? — Pedi e Molly assentiu concordando — Estamos lhe dando uma última chance, então não desperdice. — Avisei com seriedade e ela assentiu concordando novamente — E você se comporte Sophia Lube Janks, e isso não é um pedido. — Olhei para a pequena garota nos meus braços com a mesma seriedade.

Pometo que vou comporta. — Sophie disse com seu jeito fofo de falar errado.

A entreguei para Molly, que rapidamente voltou pelo corredor junto com Sophia, provavelmente indo novamente ao quarto de brincar. Assim que elas se foram ouvi o suspiro baixo de Amanda. Segurei sua cintura e a puxei para perto, colando nossos corpos.

— Mais tarde vou conversar com Molly, — Avisou e assenti concordando — Essa situação não pode continuar Victor... É nossa filha!

— Eu sei coração, — A tranquilizei beijando sua testa — Nós vamos fazer isso, prometo.

Amanda suspirou alto enquanto enlaçava meu pescoço com os braços. Aproveitei para me inclinar buscando seus lábios.

— Sabe, — Sussurrei quando nos separamos – Já que estamos aqui poderíamos usar um dos quartos de hospedes. — Sugeri piscando.

— Victor Lube, — Repreendeu negando com a cabeça — Você não muda mesmo!

Dei risada enquanto segurava sua mão e a puxava pelo corredor em direção ao quarto em que estávamos acomodados durante nossa estadia no palácio. Hoje à noite era de festa e ela começaria agora com uma comemoração só nossa.

~ TRÊS ANOS E DOIS MESES DEPOIS ~

Sai do escritório onde tinha acabado de ter uma reunião com Lorenzo e Félix. Nós tratamos de alguns assuntos sobre a segurança do palácio e da província. Estávamos com planos novos para o revezamento dos guardas e sobre os postos que tínhamos construído e espalhado pela província.

Já seguia em direção a saída do palácio quando ouvi as vozes femininas. Revirei os olhos enquanto voltava ao salão principal.

— Isso está se tornando uma espécie de ritual. — Comentei chamando a atenção.

Ouvi a risada baixa das três mulheres presentes ali e bufei baixo negando com a cabeça. Mabel, Amanda e Alisson estavam tomando chá enquanto conversavam e riam de alguma coisa entre elas.

— Achei que tinha perdido a mania de chegar sem fazer barulho. — Mabel acusou fazendo careta.

— Certas coisas não mudam. — Contestei piscando.

— Desagradável. — Sussurrou.

Dei risada ignorando seu comentário e apenas segui em direção a Amanda. Ela estava sentada no sofá mais ao canto e sorriu abertamente assim que me aproximei. Beijei sua testa e sentei ao seu lado colocando a mão sobre sua barriga já bem avantajada.

Estávamos grávidos de quase sete meses e confesso que foi uma surpresa quando descobrimos. Sophia obviamente adorou a ideia de ter uma irmã, ou irmão, mas nós não esperávamos por mais um bebê. Então depois do choque inicial e da crise de choro de Amanda, nós enfim comemoramos a notícia. Sophia já estava com sete anos e depois deste tempo todo teríamos mais um filho, sim, dessa vez era um menino.

— Tudo bem com vocês? — Questionei enquanto acariciava sua barriga.

Sorri sentindo o pequeno cutucão. Era sempre assim quando ele ouvia minha voz. Confesso que isso me deixava com um sorriso bobo no rosto, mas não conseguia evitar. Foi e ainda era assim com Sophia e não seria diferente agora.

— Sim. — Sorriu colocando a mão sobre a minha.

— Estávamos falando sobre o chá de bebê. — Mabel explicou — Ofereci o palácio assim como no de Sophia.

— Está com a agenda cheia Mabel, não queremos atrapalha-la. — Amanda argumentou suspirando baixo.

— Amigos nunca atrapalham. — Contestou dando de ombros — Além de que Verônica é ótima com organização e Elizabeth ficaria muito feliz, tenho certeza.

Olhei de uma para a outra assistindo a conversa silenciosa que estavam tendo. As duas mulheres se encaravam e se não soubesse que eram amigas até podia achar que estavam brigando de verdade.

— Aceite logo Amanda! — Alisson interveio.

Ouvi o suspiro alto dela e contive a vontade de dar risada. Mabel era teimosa demais e Amanda sabia que não ganharia no final, na verdade, nem sei porque estava argumentando ainda. Olhei para Mabel e revirei os olhos ao encontrar seu sorriso de vitória. Ela não tinha jeito mesmo. Pobre Lorenzo.

Ficamos no palácio por mais alguns minutos até que convenci Amanda de que devíamos ir para casa. Sempre que as três amigas se juntavam era difícil separar. Lorenzo costumava chama-las de três mosqueteiras, sem que elas soubessem é claro.

Ian visitava nossa província regularmente e Alisson sempre o acompanhava. Eram visitas rápidas, de dois ou três dias, mas que rendiam longas conversas e risadas no salão das mulheres. Brighton era uma das províncias com quem Thompson mais interagia e tinha ligações.

Quando enfim chegamos em casa Amanda seguiu direto ao banheiro avisando que tomaria um banho rápido. Aproveitei para pedir a Elisa que preparasse sanduiches. Ainda não era hora do jantar, mas a cozinheira já estava organizando tudo e o cheiro de temperos preenchia o ambiente.

Aproveitei que Sophia ainda não tinha voltado da escola e deitei em nossa confortável cama, suspirando de contentamento.

— Eu que estou com essa barriga imensa e você que suspira cansado? — Ouvi a voz já bem conhecida.

Amanda acabava de voltar ao quarto usando sua camisola rosa clara. Sorri quando ela subiu na cama e deitou ao meu lado.

— Você é bem mais forte do que eu, sabe disso. — Justifiquei dando de ombros.

— Ata! — Desdenhou dando uma risada baixa.

A puxei para mais perto, aconchegando nossos corpos. Sua barriga realmente já estava grande, mas isso queria dizer que nosso pequeno crescia cada vez mais dentro dela.

Estávamos ansiosos para conhecê-lo e Sophia também, já que todos os dias nos perguntava se ainda faltava muito tempo para o bebê sair de dentro da mamãe. Obviamente que contamos uma história totalmente lúdica quando Sophia questionou sobre como o irmão foi parar ali dentro da barriga, e então muito calmamente Amanda elaborou a história de uma sementinha e tinha eu envolvido na história. Não sei muito bem os detalhes, pois confesso que fui saindo de mansinho para não sobrar para mim.

— Tudo bem? — Questionou tocando meu rosto.

Pisquei algumas vezes voltando de meus devaneios e sorri assentindo em acordo.

— Pensando na mulher maravilhosa que tenho e na família perfeita. — Pisquei.

Amanda beijou meus lábios demoradamente. Senti um pequeno chute contra meu corpo e coloquei a mão sobre sua barriga, afagando-a.

— Te amo. — Sussurrou.

— Amo vocês. — Declarei beijando-a mais intensamente.

Então antes que pensasse em quem sabe aprofundar nossas caricias ouvi os passos apresados no corredor, e meio segundo depois a porta do quarto abrir.

— Papai, mamãe... — Sophia exclamou pulando na cama e vindo até nós.

Seu pequeno corpo se acomodou no meio de nós dois e sorri enquanto ouvia ela contar animada sobre o que fez na escola naquele dia.

Não pude deixar de pensar em como as coisas acontecem. Afinal quando vim para Thompson não pensei que ficaria definitivamente, estava só de passagem e tinha outros planos para minha vida, mas hoje percebia que as coisas acontecem como tem que ser.

Levar um pé na bunda de Mabel fez com que me permitisse ter novas oportunidades, e que olhasse para Amanda de um jeito diferente. Hoje estamos aqui e só consigo agradecer a sorte que tive e tenho. O futuro é incerto para todos, mas se depender de mim será mais do que brilhante.



Se que a maioria das leitoras tem um amor por Victor e achei digno que ele tivesse uma história de amor digna, mesmo que brevemente escrita aqui  neste capitulo.

Espero que tenham gostado! Teremos mais alguns SpinOffs em breve!

XOXO ;)

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