Abandonados

Eles estavam indo em direção às terras do outro lado da floresta, para assim tomarem o que sobrou da matilha. Liam Payne liderava o grupo que havia ido consigo com precisão, em breve estariam lá e poderiam descobrir qual era o problema do Sul.

O som dos passos era pesado, o chão estava úmido devido à chuva e isso fazia com que a lama grudasse em suas botas. Entretanto, não estavam preocupados com isso.

A maioria estava com medo, quem não estaria? Depois que viram do que Yeaser Malik e seus alfas sanguinários eram capazes de fazer em um campo de batalha não sabiam o que poderiam encontrar por lá.

Harry Styles o único médico que havia sobrado do Norte estava junto com eles para assim ajudar se encontrassem algumas das vítimas ou se alguém do bando se machucasse, o acompanhando em passos cuidadosos se encontravam algumas ômegas e betas enfermeiras - essas estavam sendo de grande ajuda desde que a Guerra começou e o número de feridos aumentou drasticamente, mas, pelo menos, não houve nenhuma baixa do seus, já seu oponente não poderia dizer o mesmo.

O caminho era feito com determinação e atenção absoluta, mesmo que tivessem ganhado o confronto não poderiam baixar a guarda. Não fingiriam que tudo estava bem agora, ainda havia muito a se fazer, muito a que lutar. Estavam ali não para ganhar algo com isso, mas para ajudarem os que precisavam e impedirem atrocidades.

Eventualmente, Malik, depois de perceber a força da justiça vinda do Norte, começou aos poucos a enviar menos alfas e a dar indícios de estar abandonando as terras sulistas da montanha. O quer que estivessem fazendo no Sul estava errado, e o mesmo sabia disso, era fugir ou pagar por seus crimes mais do que havia pegado.

Payne poderia ter ignorado os corpos, pedido para seu bando não comentar sobre isso e mandar queimar os restos mortais. No entanto, isso iria contra o que o Norte acreditava, era contra tudo que os primeiros líderes daquelas terras acreditavam.

O que estava largado na floresta era de uma crueldade absurda, as imagens dos pedaços daqueles pequenos garotos não sairiam das memórias do povo do Norte tão cedo. Era terrível demais para fingirem que o problema não os afetava, e que não era problema deles.

Aquilo poderia ser um sinal de que uma coisa ruim estava por vir... Talvez mais híbridos Liam nem gostava de pensar nessa hipótese, se eles já eram perigosos entre eles com outra espécie isso poderia se agravar.

Os alfas do Sul foram longe demais... Eles só não imaginavam que a realidade era pior do que imaginavam. Não criavam vidas, e sim destruíam.

Como o esperado, as terras que antes fora do domínio de Yeaser estavam arrasadas. Era visível que tentaram destruir o máximo possível das construções que ali existiam, o que não entendiam era porque deixaram um rastro de cheiro para eles seguirem.

Não aparentava ser uma armadilha. O rastro cheirava a dor, desespero e... Sangue. Parecia com o cheiro que estava nos corpos da floresta.

Deixaram os pequenos corpos mortos para eles recolherem? Existia gente ferida ali?

Como o Supremo do Norte, Payne tomou a frente sendo seguido pelos melhores guerreiros - de modo que se fosse uma armadilha poderiam proteger os que vieram como ajuda aos feridos. Logo uma barreira foi feita e começaram a seguir o caminho.

— Se for uma emboscada, quero que os que estiverem mais perto dos pontos de fuga levem os desprotegidos. Levem o pessoal da área da saúde e os que se ferirem.

— Liam, eu fico!

— Styles, você é importante para nosso povo, não se arisque. Aqui não será útil, apenas perderemos uma vida, seu treinamento não foi para batalhas. – Liam disse isso de forma sincera, Harry sabia que não estava o menosprezando, apenas pensando em salvar o máximo de vidas que podia, como um bom líder.

— Você também é importante para nosso povo alfa. – A voz de uma das enfermeiras mais antigas preencheu o ambiente como um luto antecipado, a fala foi retribuída por um sorriso caloroso do líder, ele tinha muito apreço por seu povo.

— Nada vai acontecer, – Luke farejava uma corrente de vento que passou – posso lhes garantir isso. Seja lá o que estiver no final desse "caminho" não é perigo. O aroma me parece morte.

Esse comentário aliviava e preocupava o bando.

Seguiram o caminho mantendo a formação. Conforme chegavam mais perto conseguiam ouvir alguns sons, não eram exatamente palavras, mas mostravam que não era uma armadilha.

A cena era desagradável e desumana. O cheiro era podre. Assim que pousaram os olhos naquelas criaturas ficaram em choque, lágrimas não foram impedidas de cair.

Haviam diversos garotos ali. Entretanto, não eram qualquer tipo de garotos, eram ômegas macho. Ainda pareciam crianças, a desnutrição e os olhos inocentes apenas ressaltavam isso, crianças assustadas e machucadas.

Todos estavam presos pelas mãos e os pés, de forma que estivessem ajoelhados no chão, em posição submissa. Não dava pra saber quantas horas ou dias estavam naquela posição, era visível que estavam assustados, muitos cheiravam a urina.

Uma situação triste e deplorável.

Alguns não aguentaram e vomitaram com a cena que estavam vendo. Quem seria capaz de tamanha crueldade e por quê?

Os ômegas não possuíam mordaças, porém a maioria parecia não conseguir emitir som algum, outros emitiam apenas grunhidos primitivos. Mas, havia um ômega que era diferente dos demais que ali estavam.

Esse ômega estava igualmente machucado e abalado, porém estava em silêncio e possuía uma marca feita na carne (como uma cicatriz) ao lado esquerdo do peito, com a letra "Z". Ele também estava amarrado à frente dos demais, como uma espécie de "líder", parecia como uma piada cruel.

— Vamos! Desamarrem todos, duvido que consigam se mexer então teremos que os carregar, pelas minhas contas são – Harry deu uma pausa e engoliu em seco – quinze ômegas. Não sabemos se existem outras classes ali o cheiro está confuso, porém todos merecem a devida atenção, cada um dos alfas tentará carregar dois e os outros tentem levar um por vez e...

Liam deixou Harry dar as ordens do resgate. Ele parecia o único a conseguir raciocinar depois do choque. Como todos eles ainda estavam vivos em condições tão precárias.

Aos poucos todos foram soltos, e assim como Styles previu não conseguiam manter o peso sobre suas pernas. O fato de estarem nus também não ajudava, eles pareciam estar acostumados com isso mesmo que assustados e envergonhados. Não tinham força para nada era como se fossem bonecos se deixando levar, não conseguiriam se defender.

O ômega com o "Z" estava quieto até Ed (um dos alfas) pegar um garoto loiro que estava próximo ao da marca. Então, a voz saiu desesperada e com um som horrível, era como se estivessem rasgando a garganta do ômega, parecia que ele não a usava a anos.

— Não! Ele não! Ele não! Por favor... Eu deixo você fazer o que quiser comigo, mas o deixe! Eu posso levar ele depois para você! Mas não toca nele! – Era a primeira vez que ouviram uma voz tão perturbada, recebeu a total atenção do bando. Liam resolveu acalma-lo e explicar a situação.

— Ei, se acalme, respire fundo – estava usando um tom de voz que os alfas tinham para acalmarem os ômegas – não vamos machucar vocês. Ninguém nunca mais vai fazer isso. Não somos como eles, ok? – Pegou o garoto nos braços tentando fazê-lo parar de chorar.

— Não! Não! Não! Vocês são piores que eles! Ele falou para mim! Ele falou!

— Quem falou?

— Meu pai. Ele disse! Vocês vão machucar eles, eu não posso deixar, não posso!

— Quem é seu pai ômega?

— Yeaser Malik. – O ex-alfa Supremo do Sul? O que seu filho fazia ali?

—Acalme-se, sim? Estamos levando vocês para o Norte, vamos cuidar de todos.

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Faziam dois dias que estavam ali. Zayn sabia que se passassem mais tempo presos não suportariam, talvez alguns já não tivessem suportado, não havia como saber.

Foram amarrados de maneira que seus corpos ficassem voltados para o lado da floresta, como oferenda para os terríveis do Norte. Todas as aberrações – como o bando os chamavam – já escutaram as histórias de como os do Norte eram, que não consideravam os ômega macho úteis para nada e que os queimavam vivos ainda bebês.

O piedoso líder Yeaser Malik ainda os permitia viver para servir as vontades do povo, assim como tinha que ser, não serviam para mais nada, eram mutações da natureza. Mulheres alfa também eram consideradas anormais, porém nenhuma delas nascia entre eles. O gene para ômegas macho estava no bando como uma maldição.

Zayn como "representante" deles foi o único que ainda possuía cem por cento a capacidade de fala. A maioria, conforme ia crescendo, passava por cirurgias até o décimo quinto aniversário.

Cirurgias para remoção das cordas vocais ou para dificultar a fala, operações nas pernas para só conseguirem andar de quatro como os verdadeiros animais que eram, remoção de todos os pelos corporais do nariz para baixo. Essas eram as "clássicas", mas existiam muitas outras e algumas que ainda estavam sendo testadas, tudo para agradar a quem fossem servir.

Mas, Zayn era especial, ele era filho do líder, então seus gritos de dor e seus juramentos de submissão eram um privilégio para ele (assim dizia seu pai). Ele era o único que ainda podia falar.

Ele falava pelos ômega, e dizia sim ou não por eles. As vezes era uma escolha difícil, mas ele era um "líder", um Malik, então tinha que lidar com isso.

Zayn não sabia que tudo era uma piada para os alfas e as ômegas da matilha. Se divertiam às custas deles, se divertiam ao colocarem dois ômegas a sua frente para ele decidir qual deles seria espancado até a morte. Se divertiam com as lágrimas. Se divertiam quando ele tentava negociar com eles para deixarem seus amigos vivos.

Quando a Guerra começou colocaram culpa neles. Talvez realmente tivessem culpa, mesmo que não soubessem o motivo, eram burros demais para entender. Zayn entendia isso.

Foram abandonados. E era merecido.

Zayn viu um por um dos seus ser amarrado. Achou que ali também seria seu destino, mas em um lugar especial bem à frente de todos, porém teve seu corpo arrastado até os limites da floresta.

Ele não disse uma palavra e procurou não murmurar, sabia que os alfas só gostavam desses sons quando permitiam, e também não sabia o limite do homem que o trouxe ali.

— Sabe, achei um desperdício o líder deixar vocês aqui. Claro que em breve nasceram mais de vocês entre nós, como uma praga, mas pode demorar anos e... Não sei se aguento tanto tempo. – Analisou Zayn de cima a baixo quando o atirou no chão perto de uma árvore — Não faria mal me divertir com você um pouco, para fechar com chave de ouro os "velhos tempos". Logo vai morrer mesmo, posso fazer o que eu quiser com você...

Zayn olhava para o céu nublado tentando se transportar para outro lugar que não fosse ali, tentava se imaginar correndo livre pela floresta com seus amigos. Tudo que ele queria era ser normal.

Quando o alfa acabou o serviço o pegou pelos cabelos novamente e começou a arrastar seu corpo de volta para o lugar onde os outros estavam amarrados. Achou que ele apenas estava o levando para ser preso ali, mas era mais do que isso, estava fazendo com que o cheiro do garoto ficasse impregnado no solo como se este fosse uma folha de papel de Zayn um giz de cera colorido. Aquilo iria atrair os do Norte aos ômegas.

O plano era deixá-los à mercê dos vencedores, como um prêmio pela luta. E também já estavam cansados de terem que cuidar desses ômegas "velhos", não que eles fossem de idade avançada, mas aqueles corpos já estavam muito usados e não tinham mais uma idade "boa" para os abusos. Pois quando cresciam ficavam mais tolerantes a dor, e eles gostavam de ver o sofrimento.

Depois de amarrado com os outros conseguiu ver sua "família" os abandonarem. Estava triste, porém era seu destino e dever, eles eram os culpados e tinham que pagar por isso.

Os dois dias passaram com muito sofrimento. Zayn gritava com a força que tinha palavras de conforto para os outros e os que conseguiam fazer grunhidos o respondiam como podiam. Muitos já haviam morrido?

Veio uma tempestade e lá estavam eles. A fome não era exclusividade daqueles dias, porém parecia pior. Os machucados ardiam, a vontade de ir ao banheiro era gigante e muitos não conseguiram mais segurar. Entretanto, já haviam se acostumado com a sujeira, a nudez, o frio e a fome.

Quando já achava que os do Norte não apareceriam mais e eles morreriam ali viu diversas pessoas desconhecidas se aproximando. A aparência deles não eram assustadora, mas todas as histórias que haviam ouvido apenas os deixavam com muito medo do que iria acontecer.

Conseguiu ouvir barulhos de vômito, sim eles eram desprezíveis mesmo, essa reação a sua condição não foi terrível. O terror se apossou de seu corpo quando ouviu um deles falando que iriam levá-los, o que iriam fazer com eles? Os queimarem vivos.

Depois de um tempo analisando a situação resolveu se pronunciar e tentar negociar pela vida de Niall. Niall Horan era o mais próximo que tinha de melhor amigo, ele havia passado por todos os procedimentos clássicos e sua cirurgia vocal o permitia ruídos. O que o fez se pronunciar para a ajuda do amigo foi saber que o mesmo se encontrava grávido, se ele passasse por mais situações tensas poderia perder o bebê.

Era proibido ômegas machos terem filhos, e quando engravidavam eram obrigados a abortar ou eram mortos junto com o futuro bebê. Mas Niall queria um filhote para si, e todos os outros ficaram maravilhados quando perceberam a gravidez do seu amigo, então escondiam o cheiro do feto como podiam, com algumas ervas roubadas e até sangue, tentariam levar a gravidez adiante custe o que custasse.

Um bebezinho para todos amarem, se ele nascesse alfa talvez o deixassem viver entre os outros. Uma vida normal.

O outro pai era desconhecido. Eles passavam pela mão de tantos homens que era quase impossível saber.

Seu chilique parecia ter adiantado alguma coisa, pois todos o olhares estranhos pararam sobre si. Zayn teve a atenção do que parecia ser o Supremo do Norte, ele estava prometendo proteção.

Proteção de que?

Disse que não eram como os que partiram do Sul. Malik só queria que não machucassem mais seus ômegas, tentaria negociar sua vida por isso se precisasse, era isso que um líder faria.

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