Capítulo 4: Revelações e Tensões

A sala ainda parecia eletrizada pelo momento anterior, o ar pesado após a entrada explosiva de Stiles. Todos encaravam Liam e Theo, tentando processar o que tinham acabado de presenciar. O beijo entre os dois.

Stiles foi o primeiro a quebrar o silêncio, apontando freneticamente para os dois como se fossem peças de um quebra-cabeça quebrado.

— Alguém me explica isso! Porque, sério, Liam, ele? O Theo? Depois de tudo que esse cara fez? Isso é algum tipo de piada? — ele falou com gestos amplos, a incredulidade pulsando em cada palavra.

Malia estava encostada contra a parede, os braços cruzados e o olhar como uma lâmina apontada para Theo.

— Ele tem razão. Isso é... estúpido. Você perdeu a cabeça, Liam? Theo não é confiável, e nunca foi.

Liam respirou fundo, tentando conter a frustração. Ele sabia que a reação seria negativa, mas as palavras de Stiles e Malia ainda cortavam mais fundo do que ele esperava. Quando abriu a boca para responder, Scott o interrompeu, seu rosto carregando uma mistura de choque e confusão.

— Espera aí, Liam... Eu... não sabia que você era... gay?

Liam voltou o olhar para Scott, sentindo o peso da tensão no ar. Ele já esperava essa pergunta.

— Nem eu sabia, Scott... Até que terminei com a Hayden. — Liam passou uma mão pelo cabelo, tentando encontrar as palavras certas. — Mas isso não importa agora. O que importa é que eu sei quem eu sou, e o Theo faz parte disso.

A sala ficou em silêncio novamente, mas Malia balançou a cabeça, um sorriso cínico se formando.

— O Theo "faz parte disso"? Liam, você sabe quem ele é. Ele manipulou, mentiu, usou todos nós pra conseguir o que queria. E agora você acha que ele mudou?

Antes que Liam pudesse responder, Theo se colocou entre ele e Malia. Seu olhar era frio, mas o jeito como ele posicionou o corpo sugeria algo mais protetor do que ameaçador.

— Olha, eu entendo que você não goste de mim, Malia, e nem tô pedindo pra você mudar de ideia. — A voz de Theo era controlada, mas havia uma ponta de irritação. —  Mas se você tem algum problema, fala comigo. Não com ele.

Malia estreitou os olhos, erguendo o queixo desafiadoramente.

— Você acha que me assusta, Theo? Não vou confiar em você só porque resolveu bancar o herói do Liam agora.

Liam deu um passo à frente, interrompendo antes que a discussão escalasse.

— Chega! — Sua voz soou firme, embora estivesse claro que ele estava se segurando para não perder a calma. Ele olhou para Malia e depois para Stiles. —  Eu sei o que o Theo fez. Eu não tô pedindo pra ninguém esquecer o passado. Só tô pedindo que vocês confiem em mim.

Stiles soltou uma risada amarga.

— Confiar em você? Porque você acha que ele mudou? Que ótimo critério, Liam. E quanto ao que ele vai fazer depois? Você acha que ele não tá escondendo algo? Ele sempre tem um plano.

Liam fechou os punhos ao lado do corpo, sua voz saiu em um tom mais elevado.

— Você não sabe o que a gente passou juntos, Stiles! Ele teve milhares de chances de me abandonar ou me trair, e ele não fez isso! Ele ficou, comigo, contra tudo!

— Ele ficou porque precisa de você pra algo, Liam! Ele sempre precisa de algo! — Stiles retrucou.

O ar parecia prestes a explodir quando Lydia ergueu a mão, sua voz cortando o ambiente.

—  Chega! — ela falou, olhando para todos. —  Stiles, Malia... talvez seja desconfortável pra vocês, mas quem somos nós pra decidir com quem o Liam pode estar? Se ele confia no Theo, não temos o direito de nos meter.

Malia cruzou os braços e desviou o olhar, claramente insatisfeita, mas ficou em silêncio.

Nesse momento, a porta abriu bruscamente, e Derek entrou, sua expressão séria como sempre. Ele olhou ao redor, absorvendo a tensão na sala, antes de focar em Theo e Liam.

— Já começou o caos? —  Ele perguntou, com um tom seco. Caminhou lentamente até o centro do grupo, cruzando os braços, enquanto analisava tudo atentamente. — Isso aqui tá familiar demais, Scott. lembra daquilo que Deaton nos falou a algumas semanas atrás sobre os soulmates?

Stiles bufou.

— Lá vem você com lições enigmáticas. Só diga o que quer dizer, Derek?

Derek olhou para Stiles, mas sua atenção voltou rapidamente para Liam e Theo.

— O que quero dizer é que, às vezes, as coisas não precisam fazer sentido pra gente. Vocês podem não gostar, podem não confiar, mas esses dois... —  Ele gesticulou levemente para Liam e Theo. —  Existe uma ligação entre eles diferente. — Disse Derek, analisando-os com atenção. — Não dá pra apagar isso, eles são soulmates almas gêmeas, não é a nossa decisão interferir nessa ligação.

Stiles ia responder, mas Derek ergueu a mão, o cortando.

— Já vimos como alianças impossíveis se tornam as mais fortes. O Liam sabe o que está fazendo. Não sejam idiotas.

Scott assentiu lentamente, respirando fundo.

—  Tudo bem... Liam, se você acredita nisso, eu vou apoiar você. Não vai ser fácil pra gente... — Ele olhou para Theo, sua expressão ainda cautelosa. — Mas eu confio em você.

Malia suspirou e saiu da sala, ainda sem dizer mais nada. Stiles lançou um último olhar irritado para Theo antes de murmurar:

— Isso não acabou, Theo. Não confio em você, e nunca vou.

Depois que todos saíram, Theo olhou para Liam, um pequeno sorriso nos lábios.

— Parece que não vai ser tão fácil, hein?

Liam sorriu de volta, relaxando pela primeira vez em horas.

— Quem disse que seria?

Theo olhou para Liam, a intensidade no olhar dele contrastando com a expressão relaxada.

— Parece que você tá disposto a brigar por mim, lobinho. — Theo sorriu de canto.

— E sempre vou estar. — Liam respondeu.

A caminhonete de Theo seguia pelas ruas silenciosas de Beacon Hills. Dentro do veículo, Liam estava quieto, ainda digerindo o caos do hospital. Theo, no entanto, parecia completamente tranquilo, a mão relaxada no volante, os olhos fixos na estrada como se nada pudesse abalar sua confiança.

Liam olhava de soslaio para ele. Tentava encontrar as palavras certas para a pergunta que não parava de rodear sua mente.

— Theo, onde... — Liam começou, hesitante.

Theo arqueou uma sobrancelha, desviando brevemente o olhar para o garoto ao seu lado.

— O que foi, lobinho? Vai me perguntar por que eu sou tão irresistível ou algo assim? — Theo brincou, um sorriso malicioso brincando em seus lábios.

Liam revirou os olhos, desviando o rosto para disfarçar o leve rubor que subia pelo seu pescoço.

— Não... só... Onde você mora? — Ele finalmente soltou, direto.

Theo pareceu surpreso pela pergunta. O sorriso em seus lábios vacilou por um instante antes de ele voltar a exibir aquele ar despreocupado.

— Por que a pergunta, Liam? Tá preocupado comigo? — Theo provocou, um tom de desafio na voz.

— Não é isso. Só... você nunca mencionou onde mora. Sei lá, pensei que talvez você tivesse se estabilizado agora que voltou para Beacon Hills.

Theo riu baixo e deu de ombros, como se a resposta fosse óbvia.

— Tenho um lugar sim, lobinho. Nada impressionante, mas dá conta do recado.

Liam inclinou a cabeça, desconfiado. Ele conhecia aquele tom casual o suficiente para saber que Theo estava escondendo alguma coisa.

— Tipo um apartamento?

— Isso. Um apartamento pequeno. Mas sabe como é, funcional —  Theo mentiu sem hesitar, suas palavras saindo tão naturais quanto sua pose descontraída ao volante.

Liam estreitou os olhos, mas resolveu deixar a conversa para lá. Talvez ele estivesse exagerando.

— Tá, tanto faz.

Eles ficaram em silêncio por alguns minutos até Theo estacionar em frente à casa de Liam. Desligando o motor, ele virou-se para o garoto, observando-o com aquele olhar cheio de algo que Liam não conseguia decifrar completamente.

— Bom, foi divertido. Apesar de toda a confusão no hospital, valeu por me defender.

— Eu não defendi você, Theo. Eu só... expliquei o que você realmente fez. —  Liam cruzou os braços, tentando soar firme, mas falhando miseravelmente quando viu o sorriso de canto no rosto de Theo.

— Claro, lobinho. Claro.

Theo saiu da caminhonete e deu a volta para abrir a porta de Liam. Ele parou próximo o suficiente para que Liam sentisse a presença dele, tão segura e inquietante ao mesmo tempo.

— Boa noite, Liam. — Theo falou baixinho, mas havia algo na maneira como ele pronunciou o nome dele que fazia o coração de Liam acelerar.

Liam saiu da caminhonete, mas Theo segurou a porta antes que ele pudesse fechá-la.

— Boa noite, Theo. —  Liam respondeu apressado, virando-se para ir até a porta da casa, a respiração instável. Mas antes que pudesse dar um passo para dentro de casa, Theo se aproximou. A distância entre eles já era mínima, mas Theo diminuiu ainda mais, capturando a atenção de Liam. O olhar de Theo era intenso, seu sorriso irônico misturado a algo mais profundo. Era impossível ignorar o magnetismo que Theo exalava naquela hora.

Então, com um movimento surpreendente, Theo puxou Liam pela cintura, suas mãos firmes, mas gentis. O contato foi imediato, instantâneo, e o coração de Liam disparou como se tivesse tomado um choque. Theo se aproximou ainda mais e, antes que Liam pudesse protestar ou tentar falar algo, os lábios de Theo encontraram os seus.

Foi um beijo intenso, cálido e inebriante. Os lábios de Theo moviam -se sobre os de Liam com uma intensidade calma, mas avassaladora. A maneira como os corpos se encontravam fez com que o mundo desaparecesse ao redor deles, deixando apenas a pulsação rápida e a sensação quente da proximidade. Theo segurou Liam pela cintura com mais firmeza, impedindo que ele se afastasse, e Liam, com uma pequena hesitação, correspondera, caindo naquele turbilhão de sensações.

O tempo parecia ter parado enquanto os dois se entregavam a esse momento em silêncio, com a respiração deles se entrelaçando. Theo não parava de desafiar Liam, nem mesmo com a suavidade do beijo, e, por instantes, Liam perdeu o controle. O jeito desinibido e seguro de Theo se manifestava de forma tão clara e com tanta força que o deixava tonto.

Quando Theo finalmente se afastou, Liam sentiu-se imediatamente ansioso, como se uma parte de si ainda quisesse ficar naquele momento. Theo, com um sorriso travesso nos lábios e ainda com a mão firme na cintura de Liam, encostou sua testa contra a de Liam, os dois respirando um na presença do outro, compartilhando a mesma energia.

— Agora sim... — Theo sussurrou baixinho, e Liam sentiu um calafrio, mas também um impulso no estômago que o fazia sorrir sem querer. — Boa noite, baby.

E, como se a despedida de antes não fosse o suficiente, Theo deu um leve beijo na testa de Liam, suave, mas com a mesma intensidade de antes. Era uma sensação de carinho, mas também de possessividade, de algo que ainda estava em aberto, que os dois sabiam que precisavam explorar. Aquele toque era cheio de promessas não ditas.

Liam ficou ali, parado por alguns segundos, sentindo o calor da interação em seu rosto e no peito. Theo, sorrindo satisfeito com o efeito que causara, deu alguns passos para trás, se virando para a caminhonete. Sem uma palavra, a porta do veículo se fechou com um suave estalo.

— Boa noite, Theo... — Liam murmurou para si mesmo enquanto observava Theo dar partida e desaparecer na noite, com um sentimento inusitado tomando conta dele, algo entre inquietação e uma certeza que ele ainda não estava preparado para lidar.

O silêncio da noite se instalou novamente, mas agora, para Liam, tudo parecia diferente.

Enquanto isso, na caminhonete, Theo dirigia pela cidade até estacionar em seu ponto habitual: o parque da escola. Ele desligou o motor e soltou um longo suspiro.

De alguma forma, ele sabia que, com Liam, as coisas sempre seriam complicadas, mas talvez, apenas talvez, isso fosse exatamente o que ele precisava.

Enrolando-se com o cobertor no banco traseiro, Theo fechou os olhos, sussurrando para o silêncio antes de adormecer.

— Boa noite lobinho, me desculpe por ter mentindo para você..... Só não quero que você se preocupe comigo....