4# - O Pacto de Um Caçador
Desespero. Esta palavra é a que nomeia atos irresponsáveis que cometemos só para nos livrarmos de uma situação que pode custar algo bem importante como a vida.
Esta mesma palavra revela o quão egoísta a humanidade é, que para escapar do problema é capaz de oferecer algo que nem é de sua posse. Então a palavra em conta neste capítulo é Desespero.
-----------------------///--------------------------
- Como isto aconteceu? - perguntava a mim mesma várias vezes, eu havia morrido de uma maneira desagradável, e agora estou sozinha nesta sala escura e sem portas. Será que ficarei aqui para sempre a olhar para esta merda de TV? - Não pode ser... alguém me tire daqui!
- Yumi Brahams, 16 anos, resultado da união entre um americano e uma asiática, residente de SoularVille, Califórnia, Estados Unidos - dizia um homem saindo da escuridão, as vestes eram completamente negras com capuz e carregava uma foice - O meu nome é Pedro, mas sou conhecido popularmente na terra como "morte" e este é o purgatório.
- Espera aí, Pedro, o Apóstolo? - fiquei indignada, eu sabia de muitas coisas na Bíblia, mas nunca tinha lido onde mencionava que ele era o que é agora - E o purgatório é mais macabro e sem graça do que realmente achava.
- Sim, sou eu mesmo, e se pensavas que serias julgada por anjos bonitinhos, devias ter sobrevivido até a segunda vinda do Messias - ele sentou-se do outro lado da mesa com um tablet e uma balança - Eu julgarei você em nome do Senhor.
Juntou as mãos e as afastou rapidamente fazendo uma lista enorme aparecer holograficamente com várias informações.
- Que listas são essas? - não conseguia ler devido ao seu tamanho e quantidade de contexto, mas eram datas acompanhadas por frases.
- É a sua lista de pecados - olhou para a lista e deslizou um pouco para baixo - Pelo que vejo, a tua vida foi de idas e vindas, mas...
- Mas o quê? - fiquei nervosa, se ele tinha a lista de todos os meus pecados, isso queria dizer que...
- Este pecado em específico - clicou em um dos ícones e expandiu em vídeo, era a última coisa que eu queria ver - 12 de setembro de 2017, exatamente dois anos atrás, torturaste um alegado estuprador até a morte, e eu nunca imaginei que uma garota de 14 anos manuseava um martelo desse tamanho com tanta facilidade.
Um dos vídeos começou a reproduzir, e eu claramente ouvia os gritos de dor do garoto enquanto eu esmagava os dedos dele com um martelo de construção, então imediatamente tapei os ouvidos.
- Não, não, não, ele era uma má pessoa, merecia isso - cobri a minha cabeça e comecei a chorar. Ele abriu feridas que já tinham sarado a muito tempo - Desliga isso!
- Olha a tua cara de satisfação, você gostou de fazer isso - Pedro bateu na mesa - Você acha tinhas o direito de fazer isso com ele, mesmo existindo vias mais apropriadas para puni-lo. Tal como você e ele, todo mundo merece uma segunda oportunidade, ele poderia ter sido encarcerado e talvez achasse uma redenção, e você privou isso dele. Agora por sua culpa, eu tive de mandá-lo lá pra baixo, pra sempre.
Eu via tristeza e raiva nos olhos dele, eu pensava que santos não manifestavam nenhum tipo de emoção, mas parece que era só mesmo no papel que esse facto era verídico.
- Pessoas nojentas como ele não merecem a salvação! - Quem me dera não ter dito aqui, até porque no momento seguinte levei um soco tão forte que me fez embater contra a parede atrás de mim.
- E quem disse que uma vadia egoísta e orgulhosa como você que passa por cima de todos é diferente dele? - caminhou até mim e agachou - agora vais fazer companhia naquele rapaz que mataste pra sempre, eu verei o teu sofrimento de camarote e sei que irei gostar muito.
Prestes a me mandar para baixo com um simples estalar de dedos, tomei uma atitude desesperada:
- Espera, eu faço qualquer coisa para me redimir - falei com dificuldade, já que o soco havia quebrado a minha mandíbula, mas eu não sentia nada - Não importa o que seja, eu farei.
- Qualquer coisa...essas duas palavras são bem perigosas - Pensou um pouco, depois levantou e começou a andar pela sala, continuando a pensar. Parou e estalou os dedos, foi quando um papel branco e uma caneta apareceram nas mãos dele, então ele sentou e começou a escrever - Senta-te.
Após algumas tentativas, felizmente consegui voltar a minha boca no devido lugar, sentei e ele me entregou a caneta e o papel.
- O que é isto? - era uma espécie de contrato, mas chutei que estava escrito em hebraico, ou era o que parecia.
- Se assinares isso, serás minha subordinada por um tempo indeterminado, voltarás para o mundo dos vivos na mesma cidade, mas com um novo corpo.
- E qual seria o meu trabalho? - continuava sem entender nada.
- Cuidar das pontas soltas - clicou no tablet e vários vídeos amadores estranhos apareceram - Como podes ver, SoularVille é uma das cidades com maior índice de atividade espiritual ou paranormal no mundo, nem Transilvânia chega aos pés dela, então vais capturá-los por mim, e quem sabe talvez matar alguns, o que achas?
- Não parece que tenho escolha... - assinei o contrato - Então e agora?
- És oficialmente uma caçadora, o pacto foi concluído - Levantou cadeira me encarando - Logo que voltares, fala com o Alfred, ele vai te dar todas as orientações.
- Certo, mas tenho uma última pergunta, será que eu posso interagir com as pessoas da minha vida passada.
- Obviamente que sim, mas se eles descobrirem quem você realmente é, irão morrer bem na tua frente, cortesia minha. Agora desaparece da minha vista porque tenho coisas melhores para fazer.
Ele estalou os dedos e de repente vi-me em um túnel onde haviam aros de luz que brilhavam com mais intensidade a cada vez que eu passava por eles.
Acordo ofegante. Estava em uma espécie de apartamento barato deitada em uma cama desarrumada usando apenas roupa interior.
- Parece que finalmente chegaste - disse um jovem ruivo e bonitão também de roupa interior saindo do banheiro - Bem-vinda de volta.
- Puta que pariu, você me assustou - disse após rebolar rapidamente para fora da cama, meti a mão à frente da cara para evitar olhar onde não deveria - Então, tu deves ser o Alfred...
- Em carne e osso, apesar da minha aparência original ter sido mais atraente - olhou para o espelho e pegou em seu próprio rosto - E não te preocupes, você é bem bonita, para uma simples garota japonesa.
- Como assim, dá-me cá isso - recebi o espelho e ele tinha razão, eu tinha me tornado uma garotinha japonesa de cabelo preto, liso, bem penteado e curto - Comparando com o meu corpo original, os meus peitos agora são menores, mas a bunda aumentou ligeiramen...
- Tens noção de que não estás sozinha, certo? - disse Alfred apoiado a parede com os braços cruzados - Enfim, aqui está o teu equipamento e vestuário. Veste rápido que daqui a 15 minutos vamos nos encontrar com o resto do pessoal.
Recebi a pasta e fechei a porta. Comecei a tirar as coisas e a pousar no lavatório, quando pego na roupa, encontro uma surpresa desagradável.
- Sério mesmo, um uniforme colegial japonês, só podes estar de sacanagem comigo.
- Cortesia do Sr. Pedro, então se quiseres reclamar, fala com ele, mas por agora terás de vestir isso daí mesmo.
- Que merda - não tive escolha, tive de vestir o uniforme. Até as meias altas eu meti devido ao tamanho reduzido da saia. Havia dois coldres, uma com a faca e outra com uma pistola 9mm. Meti no sítio mais discreto possível, em cada uma das minhas coxas para a saia tentar esconder tudo.
Para o final, amarrei o coldre com duas espadas samurais na cintura e sai do banheiro onde Alfred já estava pronto e a minha espera.
- Curioso, até pareces uma guerreira dos tempos modernos - disse dando uma leve risada e abriu a porta - Deixa essas espadas aí, nós já não estamos no Japão Antigo.
- Apesar de eu ter lido muito manga de SwordMan Japan, não acho que saberia usá-las devidamente no lugar de uma pistola - Atirei em cima da cama e saímos. Pelos vistos ele estava hospedado em um motel bem meia boca na baixa da cidade, o que era aceitável no máximo.
Atravessamos a estrada e entramos em um restaurante de fast food.
- Ali estão elas, vem comigo - sentamos onde duas mulheres, uma loira e uma morena, estavam comendo fartamente - Bom dia e bom apetite para vocês, está é a Yumi, mas a partir de agora é Yin, e é a nossa nova companheira.
- A novata, certo? - disse a loira após dar um golo em seu refrigerante - Eu sou a Rose e ela é a Naomi.
- Prazer em conhecer vocês, espero que... - Naomi me interrompeu com uma leve tossida, claramente ela não queria saber do que eu tinha para falar, então calei.
- Boa menina, vês aquele cara ali?
- Sim, parece ser o gerente, o que tem?
- Ele é um demônio disfarçado de humano, vai lá e acaba com ele - Eu fiquei espantada. Havia chegado a menos de meia hora e ela queria que eu matasse sem treino e conhecimento, este dia podia piorar - Considera isto a tua primeira caçada, vai ser canja.
- Mas eu não sei como matar um demônio.
- É bem simples, tens uma arma e uma faca debaixo dessa mini saia certo, então vai lá e dá um tiro no meio da testa dele e ponto final.
- Com esta gente toda aqui?
- Yumi, tu querias isto ou não, se sim, então vai lá e faz a porra do teu trabalho agora!...
Fim do capítulo.
Bạn đang đọc truyện trên: AzTruyen.Top