16# - O Bom, o Mau, e o que é Certo
- Chegamos ao nosso destino, e segundo o meu marido, Belzebu está ali - disse Lilith parando o seu carro perto de um edifício estava visivelmente abandonado. Nós estávamos praticamente no meio do nada e já eram 3 da tarde, mas o sol não dava as caras devido às nuvens espessas que indicavam uma chuva em breve - Ainda não me contaste o plano...
Ela deslizou o carro olhando para mim e se assustando por eu estar com o rosto bem perto olhando fixamente para ela.
- Ainda não entendi o porquê você é linda pra caralho, apesar não seres um anjo - Às vezes, eu não consigo evitar momentos como esse para dizer o que eu quero. Passei a mão na cara dela sentindo a sua pele perfeitamente lisa e macia - Como você não envelheceu e morreu igual Adão e Eva, e continua do mesmo jeito que a 7 mil anos atrás?
- Acho que você esqueceu de um detalhe - respondeu ela tirando a minha mão de sua cara - A fruta que Lúcifer fez eles comerem abriu seus olhos, mas como consequência, deu início ao ciclo de vida para os seres humanos, e eu não faço parte dele. Tens mais alguma inquietação, ou podemos ir?
- Sim, eu tenho mais uma... - disse checando primeiro a minha arma - Porque a Naomi?; com tanto ser humano menos desprezível por aí.
- Eu compreendo que você não gosta dela, mas ela me completa e... - Ela olha pra minha cara de alguém pouco convencido - Óbvio que você não vai engolir essa..., é o sexo..., ela é uma das pessoas que encontrei nesses milênios que faz gostosinho, satisfeita?; podemos ir agora?
- Valeu pela sinceridade, agora vamos lá salvar ela - entreguei a pistola nela e abro a porta do carro - Vigia a minha retaguarda porque não sabemos o que iremos encontrar lá.
O edifício em questão era uma antiga estação policial dos anos 60, que foi transferida para o centro da cidade por motivos visivelmente óbvios. Entramos lentamente e estava deserta.
- Será que eles foram embora? - perguntou Lilith batendo no computador antigo na recepção - Nem eletricidade tem aqui.
- Não acho, senão Lúcifer nem iria mandar a gente aqui - respondi apontando para um corredor extenso - Vamos continuar a procurar, mas não baixa a guarda.
Andamos por aquele corredor que havia sido abandonado há anos, mas olhando para aquele chão cheio de poeira, haviam pegadas que davam até a última porta, e indo até lá encontramos várias celas e Belzebu estava sentado em uma delas, inconsciente e com as mãos acorrentadas nas grades.
- Lá está ele - disse Lilith correndo até a porta da cela, mas um cadeado novinho em folha impediu que ela abrisse - Me ajuda aqui.
- Acho que é meio óbvio que sem a combinação isso não abre, mas deixa eu tentar a minha chave mestra - apontei a pistola para o cadeado, mas eu não contava que antes de eu disparar, uma granada rolaria até o meu pé - Porra!
Empurrei Lilith, e apenas tive tempo de dar dois passos para trás antes da explosão me jogar contra a parede. Mal tive tempo de recuperar os sentidos que um cano de rifle é encostado na minha cabeça.
- Parada aí, nem vale a pena tentar nenhuma gracinha - quando olhei era uma mulher de máscara e cabelos ruivos. Tentei agarrar na arma, mas recebo uma coronhada no meio da testa me fazendo desmaiar - Ei, acorda!
Abro rapidamente os olhos e estava sentada em uma espécie de sala de interrogatórios, mas a quantidade de sujidade e poeira por todo lado me dizia que ainda estava na delegacia.
As minhas mãos estavam presas a uma mesa velha por algemas enferrujadas, e na minha frente estava uma garotinha de cabelos azuis sentada e fumava calmamente um cigarro olhando pra mim.
E ao seu lado estava em pé, a mulher ruiva que tirou a sua máscara, revelando seu rosto bonito com uma cicatriz na sua bochecha, e os seus olhos estavam vazios como se um trauma tivesse levado a sua alma pra longe.
- E você não é muito nova para fumar? - Perguntei verificando os ferimentos na minha cara.
- Eu tenho uma patologia rara que envolve a falta de algumas células importantes para o meu crescimento, isso quer dizer que a minha aparência é bem desproporcional a minha idade - disse ela dando uma última tragada e apagou o cigarro - Mas agora vamos falar de você e a tua amiga miss universo, quem são vocês e o que vieram fazer aqui?
Lilith estava no canto da sala amarrada e amordaçada, permitindo ela olhar e apreciar o interrogatório.
- Somos apenas duas simples garotas perdidas e assustadas que acabaram aqui ao acaso, nada além disso - Após eu dizer isso, a ruiva simplesmente vai até Lilith, levanta ela e dá um tiro a queima-roupa no seu ombro, fazendo ela dar um grito abafado de dor - Puta que pariu, porque você fez isso!?!
- Não é óbvio, você acabou de mentir pra mim - ela abriu uma sacola deitando todo o meu equipamento sobre a mesa e levantou mostrando cada coisa - Duas simples garotas assustadas e perdidas não andam com armamento militar e um carro de luxo a prova de balas.
Sentou e meteu outro cigarro na boca, tentando acendê-lo sem sucesso com um isqueiro barato.
- Já que você já sabe tudo, porque não faz as honras e tira as palavras da minha boca? - gritei olhando para Lilith caída, chorando devido à dor.
- Você é uma caçadora, e isto daqui é a prova disso - mostrou uma ligadura encharcada com o líquido azul e passou no meu rosto, e o meu hematoma e os ferimentos de estilhaços da granada desapareceram rapidamente - Isto funciona em vocês e não em nós, humanos simples e frágeis, e ela..., por que você trouxe uma civil aqui?
- Acho que isso não é relevante agora..., mas olha aqui - me aproximei um pouco dela e continuei - A pessoa que me mandou vir pegá-lo está com a minha parceira de trabalho, e se eu não voltar com o que ele pediu, a minha parceira irá ser mais uma percentagem no tráfico humano...
- Interessante, mas e que tal fazermos um acordo...? - Vasculhou as minhas coisas a procura de um isqueiro e acabou encontrando a minha caixa de "pastilhas" - meu sabor favorito, importas-te de eu pegar?
- Só se deres pra mim também - ela me entregou e juntas metemos na boca - Muito gostoso, né?
- Isso mes... - de repente, ela cai no chão e começa a ter convulsões. Tal como o líquido azul, as pastilhas não funcionam em humanos e o corpo deles rejeita, causando uma espécie de reação alérgica temporária.
- Senhora, o que aconteceu? - perguntou a ruiva preocupada indo ajudar ela - O que você fez?
- Eu não fiz nada a ela, mas agora irei fazer com você - Sob o efeito da pastilha, quebro as correntes dando um pontapé na mesa fazendo embater na cara dela, deixando ela atordoada, e então corro metendo o meu braço e volta de seu pescoço apertando com força - Hora de dormir, vadia.
Não demorou muito para ela desmaiar, então fui até Lilith deitando ela sobre a mesa, tirando as amarras e a fita que tapava a sua boca.
- Porra, porque simplesmente não falou a verdade! - gritou limpando as lágrimas, e quando eu entornei um pouco de líquido azul sobre a minha faca, ela olha pra mim assustada - O que você vai fazer?
- Essa bala em seu ombro não vai sair sozinha - Quando eu agarrei em seu ombro, ela começou a debater-se tentado fugir. Eu sabia que aquilo iria doer, mas os ensinamentos de Alfred falaram mais alto, quanto mais cedo a bala sair, melhor - Fica quieta, que isso vai ser rápido.
- Espera, espera, não, ah! - quando a ponta da faca entrou no ferimento, ela tentou levantar devido à dor, o que me deixou sem escolha senão agarrar em seu pescoço e comecei a apertar aos poucos, impedindo ela de respirar - hmmm!
- Está quase lá, aguenta mais um pouco - ela aos poucos se debatia menos, mas não demorou muito para a ponta da faca chegar até o fundo da bala, me permitindo puxar para fora, largando o seu pescoço em seguida - Já está, não custou assim tanto...
- Sua filha da... - uma onda de tosses impediu ela de terminar a frase, e enquanto eu revistava a ruiva, ela tentou levantar caindo de cara no chão.
- Jackpot! - disse tirando um pequeno cantil de um dos bolsos, e cheirando o seu conteúdo era sem dúvidas, whiskey, então fui até Lilith e virei ela despejando em sua ferida, fazendo ela gritar bem alto - Se acalma, que já terminou...
- O que fiz para merecer isso!?!
- Dormiste com a vadia errada, agora levanta - ajudei ela metendo o seu braço a volta do meu pescoço, e começamos a andar. A garota de cabelos azuis estava recuperando os sentidos levantando lentamente a cabeça, mas eu passei por ela chutando bem no meio da sua cara, fazendo ela desmaiar outra vez - Parece que o trabalho já está concluído, vamos lá pegar aquele idiota na cela para irmos embora.
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- Você deixou aquelas duas lá vivas? - disse Lúcifer enquanto despejava várias gotas de seu sangue no ferimento de Lilith, deixando completamente curado e sem cicatrizes. Passou a mão na cara dela e sentou olhando pra mim - Você tem noção do que elas são capazes se encontrarem vocês.
Nós estávamos na cozinha, havíamos chegado a pouco tempo, então levantei olhando pra ele.
- Eu já desconfiava que falarias isso, então eu me antecipei - Tirei um isqueiro do bolso e o som do estalo que fez ao acender me fez mergulhar nas minhas lembranças, me levando de volta àquela sala de interrogatório velha.
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- Você não pode fazer isso, vamos conversar primeiro! - Eu estava em pé com o mesmo isqueiro em uma das mãos queimando um pedaço de jornal, e lá estavam a mulher ruiva e a garotinha de cabelos azuis amarradas em suas respetivas cadeiras em cada lado da mesa no meio daquela sala cheia de poeira. O cheiro de gasolina por toda a parte deixava o ar pesado para respirar pra mim, nem imagino para elas que estavam molhadas com o mesmo liquido - Você acha que ninguém virá a nossa procura, se não dermos algum sinal de vida?!?
- Isso se acharem os vossos corpos, e eu me certificarem que ninguém fará isso... - respondi para a de cabelos azuis, mostrando os celulares e carteira delas, após isso, retirei os seus cartões de trabalho e comecei a ler - Então, o teu nome é Eliseu, e a maria-rapaz aqui, Penélope. Eu me certificarei de gravar os seus nomes bem no fundo da minha mente.
- Quando eu me soltar, eu garanto que a tua morte será bem lenta e dolorosa - disse olhando para mim com um ar assustador.
- Falas muito para um cadáver, e eu vou adorar ouvir a tua voz de menininha após o fogo queimar toda a tua masculinidade - Após dizer isso, comecei a andar para fora da sala, e antes de sair, joguei o jornal em cima da mesa cheia de gasolina e o fogo nem demorou 5 segundos para atingir as duas, que gritavam de dor com todos as forças - Até mais vadias.
Bastou dar alguns passos, e no nada, a imagem da minha mãe queimando passa pela minha mente me fazendo agachar e tapar os ouvidos, mas os gritos delas só aumentavam, então comecei a respirar várias vezes tentando me acalmar.
- Nada disso é real..., nada disso é real... - repeti algumas vezes até os gritos cessarem, deixando o som do fogo queimando as coisas reinar.
Então, rapidamente saio do edifício entrando no carro onde Lilith estava no lugar do condutor, e Belzebu estava no banco de trás ainda desacordado.
- O que fez com elas duas? - perguntou e não consegui responder, então ela liga o carro pegando a estrada, olhou de novo para minhas mãos que estavam tremendo muito - Você está bem?
- Apenas fiz o que tinha de ser feito - A cada metro que o carro se afastava do local, mais rápido o edifício era consumido pelas chamas - Não te preocupes comigo...
Se você o diz, eu não irei insistir, agora por favor, me dá a caixa de cigarros no porta-luvas - disse apontando para o compartimento na minha frente, então eu abri e pego a caixinha branca e entrego pra ela - Muito obrigado.
- Você sempre fumou? - pergunto olhando atentamente pra ela.
- Bem, só em ocasiões como essa, me ajuda a esquecer mais rápido - ela abriu a caixa e tirou um cigarro colocando na boca, e começou a olhar para todos os lados, deitando os seus lindos olhos azuis-claros em mim no final - Tem lume aí?
- Tenho sim - Tirei o isqueiro do bolso e acendi, terminando o meu mergulho nas minhas lembranças me devolvendo naquela cozinha.
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Parei de olhar para a chama, fechando o isqueiro, terminando de contar o que aconteceu.
- Você não para de me surpreender, e assim abre o teu ciclo de insanidade - começou a girar sua mão apontando o dedo indicador - Fetiches macabros, inocentes morrendo, e várias coisas ruins que surgirão no teu caminho, e você irá apertar no gatilho outra vez, e outra vez, e outra vez, pensando que tudo vai acabar, que o dia seguinte vai estar melhor, mas você sabe que é mentira, e quanto a tua mente colapsar, você vai encostar a arma na própria cabeça, e nesse momento você vai lembrar que não pode escapar, porque no final esse é o teu castigo, esse é o teu inferno.
- Para com isso, amor, não precisa sobrecarregar ela desse jeito - respondeu Lilith se levantando - Quem sabe ela terá mais sorte do que outros caçadores, temos sempre de ter fé e esperança.
- Diz isso para um humano comum, nós não vivemos a base disso, não há esperança para nenhum de nós, e não importa o que tentamos para sair da lama, sempre voltamos pra ela, eu sempre voltei... - Olhou para baixo por um segundo, então levantou batendo duas vezes no meu braço e fez sinal para Lilith seguir ele até a porta - Melhor você dar uma olhada na sua parceira, parece que acabei "quebrando" ela "sem querer".
Fechou a porta me deixando a olhar para minhas mãos que continuavam a tremer. Eu já tinha a noção de que em algum momento isso aconteceria, mas até quando iria aguentar até colapsar?
E se Alfred, Naomi e Rose não demostravam que estavam assim, porque eu iria?
O que fez ele dizer aquilo?
Acho que mais uma vez, só o tempo poderá me dirá...
Fim de Capítulo.
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