Sou um verdadeiro romancista!
Ter você do meu lado é a coisa mais preciosa que o mundo poderia me proporcionar neste único e passageiro fragmento do tempo, que nunca, nunca para. E mesmo sendo apenas um perto dos outros; mesmo sendo só tostões de segundos que se não somados, dão em nada lá e cá, este momento — este, e apenas este —, sob a esclera das minhas primaveras, é justo aquele que mais passo o tempo vivendo e revivendo, por cada segundo, que transformo em horas e horas, apenas para nunca esquecer o seu toque lindo ao meu; sua boca flamejante à minha; os sorrisos encantadores que soltamos à simples palavra dita; e o silêncio mordaz que repousa sob os recantos mais tímidos do meu lábio adocicado, quando caio em jus contemplação ao vislumbrar a aurora resplandecente que habita seus olhos de esfinge!
Ah, o silêncio! Seria possível você acreditar nas meias-palavras do homem ao qual se apaixonou? Ha! O que tenho a dizer agora facilmente seria visto como uma boba história de amor para deixar-te feliz e, talvez, ganhar mais alguns beijos seus. Mas digo isto com todo meu coração.
O silêncio! Sabia que já me perguntei tanto, mas tanto, se meu silêncio introspectivo tornava o tempo em coisas chatas? Pode parecer estranho visto dessa forma, mas não sou do tipo quieto, sem assunto, sem iniciativa, ou covarde, ou que apenas seca nos olhares. Mas perto de ti, por Deus, o que virei? "Tornou-te todas estas coisas" o Santíssimo cochicharia em meu ouvido. Graças a deus não frequento a igreja.
Penso tanto o por que que, quando me lembro dos seus olhos, trago à tona o romantismo mais primitivo de volta ao seu semblante divino. Ah, o amor idealizado, a mulher ideal! Que manchas do passado estavam marcadas nos peitos dos velhos romancistas, ainda tão apaixonados pela imaginação mais sem par! E que a blasfêmia não o abatia, mesmo incansável, mesmo tão sem fadiga!
Como tão medrosos foram em macular o amor imaculado, e em não realizar o real com a garota mais ideal, deram fim a todas as formas de amar se não na mais pura.
"És tão linda! És de toda beleza!" meu coração diria a cada segundo, a cada palpitadinha do meu ser. Das normais àquelas que erram o convencional quando me lembro de ti; daquelas que respondem a cada toque flamejante dos seus lábios aos meus àqueles arrepios involuntários quando a sinto abraçando-me. Diria, sim, caso eu já não falasse isso aos cochichos, no seu ouvido, todos os momentos. Por isto fiquei o mais quieto possível admirando seu rosto escultural — a epifania da arte do maior fascínio grego! A perfeição forjada na carne; a beleza que nem Michelangelo alcançou sob o mármore esculpido de Pièta. Certamente o fiquei, pois, que amor mais ideal — e que mulher mais perfeita! — parariam-me o semblante, se não você?
Às vezes, só...
Volto ao romantismo por quê?
E que algo explicaria a formosura tão perfeita e imensurável se não a Literatura?
Sou um verdadeiro romancista!
E você é meu amor, meu motivo de ser tão lírico, tão romântico, tão poeta.
Para desejar-te igual o mar que deseja a costa soando-a cantigas do amor; como la pièce manquante du fragment de mon âme. Num estímulo tão inconsequente, tão natural, tão belo, que me abateu tão sem cansaço, tão infatigável, que fizeram meus contornos usuais dizerem apenas o mesmo estribilho de uma melodia tão apaixonante: eu te amo!
Agora entendo o porquê de ficar tão quieto admirando seus olhos. Na literatura, alguns escolhem a servidão, outros escolhem a morte; alguns abraçam o platonismo e certos decidem fugir, para não macular, para não lidar, com o amor idealizado. E eu optei por admirar, por perder-me em seu semblante e prometer-te o mundo, para assim você me entregar o universo em seu olhar.
"Da forma mais pura e bela, num simples sorriso, numa simples lágrima, como o orvalho no amanhecer." — como disse uma "certa" alguém.
Caso adoecesse, você, certamente Edgar Allan Poe a teria descrito como Ligeia ou Berenice. Diria como seu encanto não perde forma alguma, mesmo sobre a alcunha de uma silhueta fantasmagórica e crepuscular. A vivaz essência, mesmo na languida enfermidade do seu ser frágil, fascinaria-me com o amor desmedido como se fosse a primeira vez que nos declaramos noivos. Falaria como Francis Bacon estava errado quando disse que "toda beleza apresenta um certo grau de estranheza em sua proporção", pois nunca te conheceu, a formosura mais inequiparável de todas, o epíteto homérico: Justiniana!
Caso escrevesse, eu, certamente você seria o Dom quixote do meu Sancho pança. O Sherlock Holmes do meu John Watson. A Perséfone do meu Hades. A Capitu do meu Bentinho. A Elizabeth da minha Darcy.
Sou um verdadeiro romancista.
E escrevemos o romance mais belo, meu amor.
et tu m'as complété, comme le fragment restant de mon âme.
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