Passados trágicos
É tão bom ver a fic ganhando visibilidade, e grande parte disso veio da disposição da ligia_alencarr que divulgou a fic em seu livro de divulgações...
Passem lá no perfil dela e deem uma olhadinha em seus trabalhos incríveis.
Só tenho a agradecer e não esqueçam da Estrelinha!!
- E qual é a pior? - sua voz era suave, como a brisa da noite, extasiante.
- A morte do meu pai. - continuei de olhos fechados e respirei fundo outra vez - Estávamos indo visitar meu avô, ex-Hashira das Sombras. Meu pai decidiu ir pelo caminho mais longo, para que pudéssemos passar um tempo a mais juntos, como Hashira da Luz ele tinha tantas missões quanto eu tenho agora, andamos por dias, e certo dia, ao entardecer passamos por um templo, onde havia um culto, alguns fanáticos tentaram nos persuadir a entrar, mas meu pai recusou gentilmente e com um sorriso no rosto dele, nos afastamos e continuamos nossa caminhada. Quando a noite caiu, montamos acampamento, meu pai sempre alerta, me deixou dormir enquanto vigiava.
Abri os olhos, mas não olhei para Sanemi, continuei encarando a minha frente.
- Eu já havia treinado o suficiente para sentir a aproximação até de pequenos animais, mas nem meu pai nem eu sentimos a presença dele, que de cima de uma árvore falou conosco, uma voz jovial e ao mesmo tempo antiga. "Soube que não quiseram entrar em meu templo, mas não imaginei que seria um caçador e uma Marechi." Foi a primeira coisa que ele disse, meu pai imediatamente sacou sua nichirin e me colocou entre ele e uma árvore. Um vento gelado nos atingiu quando o oni colocou os pés no chão, no escuro me lembro apenas de que seus cabelos eram loiros, e seus olhos... Aqueles olhos brilhando em diversas cores... Meu pai ofegou quando olhou nos olhos do oni que sorria, suas presas a mostra. "Superior Dois..." foi o que meu pai sussurrou e eu soube que morreríamos.
Uma lágrima solitária escorreu pelo meu rosto.
- Meu pai mesmo cheio de ferimentos conseguiu estender a batalha pela noite, mas acredito que o oni estava entediado, então não estava lutando sério realmente, quando o céu começou a clarear o oni parou, "Ah, isso foi entediante, apesar de ser grato por me fazer sair daquele templo, não me lembrava há quanto tempo já estava lá... Vou ficar com esses seus lindos olhos dourados para mim." E então estacas de gelo desceram na direção do meu pai, tão rápido que ele apenas teve tempo para me empurrar para fora do caminho. As estacas de gelo despontavam de vários lugares do seu corpo e eu vi o oni se aproximar e arrancar seus olhos, os colocando em um palito, como se fossem dangos. Ele se virou para mim e sorriu "O tempo está a seu favor criança, ou seus lindos olhos azuis, se juntariam a esses aqui, até a próxima, Marechi." E com essas palavras ele desapareceu, poucos segundos depois o sol nasceu.
As lágrimas agora escorriam livremente.
- Fui até meu pai que ainda agonizava, peguei sua mão, chorando e chamando por ele, ele então sorriu e falou "Minha pequena estrela, você é mais forte do que imagina, não deixe sua luz se apagar, não deixe de sorrir, continue sendo gentil... Faça isso pelo seu pai... Tenho muito orgulho de ter filhos tão incríveis, tenho muito orgulho de você!" Essas foram suas últimas palavras. E naquele dia, eu enrolei o corpo do meu pai e carreguei ele pelo resto daquela maldita montanha, não parei até sair da floresta e continuei até chegar ao meu avô, que ficou perplexo e chorou a morte do filho mais novo, e eu que sem perceber, não tinha chorado desde a última conversa com meu pai, desabei, chorei por dias... Eu tinha 9, e em alguns meses vai fazer 10 anos que isso aconteceu.
- Eu sinto muito... - ele diz pegando minha mão e fazendo círculos com o polegar no meu pulso. - Acho que é justo você saber a minha história também...
- Não precisa falar só porque eu falei a minha, somente se sentir-se a vontade.
- Sempre fico a vontade com você, Kira... - ele diz e olha para nossas mãos entrelaçadas - Nunca me senti a vontade com ninguém, mas você, esse calor, essa luz que vem de você... Eu não sei explicar...
- Sanemi...
- Me deixe te contar o que nunca contei a ninguém. - ele então me olha nos olhos - Por favor?
Sua expressão me deixa sem palavras e eu apenas aceno com a cabeça.
- Meu pai era um cara grande e violento, ele era um bêbado abusivo, sempre batia em minha mãe e minha mãe era pequena e frágil, mas era bondosa e protetora. Sempre que ele vinha bater em mim ou meus irmãos, ela nos protegia com seu pequeno corpo, depois de um tempo o desgraçado foi morto, não me lembro o motivo e minha mãe teve que trabalhar ainda mais para nos sustentar, éramos 7, eu sendo o mais velho, com 2 irmãs e 4 irmãos.
Uma noite ela estava demorando muito para voltar para casa, então deixei meu irmão cuidando dos mais novos e fui procurá-la. Ainda na rua de nossa casa, vi algo passar rápido por mim na escuridão e parar de frente a porta de nossa pequena casa.
Ele olha para o céu estrelado.
- Usava as roupas da minha mãe, parecia minha mãe, mas as presas, os olhos vermelhos com fendas, ela quebrou a porta matando todos os 5 pequenos, Genya foi ferido no rosto, mas ainda estava vivo e para protegê-lo eu agarrei minha mãe e nos lancei para fora de casa, a maioria das minha cicatrizes, consegui naquela noite. No calor do momento não sei onde consegui um cutelo, e por mais que eu a cortasse, ela não parava de vir até mim, fazendo sons animalescos e salivando. No fim consegui feri-la o suficiente para que o nascer do sol a queimasse, mas não antes de Genya ver a cena e me culpar por matar nossa mãe. Todos esses anos, eu me sinto culpado e sinto ódio dos onis, não falo mais com meu irmão mais novo, ele ainda deve me culpar, e eu finjo que ele não existe, pois não queria que ele seguisse meus passos e se tornasse um caçador, queria que ele tivesse uma vida tranquila e sem preocupações, mas o idiota se tornou um caçador mesmo não conseguindo usar qualquer técnica de respiração.
Ele suspira alto, e olha para nossas mãos novamente.
- Eu matei minha própria mãe... - vejo lágrimas em seus olhos - O quão odioso eu sou?
- Sanemi... - aperto sua mão, mas ele não me olha nos olhos - Sanemi, olhe para mim.
Ele levanta sua cabeça lentamente e finalmente me encara.
- A partir do momento em que se tornou uma oni, não era mais sua mãe... Tenho certeza de que ela iria querer que você fizesse exatamente o que fez, que protegesse seu irmão e colocasse um fim no sofrimento de sua alma. - aperto sua mão novamente e lhe ofereço um sorriso compreensivo. - Você não é odioso, e apesar de tentar afastar todos com seu jeito, que agora entendo um pouco melhor, eu sei que por trás disso seu coração é gentil e sei que se importa com todos ao seu redor...
Minha vontade é de abraçá-lo, mas não temos esse nível de intimidade, tenho medo de abraçar e ele não gostar, então permanecemos de mãos dadas.
- Eu jurava que nunca encontraria alguém capaz de me enxergar de verdade, e aqui está você... - ele fala olhando para o céu - E aqui estou eu, me apaixonando aos poucos por cada detalhe em você...
Não acho que ouvi direito.
- Heh? - me viro rapidamente para olhar pra ele e ele está sorrindo para mim - Você o que?
- Você ouviu... Vamos dormir, você precisa descansar... - ele se levanta e me puxa para cima com ele - Vou deixá-la decidir o que fazer quanto ao que eu disse quando se sentir a vontade, até lá continuaremos nossa missão.
E me puxando pela mão, ele nos leva de volta aos nossos quartos, meu cérebro parece ter parado de funcionar. Ficamos parados até que ele se aproxima mais e deixa um leve selar em minha testa. Sinto meu rosto esquentar e com ele ainda perto, ele passa o polegar na minha bochecha rosada e sorri.
- Kawaii ne... - ele então se afasta e solta minha mão - Durma bem, Kira.
Ele entra em seu quarto e eu permaneço no corredor, até que pareço acordar do meu torpor e entro correndo no quarto.
Eu ainda não conseguia acreditar que Sanemi tinha praticamente se declarado para mim, me deitei no futon e fiquei encarando o teto, pensando em todas nossas missões juntos e que cada vez ficamos mais próximos, mas sempre respeitando o espaço e os limites um do outro, e parando para pensar agora, nas últimas vezes que nos encontramos ou fizemos alguma missão juntos, Sanemi estava mais calmo, pelo menos comigo, e mais comunicativo, até sorria, coisa que não fazia perto dos outros.
Então me lembrei do que Kocho e Kyojuro disseram.
Eu sempre admirei Sanemi, não sabia sobre seu passado, mas sabia sua história desde que entrou para a milícia e o quanto ele se esforçou para chegar onde está hoje, um dos Hashiras mais fortes, ele treinou muito e se esforça para salvar a todos em seu caminho. Sempre apreciei sua companhia, gostava da nossa sintonia em batalha. Me sentia mais a vontade com ele do que com os outros, apesar de considerar todos grandes amigos, com exceção apenas de Kocho, Kyojuro e Mitsuri que me eram mais próximos.
E nos últimos dias nos aproximamos muito, compartilhamos nossas histórias trágicas e eu vi o quanto ele se preocupava comigo. Talvez... Apenas talvez, eu devesse tentar. No mundo em que vivemos, não sabemos o que pode acontecer no dia seguinte, Kyojuro sempre acreditou que devemos viver como se fosse nosso último dia, pois realmente pode ser.
Suspiro, sabendo que não vou conseguir voltar a dormir. Me levanto novamente e vou para a área de treinamento. Pego uma bokuto do monte que tem no canto e vou até um dos bonecos de palha, começo a treinar uma técnica que eu e Rengoku estávamos tentando dar vida, como nossas respirações são parecidas em certos aspectos, passamos bastante tempo discutindo possíveis novas formas. Trabalho minha flexibilidade com Mitsuri e agilidade com Kocho, quando mais nova treinei minha velocidade com o antigo Hashira do Relâmpago, que agora está aposentado.
Por isso minha nichirin costumava ser preta, eu tinha habilidade em muitos tipos de respirações diferentes, mas depois que meu pai morreu, decidi que iria treinar a Respiração da Luz, tive que aprender com os diários dos Hashiras anteriores, pois meu avô tinha pouco conhecimento, por usar a Respiração das Sombras. Ele me ensinou a teoria de todas as 10 formas, então por instinto comecei a tentar colocar em prática a teoria e me aperfeiçoei ao máximo, minha nichirin que era negra, durante uma batalha que usei pela primeira vez a respiração da luz ficou dourada.
No dia seguinte, chamei meu ferreiro que quando viu a katana começou a chorar e dizer o quão raro era a mudança na cor e que a cor da minha nichirin era magnífica. Os ferreiros podem ser um tanto quanto dramáticos e emotivos quando se trata das espadas.
Golpeio o boneco de palha com força, testando o movimento e a velocidade, era uma forma que ficava entre ataque e defesa, onde eu fazia um grande corte na vertical para baixo, fazendo com que uma barreira cortante de luz descesse, cortando tudo no caminho e servindo como uma barreira para parar um ataque.
Fico treinando até que o sol nasce, várias bokutos quebradas aos meus pés e vários bonecos de palha cortados na vertical, metade pendendo para frente e a outra, para trás.
- Kobayashido-dono, ohayo. - a senhora da casa me cumprimenta.
- Ohayo - digo sorrindo, secando algumas gotas de suor na manga do kimono. - Acho que exagerei um pouco no treino, poderia providenciar novos?
- Claro, não se preocupe... - ela sorri - Por que não se lava enquanto eu preparo o café?
- É uma ótima ideia. - largo a bokuto que está na minha mão, já rachada em vários lugares e vou direto para o banheiro e entrando no ofuro.
Meus músculos cansados, relaxam na hora e eu aproveito para lavar meu cabelo. Saio de lá com um kimono limpo, e ando até o meu quarto, pego uma das pílulas que o médico pediu para tomar 3 vezes ao dia e vou para o mesmo cômodo em que jantamos na noite passada, o café da manhã farto já está lá e espero apenas alguns minutos até que Sanemi entre e cruze os braços olhando para mim com uma carranca.
- Qual parte do descansar você não entendeu? - ele se senta de frente à sua refeição e à mim - Por que aquela destruição na área de treino?
- Não consegui dormir depois do que me falou, então resolvi treinar a nova técnica em que estou trabalhando - dou de ombros, começando a comer.
- Masaka... - ele suspira alto e também começa a comer.
Me lembro da pílula e a pego, tomando com um gole de maccha. Então tenho uma ideia.
- Como temos dois dias para ficar aqui, gostaria de treinar comigo? - pergunto para o platinado com animação.
- Não.
- Por quê? - pergunto fazendo um beicinho.
- Não faça essa cara... - ele diz olhando para o lado - Temos dois dias aqui para que descanse e deixe sua perna se curar apropriadamente, você nem deveria estar andando para lá e para cá, apoiando seu peso nela.
- Mas..
- Kira.
- Sa-ne-mi...
- Não vou treinar com você até que esteja recuperada! - ele fala e volta sua atenção para a comida, encerrando o assunto.
- Teimoso... - sussurro e ele me dá um olhar mortal que eu devolvo com um sorriso travesso.
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